Quem diria que essa estória estaria de volta, hein?

Bom, eu tive essa ideia faz uns 2 anos e no mundo onde vivemos acho de suma importância abordar esse tema. É uma continuação de The middle, mas não é necessariamente uma sequencia. Quem não leu a antiga The Middle não irá se perder ao ler essa nova estorinha. Para quem leu a antiga, seja bem vindo outra vez. Espero que gostem do que reservei por aqui.

Boa leitura.


O som de galhos secos se quebrando era a única coisa audível na mata fechada. As lanternas brilhavam em meio a escuridão da noite e permitia a passagem da loira por entre os galhos das árvores molhadas pelo sereno. Levou os olhos azuis em direção ao céu e suspirou alto fazendo uma prece silenciosa. Queria estar errada. Queria estar equivocada com as investigações, mas no fundo de si já sabia que encontraria o que procurava ali.

Tirou o celular do bolso ao receber mais uma mensagem de sua superior. Pensou em responder, mas queria ficar atenta aos homens que a acompanhavam na busca silenciosa. Deslocou a atenção do aparelho em mãos para um objeto mais colorido no chão terroso. Se abaixou examinando o tênis rosa com cadarço verde tendo a ajuda da luz de sua lanterna. Seu coração, já não tão lento quanto antes, confirmou o que já lhe era certo quando o latido do cão de caça rompeu o silêncio.

- Detetive Swift! - A voz grossa de um dos homens uniformizados soou urgente.

Com a ajuda dos outros membros da equipe de busca, Taylor conseguiu chegar até o local do chamado. O tronco de árvore derrubado era coberto de musgo e precisou fechar os olhos com força por pelo menos três segundos antes de mirar no corpo da jovem amarrado ali.

Puxou a foto do bolso traseiro se aproximando do corpo imóvel. Olhou a adolescente sorridente do retrato, os lábios pintados de vermelho e os olhos castanhos brilhantes. Ignorou o cheiro forte de decomposição mirando a lanterna para o corpo amarrado no tronco. Os lábios sem cor e olhos fechados, a inocência e vida da foto completamente roubada.

Puxou o celular do bolso outra vez girando os coturnos na lama. A postura profissional tentando expulsar todos os sentimentos fracamente humanos. Discou o número rapidamente a sangue frio.

- Comandante Lovato? – A voz suave mostrando sinais de exaustão. - Encontramos Samantha.

-x-x-x-

Bateu a porta do carro com impaciência antes de ativar o alarme e arrumar os óculos escuros no rosto pálido. O burburinho dos adolescentes entorno do prédio acadêmico lhe irritou um pouco mais. Subiu os degraus de pedra com facilidade e não se importou em retirar os óculos ao passar pelo corredor largo até chegar na sala conhecida. Puxou o acessório para fora do rosto assim que se colocou na frente da mulher de meia idade que puxou os cantos dos lábios em um sorriso falso ao vê-la.

- Boa tarde, senhora Lovato. – A mulher a saudou não esperando a educação de volta. – Sente-se, por favor. – Indicou a cadeira a sua frente, mas a mulher continuou de pé.

- Não, obrigada. – Negou se aproximando e pousando uma mão no tampo da mesa de madeira antiga. – Estou com um pouco de pressa, e creio que seja apenas um procedimento padrão. Então a senhora poderia me entregar logo a ficha de detenção para eu assinar e resolvemos isso uma outra hora, pode ser?

Outra hora. Essa outra hora nunca chegava e a diretora estudantil sabia disso muito bem. Entregou a ficha para a Lovato que olhou rapidamente para a adolescente escorada na parede próxima à porta de vidro antes de assinar o papel que lhe foi entregue.

- Mãe.. – A voz rouca ecoou pelo corredor, mas a mulher a sua frente não parou.

O sol fez as duas estreitarem os olhos ao sair do prédio já vazio. Desceram a escada em silêncio e o alarme foi desativado antes de Demi abrir a porta do passageiro para a adolescente entrar. Deu a volta no carro negro ocupando o banco do motorista, a porta se fechou no baque surdo.

- O idiota teve algum prejuízo?

A voz da mulher mais velha saiu calma enquanto a garota prendia o cinto de segurança. O sorriso nos lábios carnudos foi a resposta antecipada de Demi que riu da careta que a menina fez ao prender momentaneamente a língua entre os dentes.

- Acho que quebrei o nariz dele. – Respondeu fazendo uma gargalhada curta ser compartilhada.

- Vejo que as aulas com Lautner estão sendo eficazes.

- A senhora não sabe o quanto. – Riu antes de voltar a seriedade. – Não acha que... – Pausou engolindo em seco. – Que mama vá me colocar de castigo ou algo do tipo, certo?

Demi respirou fundo levando os olhos para a pista e girando a chave na ignição.

- Mãe.. – A voz arrastada pedinte enquanto o carro ganhava velocidade. – Conversa com ela. Sabe que foi minha defesa. Eu não tive culpa.

- Você sabe a filosofia da sua mãe.. – A mulher de cabelos negros se pronunciou. – Violência não combate violência. Você poderia ter chamado algum supervisor.

- Mas ninguém nunca faz nada. Faz semanas que Brad me perturba e quando eu finalmente fico irritada o suficiente para quebrar a cara dele, aquela mosca morta vem querer me punir.

Demi mordeu o lábio inferior na tentativa de esconder o sorriso e permaneceu em silêncio enquanto guiava o carro. Parou no sinal vermelho olhando a cubana ao seu lado. Os cabelos escuros caindo em cascatas pelos ombros, os olhos castanhos fitando além do para brisa enquanto a boca carnuda exibia um pequeno biquinho malcriado.

- Camila.. – Demi a chamou ganhando o rosto de feições delicadas na sua direção. – Eu vou falar com ela. Sabe que vou falar.

- Queria que me trocassem de colégio. – Camila suspirou pesarosa apoiando a cabeça na janela fumê quando o sinal abriu.

- É seu último ano. – Apontou fazendo uma curva mais fechada. – A gente não vai te transferir.

- Isso não é um argumento válido. – A cubana discordou ajeitando a mochila no colo.

- É sim. Você é um andarilho estudantil. Não existe um colégio nessa cidade que você não tenha estudado.

- Cornel.

- O quê?

- Eu nunca estudei no Cornel.

- Claro que não. – Demi riu divertida fazendo outra curva. - É um colégio interno masculino.

- Sim, mas nunca estudei lá. O que faz o seu comentário anterior ser equivocado.

Demi franziu as sobrancelhas ao estacionar enfrente a casa colonial e puxar o freio de mão.

- Você passa quantas horas do seu dia com sua mãe?

A resposta foi uma risada divertida da garota que pulou para fora do carro. A Lovato seguiu a mais nova ativando o alarme no exato momento em que a porta da frente da casa se abriu. O tremor que invadiu seu corpo era proporcional aos pulos descontrolados do coração dentro do peito, mas não transpareceu as sensações enquanto colocava os óculos e caminhava até a mulher que vestia o short jeans simples com a regata branca.

Selena cruzou os braços mantendo a mandíbula trancada enquanto esperava Camila e Demi a alcançar. Os cabelos um tom castanho mais claro estava solto em cachos largos pelas costas e as roupas claras contrastavam bem a cor bronzeada de sua pele.

- Hey. – Demi forçou um sorriso sem retirar os óculos de sol que escondiam seus olhos. – Pensei que estivesse no serviço.

- Larguei um pouco mais cedo hoje. – Respondeu antes de se voltar para a adolescente. – O que foi que você aprontou dessa vez?

Camila apertou a alça da mochila sobre um dos ombros mudando o peso do corpo de uma perna para a outra se sentindo acanhada.

- Não foi nada demais. – Demi interveio de uma vez. – Ela apenas se defendeu.

- Como da última vez. – Selena contrapôs alternando o olhar entre as duas. – Não dá pra ficar te transferindo de colégio a cada três meses, Camila.

- Mama.. – A garota resmungou já incomodada. – Aquele garoto me persegue desde que coloquei os pés naquele lugar.

- Não é uma justificativa muito válida e você sabe disso. – A juíza suspirou passando as mãos pelos cabelos longos. – Está de castigo.

- O quê?! – A pergunta veio de Camila, fazendo Demi puxar os óculos do rosto ainda em silêncio. – A senhora não pode fazer isso! Eu apenas me defendi!

- Filha, entre. – Foi a voz controlada de Demi que ganhou a atenção das duas. – Preciso falar com sua mãe.

A adolescente intercalou o olhar entre as duas mulheres antes de passar pelo portal da casa subindo correndo os degraus da escada. Selena fechou os olhos pequenos massageando as têmporas enquanto Demetria se escorava no batente da porta.

- O que você quer?

A pergunta de Selena saiu baixa antes de olhar para a Lovato. A expressão séria no rosto bonito de Demi não tinha sinal de arrogância, a blusa social branca estava aberta alguns botões, provavelmente pelo calor que fazia em Miami, e Selena procurou ignorar o pano azul marinho do sutiã que estava amostra. Procurou ignorar também o pescoço alvo exposto graças aos cabelos curtos.

- Você pensou no que eu te pedi? – A voz de Demi ajudou a juíza desconcentrar da pele convidativa, mas foi uma tarefa mais complicada não encarar os lábios pintados de vermelho.

- Acho que não vai ser possível. – Selena apoiou a mão na maçaneta observando a morena brincar com o óculos entre os dedos. – Tenho uma pilha de processos para resolver e a minha nova estagiária está um pouco perdida.

- Sua nova estagiária já é quase uma advogada, então arrume uma desculpa melhor. – Demi desencostou do batente suspirando pesado. – Quando a sua agenda estiver livre, me avise. Porque se você não sente a minha falta, fique sabendo que eu sinto a sua.

Selena apertou os dedos entorno da maçaneta encarando os olhos bem marcados de delineador que não faziam questão de desviar do contato. Três semanas desde a última briga, e três semanas que havia expulsado a Lovato de casa. Sentia sim falta da mulher, mas saudade era uma coisa com o qual convivia fazia meses, quando a mais nova aceitou a promoção no serviço e ficou mais ausente da família do que já era de costume.

- Eu te aviso.

Foi o que conseguiu responder concentrando toda a tensão do corpo na mão que apertava a maçaneta dourada com força.

- Ótimo. – Demetria olhou o relógio preso em seu pulso rapidamente se lembrando da reunião que haviam marcado no serviço. – Eu preciso ir. Passo aqui às sete pra buscar Camila.

- O quê? – Selena franziu a testa tentando entender a mulher. – Não! Você não me ouviu dizer que ela está de castigo? Ela não vai ao jogo.

Demi passou a mão pelos cabelos se controlando para não imprensar a latina contra o batente da porta.

- Eu também sou a mãe dela, Selena. Marquei de levá-la ao jogo e vou. – Deu de ombros encarando os olhos cor de mel. – Não me contrarie.

- Você está tirando minha autoridade. - Demi abaixou a cabeça não conseguindo segurar o sorriso. – Do quê você está rindo?

- De você. – A Lovato respondeu divertida dando um passo para frente fazendo Selena dar um passo para trás se chocando contra o batente. – Eu não estou tirando sua autoridade. – Demi sussurrou com o rosto próximo ao da Gomez. – Estou compartilhando e você sabe disso.

Demi sentiu a respiração de Selena vacilar e arriscou depositar um beijo um pouco mais demorado que o normal na bochecha rosada. Se afastou devagar colocando os óculos de volta ao rosto pálido.

- Não se esqueça. – Disse para a mulher que permanecia no mesmo local a olhando enquanto se afastava. – Estarei aqui às sete.