Essa história é bem diferente de tudo o que já escrevi. Ela é um desafio a mim mesma. Vou abordar diferentes assuntos aqui, mas que no fim aborda um único... o amor.

Não vou apresentar o nome de todos os personagens, no próximo capítulo vocês compreenderam o porque e como será que isso vai ocorrer, mas digo logo... eles vão ficar todos na cara de vocês.

Bom, espero ao final vocês consigam ter empatia pelas pessoas a sua volta, se já possuem, continuem a praticando.

Vamos deixar de falatório e vamos começar?


Empatia

Relato #1

"Mais um caso de abuso sexual nos centros de ensino norte americanos. Dessa vez, temos a respeitada Juliard como palco desse crime, não é mesmo Eric?

Sim, Brian. No último final de semana em meio a uma festa no Campus de Artes Plásticas uma jovem foi estuprada. Você telespectador, deve estar se perguntando: isso ocorreu na melhor escola de arte do país? E eu lhe respondo: isso mesmo o que ouviu meu caro, nem mesmo as nossas futuras artistas estão salva.

Mas, Eric, o que a polícia diz sobre o caso? Houve realmente o estupro? Porque convenhamos, festas de faculdades rola de tudo um pouco, então...".

– Por favor, Tsunade, desligue isso! – não aguentava mais ter que escutar o mesmo discurso depreciativo todo santo dia, toda santa hora, desde que tudo ocorreu.

– Precisamos ficar informadas sobre o caso, Sakura. – falou desligando a porcaria da TV que me deixava mais cheia de dor de cabeça do que eu já estava.

– Informadas sim, mas não através desses abutres. – falei arrumando os papeis em cima da mesa.

– Eu sei que você não gosta da imprensa, mas são eles que...

Era só o que me faltava!

– Não esqueça que além de ser uma advogada, também sou jornalista, Tsunade. – parei para olha-la. – O que não gosto não é da imprensa e sim do sensacionalismo de certas emissoras em cima de casos como esse.

– Por ser uma jornalista, sabe melhor do que ninguém que é assim que eles lucram. – revidou meu olhar com um sorriso zombeteiro no rosto.

– É por isso que não gosto! – voltei a guardar os papeis. – A imprensa deve informar fatos corriqueiros à população e não lucrar em cima de situações como essa.

– Ok! Já desliguei, Dr. Haruno! – falou dando de ombros enquanto jogava o controle da TV que ainda estava em suas mãos no sofá. – Por sinal, o reitor da Juliard em pessoa ligou para o escritório ontem. – já lançando olhares desconfiados para mim.

– Para que? Se for sobre o caso só no tribunal. – sentenciei, fechando minha pasta com todos os documentos guardados.

– É e não é sobre o caso.

– Não entendi. – a olhei confusa.

– Bom, pelo o que entendi ele quer que você dê uma palestra sobre o caso para os alunos, para vê se assim descobrimos quem são os culpados.

– Nós sabemos quem são os culpados, Tsunade. – falei rispidamente, ela sabe que contestar esses assuntos comigo não dá certo.

– Nós sim, mas a universidade não. – respondeu acuada. – Ninguém sabe de nada, a vítima não contou nada a eles, pra falar a verdade nem mostrou a cara. Sem falar que todos pensam que é tudo uma invenção.

– Isso se chama proteção e não invenção, Tsunade. – ela tá conseguindo me tirar do sério!

– Eu sei, Sakura, mas eles não. – tentando me amansar. – Vai, não custa nada você dá essa palestra.

– Custa o meu tempo!

– Pensa no quanto você vai poder ajudar outros jovens falando sobre o assunto, Sakurinha. – cara de gato abandonado é a cereja do bolo!

– Será que dá pra você parar de falar assim? Não tenho mais 5 anos, Tsunade. – que coisa mais infantil!

– Pra mim você sempre terá 5 anos, Sakurinha. – disse piscando para mim.

– Aaah! Vou buscar Yuki e Midori que ganho mais.

– Diz que vai pensar no assunto?

– Vou pensar! – sai em disparada em direção ao elevador, batendo a porta do escritório.

No momento em que Tsunade falou sobre o telefonema do reitor da Juliard, sabia que ela não pararia de torrar minha paciência enquanto não retornasse a ligação dele. Tentei de tudo para postergar o assunto. Não é de bom tom sair dando palestras sobre os meus casos por ai.

Ok! Eu faço palestras sobre eles, mas apenas quando os mesmos já foram findados nos tribunais e não quando o inquérito ainda está ocorrendo. Principalmente, quando há abutres em cima a procura de qualquer informação, seja ela verdadeira ou falsa.

Ser uma advogada que luta por direitos iguais a todos, independente do gênero, da raça, da cor, do credo, da classe social não é muito saldável, principalmente quando também já esteve na linha de frente do repasse das informações a população, não é nada fácil. Não importa se eu praticava o jornalismo no Japão, os repórteres americanos vão vir atrás de mim de qualquer jeito, e o pior sempre tentando tirar um pedaço da casquinha e pondo minhas vítimas de maneira depreciativa à população.

A imprensa marrom é uma praga no mundo todo, mas na América tudo é mais catastrófico. Qualquer coisa que você diga ou faça é filtrado de forma errônea, trazendo situações periclitantes até para quem não tinha nada a ver com a situação inicial. Foi exatamente por isso que quando fui acordada no meio da noite por um amigo da polícia pedindo ajuda para um caso de estupro dentro da maior universidade de arte do país, a primeira coisa que perguntei foi se já havia vazado para a imprensa.

Quando ele negou, pedi que o caso fosse mantido em sigilo absoluto. O mesmo disse que nada sairia de sua delegacia, mas, infelizmente, as coisas não foram bem assim. Quando cheguei ao departamento parecia final de campeonato de baseball, tentei me camuflar entre todos que estavam ali, mas minha mutação genética, ou seja, meus cabelos rosados me denunciaram.

A chama do espetáculo midiático tinha sido acendida e com minha chegada entrou em combustão total. Conseguimos apenas manter a identidade da vítima escondida. Foi algo pequeno? Foi, mas assim poderíamos trabalhar em paz, mesmo com toda a pressão da promotoria e da opinião pública. Precisávamos ter o maior número de provas possíveis para darmos continuidade ao inquérito junto ao Promotor, mas estava sendo bem cansativo.

A faculdade não colaborava em nos ajudar. Eles não acreditavam que a vítima era do quadro de alunos, pois não a apresentamos. Só queremos evitar mais constrangimento, só que eles não entendem. Dias antes tive uma discussão com o chefe de segurança da Juliard, pois o mesmo se opôs a nós passar as gravações do circuito interno de TV, sem falar que me agrediu verbalmente, o qual não deixei passar e prestei queixa contra ele.

Desde este dia tomei a atitude de não mais falar com nenhum representante da Juliard, a não ser no tribunal, mas aquela ligação vinda direto da reitoria me deixou intrigada e fez com que Tsunade não parasse de me atormentar, até que eu resolvesse atender ao chamado depois de umas 15 ligações após a primeira.

– E ai, como o reitor quer que seja a palestra? – ela entrou correndo por minha sala após Rin, nossa secretária, contar sobre o telefonema.

– Não será uma palestra. – falei indiferente, olhando pela janela a grande cidade de pedra que é Nova York.

– Como assim?

– Ele não quer uma palestra e sim um seminário, durante uma semana. – virando-me para ela.

– Hã? – se jogando na poltrona da mesa dela.

– Um minicurso, Tsunade – me encostando na vidraça. – Ele quer que eu faça um minicurso a respeito do feminismo e do machismo, para ser mais exata.

– Hmmm. Você topou? – crispando as sobrancelhas.

– Sim.

– Isso! Mas espera, como vai ser isso? – do entusiasmo para a dúvida.

– Não faço a mínima ideia. – confessei me jogando em minha própria poltrona.

Quando conversei com o reitor e com Tsunade sobre os eventos desta semana, não conseguia compreender como iria conduzir um seminário para todos os alunos de uma das maiores universidades do país. Conversar com jovens nunca foi um problema, com uma multidão também não, mas manter um dialogo com jovens que no seio deles há os acusados... a história é completamente diferente.

Do aceite da proposta do reitor Orochimaru até o inicio do seminário se passaram duas semanas. Semanas essas que tentei de todas as formas construir um arsenal de falas para serem repassadas ao público, mas que quase me deixaram louca de como esse projeto poderia ajudar na resolução do caso.

Meu prazo dado pela universidade estava acabando quando em meio a uma organização da casa encontrei cartas e bilhetes que há muito tempo eu havia esquecido, ou melhor, que eu havia trancado a sete chaves e feito questão de esquecer. Todo aquele material me fez lembrar um tempo que está marcado em minhas entranhas. De um tempo, que tentei apagar de minha memória. Do tempo em que clamava para que o rio Lethe levasse para longe1.

Aquela época nunca foi esquecida... nunca ficou apenas no passado... quem eu sou hoje é resultado daqueles acontecimentos, que ocorreram de forma totalmente inesperados e transformaram de uma vez por todas a minha vida, a de minha família e daqueles que estão ao meu redor. Se não fosse por tudo o que houve, hoje eu não estaria aqui. Hoje eu não iniciaria um seminário que para alguns há o objetivo de aprendizado, mas que para mim possui o sentido de justiça.

– Quem quiser sair do auditório poderá sair sem problema algum, mas saiam conscientes de que não receberam certificado algum ao fim deste minicurso. – a voz do professor Itachi Tanaka, reverberou por todo o teatro.

Quando me encontrei pessoalmente com o reitor Orochimaru Kujira2, fui apresentada ao professor de canto Itachi Tanaka. Ele me intriga desde o momento em que pus meus olhos nele, não sei muito bem, mas sinto que o conheço.

Os olhos do professor Tanaka percorreram todo o meu corpo quando fomos apresentados, o que me fez criar uma antipatia por ele no mesmo momento. Ele será o mediador dos meus encontros com os alunos, tentei de todas as formas troca-lo por outra pessoa, mas o senhor Kujira não deixou. Segundo ele Itachi Tanaka é o mestre que mais possui poder sobre os alunos sejam eles de qualquer área da Juliard, os outros docentes fariam parte dos encontros ajudando-o, mas ele é o responsável principal por todos.

Apenas tive que concorda, já que não contei a eles sobre os meus planos para essa semana, como também tive que agradecer por ele realmente ter uma influência grande nos alunos que se calaram imediatamente, mas o olhar e a fisionomia do professor Tanaka não me deixam tranquila.

– Vocês acham que falarei sobre feminismo e machismo, mas estão redondamente enganados. O que quero passar a você durante essa semana é o valor da empatia. Como devemos ter empatia pelo outro, pelo próximo, por aquele ou aquela que está em uma situação diferente da sua. Desejo que depois desta semana consigam se colocar no lugar do próximo, do diferente, do estranho ou do absurdo independente de quem sejam, do que façam, do que sintam, da religião que seguem ou preguem. Para isso, a cada dia lerei algumas cartas e e-mails que foram enviados a mim enquanto era colunista de uma das maiores revistas sobre mulheres no Japão.

"Vocês devem está se perguntando o que isso tem relação com vocês, já que não estamos em Tokyo ou em nenhum lugar da Ásia, mas sim na América mais precisamente Nova York a cidade que nunca dorme. O que digo a vocês é que somos seres humanos em qualquer parte do mundo, não importa se estamos no Zimbábue, Nova York, Bucareste, Tokyo, Cidade do México ou no Alasca. Somos humanos e devemos criar empatia pelo próximo sempre".

Vi os olhos de cada um deles grudados em mim. Alguns com atenção absoluta, outros com sorrisinhos de deboche, mas não vou me importar com os últimos. Eu tenho um plano e continuarei o seguindo até o fim desta semana.


1 Lethe é a deusa do esquecimento, personificada no rio Lete.

2 Nunca foi dito o sobrenome do Orochimaru, mas Kujira é o nome do dublador original dele, então vou utiliza-lo aqui como sobrenome.


Chegamos a final do primeiro capítulo, e bom, antes de tu colocar essa história nos teus acompanhamentos vou logo dizendo – tu vai ter que ter muito, muito estômago para acompanha-la. Assim, tu tá por tua conta e risco.

Bjs e para aqueles que irão dá continuidade até o próximo capítulo.

Ps.: A história já está concluída no SS e no Nyah, mas resolvi que vou colocar todas as minhas histórias aqui.