Disclaimer: Naruto não me pertence.


Vermelho

Vermelho.

Não era intenso. Era escuro, beirando o preto, beirando o precipício.
Vermelho-morto. Nunca vivo. Um pouco humano – e só.

Era vermelho-morto ao dedilhar as teclas assimétricas do piano, criando uma melodia monótona que eu jamais recordaria novamente. Era vermelho-morto ao tragar o cigarro, segurando-o com tanta delicadeza que fazia eu me perguntar como ele não o derrubava. Era vermelho-morto ao tocar-me a face antes de dormir, encostando os lábios nos meus.

Morto.

Era morto ao me olhar nos olhos. Era morto ao me tocar a face.
Gélido. Irreal. Talvez sobre-humano – talvez.

Ou talvez eu fosse humano demais.

Vivo.

Pois quando seus lábios tocavam os meus, eu percebia que ainda havia vida neles. Em algum lugar – trancafiada, acorrentada, amordaçada – estava ela, implorando para ser resgatada. Mas ele não o fazia. Afinal, queria tê-la para sempre.

Era apenas o seu vício – nada mais. Não a deixaria se manifestar, não a deixaria livre. Era a sua música, o seu cigarro, a sua cocaína. Era a sua inspiração, a sua tortura. Era tudo para ele.

E não era nada para mim.

"Não tocará hoje, danna?" Passo meus dedos pelas teclas, fazendo um barulho sem ritmo. Os olhos vermelho-morto me encaram com curiosidade.

"Pensei que você não gostasse." Seus lábios quase não se movem. Eles quase nunca se movem – só o fazem quando estão colados aos meus.

"Eu não gosto."

Morto.

As melodias fastidiosas eram agora abandonadas. O piano era fechado com um estrondo, e nossos corpos colados davam lugar à música.

O vermelho-morto tornava-se rubro. Havia sangue, era humano, era real. Estava vivo. O cigarro agora escorregava pelos dedos, e finalmente era derrubado.

Vermelho.

Era agora vivo, intenso. Era a nossa respiração ofegante e desigual, era o choque da minha pele quente com a sua pele sempre tão fria.

Era o fogo que se alastrava pela sala. Era o forte odor invadindo minhas narinas, era o torpor, era a tontura. Eram as cinzas, era a fumaça, era o ardor nos olhos. Era sua língua explorando minha boca, eram nossos corpos colados. Era o veludo sendo queimado, era a cegueira.

Era a essência da verdade, o segundo que realmente importava. A verdadeira arte, sem piegas, sem delongas.

E então, acabava. Para sempre.


Mais uma para a minha lista de fics estranhas. Sei que está confusa e a narrativa está cansativa, mas acredite, foi intencional. Estou pegando o costume de escrever dessa forma. Não sei se isso é bom ou ruim. Espero que dê para entender o que eu quis passar com a fic. (Tive que recorrer ao clichê da "arte" no final. Não estou me perdoando por isso).

Espero que gostem. E, hm, mandem reviews. :3