Elena POV
O relógio ainda marcava 04h50min da manhã quando o celular começou a tocar. Meu corpo deu um salto na cama com o barulho do toque e eu me coloquei sentada sobre os lençóis, olhando em volta. O dia estava longe de nascer no Rio de Janeiro, embora a movimentação na rua já tivesse começado. Desde que saímos da Espanha, depois da missão com Shaw, e eu voltei para a minha casa, ninguém havia me ligado. As únicas pessoas que sabiam que eu estava aqui e que tinham meu número eram Hobbs e Dom, então em qualquer uma das possibilidades, quem quer que estivesse ligando deveria ter um motivo importante para tal. Levantei, caminhando até o celular e atendi com uma voz bastante pesada.
"Alô?" Disse. Do outro lado, uma voz com sotaque hispânico respondeu, me deixando ainda mais alerta.
"Agente Neves?"
"Sim". Respondi.
"Sou o agente Torres, do Centro Nacional de Inteligência da Espanha". Ele explicou e eu franzi a testa, tentando adivinhar por que eles me ligariam seis meses depois da operação. "Estamos fazendo o reconhecimento de um sobrevivente da operação e precisamos de você aqui para concluir a identificação e liberá-lo para a extradição".
"O senhor reportou a situação para o agente Hobbs?" Eu perguntei. Hobbs não havia dito a ninguém que alguém da equipe de Shaw havia sobrevivido e eu imaginava o porquê desse alguém ainda estar sob custódia da polícia espanhola, em segredo. Provavelmente a Espanha precisava que algum oficial que estivesse coordenando a operação fizesse intermédio com a diplomacia para que quem quer que estivesse vivo pudesse ser mandado de volta para os Estados Unidos para ser julgado na Corte. Mas por que agora? E por que Hobbs não foi resolver isso pessoalmente?
"Hobbs pediu que a tarefa fosse passada para o segundo comando." Ele explicou. "Há uma passagem reservada no voo das oito horas, no aeroporto Antônio Carlos Jobim. Estamos concluindo a operação em caráter emergencial".
"Eu estou indo, agente Torres. Obrigada". Agradeci e desliguei. Caminhei até meu armário, tirando algumas roupas e minhas identificações policiais dali. Desde que vim para o Brasil novamente, deixei de lado meu distintivo e comecei a tentar organizar a minha vida. A minha tranquilidade, no entanto, havia durado pouco. Menos de seis meses depois do meu retorno, eu teria que voltar para a estrada. Eu imaginava, no entanto, que minha viagem não seria demorada e teria um caráter muito mais burocrático. Como a operação estava sendo coordenada por Hobbs, somente algum dos oficiais de sua equipe poderia liberar a conclusão do caso. E embora eu não tivesse ido a lugar algum, na época, e ficado com Mia nas Ilhas Canárias, eu sabia de tudo e estava diretamente envolvida na caça a Owen Shaw. Fazia sentido, afinal; somente eu, além de Hobbs, poderia ser chamada pelo Serviço de Inteligência espanhol.
Assim que eu estava fechando minha mala, o celular tocou novamente e eu vi o número de Hobbs na tela. Atendi, continuando a pegar algumas coisas e colocá-las na bolsa.
"Elena?" Ele chamou. "Já te avisaram?"
"Sim" Respondi. "Estou arrumando algumas coisas e vou para o aeroporto. Quem eu devo identificar lá?".
"Eu também não sei, mas aparentemente, é uma mulher. Eu imagino que seja Vegh, ela saiu do avião antes da explosão".
"Com todo respeito, por que você não vai até lá?" Perguntei, respirando fundo.
"Porque eu estou em outra operação, longe da Europa". Hobbs respondeu, com uma voz um pouco mais ríspida que o normal.
"Ok, entendi. Te dou notícias assim que chegar lá". Avisei. Nos despedimos e eu desliguei, passando a trocar de roupa. Hobbs deveria estar realmente ocupado. Eu não imaginava qualquer motivo que o levaria a deixar de entregar a cabeça de qualquer um dos subordinados a Shaw para a polícia americana.
Assim que eu desembarquei no aeroporto de Barajas, em Madri, havia uma equipe de agentes me esperando. Me apresentei brevemente e andamos pelo saguão enorme, até chegarmos no estacionamento. Em um carro preto, seguimos até a base militar de Guadarrama, a cerca de 50 quilômetros do aeroporto. Por todo caminho, eles não disseram muito e eu me mantive calada também, só reparando nas luzes da cidade naquela noite fria. Chegamos a uma base de segurança máxima, com muros altíssimos e unidades de vigia por todos os lados. O portão de ferro se abriu e nós entramos por um pátio repleto de tanques e outros armamentos de guerra. Eu olhei em volta, imaginando que o governo espanhol realmente não queria correr o risco de qualquer possibilidade de fuga daquela mulher.
Desci e seguimos a pé até um dos alojamentos da base. Assim que andamos pelo corredor e alcançamos o elevador, descendo dois andares, entramos por outro corredor que levava ao hospital militar. Passamos por alguns soldados fardados até um quarto isolado em uma ala remota do hospital subterrâneo e eu finalmente fui apresentada ao agente Torres. Fiz a devida continência e recebi um envelope, repleto de documentos.
"É uma mulher, parece ter cerca de trinta anos e foi encontrada na pista de voo, sem qualquer identificação. Tentamos a identificação digital, mas ela estava muito ferida, embora ainda estivesse viva, então a trouxemos para o hospital militar." Ele explicou e eu acenei positivamente, retirando os papéis do envelope.
"Aqui diz que ela passou por dezenas de procedimentos cirúrgicos." Eu mencionei, passando os olhos pela ficha médica dela.
"Tivemos uma recomendação clara de tratá-la porque somente ela poderia nos dar mais informações sobre o esquema de Owen Shaw e sobre os aparatos militares roubados que ainda não foram encontrados".
Eu acenei mais uma vez e continuei a ler. Essa mulher tinha passado por mais de dez cirurgias para a colocação de pinos no ombro, no joelho e na coluna vertebral, além das fraturas convencionais que ainda estavam em recuperação. Ela teve falência em um dos rins e perdeu o baço por causa do trauma do acidente. Não pude evitar uma expressão surpresa ao terminar de ler.
"É quase um milagre ela estar viva". Comentei.
"Os melhores especialistas em trauma trabalharam no caso dela, mas as chances eram baixas. Por isso demoramos tanto para acionar a identificação; ninguém acreditava que ela sobreviveria" Torres explicou, indicando um pequeno corredor que levava a uma porta fechada. Caminhei na frente e abri a porta, encontrando um quarto a meia luz e dezenas de aparelhos médicos. Assim que meus olhos alcançaram a figura sobre a cama, eu travei no lugar e meus joelhos quase falharam. Minha boca puxou uma quantidade absurda de ar, conforme uma expressão de surpresa fugiu pela minha garganta e eu me segurei na maçaneta.
Não era Vegh.
"Agente Neves?" Torres chamou, logo atrás de mim. "Está tudo bem?"
"Eu preciso falar com o agente Hobbs agora". Inquiri, me aproximando da cama. "Ela estava no grupo de cooperação infiltrado".
"Você está me dizendo que ela é alguém da equipe do Toretto?" Torres também não podia conter a surpresa, deixando de lado a polidez de oficial.
"Sim!" Confirmei. "Ela é Gisele Harabo".
Ele saiu da sala e voltou com um rádio militar. Celulares e telefones não eram permitidos dentro da base, então aquele era o jeito mais fácil de falar com Hobbs sem ter que expedir uma autorização oficial. Torres conseguiu contatar alguém que estava na mesma operação de Hobbs e passou o aparelho pra mim. Minhas mãos tremiam e eu estava andando de um lado para o outro do quarto, aflita.
"Agente Luke Hobbs" Ele se reportou, do outro lado do rádio.
"Hobbs, aqui é Elena. Gisele está viva." Eu soltei de uma vez, ouvindo uma expressão surpresa do outro lado da linha.
"Como é?"
"A mulher sob custódia da Espanha não é Vegh; é Gisele!" Expliquei.
"Não saia daí, eu estou embarcando para a Espanha agora". Ele pediu, desligando o rádio. Eu entreguei o rádio para Torres e virei para olhar Gisele novamente. Ela estava com o tubo de respiração preso no rosto e uma série de acessos nas veias dos braços. O ombro direito – que havia sido operado, eu supunha – ainda estava coberto por curativos e uma tipoia. Uma das mãos e a perna esquerda estavam engessadas e algumas cicatrizes ainda eram aparentes. O cabelo ondulado havia crescido e ela parecia ainda mais magra, com a pele pálida. E, mesmo vendo aquela cena penosa, eu sorri. Era um milagre ver Gisele viva. Dom tinha sua família completa novamente.
Oi gente,
Espero que tenham gostado desse primeiro capítulo, que é bem pequeno, não explica muito, mas é o pontapé pra essa Fanfic. Gostaria de avisá-los que a história vai começar com esse enfoque na volta da Gisele, mas depois os outros personagens passam a ter espaço também, então essa não é uma Fanfic somente sobre Gisele x Han. Vamos ter os fatos narrados por quase todos os personagens, mudando bastante a dinâmica do cenário. Estou bastante empolgada com o desenrolar da história, que vai passar pelos eventos do Tokyo Drift e também trazer personagens dos enredos dos outros filmes.
É isso! Comentem, critiquem, sugiram; fiquem à vontade!
Beijos
