Capítulo 01 - Aposta
Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts
Datas dos Treinos de Quadribol da Grifinória
06/11 – 19:00
15/11 – 15:00
19/11 – 18:00
25/11 – 18:30
28/11 – 18:30
Capitão: Tiago Potter
Olhos castanhos passavam por este aviso afixado no mural do Salão Comunal da Grifinória. Ao ler o nome do capitão, a mão automaticamente bagunçou os cabelos já arrepiados, dando ao rapaz a aparência de alguém que acabara de descer da vassoura.
Agitado, ele virou-se rápido dando um passo à frente. No entanto, não esperava dar com alguém a vinte centímetros dele e se assustou.
-AH!
-Eu sei que não sou muito apresentável, mas acho que não sou tão assustadora assim. – uma garota respondeu num tom de fino sarcasmo
-Não, é que você entrou sem fazer barulho nenhum.
-Queria que houvesse uma banda atrás de mim tocando para me anunciar? – ela perguntou no mesmo tom
-Não.
-Quem sabe apenas um tambor?
-Não. E… - ele tentou
-Um clarinete, talvez? – ela interrompeu
-Não! Eu só estava distraído.
-Repara-se. – ela falou como se dissesse "tanto faz". Desviou-se dele com passos firmes e saiu pelo Retrato da Mulher Gorda
A garota não sorria e tampouco estava brava. Era simplesmente Lílian Evans.
-Invocada – Tiago Potter ficou olhando enfezado para as costas do quadro
Tendo assistido à cena do camarote das escadas de acesso ao dormitório masculino, Sirius logo se aproximou do amigo.
-Ei, Pontas, que cara é essa de quem se enganou e passou Esquelecresce na torrada hoje de manhã? – ele escondeu o riso
-Evans. – Tiago respondeu – Evans e suas tiradas irritantes.
-Hum… sei, sei. Mas será que podíamos ir almoçar agora? Aluado e Rabicho já estão lá em baixo.
-Quê? – o rapaz perguntou momentaneamente distraído – 'Tá, vamos.
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Pouco depois, saboreando um pedaço de pudim de leite condensado, Tiago escutava a conversa de Remo, sentado ao seu lado, com Lílian, sentada em frente ao amigo.
-[…] O cometa Dexter passa próximo à nebulosa de Apolo… - Remo dizia
-Próximo a quê? – a garota o interrompeu – Remo, você sabe que não entendo nada de Astronomia. – disse simpática
-Nebulosa de Apolo.
Lílian continuou com expressão de quem não sabia do que ele estava falando.
-Nebulosa é uma nuvem de poeira e gás dentro de uma galáxia. Dependendo de algumas condições, a nebulosa pode brilhar ao não.
-Ora, Evans, - Tiago se intrometeu com um tom de ironia – você não sabia?
-Não, não sabia. – ela respondeu – Ah, é verdade. Pra você, que sabe tudo, a minha ignorância deve soar como um violino desafinado.
Lílian voltou a pegar em seu garfo, mas em seguida pousou-o em seu prato como se "subitamente" tivesse lembrado algo:
-Se bem que não foi você que ontem conseguiu a proeza de confundir fábrica com páprica?
-Foi, e daí? – ele desafiou
-É exatamente esse o ponto: e daí? Se eu não sei alguma coisa, e daí?
-Eu não ando por aí fazendo questão de mostrar que sei.
-Será? Mas se isso foi uma indireta, eu não sou assim. Só faço questão de responder bem às pessoas que parecem querer me espezinhar.
-Evans, você realmente se acha, não?
-Não vou nem me dar ao trabalho de responder isso. – ela disse após uma curta risada.
-Não vai responder porque é verdade.
-Potter, pense o que quiser. Por acaso acha que isso faz diferença pra mim? – e virando-se para amiga ao seu lado disse – Amy, vamos subir?
Ao contrário do que poderia parecer, Lílian não era uma pessoa irritada. Exigente, é verdade, especialmente quando o assunto eram os estudos. No entanto, no geral, era agradável e simpática. Sim, no geral. Entre as pessoas que conseguiam tirar-lhe o bom humor estava seu colega de casa, Tiago Potter.
A garota não era alta, nem baixa. Seu rosto era emoldurado por longos cabelos ruivos sempre presos enrolados em um coque. Tinha chamativos olhos verdes e um gênio um tanto quanto difícil.
Já na escadaria de mármore, Amy perguntou:
-Lily, você não anda um pouco… mal-humorada?
-Ah… - Lily soltou um suspiro cansado – Eu sei.
-Sabe o que eu acho?
-Hum, na verdade, sim. Você tem me contado umas duas vezes por dia nas últimas duas semanas. – ela fez uma expressão ainda mais cansada pela lembrança.
-Mas, Lily…
-Amy, eu não posso fazer o que você diz. Não vou dar conta de tudo. – disse Lily virando em um corredor
-Sabe do que você não dá conta? De superar essa sua teimosia.
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Após o jantar e logo depois de receber mais uma resposta atravessada, Tiago subiu para o dormitório seguido de Sirius.
-Ah, como ela é insuportável. – Tiago bufava
-Sério? Não era o que eu costumava ouvir…
-E pensar que eu já a convidei para sair. Graças a Merlin ela nunca aceitou.
-Também não era isso que eu ouvia. – Sirius tinha os cantos da boca ameaçando um sorriso
-Eu devia estar louco.
-Isso a gente sempre soube. – Sirius riu abertamente
-Que saco, Almofadinhas. – ele atirou um travesseiro no amigo – Já que não pode ajudar, será que dá pra não encher?
-Na verdade, não, Pontas. – ele atirou o travesseiro de volta – Sabe o que eu acho? O número de "nãos" que você recebeu dela fez o seu ego doer por você não ter conseguido conquistá-la.
Nessa hora, a porta do dormitório se abriu e Remo apareceu.
-Pontas, você não tinha treino agora? – ele perguntou
-Ai, droga!
Tiago pegou seu uniforme, vassoura e saiu correndo enquanto Remo olhava confuso para Sirius.
-Ele esqueceu o Quadribol?
-E adivinha por causa de quem... – Sirius se divertia
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No café da manhã do dia seguinte, Mila Lake chegou à mesa da Grifinória e sentou-se entre Remo e Lily.
-Mila, você não devia estar à mesa da Corvinal? – Sirius a provocou
-E você não devia estar num canil? – ela retrucou com um sorriso
-Ah… - Tiago respirou profundamente o ar – … o doce aroma da boa educação…
Mila também estava no sétimo ano. Era da Corvianal e isso fazia Sirius implicar com ela de brincadeira. Seus cabelos, ondulados até a altura dos ombros, eram de um castanho muito claro, enquanto seus olhos, de um castanho bem escuro.
Lily, Amy e Mila haviam se conhecido em sua primeira viagem no Expresso de Hogwarts e apesar de ficarem em casas diferentes, com o passar dos anos, se tornaram ótimas amigas.
-Que aulas vocês têm agora de manhã? – Mila perguntou antes de morder uma torrada
-Runas Antigas e dois tempos de Transfiguração. – Amy respondeu
-Hum, não tenho aula com vocês então… Eu… cadê a Lice?
-Tomou café correndo e foi até o Corujal. – Lílian respondeu
-Pra quem ela foi mandar uma carta com tanta pressa?
-Mila, pra quem poderia ser? – Lily respondeu sorrindo – 1,90 de altura, cabelos castanhos, olhos sonhadores quando está perto de Alice e … - ela estalava os dedos para "ajudar a lembrar" – Ah, atende pelo nome de Frank Longbotton.
-É verdade… Melhor eu ir, tenho aula nas masmorras agora. Até mais – disse Mila antes de sair
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Mais tarde, Lily e Amy entravam na sala de Transfiguração. Reparando que as carteiras estavam arrumadas em duplas, a ruiva falou:
-Amy, senta com a Alice.
-Tem certeza?
-Tenho. Você sabe que eu não me incomodo em sentar sozinha.
Quando a professora McGonnagal chegou e pediu aos alunos que lessem da página 120 à 125, reparou que dois alunos dividiam um livro e aproximou-se deles.
-Qual dos dois esqueceu o livro? – ela perguntou
-Fui eu, professora. – Tiago respondeu
Após levantar o rosto e dar uma olhada geral na sala, Minerva dirigiu-se a Lily.
-Senhorita Evans, se incomoda se o Senhor Potter acompanhar com você?
-Eh, não, professora.
-Ótimo. – a professora respondeu e dirigiu-se ao rapaz de novo – Senhor Potter, por favor acompanhe com a senhorita Evans.
-Quê? – ele ficou boquiaberto – Professora, não, não precisa. – disse exasperado – Posso acompanhar com Sirius.
-É melhor não. Acredito que assim a aula será mais tranqüila, sem conversas e risadinhas esporádicas.
Minerva virou-se para ir até sua mesa, mas nem bem tinha dado um passo, voltou-se para os dois:
-Papeizinhos voando pela sala levanto as conversas de vocês também estão fora de cogitação.
Bufando de leve para McGonnagal não escutar, Tiago levou suas coisas para a carteira vaga ao lado de Lílian. Sem dizer nada, Lily lhe indicou com o dedo o lugar da página no livro já aberto entre as duas mesas.
Um parágrafo depois, ela o percebeu revirando a mochila atrás de uma pena. Mais uma vez, sem lhe dirigir a palavra, ela procurou em sua bolsa uma pena extra e a depositou sobre o pergaminho de Tiago.
Ainda meio azedo quando o assunto era a senhorita Evans, ele perguntou:
-Por que está sendo tão prestativa se me detesta?
Com a voz muito baixa para que ninguém, especialmente a professora ouvisse, Lily respondeu:
-Chama-se educação. E pare de se fazer de coitadinho, eu não o detesto.
-Perdão, como disse? Eu devo ter ouvido errado.
-Potter, eu só faço questão de responder bem às suas alfinetadas.
-Engraçado, porque você gosta de enfatizar os meus defeitos.
-E por isso significa que eu o detesto? Potter, cresça. Pra você ou as pessoas te amam ou te odeiam? Não conhece um meio termo?
-Algum problema, senhorita Evans?
-Não, professora, desculpe. – ela corou e lançou ao garoto um olhar de conversa encerrada.
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Naquela tarde, as quatro amigas tinham a última aula livre. Por isso, andavam pelos jardins cheios de neve rindo e conversando. Nas partes um pouco mais baixas do terreno, a caminhada se tornava mais difícil com os pés afundando vinte centímetros na neve.
-Você não acham que o Alan está mais bonitinho esse ano? – Mila vinha dizendo
-Quem? – Amy perguntou tentando andar sobre um trecho particularmente fundo de neve.
-Alan Benton, sexto ano da minha casa, Corvinal. – Mila identificou
-Eu acho ele um pouco baixo. – Alice comentou
-Ah, nem tanto. – Amy continuou – O que você acha, Lily? … Lily?
-Ãhn? O que foi?
-O que você acha do A… - Amy começou
-Você não estava ouvindo nada? – Mila perguntou quase indignada – E pode-se saber no que ou em quem você estava pensando que era mais importante? – acrescentou com falsa braveza
-Estava tentando lembrar o sétimo uso do sangue de dragão.
-Ah, não, Lily. – Amy reclamou – Será que eu posso lembrar você que estamos no fim da tarde, que nossas aulas já acabaram por hoje e que você não está sentada na Biblioteca fazendo redação?
Mas para evitar que Lílian repetisse todos os argumentos dela a respeito, Mila se abaixou no chão juntando um punhado razoável de neve na mão e amassando-o até formar uma bolinha.
Por isso, antes que a ruiva abrisse a boca, sentiu o impacto da neve em seus lábios – Mila tinha uma pontaria admirável. Em resposta, Lily atirou uma bola de neve nela, mas como sua mira fosse uma lástima, acertou em Alice. E esse foi o estopim para uma guerra de neve que durou bem uns vinte minutos e que deixou as quatro encharcadas.
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Enquanto isso, no dormitório masculino, Tiago e Sirius discutiam.
-Você reparou na Flavinha da Lufa-Lufa olhando pra mim no almoço? – Sirius falou jogando a mochila as pés de sua cama.
-Pra você? Ela estava olhando pra mim. – Tiago se deitou na cama de barriga pra cima e com as mãos atrás da cabeça
-Tsk, tsk, é míope mesmo. Meu caro Pontas, por que ela olharia pra você se pode olhar pra mim?
-Almofadinhas, eu posso ter qualquer uma que eu quiser. – ele respondeu olhando para a cama de cima do beliche em que dormia.
-Todas, menos uma. – Sirius provocou
Tiago apoiou a cabeça em uma das mãos para ver o amigo.
-É? Qual?
-Lílian Evans.
-Essa não me interessa. – ele voltou a deitar
-Sério? É bonita, inteligente, um senso de humor peculiar e respostas bastante… únicas.
-Ainda assim. Não me interessa.
-Já ouviu falar que quem desdenha quer comprar? Eu acho que diz isso porque não consegue.
-É um desafio? – Tiago sentou-se
-Pois eu aposto que não consegue beijar Lílian Evans. Beijo roubado não vale. O que me diz? – Sirius estendeu a mão
-Feito. – Tiago disse apertando a mão do amigo
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Naquela noite, todos já tinham caído no sono no dormitório masculino do sétimo ano da Grifinória, exceto um rapaz de cabelos arrepiados.
Aproveitava o momento de insônia para pensar na aposta. Durante todo o quinto ano ele convidara Lílian para sair. E para todos os convites a resposta era, invariavelmente, negativa.
É verdade que mais de um ano tinha se passado, que várias coisas haviam mudado, mas mesmo assim, ele precisava pensar em uma… estratégia.
Resolveu descer para ficar em frente à lareira como fazia sempre que perdia o sono. Só não contava, chegando aos últimos degraus da escada, ouvir vozes no Salão Comunal. Estacou ao identificar quem falava e com quem.
-Lily, pára com isso e vai deitar. – soava a voz preocupada de Amy
-Não posso. Preciso terminar esse capítulo. – a voz da ruiva denunciava seu cansaço
-Você não pode é ficar aqui nesse estado.
-Amy…
-Lily, presta atenção. Ficar aqui não vai fazer o trabalho render; ir descansar, vai. "Terminar esse capítulo" vai ser contraproducente.
Lílian devia ter argumentado alguma coisa, mas sua voz era tão baixa, que Tiago não pôde ouvir.
-Já é quase uma da manhã e você mal está se agüentando em pé. Ficar aqui não vai adiantar.
A preocupação na voz de Amy chamou a atenção do garoto, que meio distraído, quase não teve tempo de se encolher nas sombras quando as duas atravessaram o Salão Comunal – Lílian tinha sido convencida ao que tudo indicava.
Abaixado na curva da escada do dormitório, Tiago, levemente preocupado com a cena, teve uma idéia a respeito da "nova abordagem" de que precisava. E se tudo desse certo, até a ruiva sairia ganhando daquela aposta depois de aprender umas coisinhas com ele… eh…
N/A – Olá, nova fic (que na verdade estava no fundo do baú) chegando! Espero que gostem.
Não faço idéia se de fato existe um cometa Dexter e uma nebulosa de Apolo – provavelmente, não. Faço menos idéia ainda se um cometa passa próximo a uma nebulosa. De qualquer forma, não importa, foi só pra ilustrar.
Apostas são meio batidas, mas teremos repercussões mais para frente...
Conforme vocês forem comentando, vou aparecendo por aqui nas N/As.
Beijos,
Palas
