Yumi sempre foi uma garota muito diferente da maioria, não pelo seu jeito estabanado, sincero com seus sentimentos, ingênuo, inocente, às vezes até bobo, que lhe conquistou muitos fãs e amigos, mas sim, por um dom que tinha desde criança, não um dom de voar, ver fantasmas, prever o futuro e todos esses "dons" de televisão, ela podia fazer algo melhor, na opinião dela.
As pessoas são conectadas a outras por fios que permanecem sempre invisíveis, há três tipos de fios: o fio amarelo, está amarrado nos pescoços de todos, ele representa a família, ou seja, os membros da família se interligam a partir desses fios; há também o fio verde, o fio das amizades. Os verdadeiros amigos estão ligados sempre por esse fio, ou seja, num círculo de amizades, se um dos "amigos" não possuir esse fio o ligando a algum deles ou a todos, ele não é fiel a amizade; e por último, mas não menos importante, há o fio vermelho, esse fio se liga a somente uma pessoa, é o fio das almas gêmeas. Quem estiver ligado por esse fio estão destinados a passar toda a vida e talvez depois dela juntos. E Yumi tinha a habilidade de ver esses fios.
Desde bebê, Yumi já via esses fios, e tentava pegar o fio amarelo que estava amarrado no pescoço de sua mãe ou de pai ou de seu irmão, melhor, de qualquer um. Quando maior, ela se perguntava o porquê de seus colegas de classe ou até sua família tinha tantos fios amarrados neles. No começo, era meio confuso, ver tantos fios, tantas pessoas e não entender o porquê. As coisas só começaram a fazer sentido no seu aniversário de 10 anos, era uma festa normal, com alguns parentes e amigos, mas uma visitante inesperada fez daquele aniversário inesquecível para Yumi, o nome dela era Aika, uma parenta distante, e como presente ela lhe deu um livro. Na mesma noite, Yumi isolou-se num canto e ficou a ler o tão misterioso livro, Aika sentou-se ao seu lado e passou a explicar o seu dom e desde então Yumi não se sentia mais confusa.
No primeiro ano, no colégio para garotas Lilian, Yumi conheceu Shimazu Yoshino e Todo Shimako, ambas garotas tinha amarradas nelas os fios verdes que se conectavam entre si e com Yumi também, desde então, elas ficaram inseparáveis.
Yumi faz de hobbie ajudar as pessoas da forma que pode pelo seu dom e para isso conta com a ajuda de suas duas grandes amigas. Divide tempo entre seu hobbie, amigas, família e faculdade de arquitetura.
Cap. Único
- Não, não, não, não, definitivamente não! – gritou Yoshino se levantando e cruzando os braços.
- Yoshino, não faça um escândalo! – disse Yumi corando.
Shimako também estava vermelha e olhava para a mesa como se fosse a coisa mais interessante possível. Todos do pequeno café estavam olhavam para o trio, curiosos.
Yoshino sentou, ainda de braços cruzados e expressão fechada.
- Yumi, você está brincando comigo, não é?!
- Mas, foi você quem perguntou... Eu só respondi sinceramente.
- Shimako, você também acha isso? – perguntou Yoshino olhando a amiga que permanecia calada.
- Acho... melhor mudarmos de assunto, não? – sugeriu nervosa.
- Shimako, você também! – exclamou nervosa.
Shimako desviou o olhar se sentindo embaraçada, Yoshino emburrou na cadeira e Yumi suspirou. Por quanto tempo estavam na mesma discussão mesmo? Ah, duas semanas...
- Yoshino, isso já está passando dos limites. Você pediu minha opinião sincera e é a seguinte: vocês formam um lindo casal, tenho certeza que o que vocês sentem ultrapassaria a vida, mas vocês nunca vão dar certo se você não encarar isso!
- Yumi está certa. – Continuou Shimako – Tenho certeza de que Rei-san te aceitaria, te amaria e juntas vocês seriam muito felizes.
- Ahhh, tudo bem! – disse Yoshino, se sentindo derrotada e emocionada – vou conversar com Rei-chan.
As duas amigas se olharam e sorriram.
- Não sei como você tem tanta certeza de que vai dar tudo certo entre a gente, Yumi. – Comentou Yoshino.
Yumi sorriu. Desde que virá Rei e Yoshino pela primeira vez, percebeu o fio vermelho que as unia e sorria de felicidade toda vez que as via juntas.
Com o tópico sensível terminado, o trio continuou com conversas triviais. Yumi estava um pouco distante, desde que acordara o fio vermelho, preso em seu dedo mindinho, estava sendo puxado e nunca vira tal coisa...
- "Talvez eu deva ligar para a tia Aika..."
As três acabaram se separando pouco tempo depois. Yoshino iria se encontrar com Rei, Shimako prometeu a Noriko que iriam assistir a um filme de teor budista e Yumi decidiu passear num parque, pensar um pouco.
Enquanto andava, pensava em suas amigas. Era obvio que Rei e Yoshino iriam ter um "final feliz", elas estavam juntas desde sempre! Conheciam-se como ninguém, entendiam-se como ninguém, mesmo se não pudesse ver o fio vermelho teria certeza da felicidade delas! Só tinha medo, pois Yoshino era muito cabeça-dura...
Bom, com Shimako era mais tranqüilo. Seu crescente relacionamento com Noriko estava indo bem, tinha certeza de que o problema entre ela, Noriko e Takuya iria se resolver, hora ou outra.
Sentou-se num banco e passou a observar o lago.
- E quanto a mim? – sussurrou.
Verdade. Vira suas amigas encontrando a pessoa que possuía a outra extremidade do fio vermelho, mas e o dela? Sentia-se meio desapontada com tudo. Levantou a mão direita e viu o fio vermelho, novamente sendo puxado, e o acompanhou com o olhar até se perder de vista. Já pensara na oportunidade de ir seguindo o fio até achar alguém, mas essa pessoa poderia estar em outra cidade, na extremidade sul ou norte do Japão, e até mesmo em outro país, seria uma grande perda de tempo!
Suspirou e olhou para o céu. Sentia o fio sendo puxado, mas ignorou o sentimento, fechou os olhos e se permitiu relaxar um pouco. Ficou de olhos fechados por um tempo e nem percebeu alguém se aproximar e sentar-se ao seu lado.
Abriu os olhos lentamente e feliz viu que o fio tinha parado de puxar.
- Parou! – exclamou, achando que estava sozinha.
- Ahn... Está tudo bem?
Yumi parou e gelou. Havia outra pessoa ao lado dela que com certeza a achava louca por ter gritado assim do nada.
- Ah, de-desculpe! Não vi que tinha mais alguém do meu lado! – se desculpou e virou-se para a pessoa que ainda estava sentada.
Seu coração pareceu parar e depois a bater com o dobro de velocidade, quase saltando pelo seu peito. Sentada ao banco, vestida num terno feminino preto com um longo sobretudo azul-escuro que combinavam com seus olhos também azuis – que fariam o céu mais estrelado morrer de inveja – e longos cabelos negros azulados estava uma deusa e Yumi se perguntou se estava delirando ou coisa do tipo.
- Está tudo bem. Desculpe-me por intrometer.
- Ah! N-Não foi nada! Eu que foi descuidada e... – corou. Por que sua mente de repente parara de funcionar?! Quem era ela?
- Eu sei como é. Fico assim quando venho aqui também. – Disse a deusa olhando para o céu.
- Você vem sempre aqui? – corou quando essas palavras saíram de sua boca. Parecia uma cantada ridícula.
- Praticamente todo dia...
Ficaram em silêncio por um tempo. Foi então que Yumi percebeu os fios que envolviam a deusa... O fio amarelo era muito fraco, quase se desfazendo... Sua relação familiar não era muito boa; ela só tinha dois fios verdes fortes e mais dois quase se desfazendo também e o fio vermelho... Não estava esticado para os lados como ele normalmente fica... Estava curto... Yumi seguiu com os olhos o fio vermelho e surpresa viu que a outra extremidade do fio estava amarrada...
- "A mim..."
Surpresa, ficou a encarar o fio, ainda sem acreditar. Aquela deusa estava destinada a ela? De todas as pessoas, logo a ela? Era inacreditável.
- Tem certeza de que você está bem?
Olhou para o rosto da deusa que a olhava preocupada. Quase se bateu ao ver a preocupação naqueles orbes maravilhosamente azuis.
- Eu estou bem! Sério!
- Você estava olhando para o chão com uma expressão tão... Perturbada.
- Eu só estava pensando! Nada demais! – tentou rir, uma de suas mãos foi para trás de sua cabeça, numa clara pose de embaraço que fez tantas vezes no colégio.
- Tudo bem então, fico feliz. – e ela sorriu.
Yumi tinha certeza de que o sol ficou mais brilhante depois daquele sorriso, o mundo ficou mais lindo e o céu mais azul.
- Bom, não quero te atrapalhar, te tirei dos seus pensamentos duas vezes já. Algo nada educado. – disse ela se levantando.
- Não se preocupe! Não está atrapalhando. Me perder em pensamentos não é algo educado também e você só estava preocupada!
Falava sem parar, procurando uma desculpa, qualquer desculpa, para impedir que ela se fosse, para impedir que ela saísse de sua vida tão rápido quanto entrou... Parou de falar ao ouvir uma risada, o mais belo som que já ouvira, vindo da mulher mais linda que já vira. Contagiada, começou a rir também.
O toque de um celular interrompeu as risadas. Yumi só observou quando ela tirou o celular do bolso e olhou o número que a chamava, os orbes azuis se entristeceram e Yumi sentiu um aperto no coração.
- Olá, pai. - ela respondeu. A voz sem emoção.
Ela ficou em silêncio por um tempo.
- Claro, estarei no escritório em alguns minutos. – e a ligação se encerrou.
- Tudo bem? – perguntou Yumi preocupada.
- Problemas na empresa do meu pai. Vou lá para tentar resolver.
- Ah, tudo bem. Boa sorte! – desejou sinceramente.
- Obrigada por esse tempo. Tinha anos que eu não ria dessa forma.
- Eu fico feliz em saber disso.
As duas sorriram.
- Quem sabe não nos encontremos aqui outro dia nessa mesma hora? – sugeriu a deusa.
- C-Claro! – estava borbulhando de alegria.
Ela se virou para ir embora.
- Ah! Verdade, que falta de educação. – voltou-se para Yumi – meu nome é Ogasawara Sachiko.
- Fukuzawa Yumi.
As duas sorriram, um pacto silencioso. E da mesma forma que ela apareceu, ela desapareceu. Yumi olhou para o fio vermelho que se estendia e um sorriso bobo cruzou seu rosto.
Sentou-se novamente no banco e tirou o celular do seu bolso. Fez uma nota mental de pegar o número de Sachiko depois. Ligou para sua tia.
- Tia Aika? Aqui é...
- Yumi, claro! ! – respondeu Aika animada.
- Tudo bem com a senhora, tia?
- Tudo, minha querida Yumi. E pela sua voz, creio que você também está.
- Tia, a senhora já sentiu o fio vermelho sendo puxado?
- Puxado você diz?
- Sim, já?
- Está acontecendo com você, meu bem, ou com outra pessoa? – Aika perguntou implorando para ser com outra pessoa.
- É algo ruim, tia?
- É com você, não é?
- Tia?
- Quando o fio vermelho é puxado não é nada bom... Yumi, quando isso acontece, normalmente, o outro lado do fio está com problemas sérios...
- Fios se desfazendo?
- Sim! Ah, Yumi, e na maioria dos casos... A pessoa acaba morrendo, seja por acidente, assassinato ou suicídio, este último com mais frequência.
- Tem algo que eu possa fazer? Qualquer coisa?!
- Pode tentar ajudar, mas é difícil! Você se sente muito mais ligada a pessoa, do que ela a você... Nesses casos, a pessoa deve ter abdicado aos seus sentimentos, os escondido bem dentro de si e será difícil cavar onde só tem pedra.
- Mas eu posso procurar um lugar de areia! Sempre tem!
- Yumi...
- Eu vou tentar!
- Boa sorte então, Yumi. Qualquer coisa, me ligue!
- Irei. Obrigada, tia.
Desligou. Estava mais determinada do que nunca!
- " Amanhã eu estarei aqui, e depois e depois e depois, até eu conseguir!"
Levantou-se do banco, se preparando para ir embora. Mal dera dois passos e seu celular tocara novamente. Era Yoshino.
- Yumi-chan! Não acredita no telefonema que recebi! – Yoshino praticamente gritava de alegria – Yuuki-san, seu irmão, acabou de me ligar. Ele falou que seu celular estava ocupado e que precisava te contar urgente...
- Fala logo, Yoshino-chan!
- Ligaram das empresas Ogasawara. Eles têm uma seção somente para arquitetos e estavam te chamando para fazer um estágio lá!
Só um nome lhe veio a mente: Suguru. Ele estava por detrás disso, com certeza.
- Sua entrevista vai ser amanhã às 09:00AM !
- Okay! Obrigada, Yoshino-chan! Eu vou fazer o meu melhor!
- Melhor mesmo! Estamos esperando por essa chance por um bom tempo!
Yoshino era estudante de medicina, estava planejando se tornar cardiologista. Hoje era um dos poucos dias que ela não estava dando seu sangue pelo estudo e estágio. Shimako era professora de literatura, na adolescência ela queria se tornar freira, mas por obras do destino, isso acabou não acontecendo.
- "Parece que o destino está do meu lado!" – pensei feliz ao desligar o celular.
Ogasawara Sachiko, empresas Ogasawara, Kashiwagi Suguru, tudo conectado.
- Afinal, todos estamos. – olhou para seus fios.
[
Fim!
Brincadeira =x
