N/A:

Eu descobri que pegar coisas que você escreveu há tempos para situações que aconteceram na sua vida e botar em uma situação fictícia semelhante (dentro do possível) ajuda bastante a cauterizar o resto das merdas que o tempo não apagou.

Com alterações, claro... Mas, sabem de uma coisa? Acho que vou fazer isso por um bom tempo agora.


Você foi o primeiro, sabia? O primeiro pivô do primeiro triângulo. A primeira necessidade de "dar o troco", de "superar", de "reafirmar". A primeira pessoa que derrubou os muros (inclusive o da "distância confortável do resto do mundo e do sofrimento"). Tantos muros! A primeira lágrima derramada por frustração e decepção e saudade e tudo junto. A primeira pessoa que me tirou o ar de tantas maneiras diferentes. Você foi a minha primeira hi/estória.

Mas eu sinceramente não sei se aquela coisa de "o primeiro a gente nunca esquece" se aplica aqui, porque eu já esqueci desses "primeiros", de como foi tê-los e senti-los. Um grande eco: é isso que é. Eu afastei de mim todos eles por achar que era hora de mudar. "Daqui pra frente...": como disse isso a mim mesma tantas - mas tantas - vezes!

Aí, foi tudo embora. As coisas ruins, as boas, e você também. Porque no estado que eu 'tava, não podia deixar sobrar mais nada de nada disso. A cada dia me convencia um pouco mais. Eventualmente, consegui. Não apenas por querer. Você... Você sabe por que mais? Porque você também foi o primeiro motivo que eu tive, de verdade, para mudar. Esse"primeiro" eu nunca esqueci. Me lembro de cada etapa do processo de metamorfose.

É... Se naquela época eu, tão bobinha e desesperada, soubesse que ia dar no que deu, eu teria te esquecido antes. Só pra você voltar como voltou, e me deixar todinha estarrecida. Ter aquela sensação, do nada, naquele momento, de você me querendo e não o contrário foi... Sei lá. Foi. Só foi. E eu não senti nada de muito avassalador em ver você voltar.

Finalmente realizei que àquela altura era meio tarde; eu já tinha esquecido há muitos e muitos anos. Séculos, talvez. E se não fosse a conversa estranha do outro dia, eu não teria certeza se aconteceu mesmo. Mas aconteceu, né? Aconteceu e eu 'tava morrendo de medo, porque eu esqueci. Tudo. Tudo, tudo mesmo. Eu mudei, e dentro de mim "a gente" também mudou - se é que algum dia existimos, mas acho que na minha cabeça sim. De qualquer forma, "a gente"não voltou com você.

Aquilo tinha que 'ta errado. Te ver daquele jeito, ou melhor, NÃO TE VER e não precisar de você com cada célula de mim.

'Tava muito errado.

Você não foi embora de novo, você ficou dessa vez, você também mudou. Mas... Mas eu continuei com amnésia. Pra toda essa "nova eu", atualmente, você representa a possibilidade do "primeiro". De novo. Mas aí eu pergunto: sendo assim, o "novo você" não seria o segundo? Acho que não importa, porque, sabe... Eu provavelmente vou esquecer. Fiquei muito boa nisso! Fiquei boa em não suportar depender tanto assim de alguém.

Mas e agora que você precisa desesperadamente de mim pra se salvar? Digo, de mim não! Da "antiga eu". E agora? Agora a "nova eu" vai ser sua "primeira" como você foi meu "primeiro"? Se for... Me perdoa. De verdade, do fundo do meu esquecimento. Me perdoa.