Desvios

(Gray P.)

1º Ato - 30 minutos para a meia noite


É mais uma noite como outra qualquer.

Os clichês não param. Não desejo que parem, mesmo que só por alguns instantes. Enquanto corro, posso sentir o fio de suor que desce meu rosto, o som laborioso de minha respiração desordenada, meus passos inconstantes e apressados ecoam através do asfalto e da noite ao meu redor.

Posso ouvir risadas e toda a alegria que, com todo o seu calor, aquecem esta fria noite de inverno. Mas nada disso importa. Nada disso me importa. Enquanto corro, não evito pensar na forma como deixei Tsuna para trás. Após receber aquela mensagem em meu celular, apenas saí rapidamente sem ao menos explanar a situação, ou a aparente razão para tamanha pressa de minha parte. Ou por Estupidez, ou por falta de atenção, por burrice, chame do que quiser. Eu sei que não passo de um tolo correndo em uma noite nebulosa e cheia de neve a cair do céu. Um completo idiota que pretende chegar a algum lugar.

Faltam 27 minutos para a meia noite. Meu corpo continua movendo-se em direção ao meu destino. Sim, um completo idiota, eu já sei. Sei que não faz o menor sentido sair correndo a esta hora no ano novo, muito menos sair correndo de terno e gravata. Ah, merda!

Queiram me perdoar, ou não, sintam-se a vontade. Porque não foi assim que planejei esta porra de fim de ano. Dane-se. Está frio pra porra, estou esgotado com a quantidade estúpida de trabalho que tenho e só tenho mais alguns minutos pra atravessar a cidade praticamente inteira a pé. A PÉ! (Suspiro) Não reparem o mau humor, se possível. Na verdade, estou longe de estar irritado, mas o motivo já é outra história. Uma história um tanto longa que resumirei rapidamente como "um certo alguém que está a minha espera neste instante".

Quem? Ah, não é da conta de vocês. Não interessa quem...! Yamamoto? Por que raios, diabos, demônios, seria ele? (Silêncio) Merda, e se for ele, hã? E daí se for ele? Ele é um idiota viciado em um maldito esporte americano, no qual um bando de idiotas rebatem bolas com tacos de madeira. E aquele maldito sorriso, hein? Como se ele não possuísse problemas sérios em, sua vida, nenhuma questão a ser resolvida... Aquele bastardo. Mas de alguma forma bizarra... Ainda assim, ele é alguém importante para mim. Agora. Nada foi planejado, podem apostar que não. Mesmo assim, continuo correndo em sua direção.

(Mais 13 minutos para a meia noite.)