Prólogo
Ele está morto. Depois de tudo, morto. Como Cedric, Sirius, Remos e tantos outro. A guerra parecia não ter fim, mas meu ódio foi maior, minha raiva mais mortal que qualquer coisa que aquele monstro pudesse ter jogado em cima de mim. Eu fiz por eles, por aqueles que considerei minha família e que pereceram tentando me ajudar: Padfoot e Moony. Só por eles!
Sinceramente achei que era o fim de todos os meus problemas, que estava tudo acabado. Mais uma mentira que alimentei a mim mesmo, da mesma forma que outros o fizeram. Meus "amigos" me abandonaram, aparentemente eu era o seguro de vida de menor risco. Literalmente. Agora, como não sou mais necessário, Ron e Hermione sequer lembram de que um dia fomos um trio. O Trio de Ouro da Grifinória. Rá! Até parece! Estúpido incauto é o que fui, preso numa rede de manipulações. Tão entretido que estava com a possibilidade de ter amigos e uma família acolhedora que não parei para me certificar se eles eram verdadeiros. Por quatro anos fui uma pessoa diferente, fui exatamente o que o mundo mágico esperava de seu salvador. Abandonei toda cautela que havia me mantido vivo por 10 anos morando com os Dursleys e mergulhei de cabeça num mundo que acreditei ser capaz de me compreender. E talvez tivesse sido se eu não fosse seu maldito salvador.
Mas as mentiras não pararam por ai. Não, elas foram muito além. Começaram no dia do meu nascimento, quando o ilustríssimo Albus Dumbledore me tirou dos braços de meu pai, o mesmo que me dera luz, e me pôs no lugar de outro, que nascera morto. Eu jamais teria acreditado se as palavras da carta a minha frente não estivessem na caligrafia intrincada do próprio diretor de Hogwarts. Meus olhos as percorreram pela quarta ou quinta vez, as três primeiras não haviam sido suficientes para me convencer, cada frase mais absurda que a outra:
Caro Harry
Eu provavelmente deveria dizer isso pessoalmente, mas o tempo que tenho disponível esta sendo completamente absorvido pelo novo semestre. Sei o quanto detesta seus guardiões e peço que me desculpe por enviá-lo novamente a eles. Mas no momento é imprescindível que fiques em segurança. Mesmo que Voldemort já não esteja mais entre nós, há Comensais da Morte suficiente para causar danos caso consigam por as mãos em você. Por hora as proteções na casa de seus parentes são as melhores que posso lhe oferecer. Estou trabalhando em proteções que poderemos erguer ao redor da Toca, provavelmente em um mês elas estarão prontas e os Weasleys concordaram generosamente em recebê-lo, portanto eu peço que não faça nada impensado e fique onde está
Dito isso, Harry, creio estar na hora de revelar algo que jamais revelei a alguém e que, no entanto, lhe diz total respeito.
A partir daí é que tudo começa a ficar inacreditável, incompreensível...
Poucos sabem que Lily estava novamente grávida quando tiveram de se esconder. O menino, um ano mais novo que seu primogênito, infelizmente nasceu morto no dia 2 de agosto. O que ninguém soube, a minha exceção, é que outra pessoa estava grávida e dera a luz um menino no dia 31 de julho de 1981. Essa pessoa no entanto havia me procurado justamente por estar proibida de produzir descendentes por leis ministeriais e sem saber o que fazer para salvar seu fruto voltou-se para mim em busca de solução. E solução foi o que encontrei três dias depois quando o caçula dos Potter nasceu morto. Não me entenda mal, não tenho nenhum orgulho do que fiz, mas era necessário. Você, meu menino, mas do que ninguém entenderá a importância da profecia que me fora divulgada um ano antes. A partir daquele momento havia três possibilidades: Harry Potter, Neville Longbottom e você, filho de um lobisomem. Sim, Remus era seu pai, e foi devido a sua gravidez que durante aquele último ano ele mantivera-se afastado de seus amigos, o que infelizmente o fez parecer mais suspeito do que qualquer um. Naturalmente, eu não soube de tais circunstâncias até o final de sua gravidez quando por fim resolveu me procurar. O Ministério tinha o poder de eliminar ambos caso descobrissem aquela gravidez. Fiz a única coisa que pude para garantir sua segurança: obliviei Remus para que acreditasse que seu filho nascera morto e o entreguei aos Potter sobre um glamur que o faria parecer com eles, nenhum deles jamais soube de sua verdadeira identidade.
Quando Voldemort atacou, todos os Potter foram assassinados incluindo Harry. Você, meu garoto, por alguma razão que desconheço, havia sobrevivido com apenas uma pequena marca. A mesma razão pode ser atribuída a seu triunfo em junho passado no massacre que se seguiu após o torneio e cabe apenas a você entendê-la. Não há dúvidas de que és um bruxo poderoso. Até aquele ponto todos que sabiam de sua existência estavam mortos ou, como no meu caso, jamais revelariam o que tinha acontecido, então para melhor protege-lo eu alterei o glamur que havia criado antes para dar a impressão de que Harry Potter sobrevivera e Lucas, como eras chamado antes por sugestão do próprio Remus se não me estou enganado, jamais existira.
Sei que é difícil imaginar agora que tudo isso o que lhe relatei seja verdade, mas é preciso uma vez que o glamur romper-se-á no seu aniversário de 14 anos. Eu o teria renovado caso ainda fosse necessário proteger sua identidade, mas creio que com Lorde Voldemort morto e as leis ministeriais que ameaçavam sua segurança abolidas a partir do momento que criou-se a Poção Wolfsbane, o melhor seria assumir sua verdadeira identidade. Ela não lhe conferiria o anonimato que tanto deseja, pois ainda tens a cicatriz, mas o permitiria circular no mundo mágico sem problemas uma vez que somente aqueles que o conheceram bem antes saberão da verdade. Pense muito bem nisso meu garoto, conversaremos melhor quando eu o levar para a Toca.
Minhas mais profundas desculpas pelo transtorno que lhe causei. Espero que permaneças bem até a próxima vez que nos virmos.
Sinceramente,
Albus Dumbledore
Isso tudo era completamente surreal, mas três coisas o incomodavam profundamente. As leis dais quais o diretor falava, eram uma delas, porque haviam sido abolidas dez atrás, que foi quando Wolfsbane foi criada. O que quer dizer que ele poderia Ter tido um pai por dez anos ou mais, caso sua identidade tivesse sido revelada antes. E Remos, Merlim! Remus não precisaria ter ficado sozinho por tanto tempo e carregado tanta dor e mágoa. Como Dumbledore podia permitir que aquilo tivesse continuado?!
E quanto a seu outro pai, ele sabia que gravidez masculina era possível no mundo mágico mas eram necessários dois bruxos para fazer um bebê, não era? Então quem diabos era o outro?!
Outra coisa que não entrava em sua cabeça era o fato de que ele era um ano mais novo, tudo bem que ele sempre estivera entre os menores do seu ano, mas nunca – nem em um milhão de anos – ele teria suposto que o problema não era a sua genética mas a sua maldita idade, era demais!
Não, ele não podia mais suportar esse mundo de intrigas e manipulações. Todos que amara um dia estavam mortos. Ele não queria esperar por Dumbledore, não queria sequer vê-lo. Raiva, frustração e grande mágoa, vinham a sua mente quando pensava em seu antigo diretor. Felizmente ainda lhe restava um última alternativa, uma que ele descobrira durante seus estudos para o Torneio Tribruxo e que passara a considerar cuidadosamente após a Batalha Final contra o Lorde das Trevas. Antes de deixar Hogwarts, ele voltara a biblioteca e duplicara, com um feitiço muito útil e pouco conhecido, o livro "O Fluxo da Magia", que trouxera consigo para os Dursleys. Uma passagem em especial chamara-lhe a atenção:
"Alterno Realitis Maximum é um feitiço desconhecido por muitos e sem nenhuma comprovação prática de seus resultados uma vez que fora usado apenas três vezes em nossa história, e aqueles que lançaram o feitiço sobre si desaparecem no momento seguinte. Se de fato obtiveram sucesso permanece um mistério sem solução. O objetivo no entanto é conhecido: mandar o usuário a uma dimensão paralela e semelhante a nossa, mas na qual certos eventos podem ter ocorrido de forma diferente ou jamais ter acontecido. Uma outra Terra, por assim dizer. Se essa nova dimensão de fato existe, se é a única ou existem outras, e muitas outras dúvidas foram levantadas por críticos do Ministério da Magia em tempos passados, concluindo ter tal feitiço um risco demasiado e portanto conferido-lhe caráter ilegal. Entretanto como o poder para lança-lo estava aquém a capacidade de muitos, nenhuma lei foi oficialmente registrada condenando seu uso. O encanto fornecido no início desde texto deve ser pronunciado claramente, mas o intento também deve estar claro e forte na mente do usuário que procura atravessar as barreiras do tempo e do espaço. Atenção: o usuário deverá lançar o feitiço sobre si mesmo, nenhum outro pode faze-lo. As conseqüências, caso contrário, podem ser fatais. O mesmo pode ser dito caso aquele que lançar o feitiço não tenha o poder necessário para usá-lo."
Tinha passado horas analisando aquele trecho, suas conseqüências, os prós e contras de lança-lo sobre si, e tudo o que conseguiu foi dar círculos dentro das mesmas possibilidades:
Ele poderia morrer ou
Poderia entrar em uma nova realidade, onde seria completamente desconhecido, e começar sua vida novamente. Um recomeço que nunca seria possível em sua própria realidade. Sem pressões, sem mentiras ou intrigas.
Ele também poderia entrar em um mundo onde Voldemort ainda existia, mas e daí! Ninguém disse que precisaria lutar e se lutasse seria apenas mais um soldado. Mais um na multidão. Esse era seu maior desejo, passar desapercebido, encontrar um pouco de sossego e privacidade. Sua vida não seria da conte de ninguém...
Sim. Era isso o que faria, pouco importa se morresse na tentativa. Nada o prendia a esse mundo. O que precisava agora era fazer certos preparativos. Iria sem que ninguém soubesse ao Beco Diagonal, compraria um baú com múltiplos compartimentos e num deles colocaria todo o dinheiro de seus cofres, ele tinha acesse tanto ao dos Potters quanto ao dos Blacks, graças a seu padrinho que deixara estipulado em seu testamento que Harry deveria ser emancipado na leitura daquele documento e receber toda a herança que lhe era devida na mesma ocasião. Um presente inesperado e mal recebi por Dumbledore, que tentou deter o processo. Felizmente sem êxito algum.
Em outro compartimento, colocaria todos os livros que tinha em sua possessão nos cofres das duas famílias, transferidos das inúmeras propriedades que herdara a seu pedido uma vez que nos cofres estariam seguros e mais acessíveis do que se continuassem espalhados pelo mundo.
Em outro os objetos mágicos ou não que possuía nos cofres e fora deles, incluindo adagas e espadas, arcos flechas, pensivas, jóias, a capa de invisibilidade do seu pai (er...adotivo), álbum de fotografias e muitos outros.
O quarto compartimento seria montado como um laboratório de Poções (uma de suas paixões secretas), com acesso a um pequeno mas completo boticário para preparar as mais diversificadas poções.
O quinto, como um largo estúdio equipado com instrumentos para exercitar o corpo e um ringue para duelos. O espaço também permitiria treinar os feitiços e maldições que desejasse aprender. Os cinco compartimentos teriam portas de conexão entre si e senhas ligadas a sua assinatura mágica. Somente ele teria acesso.
Os dois últimos seriam os únicos de fácil acesso para uso diária. No primeiro estaria suas roupas, o pouco que tinha pelo menos, e no segundo acessórios para o dia-a-dia, incluindo os livros que estaria lendo no momento.
Decido isso Harry pôs a carta do diretor de lado e foi para cama, amanhã seria um dia atribulado e assim que estivesse tudo pronto realizaria o feitiço. Não havia motivos para adiar sua partida pois não planejava se despedir de ninguém. Seu testamento, do qual cuidaria quando estivesse no Gringotts diria tudo o que era necessário ser dito, sua última mensagem a todos que deixava para trás. Se tudo corresse conforme o planejado, esta seria a sua última noite nesse mundo. Ou assim esperava.
