Prólogo

Tinha três barras no fundo do pátio. De ferro, pontudas feito lanças e enferrujadas. Ela (o nome dela era Lucile) estremeceu. As barras estavam atrás da grama comprida e do emaranhado de pétalas e folhas onde as lesmas e insetos se escondiam da chuva, formavam o portão de um muro de meio metro de altura, rachado, coberto de mofo.

Quando ela notou, uma das lesmas, gelada e mole, tinha subido de alguma forma por entre as suas coxas, por dentro da saia, e agora se arrastava ranhosa por uma das nádegas. Uma bola fria de gelatina entrou dentro dela feito um raio, mais rápido do que a carne podia se contrair, abandonando do lado de fora a casca, que caiu por entre as pernas, um choque subiu pela espinha e fez os pêlos da nuca levantarem e a lesma virou uma mãe d'água dentro da barriga. Uma bolota começou a pulsar cada vez mais rápido num dos cantos do pescoço, empurrando o queixo. E ela gemeu com horror, pensando que só não queria estar ali, olhando pras próprias roupas úmidas, os dedos se contorcendo dentro dos sapatos.

Foi como se tivesse sido jogada pra fora do próprio corpo pelo pavor. Mas por algum motivo, ela não tinha ido junto. Tinha ficado na casca vazia, com frio e medo, sozinha, o resto de uma pessoa morta.