Esta fanfic é um presente de aniversário para a minha amiga querida Marjarie, feito com todo o carinho.
A história não possui fins lucrativos, os personagens que aqui aparecem pertencem a J.Killer.
Avisos: Esta fanfic é de casal slash, se você não gosta do gênero é melhor fechar esta página. A fic será dividida em 5 capítulos, sem previsão para atualizações, embora eles já estejam todos prontos em esboço.
Também é uma história de vampiros. Espero que gostem!
Clamare
- By Lithos of Lion -
Ato 1
- O Fim que está no Começo -
"Imploro-te compaixão, ó meu único amor,
Do fundo deste abismo em que agora sucumbo..."
A casa, antiga, era isolada da cidade por uma alameda, que erguia árvores suntuosas que balançavam frenéticas com o açoitar do vento. Era noite. Noite em que os céus realmente fizeram-se trevas, não havia estrelas, nem lua, só o breve iluminar dos raios que anunciavam a tempestade.
Uma mulher, já próxima à entrada da casa, caminhava apressada. Ao chegar à porta pareceu se acalmar, apoiando as mãos sob a madeira antiga, voltou o olhar para o caminho que havia percorrido. Outros a acompanhavam, mas mantinham uma distancia que condizia com aplicações hierárquicas: ela era a senhora.
Com um gesto lânguido de cabeça, ao mesmo tempo sensual e mórbido, pareceu ordenar a eles que esperassem. Abriu a porta. Entrou. Encaminhou-se para um longo e largo corredor que era ornamentado por belíssimas janelas, das quais se podia ter nítida visão do bosque que cercava a casa.
Ela parou em uma das janelas, os cabelos loiros caíram leves sobre o rosto pálido, os olhos, de profundo azul escuro, fixaram-se na paisagem ao lado de fora; eles podiam ver além do que se imaginava, apesar da escuridão. Virou-se novamente para o corredor, dirigindo-se para a imensa porta ao final dele. Seus passos eram lentos e elegantes, o vestido longo e sem mangas fazia uma bela dança movendo-se junto com o corpo esguio.
Hesitava, por mais que soubesse quem encontraria e que seu amor por tal presença era precioso e verdadeiro. Ele era muito mais que mestre, para ela seu mundo era ele.
Abriu a porta.
A sala que se erguia a seus olhos era enorme, com seus móveis de séculos passados – belos e imponentes – também havia janelas, quatro enormes janelas que eram cercadas por pesadas cortinas em tom carmim. A lareira estava acesa, fogo vivo crepitava ao arder da madeira velha. Outro raio cruzou o céu lá fora, clareando o ambiente e revelando a figura misteriosa sentada na poltrona de frente à lareira.
A primeira coisa que ela viu foram os olhos cinzentos que captaram sua imagem, impossível se mover agora, presa por eles. Os mesmos olhos que em vida eram belos tornaram-se magníficos quando abertos para a noite eterna. Quase prata pura, com seu chapisco azul a envolver o cinza.
Ele se levantou, correndo as mãos pela franja do cabelo loiro-platinado, retirando-a para longe dos olhos. Era alto, seu corpo transmitia aquilo que devido ao seu sangue nobre, herdara. Realeza de séculos, pronta também para aquela época. O terno preto, bem cortado, ressaltava a magreza elegante; a gola da camisa era preenchida pela gravata de seda negra. Belo. Extremamente belo. Ele deu alguns passos em direção à mulher, ela pareceu sair do transe e os olhos azuis focaram-se nos cinzentos. Houve um meio sorriso, de ambas as partes, depois disso ele quebrou o silêncio.
- Quais notícias trás para mim, Astoria? – a voz arrastada se fez ouvir. Astoria estremeceu.
Queria que sua notícia fosse aquela tão esperada pelo seu mestre, mas o que tinha era apenas algo para aproximá-lo de seu real desejo. Instintivamente seus braços cruzaram sobre o peito.
- Não o encontramos, ainda não. – ela viu a decepção e rastros de dor sombrearem a íris prateada. – Capturamos a caçadora, uma do grupo deles, a esposa. – agora ela via raiva, muita. – Trago-a até você? – não deixaria seu semblante ser afetado pela raiva dele.
- O que está esperando? – sua voz era rude.
Astoria apenas virou-se para a porta, os cabelos longos dançaram com o gesto, minutos depois ouviram passos apressados. O primeiro a entrar foi um belo homem negro, vestido tão elegantemente como àquele que já se encontrava na sala. Após segundos de reconhecimento, dois homens entraram na sala, arrastando com uma força desnecessária a jovem mulher ruiva.
Obrigaram-na a se ajoelhar no chão, quase aos pés do elemento principal da cena. Os olhos da ruiva flamejaram como fogo ao ver-se sobre a mira dos olhos cinzentos, estava paralisada. Os grandalhões que a seguravam afastaram-se rapidamente. Ela apertou os dentes com força, soltando em seguida uma voz amarga e sem sentimentos.
- Malfoy! – ela estava no covil dos vampiros.
Ele segurou seu rosto com força, obrigando-a a olhá-lo nos olhos, impedindo que continuasse a rastrear o ambiente. Podia matá-la, arrancar a vida pulsante, impedir qualquer esperança. Só que a maldita era agora uma isca. Perguntou de forma estranhamente calma.
- Onde ele está? – o riso da ruiva saiu repleto de escárnio. – Eu não estou brincando Weasley, onde Potter está? – apesar da calma presente na voz era possível notar o incomodo da ruiva sob a pressão da mão que a segurava. Agora sua risada soara amarga e desprovida de entonações.
- Acha que, mesmo que eu soubesse, lhe falaria? – seu tom não tinha emoção. – Ainda que esse também fosse o desejo dele? Jamais, Malfoy, jamais. – seu riso saiu debochado. – Não irão se encontrar, você não o achará e muito menos irão permitir que ele venha até você. Os caçadores estão no controle agora, vampiro. – a palavra vampiro saiu com um tom enojado.
Ele a soltou, ainda a deixando em total estado de paralisia. Seu semblante não revelava nada, máscaras fortíssimas colocadas no lugar da expressão.
- Veremos, Weasley, veremos. – disse com voz arrastada. Astoria se aproximou. – Prendam-na no porão, Crabbe e Goyle devem ficar com ela – dia e noite – não a matem, é nossa isca.
- Vocês ouviram, levem-na para o porão. – Astoria ordenou aos dois que estavam afastados, logo eles saíram apressados, arrastando a ruiva.
De forma telepática, Astoria acrescentou "Façam da estadia dela aqui, um inferno".
- Blaise. – a voz arrastada chamou pelo outro, que se aproximou imediatamente. – Quero que redobre as buscas, ache-o, traga-o para mim. – Blaise não poderia notar, mas Astoria percebia a aflição de seu mestre. – Ele está em cativeiro, preso pelos seus, traga Potter para mim, encontre-o custe o que custar. Entendeu? – Blaise acenou e fez uma breve curvatura.
- Sim, mestre. – retirou-se da sala, nela ficando apenas Astoria e o mestre.
Malfoy se aproximou da janela, espalmando a mão pálida no vidro frio, a palidez de sua figura contrastava com o vivo vermelho da cortina. Estava triste, faminto e Astoria o sentia.
Aproximou-se, fazendo com que ele apoiasse a cabeça na curva de seu pescoço, ao que ele aceitou prontamente. Ela sentiu os caninos dele aparecerem e roçarem seu pescoço, os lábios brincando em sua garganta. Enfim, ele tomaria o sangue dela para si, como há muito não fazia. Mas, o movimento foi interrompido abruptamente, assustando-a.
- Não. – ela o ouviu arquejar. – Não é o seu sangue que quero, não é dele que preciso. – havia dor e sofrimento, em ambos.
Aqueles últimos seis meses eram malditos, de todos aqueles séculos, apenas seis meses o estavam destruindo. E fora exatamente aquele tempo que o afastara dela. Seis meses. E tudo o que ele queria, tudo o que ele desejava era... Potter.
- Draco... – ela o abraçou, fazendo com que apoiasse o rosto em seu ombro. – Você precisa se alimentar. – apesar da calma em sua voz, aquilo o irritou.
Draco afastou-se de Astoria e voltou a olhar pela janela, os raios e a ventania ao lado de fora haviam se intensificado.
- Quero ficar sozinho. – ele não olhou para ela ao dizer isso, mas ela compreendeu. Saiu a passos lentos e sem olhar para trás.
A chuva, tempestade violenta, desabou. Ele continuava com o olhar fixo no bosque quando sentiu algo quente deslizar por sua face. A lágrima de sangue, vermelho que deslizava pela brancura de mármore de sua pele. Tão patético...
O vampiro mais forte e antigo que restara chorava suas preciosas lágrimas de sangue por um humano. E sabia que aquele humano era sua fraqueza, precisava dele para sobreviver.
As mãos limparam as lágrimas de forma gentil, tão próxima da gentileza que ele encontrara em outras mãos. Nas mãos dele...
- Harry... – a voz saiu como um sopro fraco, enquanto ele retornava para sua poltrona e para a contemplação do fogo que crepitava.
Precisava tê-lo de volta... Não resistiria sem ele.
"...É um universo morno, o horizonte de chumbo
Em que nadam a blasfêmia e o horror".
Palavra em latim que significa Clamor: 1. Ato ou efeito de clamar. 2. Súplica proferida em altas vozes.
De profundis clamavi – Poema de Baudelaire, encontrado no conjunto de poemas "As Flores do Mal", vale muito a pena ler, se você estiver em bom estado de espírito para superar poemas que soam como tapas na cara. Que retratam a aflição e a miséria do ser humano.
