Classificação: PG-13
Gênero: Drama/Romance
Spoilers: 7
Status: Completa
Shipper: Sirius Black/Bellatrix Lestrange
Sinopse: Pela história deles, a estrela Bellatrix seria de mesma ascenção, magnitude e declinação que a estrela Sirius. Ainda que a Astronomia não concorde.
Dedicada à Natália Escobar, por todos os divertidos surtos de nirvana que damos juntas com este casal.
Estava Escrito
por Clara dos Anjos
ATO I – Na Aurora
Se, sob o domínio das frias asas da Morte,
A alma impaciente dele, longe precisou voar,
Além da compreensão dos tolos
Eu desejarei encontrar com a glória que eles negaram¹
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Bellatrix penteava os cabelos de Andrômeda no momento em que sua mãe abriu a porta do quarto e anunciou que o primogênito de Órion e Walburga Black tinha acabado de nascer. "É um menino", ela dizia, o rosto risonho aparecendo pelo vão da porta. "e vai receber o nome do tio-avô de vocês, Sirius". A noite ia alta; lá de fora, sobre o silêncio repentino que se fizera no quarto, escutava-se os ruídos distantes dos animais noturnos. As duas meninas se entreolharam, e afinal a mais jovem comentou:
"Quem escolheu esse nome?"
A mulher parou por um momento, pensativa. "Bom, imagino que tenha sido a Walburga. Meu irmão nunca me pareceu muito inspirado ou entusiasmado quanto a isso". Então, vendo que Andrômeda ia continuar respondendo, sua mãe acrescentou rispidamente, levando uma mão aos lábios. "Ora vejam, com toda essa agitação, eu quase me esqueci que havia mandando vocês duas irem dormir! Para as camas, já! Largue este pente, Bellatrix!"
E fechou a porta com estrondo.
Bellatrix deu uma risadinha, guardando calmamente o pente em uma das gavetas do toucador. "Bom, Andie, suas tranças vão ter que esperar até amanhã. Sabe como é a mamãe, daqui a dois tempos um elfo-doméstico virá nos espiar para ver se estamos mesmo dormindo".
"É, eu sei", Andrômeda murmurou, se arrastando desanimadamente até sua cama. "Vô Sirius", ela disse, enquanto se cobria. "Você o conheceu, Bella? Ou morreu há muito tempo?"
"Morreu há dezessete anos, eu acho. Mas nunca ouvi papai falar dele".
"Que estranho..."
"Isso é normal em famílias como a nossa, Andie", Bellatrix a imitou, ajeitando-se na grande cama ao lado. "E amanhã devem nos levar para conhecer o bebê".
"Será mesmo? Tia Walburga não precisa de um tempo para se recuperar? Isso sempre aparece nos livros, as mulheres grávidas ficam deitadas um tempão, como se estivessem doentes... Bom, eu também não sei... não sei se gostaria de ir".
"Por que, não?", Bellatrix virou-se de lado, muito surpresa.
"Ah, Bella, você sabe... Nunca gostei muito de nossas visitas à tia Walburga".
"Ah, é...", a mais velha voltou a se deitar, e um sorriso maldoso ostentou sua face. "Você morre de medo dela, eu havia me esquecido".
"Você está errada!", e Bellatrix não conseguiu segurar uma risada alta, mesmo consciente de que devia fingir estar dormindo. Ela podia ver, mesmo naquela penumbra, que sua irmã havia corado violentamente. "Não 'morro de medo dela', só não fico muito à vontade e...".
"Eu realmente não te entendo", Bellatrix a cortou, ainda sorrindo. "Ela sempre nos deu presentes tão bons!".
"É, não entende mesmo", Andrômeda cruzou os braços sobre o peito, carrancuda, recusando-se a olhar para a irmã mais velha.
Uns quinze minutos depois, quando Bellatrix voltou a abrir os olhos ao ouvir os passos do elfo inspetor se distanciando, ela olhou para os lados, acabando por fixar distraidamente um enorme berço branco que jazia no canto oposto a cama de Andrômeda, sob a janela cerrada pelas esvoaçantes cortinas.
"Ela quase nunca chora, não é?", comentou, sem imaginar que sua irmã já podia estar dormindo.
No entanto, sua voz baixa e um pouco sonolenta veio em resposta:
"Sim. Mamãe diz que fica... como foi mesmo?... assombrada. Diz também que eu e você nunca fomos quietas assim como ela, mesmo quando tínhamos dois anos".
"Sim, eu já a ouvi dizer isso. É o que todos dizem, não é?".
"É".
"Mas isso não é nada comparado às reclamações dela de que sou insuportável até hoje. 'Sabe ser escandalosa quando quer, essa menina'", Bellatrix imitou a voz aguda da mãe o mais baixo que pode, arrancando risinhos abafados da irmã.
"Então nosso primo Sirius deve ser igualzinho!".
Bellatrix pestanejou, virando-se para a irmã. "Ahn? Como assim?".
"Não foi há dez dias atrás que comemoramos seu aniversário de seis anos, Bellatrix?", a irmã respondeu com certo desdém, encarando o teto. "Hoje é 17 de novembro. Sirius é de Escorpião, como você".
"Ah, a Astrologia, é claro!", Bellatrix revirou-se na cama, ficando de bruços e fitando Andrômeda na semi-escuridão. Seu tom era depreciativo, mas ela sorria. "Bom, mesmo não vendo a menor graça neste monte de adivinhação barata, você acabou me dar uma idéia: se descobrirmos que ele é quietinho como a Cissa, eu ganho a aposta".
"Aposta? Mas o que vamos apostar?".
"Quem perder terá que preparar um presente para nosso primo". Os olhos de Bellatrix brilharam. "E entregá-lo de toda boa vontade nas mãos da tia Walburga".
"Não! Não vale!", Andrômeda se agitou, virando-se para a irmã, que agora positivamente rolava de rir. "Idiota, fez isso de propósito!".
"Shhh, vai acordá-la!", Bellatrix gesticulou com energia, ainda sorridente. "Está decidido, Andie, assim que o visitarmos saberemos. E cale já essa boca, caso não queira que a Cissa comece a chorar e a mamãe venha aqui nos esfolar vivas no mesmo segundo".
Bellatrix assistiu sua irmã do meio lhe virar as costas, revoltada. Seu sorriso, no entanto, custou a sumir do seu rosto. Ainda sentia aquela onda de alegria quando o sono finalmente a envolveu, e seu inconsciente começou a lhe enviar imagens suaves e desconexas que ela não se lembraria no dia seguinte:
Campos muito verdes, fustigando à luz do sol. Carneiros, ovelhas e pastores de histórias infantis bruxas que realizavam magia com elas, seus rebanhos flutuando com graça no ar, fazendo parecerem nuvens baixas e muito fofas. E, de um dos pontos do imenso lugar, um garotinho de cabelos negros correndo cambaleante em sua direção, seus bracinhos erguidos como se quisessem abraçá-la. Ela o esperou, achando graça de seu desengonço, e quando ele finalmente a alcançou, eles se pegaram nas mãos e caminharam a esmo para um dourado e convidativo horizonte sem fim.
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"Pode ir se preparando, Bella. Desta vez estou livre!".
Uma semana depois do anúncio de sua mãe, como imaginou Bellatrix, ela e sua família se encontravam no número 12 do largo Grimmauld. Tia Walburga os recebeu em uma de suas poltronas na sala de visitas, exultando de orgulho e felicidade. E depois que todos se acomodaram e se serviram de sucos e chás, ela começou, após explicar rapidamente que o marido estava no trabalho e por isso não pôde recebê-los, sua enfadonha narração de partos, curandeiros, decorações e tudo o mais que se relacionasse ao seu filho. Ele, por sua vez, era ninado com crescente desespero por uma elfo-doméstica prostrada a alguma distância de sua senhora, porque ela não parecia ser capaz de conter o choro estridente do bebê. No entanto, a conversa dos adultos seguia como se não houvesse qualquer perturbação.
"É bom começar a ensaiar seu discurso também", Andrômeda tornou a sussurrar, rindo-se. "Não se esqueça do que combinamos". Ela e a irmã sentavam-se no sofá de frente para os adultos e o bebê, ambas com copos cheios de suco nas mãos. Narcissa, por ser muito nova, não viera com a família.
Bellatrix esforçou-se para não encarar o sorriso presunçoso da irmã enquanto era consumida pela raiva. Tinha perdido, é claro. E a perspectiva de entregar um presente nas mãos da tia Walburga, e dizer com toda a meiguice que era para Sirius, na frente de toda a família, não lhe era muito convidativa. De cara amarrada, a garota fixou o olhar na superfície amarela de seu suco de pêssego, pensando numa estratégia de trapacear Andrômeda ou, quem sabe, dar um jeito de pagar a aposta de uma maneira menos incômoda. Mas isto também estava difícil, porque até o choro de seu primo começava a irritá-la.
"Kreacher, mande trazer mais chá. Camomila desta vez. E você, por favor, suba com Sirius! Está na hora de lhe darem banho", ordenou Walburga, para o grande alívio de Bellatrix – e provavelmente dos demais presentes.
"Ah", tornou Andrômeda. "Como eu venci, acho que posso te pedir para ver o presente antes de você embrulhá-lo. Não vai te custar nada, vai?".
Bellatrix estreitou seu olhar para ela. "Continue com suas gracinhas, Andie, e eu anuncio para eles que é você quem tem um presente para entregar. E não", ela acrescentou com mais determinação, quando a irmã fez menção de protestar. "Não vou te mostrar nada. Vai se agüentar com sua curiosidade até o momento que eu decidir entregar".
Foi a vez de Andrômeda amarrar a cara. E Bellatrix ficou muito satisfeita em abrir o primeiro sorriso sincero desde que pusera os pés na casa de seus tios.
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"Ora, querida, quanta gentileza! Muito amável de sua parte".
"Bella, por que não nos contou nada? Se quisesse teríamos ajudado, ou comprado alguma coisa já que...".
"Eu não precisava de nada, papai. O plano era ser exatamente uma surpresa".
Bellatrix, observando a comoção surpresa e generalizada que provocara nos familiares, sorriu para si mesma. Bem como planejara. Há semanas que sabiam do almoço que os pais de Sirius promoveriam em comemoração aos seus três meses de vida; "informal, apenas para os íntimos", eles acrescentavam. A garota, portanto, tivera três meses para decidir, preparar e pensar no momento apropriado de entregar seu presente ao primo, sem passar o constrangimento embutido à aposta que ela mesma inventara.
E agora sua tia Walburga apalpava o embrulho retangular, largo e achatado com os olhos brilhando de contentamento, acabando por passá-lo ao tio Órion que, igualmente satisfeito, o analisou.
"E onde está Sirius, Walburga?", perguntou a mãe de Bellatrix, enquanto o tio entregava o presente para um dos elfos o guardar.
"Dormindo desde que o deixei em seu quarto. Mas agora que acabamos, não gostaria de subir comigo e vê-lo, Bella querida?".
A garota, ainda de pé frente aos tios, rapidamente sorriu. "Claro, tia".
"Você também, Andrômeda, nos acompanhe!".
O olhar desta cruzou com o da irmã antes dela se levantar e assentir ao convite. Bellatrix notou nela um ar ligeiramente contrariado.
A mulher, então, conduziu as garotas por dois lances de escada e um corredor comprido, até uma de suas últimas portas. Então, Bellatrix avistou-o assim que o interior do quarto entrou em seu foco.
Sirius estava acompanhado por três elfos-domésticos; um deles trocando sua roupinha sobre a cama, os outros dois os lençóis do berço mais ao fundo. O menino olhou para a mãe assim que ela entrou, começando a tentar se desvencilhar do elfo para alcançá-la. Mas ela logo se aproximou dele e acariciou seus cabelos.
"Venha, Bella", chamou a tia. "Abra seu presente para ele".
Seu olhar cruzou novamente com o de Andrômeda, mas desta vez sua expressão era neutra. E os braços estavam cruzados. Bellatrix então caminhou até o embrulho que jazia na ponta da cama de solteiro.
"Olhe, Sirius!", exclamou a tia carinhosamente, em meio ao ruído de papel sendo rasgado. "Ela pintou um quadro para você!".
Bellatrix se esforçou para não corar. Desta vez, evitou energicamente o olhar da irmã.
"Vejamos", disse Walburga quando a garota passou o pequeno quadro para suas mãos. "É uma estrela?".
Bellatrix engoliu em seco.
"É a estrela Sirius. Copiei de um dos livros da biblioteca de nossa casa".
Walburga sorriu, fitando novamente o borrão disforme de cores prateadas e azuis na tela. "Sim, naturalmente. Que adorável, querida".
Então, algo fizera com que Bellatrix se esquecesse momentaneamente de responder ao elogia da tia: seu primo, sentado no colo da mãe, esticou os bracinhos e tocou a superfície do quadro com as mãos espalmadas, um largo sorriso se abrindo em rosto.
Tia Walburga recomeçou a falar com ele, notando sua provável aprovação, mas Bellatrix já não a escutava: as feições delicadas e alegres do pequeno Sirius a distraíram completamente. Sem perceber, aproximou-se um pouco mais dele e tocou seus cabelos com a ponta dos dedos. Assim, enquanto se distraía com a textura macia e suave, seu olhar finalmente encontrou o de Andrômeda. Agora não mais indiferente, mas particularmente incisivo.
Bellatrix se afastou. Tentou fazer com que suas ações parecessem casuais, mas, intimamente, torceu para que nenhuma das duas, tia e irmã, tivessem percebido como agora ela positivamente havia corado.
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"Mas que importa isso, afinal? É Hogwarts, Cissa, ela vai para Hogwarts!"
Suas irmãs não falavam em outra coisa. Era agosto, e daqui a exatamente um mês Bellatrix estaria em King's Cross ingressando para o Castelo de Hogwarts. Seus pais, naquele instante, promoviam um pequeno chá em família, um simples pretexto para conversarem com Órion e Walburga sobre a filha mais velha deles, porque ela era a primeira criança da nova geração dos Black a entrar para a escola. As meninas, enquanto os adultos conversavam na sala, brincavam nos balanços do jardim.
"Claro que importa! Acharia bom se a Bella caísse na... Grifinória, por exemplo?", contestava Narcissa, enquanto descrevia um pequeno arco no ar, empurrada por Andrômeda.
Bellatrix, observando-as encostada de pé a uma árvore próxima, gargalhou.
"Impossível, Cissa! É fato que vou para a Sonserina, todanossa família foi para lá".
"Mas isso é uma regra?", Andrômeda ergueu uma das sobrancelhas.
"Não sei se é regra", Bellatrix respondeu, sem se alterar. "Mas não é o que todos dizem, que vou para a Sonserina? Mamãe, papai, nossos avôs, tios... Se eles têm tanta certeza, é porque deve ser verdade".
Andrômeda não pareceu convencida, mas se calou.
"Pena que ainda falte tanto tempo para mim", murmurou Narcissa, quebrando o silêncio.
"Lamento, maninha, mas eu não posso dizer o mesmo", Andrômeda sorriu para o topo de sua cabeça. "E o bom é que vou ter a Bella para me contar tudo, assim poderei evitar todos os deslizes de marinheira de primeira viagem que ela cometer".
"Haha", Bellatrix fechou a cara enquanto as irmãs riam. "Vai confiando, Andie, e eu vou te passar todas as informações erradas".
"Ah, até que enfim. Estava procurando vocês".
Andrômeda e Narcissa ainda sorrindo, Bellatrix carrancuda, todas as três olharam em direção ao ponto de onde tinha vindo aquela quarta voz. Era Sirius, alto para os seus cinco anos de idade, aproximando-se calmamente delas.
"Quase me perco nesse jardim", continuou ele parando de frente para Bellatrix, os balanços entre os dois. "Da próxima vez vou me lembrar de seguir vocês mais cedo".
"Pensei que sua mãe não fosse deixar você sair de lá", disse Narcissa, ainda balançada com leveza por Andrômeda, os rostos de ambas voltados para o primo.
"E não deixou mesmo", ele sorriu. "Eu saí escondido".
Andrômeda trocou um rápido olhar com Bellatrix, e esta percebeu que a irmã estremeceu de leve.
"Além disso, ela está falando tanto lá dentro que é mais fácil Regulus perceber que eu saí antes do que ela". Narcissa franziu a testa para ele, parecendo surpresa e contrariada, mas Andrômeda riu.
"Então, Sirius", disse a garota em tom gentil. "Não quer se balançar também? Posso empurrá-lo".
O menino examinou os dois únicos balanços vazios e torceu os lábios com desprezo.
"Não", ele respondeu sem titubear. "Não tem graça brincar nisso".
Bellatrix, ao contrário de suas irmãs, riu alegremente.
"Ah, finalmente alguém que concorda comigo!", exclamou, e ela e Sirius encararam-se diretamente pela primeira vez desde que ele chegara. "Mas eu conheço um jeito de deixar esta brincadeira bem mais interessante".
Com um sorriso confiante, a garota se dirigiu ao balanço ao lado do que Narcissa ocupava e sentou-se. Então, com todos a observá-la, Sirius com um meio sorriso de curiosidade no rosto, ela começou a se balançar normalmente, os pés batendo no chão e ganhando cada vez mais impulso, descrevendo grandes arcos no ar. Paralelamente a isso, seu rosto exibia uma careta de concentração intensa, suas mãos apertavam com cada vez mais força as cordas cheias de nós, até que ela finalmente conseguiu:
Descreveu uma volta completa.
Sirius gritou de excitação. As meninas, por suas vezes, pediram que ela parasse, temerosas e chocadas, como se nunca tivessem sabido daquele truque da irmã. Narcissa até saltara de seu balanço. Mas Bellatrix descrevia mais uma, duas, três voltas completas, o rosto risonho e muito vermelho, seus gritos de divertimento se misturando aos de Sirius.
"Legal!", gritava ele, se agitando e contemplando Bellatrix girar com um misto de espanto e adoração. "Eu quero aprender, por favor, me ensine!"
O balanço de Bellatrix deu a última volta e foi parando lentamente, a garota tão risonha quanto Sirius, suas irmãs ainda a fitando assustadas, até que ela finalmente firmou os pés no chão e saltou.
"Caramba, que máximo!", Sirius correu para ela. "Como você consegue?".
Bellatrix encarou as irmãs por um momento antes de responder.
"Andei treinando escondida, na verdade. Não contei a ninguém porque sabia que não iriam me deixar".
"Claro que não iriam!", esganiçou-se Narcissa, aproximando-se de Bellatrix e Sirius com corajosos passos duros. Não era sempre que ela enfrentava a irmã mais velha deste jeito. "Você é completamente doida, Bellatrix, podia ter morrido! Olhe só para você, só tem onze anos! Imagine se mamãe soubesse, ela...".
"Sim, Cissa, mas assim como eu não eu morri, mamãe também não precisa saber, obrigada. E não é tão fácil conseguir isso, Sirius", ela baixou o olhar para o garoto, dando as costas às irmãs. "Treinei por muito tempo, desde que percebi minha magia se descontrolar com mais freqüência. Então, achei que se me concentrasse o suficiente, poderia utilizá-la em meu favor", ela terminou, abrindo um sorriso orgulhoso.
"Ah, então...", murmurou Sirius, os ombros murchando.
"Sim, mas é só ter paciência. Você é muito novo agora, espere até ter nove anos".
"Nove anos, Bella?", Andrômeda riu, entre bestificada e divertida. "Você quer vê-lo se esborrachar no chão, não é? Por favor".
"E se eu provar que você está errada?", Sirius ergueu o queixo quando a encarou. "Quer apostar?".
Andrômeda ergueu as sobrancelhas. "Apostar?", repetiu, e logo depois soltou uma agudíssima gargalhada. Não era freqüente, mas Bellatrix sempre se incomodava com aquela risada. "Bem que eu falei!", ofegou, sorrindo para Bellatrix. "Bella, eu tinha razão, se lembra? Ele é igualzinho a você!"
Bellatrix olhou do primo para a irmã. "Quê?"
"Igual, igualzinho!", repetia ela, olhando de Sirius para Bellatrix como fossem figuras irradiadas de encanto. "Qualquer besteirinha e já propõem apostas, não se agüentam de orgulho ferido...", ela gesticulava, agora falando muito mais para si do que aos demais.
Narcissa, Bellatrix e Sirius a encaravam com a mesmíssima expressão de assombro. Talvez por isso, por estarem tão absortos nas esquisitices da garota, tenham pulado de susto quando ouviram um ruído estalado muito forte.
"Enfim os achei!", ofegou um recém-aparatado elfo-doméstico jovem e maltrapilho. "Crianças, minha senhora pede para que todos vocês voltem para casa. E precisam também se lavar para sentarem-se à mesa que está sendo posta na varan...".
"Lanche!", Andrômeda gritou feliz, correndo em disparada de volta ao casarão e quase atropelando o jovem elfo de sua mãe. Os outros três logo a seguiram.
"Vem, Sirius!", Bellatrix virou-se para trás enquanto corriam, estendendo uma mão para o primo. "Vamos chegar antes delas!".
O garoto agarrou sua mão, e eles passaram a correr juntos pelo jardim, abrindo idênticos sorrisos triunfantes um para o outro assim que as outras meninas ficaram para trás.
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"Ah, você está aqui".
Bellatrix não se virou quando reconheceu a voz de Narcissa. Tampouco respondeu. Não se sentia inspirada ou animada o suficiente para conversar, interagir de qualquer forma. Seu desejo era não estar ali, simplesmente. Não ver o que estava vendo.
"Por que está aqui sozinha?", Narcissa continuou, e Bellatrix a sentiu se aproximar. "Ah, sim, acho que preciso te avisar que você não vai poder me ignorar para sempre".
"Que é que você quer?".
"Já disse, saber por que você está aqui".
"Porque estou com vontade", retrucou Bellatrix, ainda na mesma posição e sem encarar a irmã caçula.
"Ficar aí debruçada numa janela quando estamos todos no meio de uma festa? Eu não acreditaria que essa é uma vontade vinda de você".
Bellatrix fechou os olhos e contou mentalmente até cinco.
"Quero ficar um pouco sozinha. Depois eu volto e brinco com você, se quiser".
Narcissa ergueu as sobrancelhas, mas sua voz continuava calma quando falou:
"Não estou te entendendo. Você sempre gostou das festas de nossa família".
"Eu gosto, Cissa. Ainda gosto, acredite. Mas só me deixe sozinha um pouco, por favor".
Mas, apesar de ter silenciado, Narcissa não foi embora. Caminhou até um lado de Bellatrix na janela, e esta percebeu a irmã mais nova esquadrinhando a paisagem, possivelmente procurando o que ou quem ela fitava tanto quando chegou.
"É a Andie, ali?", ela apontou. Bellatrix confirmou com a cabeça.
"Ah", fez a caçula em tom de quem entendia tudo. "É por que vocês estão brigadas, certo?".
"Não. Não realmente", suspirou Bellatrix. "Você sabe, desde que nós duas entramos em Hogwarts, tivemos alguns desentendimentos. Nada muito sério, mas... as coisas já não são as mesmas entre nós".
"Então você está mesmo triste por causa dela?".
Bellatrix encarou o rosto delicado de sua irmã com um misto de raiva e piedade. Então sorriu.
"Não é tristeza, Cissa", respondeu, voltando a fitar os vários bruxos risonhos conversando no jardim. "Você ainda é novinha para entender, mas Andrômeda tem me aborrecido muito em alguns aspectos. A gente começou a discutir até mesmo quando voltei de minhas primeiras férias. Então, a coisa piorou quando ela foi selecionada para a Corvinal".
Narcissa a escutava atentamente. "Eu também achei estranho quando soube. Mamãe e papai não gostaram muito, não é?".
"Claro que não. A Sonserina é e sempre foi a melhor Casa, a mais digna para abrigar bruxos como de nossa família. Mas o pior, e eles nem sabem disso, é que Andrômeda sequer gosta de lá. Não simpatiza conosco, com nossa mentalidade, nossos costumes. Ela não assume isso abertamente, mas eu percebo. E veja", ela esticou o braço para fora da janela e apontou para a irmã do meio. "Veja quem está lá com ela. Você reparou como ela e Sirius estão próximos?".
"Reparei, mas não é só porque ela é a única que aceita as brincadeiras idiotas que ele propõe?".
Bellatrix não resistiu a uma risadinha. "Também, mas isso não é tudo. O que eles realmente têm feito é conversar sobre Hogwarts. Andei reparando. Andrômeda deve estar enchendo a cabeça dele com seu ponto de vista deturpado. E isso me preocupa, Cissa. Seria um desastre, um verdadeiro desperdício, um garoto esperto como Sirius ser influenciado pelas idiotices de nossa irmã".
Narcissa assentiu, pensativa.
"Então a gente precisa fazer alguma coisa, Bella... E se conversássemos com Sirius também?".
"Não sei, Cissa", Bellatrix virou as costas para a janela quando uma gargalhada particularmente alta de Sirius se sobressaiu à agitação dos demais. "Sirius é bem novo, dois anos mais novo do que você, mas já demonstra um temperamento forte. Se guarda tanta afinidade assim com Andrômeda como parece, não iria parar de falar com ela de uma hora para outra". Elas atravessaram a sala cheia de bruxos e chegaram aos jardins, apanhando montinhos de salgado das bandejas, e acomodaram-se num banco vazio afastado do ponto em que Sirius e Andrômeda ainda se divertiam, agora reunidos ao pequeno Regulus. "Não digo que seja impossível ou tarde demais, mas é uma situação delicada".
"Espere aí", Narcissa crispou as sobrancelhas enquanto engolia um pedaço de seu salgado, fitando a irmã do meio e os primos ao longe. "Sirius gosta de você também. Ele te ouviria, não é? Ou vocês não são mais amigos?".
Bellatrix ergueu as sobrancelhas ao voltar o olhar para Narcissa, e então abriu um ligeiro sorriso.
"Somos, sim. Claro que somos", e fez uma pequena pausa. "Quero dizer, gosto dele como sempre gostei, e acho que ele não mudou quanto a mim. O fato é que nosso contato diminuiu muito desde que comecei a estudar. Muito mesmo. E talvez por isso, acho que poderia dizer, como com a Andrômeda, que as coisas entre nós não estão como antes".
Narcissa baixou o olhar, parecendo pensativa de novo. Houve um silêncio leve entre elas. De alguma forma, compartilhar suas preocupações com a irmã caçula havia trazido um alívio inesperado para Bellatrix.
"Ele não te escreve cartas?".
"Só uma vez, no meu primeiro ano. No ano passado não me escreveu".
"E o que dizia?".
"Que eu era uma grande sortuda", os olhos de Bellatrix saíram de foco quando os desviou de Narcissa. "Que ele queria estar no meu lugar e ser o mais velho da turma, assim poderia usar a experiência para pregar várias peças em nós quando entrássemos na escola".
"Que imbecil", riu Narcissa entre dentes.
"Não vai ter graça quando eu entrar, ele dizia. Vocês três já estarão lá, e eu só poderei atormentar o Regulus. Realmente, foi a carta mais idiota que já recebi. Mas de vez em quando ainda dou algumas risadas com ela", Bellatrix abriu um meio sorriso para a irmã.
"Ei, vocês!"
Só então elas perceberam que os três, a irmã e os primos, vinham correndo a seus encontros.
"Caramba, onde se meteram?", perguntou Sirius, parecendo agitado e indignado na mesma proporção. "Se estivessem com a gente lá poderíamos ter brincado de alguma coisa ao invés de só conversar, não é Andie? As outras crianças que estão aqui parecem meio retardadas, todas grudadas na saia da mamãe".
Alguma coisa muito quente preencheu o interior de Bellatrix, e ela teve vontade de rir, rir pela primeira vez desde que chegara àquela festa. Porém, apenas ergueu as sobrancelhas, mal reparando no aceno de concordância de Andrômeda.
"Ah, Sirius, eu estava com a Cissa lá dentro", havia um mínimo tom de desculpas em sua voz.
"Lá dentro?", o garoto torceu o nariz, fitando o casarão antes de se voltar para a prima. "Fazendo o quê?".
"Conversando", Narcissa respondeu casualmente. Então se olhar cruzou com o de Bellatrix.
"E vocês, sobre o que falavam?", intuitivamente, ela não quis deixar Narcissa continuar falando.
"Hogwarts. A Andie estava nos falando sobre um passeio que os alunos fazem nos fins de semana. Ei!", Sirius sorriu, os olhos brilhando de repente. "você vai conhecê-lo este ano, Bella, não é?".
"Ah, sim, a vila de Hogsmeade", a garota gesticulou com certa indiferença. "Todos dizem que há lojas interessantíssimas lá. Claro que, no mínimo, vai ser bom para se distrair da rotina".
"Olhem!", Regulus gritou de repente, apontando para o interior do casarão. "Já estão entrando, acho que vão cortar o bolo!".
"É mesmo, precisamos ir!", exclamou Narcissa, levantando-se e pegando na mãozinha do primo menor. "Vamos, você não pode se atrasar".
Bellatrix os seguiu até a aglomeração de adultos e crianças prestes a cantar os parabéns ao sexto aniversário de Regulus. E só então percebeu que sua vontade de ir embora tinha desaparecido completamente.
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¹Rochester's Farewell, Michael Nyman.
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N/A: Ah, que nostalgia que bateu agora. O efe-efe aqui faz falta na vida da gente, viu? O Sirius e a Bella, então... xD Bom, quem gostou dessa loucura aí, rewiew pra tia Clara que ela posta mais. Está prontinha prontinha!
