Só para começar esclarecendo, essa história não é e nunca foi de minha autoria, estou apenas traduzindo uma fic maravilhosa, para que aqueles que falam a língua portuguesa, possam ler e se apaixonar por ela como eu me apaixonei. E agradeço muito a FayJay por ter escrito essa fic. Espero que gostem tanto quanto eu gostei. Segue o link da fic original e do trailer da mesma:

(archiveofourown) org/works/91885?view_full_work=true

(youtube) com/watch?v=eRGAcUm5ZOU


Merlin teria conseguido pegar a mala se não fosse forçado a reprimir seus instintos e pegá-la com as mãos, ao invés de simplesmente usar o grande poder que tinha contido embaixo da fina barreira que era sua pele. Ele podia sentir pulsar a pura adrenalina, rápida como uma serpente, e, então, lembrar-se de sua mãe alertando-o "Use as mãos!" centenas de vezes por dia, fazendo-o controlar seus reflexos e se comportar como um ser humano normal. Tudo aconteceu em um piscar de olhos, mas Hunith o treinou bem, e por isso ele não se revelou como um bruxo no meio de um trem lotado na estação de Kings Cross, congelando a sua mala no ar ou algo assim, isso era bom; mas, por outro lado, sua reação humana era muito lenta, o que quer dizer que ele foi atingido pela mala na cabeça, tropeçando para trás e esbarrando em uma senhora de meia idade que usava pérolas, isso não era tão bom assim.

"Desculpe! Desculpe!" Ele exclamou, se apoiando no banco para manter o equilíbrio e dando a senhora seu melhor sorriso de desculpas e olhos de filhote. Ela olhou para ele, mas a senhora era, evidentemente, muito britânica para fazer algo que não fosse encará-lo com um furioso olhar passivo-agressivo."É sério," ele tentou novamente, falando com cautela. "Eu sinto muitíssimo!"

"Hmph" foi tudo que ele recebeu em resposta, mas logo ele foi distraído de sua vítima por uma voz atrás dele.

"Não, por favor, foi minha culpa!" Ele se virou para trás, para ver a dona da voz e da mala que ele não conseguira pega: Uma garota muito bonita em um casaco com capuz verde, que mordia o lábio inferior, parecendo aflita e agarrando a mala junto ao peito. Ela olhou de Merlin para a senhora, o rosto dela mortificado, e, bem, Merlin, que estava se sentindo um pouco descontente sobre todo o cenário de chuva-de-bagagem, deu uma olhada nos enormes e castanhos olhos da garota, e quis tranquilizá-la. "Eu sinto tanto!" Ela disse de novo. "Você está bem? Coitadinho!" Ela esticou a mão para tocar o galo na cabeça dele, e Merlin fez uma careta, por causa da dor. "Oh! Me desculpe, de novo!"

"Não, sério, está tudo bem" Disse Merlin, sorrindo. "Sério, eu sou cabeça dura. Nada a se preocupar. Mas, nossa, o que você está carregando aí? Tijolos?"

"Livros de engenharia." Ela disse, franzindo o nariz. "Eles poderiam ser tijolos. Poderiam muito bem causar algumas contusões, também."

"Caloura?" Ela confirmou com a cabeça. "Eu também!" Ele disse, sentindo seu rosto iluminar. Pensou um pouco e chutou o destino mais provável para aquele trem. "Endinburgh?"

"St. Andrews" Ela parecia um pouco tímida. "São quarenta..."

"Quarenta milhas ao norte de Endinburgh e não tem a própria estação de trem. Sim, eu sei o que está no folheto de cor." Ele sorriu. "Parece que seremos vizinhos então. Sou Merlin Emrys, quase um estudante da St. Andrews."

"Que ótimo!" Ela exclamou, parecendo realmente feliz. "Oi, er... Merlin? Sério?" Ela parecia estar esperando que ele terminasse a piada. Ele suspirou.

"Não se preocupe, já ouvi isso antes."

"Ahh, okay, então." Ela disse timidamente. "Bem, prazer em conhecê-lo de qualquer forma, err... Merlin." Ela disse o nome como quem experimenta um daqueles suspeitos folheados de casamento, que você não faz ideia do que está no recheio. "Meu nome é Gwen"

Eles apertaram as mãos e Merlin pôde ver que Gwen se sentia como ele, com aquela sensação de hélio nas veias, de novos começos e novas infinitas possibilidades. "Então, Gwen, você sempre carrega três vezes o seu peso em livros?"

"Não, claro que não" Ela disse, rindo. Em seguida, ela mudou sua expressão para algo perto do constrangimento. "Bem, meio que há um martelo também. Err... Um pequeno. Bem, me desculpe por isso"

"Ah, claro que tem." Concordou Merlin, ironicamente. "Quem viaja sem um martelo na bagagem nos dias de hoje? Nunca se sabe quando vamos precisar entrar em uma marcenaria." O canto de sua boca se contorceu. "Stop!" Merlin exclamou, colocando um braço em sua frente. Gwen piscou, assustada. Então, Merlin adicionou: "Hammer time! Doo doodoodoo doodoo doodoo! Hammer time!" Ele cantou enquanto improvisava uma tentativa da dança de MC Hammer (Porque para ele era impossível falar de martelos sem se lembrar de MC Hammer). Sua nova amiga soltava risos atônitos, enquanto, atrás deles, a senhora de pérolas soltou um som de desgosto e se afastou. Merlin já sentia-se meio bêbado, cheio de otimismo, alegria e ansiedade.

"Eu faço minhas próprias joias." Disse ela, cutucando-o com o cotovelo e soprando um cacho de cabelo que havia caído em seu rosto. "Idiota"

"Verdade?" Ele olhou para os brincos de cobre que ela usava, um era uma folha de carvalho e, o outro, uma bolota como aquelas que o esquilo paranoico persegue em A era do gelo. "Você não fez isso, fez?" Ela abaixou a cabeça, tímida. As sobrancelhas de Merlin se ergueram, em surpresa. "Você fez! Nossa, são muito bonitos, parece algo que pode ser encontrado em uma loja!"

"Obrigada." Ela disse, sorrindo. "Aprendi com o meu pai. Eu vendo-os no Etsy ou Ebay e tudo mais, quando eu posso." Ela encolheu os ombros. "Nada de especial, quer dizer, ainda estou aprendendo."

"Vocês podem sair do caminho?" Disse uma voz em algum lugar atrás de Gwen, assustando-os e fazendo-os pular, soltando risos logo depois, como duas crianças pegas em alguma travessura. Então, Merlin tratou de agir, pegando a mala das mãos da garota, e usando uma forma não-ortodoxa de levantar peso, usou magia para diminuir o peso da mala, para conseguir colocá-la no compartimento de bagagem mais facilmente. E Gwen pareceu impressionada com a força do colega. Ele queria poder explicar que não era apenas músculo, até porque ele não tinha muitos, mas não podia. Se sentia meio que uma fraude.

"Uau" Ela exclamou. "Você faz parecer que só tem penas aí! Eu nunca teria pensado... Quer dizer, eu não acho que você parece um fracote, eu não quis dizer isso." Ela acrescentou, os olhos arregalados de remorso. "Só, você sabe... Uau."

"Eu sou um dançarino profissional." Ele disse com um tom modesto. "Eu sou todo flexível, tonificado e tenho músculos em lugares que você nunca imaginaria. Tudo por dançar como MC Hammer." Ele piscou pra ela e balançou o traseiro. Gwen só engasgou para rir, quando Merlin voltou a cantar e a tentar dançar: "Dooooo doodoodoo! Doodoo! Doo! Hammer Time!"

"Você com certeza vai sentar comigo, MC Hammer! Vamos, vou te pagar um café horrível como desculpa por ter te machucado com livros de engenharia, e, quem sabe, você pode prometer que nunca mais vai tentar dançar!" Merlin piscou e logo sentiu a mão da garota puxando-o. Bem, esse era seu admirável mundo novo e conhecer estranhos fazia parte disso. Nada melhor que obter alguma prática.


Eles sentaram frente a frente em um par de bancos com uma mesa entre eles.

"Ei, seu nome não é Merlin mesmo, é?" Gwen perguntou, olhando para ele. "Quer dizer, sério mesmo? Você não está brincando comigo, está? Ninguém se chama Merlin. Que mãe colocaria o nome de um velho de barba branca e chapéu pontudo em um bebê? É como chamar uma criança de Gandalf."

Merlin olhou para ela sem dizer nada. Não é como se nunca tivessem feito essa pergunta a ele, e não havia um jeito fácil de explicar. A verdade é que Hunith desistiu de chamá-lo de 'Gareth' e optou por 'Merlin' depois da primeira vez que ela viu os olhões de seu bebê tornarem-se amarelos, fazendo a mamadeira que estava na sala flutuar até suas belas e gordinhas mãos de bebê. Essa não era uma explicação que podia se sair dizendo por aí. Afinal, ele era sortudo por não ter sido chamado de Gandalf.

"Bem..." Ele disse, recolhendo os ombros. E nesse instante Gwen deixou o sorriso morrer.

"Quer dizer, não é um nome ruim!" Ela disse, tentando consertar o que havia dito antes. "É um nome adorável! Bastante único! E especial! Você com certeza será lembrado! Não é como Gwen, existem milhares de Gwens por aí, mas Merlin é bem diferente!"

Merlin ergueu as mãos e as balançou em negação, como tentando conter as palavras de Gwen. "É um nome ridículo" Ele disse. "Mas, é tudo o que tenho. Tentei fazer com que me chamassem de Mervyn no Ensino Médio, mas não rolou, então, é Merlin"

"Bem, eu gosto." Ela parecia bastante determinada em desfazer a pequena gafe que cometera.

"Obrigado"

"Mas, ainda sim, é um pouco, você sabe... Merlin. Arthur." Merlin então se sentiu corar. Por alguma brincadeira do destino, o príncipe estaria em St. Andrews também. Ele percebeu a boca de Gwen se mover freneticamente. "Oh meu Deus! Você vai ser o melhor amigo dele! Você sabe que sim! Merlin e Arthur, está escrito nas estrelas! Não tem como você passar despercebido por ele com um nome desses! Rei Arthur e seu fiel conselheiro, Merlin!" Ela fez um som que parecia um esquilo eufórico. "Você vai ser o primeiro ministro!"

Merlin se debruçou sobre a mesa para bater de leve no topo da cabeça de Gwen. "Cala a Boca!" E ele ficava mais e mais vermelho. Suas bochechas estavam pegando fogo. "De qualquer forma, Gwen é o diminutivo de quê?"

"Hãã..."

"Gwen não pode ser diminutivo de Hãã. Deixe-me ver... Gwendolyn?"

"..."

Ele se animou quando viu a forma que ela mordeu o lábio inferior. "Ou será... Poderia eu estar sentado a frente da futura Rainha Guinevere, de alguma forma?"

Gwen escondeu o rosto entre as mãos. "Cala a boca" ela murmurou para o tampo da mesa.

"Você...? Seu nome é Guinevere! Realmente, é! E você ainda se atreveu a... Que ironia, não?"

"Ah, cala boca, e, me diga como gosta do seu café, vossa bruxeza" Disse Gwen, olhando para ele através dos cachos, completamente constrangida.


No momento em que atingiram os arredores de Londres, Merlin sabia que Gwen Smith foi a primeira pessoa em sua família a ir para a universidade, como ele; que ela não tinha irmãos ou irmãs, como ele; que ela tinha apenas um dos pais vivo, como ele; e que ela nutria uma paixão pelo príncipe de Gales, e estava se sentindo mais do que um pouco animada com a perspectiva de passar os próximos quatro anos frequentando a Universidade em uma cidade do tamanho de um selo postal com o objeto de sua fantasias sexuais adolescentes, bem como ele, apesar de Merlin não ter certeza se ele se deveria compartilhar essa particularidade neste momento.

"Não é por isso que eu me matriculei na St. Andrews" Ela insistiu. "Eu sei que devem haver milhares de garotas que tentaram ir para lá só por causa de algum tipo de fantasia do tipo 'Diário da Princesa', que acham que vão conhecê-lo, ele vai se apaixonar por elas e, no fim do curso, além do diploma, ganham uma tiara e um título, mas eu sou bem focada na minha carreira. St. Andrews tem um excelente departamento de engenharia. Eu ia tentar entrar muito antes de Arthur anunciar que frequentaria a universidade." Ela parecia muito defensiva, e Merlin sabia que ela já havia repetido esse discurso mais de uma vez. Ele estava bem familiarizado com esse tipo de coisa.

Ele afirmou com a cabeça. "Eu sempre pensei que ele iria para Oxford ou Cambridge" Ele disse. "Bem, não que ele não me pareça um gênio, mas acho que se você é da família real, eles simplesmente te deixam entrar, não é? Não é como o resto de nós."

"Bem, talvez ele só queira escapar de comparações com os pais dele." Sugeriu Gwen, enquanto derrubava mais um sachê de açúcar em uma xícara de café um pouco menos horrível que o prometido, mexendo-o com a pequena pazinha de plástico. Ela olhou para Merlin. "É uma história tão bonita, não é? A maneira como eles se conheceram em Oxford quando ela emprestou a jarra de café dele, e nem percebeu que ele era o príncipe de Gales porque ele estava se barbeando! Foi amor a primeira vista!"

Merlin hesitou em tomar outro gole de seu café, que podia, ou não, ser pior que o da história, mas era bastante nojento. Olhou para Gwen. "Você faz soar como uma cena de filme. Provavelmente não aconteceu desse jeito. Quer dizer, podem ter manipulado para parecer mais encantadora, porque eles deviam se conhecer há anos, já que ela não era completamente uma 'plebeia'. E outra, ela devia saber de quem estava emprestando o café, e fingido estar surpresa ao descobrir quem ele era." A expressão dela era como se ele acabasse de ter chutado o cachorrinho dela. Então ele foi diminuindo a voz. "E... bem, nós nem éramos nascidos ainda, Gwen. Faz quase vinte anos que ela morreu."

"Mas, é uma eterna história de amor." Gwen disse, séria. Merlin praticamente podia ouvir ela falando em letras maiúsculas. "É tão, quer dizer, você deve ter visto os documentários, miniséries e aquele desenho japonês?" Merlin balançou a cabeça em silêncio e, cuidadosamente, não mencionou nenhum dos livros ou revistas que ele poderia, eventualmente, ter lido sobre o Príncipe Arthur e sua família. Principalmente aquela escandalosa e deliciosa sessão de fotos na revista GQ, que ele escondera nos últimos três meses de baixo da cama, e que ajudavam muito nas noites solitárias. Com certeza ele não mencionaria isso. Gwen rolou os olhos. "Uther e Igraine é como 'Romeu e Julieta'"

"Tirando o fato de que ele ainda está vivo, as famílias deles não se odiavam, eles tiveram um filho..."

"Tá certo, Capitão Perfeccionista, não é como a história de Romeu e Julieta. Deuses. Mas, você sabe o que eu quis dizer. É muito romântica, essa linda história de amor, eles pareciam tão lindos e tão apaixonados, e ela morreu tão jovem..."

"Tá certo" Merlin se rendeu. "Foi muito triste, romântico e os dois eram ridiculosamente bonitos."

"Que é da onde ele puxou tudo isso."Disse Gwen, suspirando. "Vossa Gostosura Real."

"Eu não pensei que você fosse uma leitora do The Sun!"

Gwen soltou um som de indignação e ergueu as sobrancelhas até onde conseguia. "Cala a boca! Eu não leio o The Sun!"

"É como chamam ele."

"E como você sabe disso? Por que você lê o The Sun?"

"Não! Deuses! Porque eu vejo as manchetes quando vou comprar o The Guardian."

"Eu também."

"Okay, é justo." Merlin brincava com o café na xícara, observando o pequeno redemoinho que se formava. "Mesmo assim, é estranho pensar que podemos vê-lo em pessoa, nas ruas, ou em festas, ou mesmo nas aulas, embora eu duvide que ele faça física ou engenharia. Mas, é como alguém sair de um filme e pular na sua vida."

"É estranho" Ela concordou, olhando pela janela. "Realmente estranho." Ela olhou para Merlin, sorrindo. "Sabe o que mais é estranho?" Ela continuou, apoiando os cotovelos na mesa. "Essa viagem de trem... Pensando em St. Andrews, lá no outro lado do país, toda pequena e antiga, com ruas de pedra e torres em ruínas, bem, eu sinto como se estivesse indo para Hogwarts. Como se esse fosse o Expresso Hogwarts. Eu fico esperando alguém oferecer um sapo de chocolate ou fazer um feitiço" Merlin respondeu com uma pequena risada. "Pode rir" Ela disse, sorrindo e enrolando uma mecha de cabelo no dedo. "Pode soar um pouco bobo, mas isso é tão diferente da minha vida. Não posso acreditar que vai ser a minha vida. Quer dizer, uma bela jornada de trem pelo interior, nos levando para o norte, para conhecer um príncipe. Ou mesmo vê-lo, sem conhecer..."

"Entendo o que quer dizer." Merlin afirmou, pensando no feitiço que ele mesmo poderia ter lançado. "Para ser sincero, venho pensando a mesma coisa." Ele disse, olhando para o nada. "Eu me sinto um pouco como Harry Potter." Ele refletiu, ela nem podia saber o quanto aquela afirmação era real.

"Você certamente tem o cabelo preto e bagunçado pra isso." Ela disse, sorrindo. Merlin encontrou-se desejando que pudesse contar a ela sobre o Professor Gaius e Doutora Nimueh, e sobre o tipo de livros que ele guardava no fundo da bolsa, mas isso não ia acontecer. Magia era secreta, e, secreta deveria permanecer. Ninguém gostaria de voltar ao tempo da caça às bruxas.

"Meu cabelo não é bagunçado!" Ele se defendeu. Ela levantou uma sobrancelha. "Bem, não muito bagunçado. Está bem, está bem, comparação justa."

"Você só precisa de um par de óculos redondos e uma cicatriz em forma de raio!" Ela acrescentou. "Você não tem uma cicatriz em forma de raio, tem?"

"Eu temo que não." Ele levantou o cabelo para mostrar a testa não-marcada. "E meus olhos são da cor errada."

"Você é um fã!" Ela exclamou, surpresa.

"Quem não leu os livros?"

"A maioria dos caras na minha escola não leu os livros. A maioria deles nem sabe ler. Bem, eles viram os filmes. E todos acham que ele é gay." Ela pareceu pensativa. "Não sei se tentaram ser ofensivos, ou se acharam que ele e Draco mandavam ver no armário de vassouras."

"Se tentavam ser ofensivos, eram idiotas, mas, sobre Draco e Harry, certamente há alguma tensão sexual entre esses dois, embora eu desejasse que Harry ficasse com Ron." Aí está, o tipo de comentário que diz 'Você é adorável e espero que sejamos amigos, mas não tente flertar comigo, porque eu não sou um fã de vaginas.' Pensou Merlin, um pouco aliviado. Gwen riu.

"Não brinca? Harry e Ron? Eu era doida por Harry e Hermione, mas a Rowlling tinha que fazer ele ficar com a Gina?"

"É, eu sabia que isso ia acontecer desde o primeiro livro." Disse, Merlin. "Mas, um garoto pode sonhar."

"É..." Ela passou a olhar para o próprio café. "Nós provavelmente nem vamos conhecer ele, não é?" Ele sabia que ela não estava falando do Harry Potter.

"Olha, ele não é tudo isso e uma porção de fritas." Ele disse, mentindo. "Eu não sei o porquê desse barulho todo."

O queixo de Gwen caiu. "Esse barulho todo é porque ele será rei, é corajoso, gostoso, charmoso e tem o sorriso mais lindo do mundo e... e... Você está brincando, não é?"

"Estou brincando." Merlin admitiu. "Porque pensar no Príncipe Arthur como apenas um estudante normal, um cara com quem você pode esbarrar no corredor, é meio doido. É como conhecer Hagrid ou Dumbledore, sério."

"Exatamente! Porque você vê ele na televisão, em entrevistas, ou no pronunciamento de natal. Claro que os paparazzis não ficam mais tão no pé desde que aconteceu da mãe dele entrar em trabalho de parto prematuramente por causa da perseguição desses malditos... Então a gente não vê muito ele, também. O que dá aquele ar de mistério."

´"Ele, provavelmente, é um grande imbecil." Merlin respondeu, engolindo um nó na garganta. "Ele deve ter mau hálito, ser bastante fedido, ter as habilidades sociais de, de, de, uma coisa sem habilidades sociais e um traseiro flácido."

"Não deve!"

"Poderia"

"Não poderia! O traseiro dele é adorável! E tem que ser com todo esse futebol, rugby, polo aquático e hipismo... E qualquer outro esporte másculo que ele faça!"

"Ah, sim, claro" Merlin lembrou das fotos de sua revista, e engoliu em seco novamente. "A menos que ele use um dublê de corpo para as sessões de fotos!" Ele adicionou. "Algum pobre coitado, forçado a jurar segredo, que não pode contar para ninguém que ele é o dublê da bunda do Príncipe Arthur."

"Cala a boca, seu lunático!" Ela engasgou com o pequeno gole de café que havia tomado.

Merlin olhou para ela. "Só estou dizendo que ninguém tem uma bunda tão bonita. Não quando já se é rico, lindo e será rei. Ele é claramente muito bom pra ser verdade." Gwen riu em resposta, tampando a boca com a mão. "E, definitivamente, muito bom pra pessoas como eu você." Ele acrescentou, decepcionado. "Ele vai andar com, com..."

"Patricinhas e mauricinhos, provavelmente." Disse Gwen.

"Isso, todos esses tipos que sabem o que fazer com as ovelhas que pastam em suas enormes fazendas antigas. É com esse tipo que ele vai andar. Não com um estudante de física que mora numa pequena casa em Cardiff, ou uma estudante de engenharia, extremamente adorável, diga-se de passagem, que mora em cima da garagem do pai dela em Wembley."

"Ele deve... Não. Será?" Os ombros de Gwen caíram. "Ele será um idiota."

"Ele será um idiota." Merlin concordou. "Um gostoso, rico, próximo rei, idiota."

Eles olharam tristemente para o linóleo no tampo da mesa entre eles. "Eu acho que você poderia ter algumas ovelhas também." Gwen disse, depois de um tempo. "Você é de Gales."

"Ei! Chega de estereótipos, muito obrigado! Nós não ganhamos uma ovelha a cada aniversário, sabia?" Merlin disse, fingindo-se ultrajado. "Nós poderíamos pagar apenas a foto da ovelha, na minha casa. Uma foto de segunda mão. De uma ovelha muito feia. Nós estávamos guardando dinheiro para comprar uma ovelha de plástico, para colocar perto do gnomo no jardim."

"Você tinha um gnomo de jardim?"

"É, até afanarem ele."

"Não!"

"É, sequestro de gnomo, são tempos difíceis, nenhum gnomo está salvo."

"Você fala muita besteira, sabia?" Disse Gwen, balançando a cabeça em negação e tentando não rir.

Merlin sorriu para ela. "Eu não sou sempre assim." Ele admitiu, mais quieto. "Me sinto quase bêbado hoje. Sabe o que eu quero dizer? Mais ou menos imprudente, esperançoso e tudo alegre, de alguma forma."

Gwen lhe deu um sorriso tímido. "Eu sei exatamente o que quer dizer." Ela concordou. "Tudo parece diferente hoje. Eu me sinto como uma personagem de um filme ou uma heroína de um livro. Eu sinto que poderia fazer qualquer coisa! Normalmente eu não sou tão..."

"Espirituosa? Amigável? Gostável? Charmosa? Bonita? Apta a atingir a cabeça de estranhos com livros de engenharia?"

"Extrovertida!" Ela respondeu, tentando, sem sucesso, conter a risada com a mão.

Merlin queria abraçar a nova amiga, mas tinha uma mesa no meio do caminho, então ele levou a mão até o bolso e retirou de lá uma barra de Kit Kat ligeiramente derretida. "Você é brilhante, Gwen Smith." Ele disse. "Estou feliz que você quase me fez ficar inconsciente com os livros de engenharia. Chocolate?"

"Oh! Eu sabia que eu gostei de você por alguma razão!" Ela exclamou. "Quer dizer, não que você não, você sabe..." Ela engasgou com as palavras. Respirou, e, logo então, sorriu. "Por favor."

"Essa é a minha garota."

E assim eles se sentaram e mastigaram contentes em silêncio por um momento ou dois, observando os arredores da cidade movimentada além do vidro manchado de dedos. E, vendo a cidade, gradualmente dar lugar ao verde ilimitado.