Quase chorei quando li isso pela terceira vez. Apenas algumas linhas são adicionadas, o resto todo é totalmente fiel ao livro. Tudo pertence ao Markus Zusak.
Molching, Alemanha, 24 de dezembro de 1942.
A luz desaparecia depressa e, a não ser pela igreja, toda a Rua Munique tinha fechado para o Natal. Liesel andou depressa, para acompanhar os passos mais desengonçados do vizinho. Chegaram à vitrine pretendida: STEINER – SCHNEIDERMEISTER. O vidro vestia uma fina película de lama e sujeira, borrifadas nele ao longo das semanas. Do lado oposto, os manequins postavam-se como testemunhas, sérios e ridiculamente elegantes. Era difícil descartar a sensação de que observavam tudo.
Rudy enfiou a mão no bolso.
Era véspera de Natal.
Seu pai estava perto de Viena.
Achou que ele não se importaria se os dois invadissem sua querida loja. As circunstâncias o exigiam.
A porta abriu-se com facilidade e eles entraram. O primeiro instinto de Rudy foi acionar o interruptor, mas a luz já tinha sido cortada.
"Alguma vela?"
Rudy desolou-se.
"Eu trouxe a chave. Além disso, a ideia foi sua".
Em meio ao diálogo, Liesel tropeçou num ressalto do piso. Um manequim acompanhou-a na queda. Roçou-lhe o braço e desmantelou de roupa e tudo em cima dela.
"Tira esse troço de mim!"
O manequim quebrou-se em quatro pedaços. O tronco com a cabeça, as pernas e dois braços separados. Quando se livrou dele, Liesel levantou-se e sibilou:
"Jesus, Maria".
Rudy achou um dos braços e lhe deu um tapinha no ombro com a mão. Quando a menina se virou, assustada, estendeu-a em sinal de amizade.
"Prazer em conhecê-la".
Durante alguns minutos, os dois se moveram devagar pelos corredores estreitos da loja. Rudy começou a se dirigir ao balcão. Ao cair por cima de uma caixa vazia, gritou e xingou, depois reencontrou o caminho da entrada.
"Isto é ridículo", disse, "Espere aqui um minuto".
Liesel sentou-se, com braço do manequim na mão, até ele voltar com uma lamparina acesa da igreja.
Um anel de luz circundava-lhe o rosto.
"E aí, cadê esse presente de que você anda se gabando? É melhor não ser um desses manequins esquisitos".
"Traga a luz aqui".
Quando ele chegou à extrema esquerda da loja, Liesel segurou a lanterna com uma das mãos e, com a outra, tateou os ternos pendurados. Tirou um deles, mas rapidamente o substituiu por outro.
"Não, ainda é grande demais".
Depois de mais duas tentativas, segurou um terno azul-marinho diante de Rudy Steiner.
"Este é mais ou menos do seu tamanho?"
Enquanto Liesel se sentava no escuro, Rudy experimentou o terno, atrás de uma das cortinas. Havia uma rodinha de luz e uma sombra que se vestia.
Ao voltar, Rudy estendeu a lamparina a Liesel para que ela o visse. Livre da cortina, a luz parecia uma pilastra, brilhando sobre o terno refinado. Também iluminava a camisa suja por baixo e os sapatos surrados do menino.
"E então?", perguntou Rudy.
Liesel continuou exame. Andou em volta dele e encolheu os ombros.
"Nada mau".
"Nada mau! Minha aparência é melhor do que só 'nada mau'".
"Os sapatos estragam você. E a sua cara".
Rudy pôs a lamparina no balcão e partiu para cima dela, fingindo-se furioso, e Liesel teve de admitir que começou a ser tomada por um certo nervosismo. Foi com alívio e decepção que o viu tropeçar e cair no manequim desonrado.
No chão, Rudy caiu na gargalhada.
Depois, fechou os olhos, apertando-os com força.
Liesel preciptou-se para ele.
Agachou-se a seu lado.
Beije-o, Liesel, beije-o.
"Você está bem, Rudy? Rudy?"
"Sinto saudade dele", disse o menino, de lado, olhando para o chão.
"Frohe Weihnachten", respondeu Liesel. Ajudou-o a se levantar, endireitando o terno. "Feliz Natal".
Rudy encarou-a.
Estavam bem pertos.
O nervosismo tomou conta de Liesel novamente.
Que tal um beijo, Saumensch?, ela podia ouvi-lo em sua mente.
Dessa vez, não recusou.
Rudy chegou para perto e assim Liesel o fez. Em um instante, acabaram com a distância.
Selaram os lábios.
Dessa vez, não ouve decepção. Apenas batimentos cardíacos altos.
Jesse Owens finalmente ganhara o beijo da menina que roubava livros.
E não fora nada mal.
E é isso. Vergonha alheia de mim mesma (~procurando o sentido~).
Descobri que tem uma fic quase igual a essa, um mesmo final alternativo pro mesmo final de capítulo, SOCORRO! É diferente, ok. EU JURO QUE NÃO COPIEI NADA, tanto que só descobri quando postei isso que existia a categoria própria do livro. Postei originalmente no Misc. Books, aí achei a categoria certa e fui olhar as fics em português e... OPA! Achei uma fic com exatamente o mesmo propósito dessa: um beijo da Liesel com o Rudy exatamente nessa mesma parte. Mais vergonha alheia de mim (~ainda procurando o sentido~).
Mas OK. Ninguém deve ler mesmo ;.;
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