Notas: Oka galera é minha primeira fic publicada, então sem pressões, por favor. O resumo está horrível, eu sei, e é triste constatar que a inspiração que eu não tenho para escrever desaparece ainda mais rápido quando o assunto é o resumo. Mas mandem reviews com críticas e comentários para eu ter uma noção de como estou indo! Devo demorar a atualizar porque vida de universitária é difícil, tsc. Mas vou fazer todo o esforço possível, prometo.

Os personagens não me pertencem, mas sim à nossa querida Rumiko Takahashi. A imagem utilizada como capa foi encontrada na internet, fonte desconhecida. E eu tirei o título da história da música do 30STM, "A Beautiful Lie".

Resumo: Kagome é uma Taijiya recém treinada que recebe a inesperada tarefa de ser a mais nova tutora do Clã. Seu primeiro aluno é Inuyasha, um jovem misterioso do Sul, que parece trazer com sua chegada mais problemas para os Exterminadores. UA, KagxInu, SanxMir, SessxRin.


You're such a beautiful lie

por CoquilleD'or

Capítulo I

. . .

- Aproxime-se, Higurashi.

A sala mal iluminada fedia a óleo de peixe, usado para acender as lamparinas. O cheiro forte impregnava o ar e pairava pesadamente, como um fantasma, sobre os ombros de tudo o que permanecia no local por mais de alguns minutos. Do lado de fora a tênue luz do luar coroava a brisa quente da primeira noite de verão, que soprava mansa sobre casas e florestas, acariciando suavemente as criaturas que estivessem em seu caminho. A cabana rústica onde se encontravam era simples em todas as suas formas: poucos cômodos, poucos móveis, pouco conforto. Como deveria ser toda moradia dos Taijiya.

A mulher escorada no batente da porta deu dois passos hesitantes para dentro, desejando em seu intimo afastar-se da sala o mais rapidamente que seus pés conseguissem correr. Prostrou-se a meio caminho de uma grande mesa onde uma anciã estava sentada, quase escondida. Seus cotovelos estavam apoiados desajeitadamente na superfície escura da madeira, a manga do kimono espalhada como um véu. Ela tinha a vaga impressão que a velha diminuía a cada ano que se passava, embora ainda mantivesse a compostura de uma jovem arqueira.

Assim como a anciã, a sala, e tudo ao seu redor, a mulher exalava simplicidade, além de um suave cheiro de banho. Estava usando um kimono branco, presente ganho em algum momento longínquo de sua adolescência. Os cabelos negros e escovados caiam em pesadas mechas por seus ombros e costas. Não conseguiu evitar a careta ao entrar efetivamente no recinto e ser assaltada pela fumaça das lamparinas. Tinha um olfato sensível, e isso era extremamente ruim para alguém que fazia o que ela fazia.

Havia encerrado a pouco seu último e definitivo dia de treinamento, e apesar de já estar recomposta e limpa, ainda podia sentir os nós nos músculos e o cansaço no corpo. Não desejava nada mais do que ir diretamente para casa e desabar no colchão macio, derramar-se como água quente na simplicidade do seu quarto. Dedicara-se demais em terminar de aperfeiçoar sua técnica com tantos¹ e shurikens², o que a levou a permanecer até depois do entardecer em uma das áreas de treinamento, sem sequer notar a passagem do tempo. Calculou rapidamente que já deveria passar em muito das sete horas da noite.

A voz de Kaede-sama a retirou de seus devaneios com um pigarro em tom grave.

- Preste atenção Kagome, o recado é importante. Aquele é Inuyasha, um dos jovens recém-chegados do Sul para treinar conosco. Recebi ordens diretas de Sango esta manhã para encaminhá-lo o quanto antes a você. Ela pensa que, por mais que o histórico indique ser um aluno problemático, já está plenamente qualificada para orientar um pupilo.

E suas sobrancelhas se arquearam levemente, antecipando qualquer tipo de objeção como quem diz 'Sim, foi isso mesmo que você ouviu', antes de continuar com a voz mais suave, que fazia subentender uma dramatização intencional ao inicio da frase – Ela deposita sua confiança em você, Higurashi. Leve-o para casa, alimente e perfume o coitado. A partir de agora, tudo o que acontecer ao rapaz será de sua responsabilidade. Tenho certeza que será capaz de transmitir muito bem seus conhecimentos ao novo pupilo.

Kagome estava rija em seu lugar, estupefada. Definitivamente, não era o que esperava receber. Por um momento sua cabeça pareceu rodar, enquanto a nítida sensação de ter levado um pontapé na nuca e o esforço para digerir o que fora informado se cruzavam com a tentativa de entender quais os motivos que explicariam essa loucura repentina.

O fato de Sango, a chefe do Clã dos Taijiya e sua melhor amiga, que nunca apreciara formalidades, ter emitido com tal tom solene a mensagem através da velha Kaede, ex-conselheira do Clã que estava sempre acompanhando o grupo, surpreendeu-a tanto quanto comprovou que a insanidade provavelmente havia arrebatado de forma sorrateira a amiga enquanto dormia.

Com um pequeno sorriso que misturava complacência, bondade e preocupação, Kaede-sama indicou-lhe com a cabeça o rapaz do lado de fora da cabana, de onde só podiam ver a distante silhueta no escuro. Kagome não sabia se seria justo com ela dar-se a liberdade de praguejar rudemente e em voz alta na sua presença e naquele momento, ou se deveria fingir contentar-se em calar e resignar.

Kaede-sama cuidara pessoalmente de Kagome quando esta era ainda uma criança, órfã de pai e mãe, que se vira obrigada por um curto período de tempo a vagar pelos becos onde os mercados informais da cidade efervesciam a procura de comida. Seus pais haviam sido bons Taijiyas, mesmo não pertencendo a uma patente muito alta e não participando dos altos conselhos do Clã. Apesar disso Kaede, à época ainda conselheira, conhecera-os e lamentara profundamente seu falecimento em combate, e soube identificá-la pelas ruas e apiedar-se de seu sofrimento. Encarregou-se da primeira criação da menina antes de passá-la aos cuidados de outros Taijiya. As memórias que guardava da velha eram vagas, mas cheias de uma admiração quase infantil.

- Ah, sim. Sim, obrigada Kaede-sama. Amanhã tratarei melhor do assunto. – Ela murmurou de forma débil e se retirou do aposento, processando em seu interior a ideia de procurar pessoalmente Sango na manhã seguinte. Estava exausta agora, e sua cabeça parecia funcionar a base de manivelas enquanto atravessava a casa abafada com movimentos mais lentos do que o normal.

Entendia que orientar novos pupilos era parte da tarefa designada a cada Taijiya, mas a companheira só poderia estar delirando se já a considerava apta para lidar com jovenzinhos recém-chegados de outras regiões, completamente indisciplinados e eufóricos com a possibilidade de conquistar qualquer instrumento de batalha para sair por aí matando youkais.

Do lado de fora ela permitiu-se suspirar pesadamente por fim, e se encaminhou para onde deveria estar o rapaz.

A uma distancia não muito grande do gramado que circundava o local encontrou-o encostado a uma árvore, com os braços cruzados sobre o peito, sobrancelhas cerradas, olhos fixos em algum ponto perdido no chão verde e fresco, em uma postura extremamente rígida. Inuyasha levantou o olhar ao vê-la se aproximar e a encarou, grandes orbes dourados brilhando como punhais precisos na meia-luz fornecida pela lua minguante. Kagome perdeu momentaneamente a linha de raciocínio que estava seguindo, sob o escrutínio um tanto raivoso do forasteiro. Ao que parecia, ele não estava mais feliz de estar ali do que ela. Um pequeno momento de hesitação se seguiu.

Sem mais rodeios e sem mais tempo a perder ela grasnou baixo, infeliz, quebrando a camada de gelo que se formava no ar entre os dois corpos e que começaria a pesar em segundos se o silêncio prosseguisse.

- Sou Kagome Higurashi, sua mentora enquanto durar seu treinamento na Vila. Estarei responsável por você a partir de agora, e iniciaremos os trabalhos em dois dias. Hoje a noite poderá se acomodar em minha casa, e amanhã eu vejo o que faço com você.

Ela esperava ser minimamente simpática, mas percebeu que sua voz soou mais forçada do que o planejado. Era impossível não analisá-lo, da mesma forma como ele também parecia estar fazendo consigo. Alto para a idade, cabelos muito longos e negros, um kimono valiosíssimo de pele-de-rato muito pesado para a ocasião, um nariz arrebitado e a boca retorcendo-se em uma linha dura de antipatia. Uma visão nada animadora, e não muito típica naquela região para ser mais exata. O rapaz não desviou o olhar do seu enquanto soltou alguma coisa parecida com um suspiro, e a seguiu pela Vila do Clã dos Taijiya.

Vila era uma designação um tanto modesta: O local havia crescido mais do que os limites dos Portões Exteriores que guardavam as entradas do território. O pequeno vilarejo onde a menina crescera agora se estendia imenso sobre as escarpas da montanha e sobre o vale mais abaixo. Muita gente fora atraída dos quatro cantos pelo treinamento dos Taijiya, que se tornou famoso por sua rigidez e seletividade. Muitos outros buscavam apenas serviços de proteção, que a principio sustentavam o Clã e a comunidade de forma geral.

Com o crescimento da Vila comércios dos mais variados e outras atividades foram se estabelecendo colina abaixo. Quanto mais alto subisse a montanha, mais antigas eram as construções, mais antiga era a memória, mais antigas as tradições, mais metodicamente as áreas eram organizadas, por insistência da atuação dos Taijiya. Suas casas ficavam todas agrupadas, perto dos locais de treinamento e da Pequena Feira, no topo da montanha, desproporcionalmente distantes da maioria das casas dos outros moradores que se espraiavam para baixo como os sedimentos depositados no mar pela foz de um rio.

A ligação entre as áreas de treinamento, a casa dos Taijiya e os pontos estratégicos da Vila - como os portões do muro interior e a pequena passagem do córrego local, do qual dependia o funcionamento da cidade - eram facilitadas por largas ruas de terra batida, retas e objetivas, que desciam a toda velocidade pelas encostas e por fim encontravam-se no fundo do vale adiante.

Eles deram a volta por um dos galpões de treinamento, caminhando devagar e distantes um do outro. A moça sentia-se estranhamente sozinha, e o silencio pesava e feria como ferro em brasa. O menino exalava uma hostilidade fria, uma reclusão estranhamente deslocada, e não abrira a boca até o momento. Pelo canto de olho ela constatou que ele mal a olhava, ou à cidade ao seu redor. Avançaram um pouco mais abaixo da escarpa, próximos a única das entradas da Vila que estava diretamente conectada à casa dos Taijyia e os ligava às densas florestas ainda mais acima da montanha.

Kagome guiou-o até sua cabana de pedra, forneceu-o roupas limpas e apropriadas para o treinamento dos dias seguintes e indicou seu quarto, o único vago dos pequenos cômodos da casa simples. Sentia-se flutuar, descolada da própria mente, e não sabia se isso era fruto da exaustão ou um mero tilt causado pelo assombro ainda latente. O pupilo apenas agradeceu secamente ao final, ou ao menos era isso que poderia se inferir de seu "Keh!" desdenhoso, ao pegar as roupas e sumir atrás da porta mantendo o olhar intimidador.

Ela poderia jurar que o rapaz transmitia algo diferente dos outros jovens que vinham treinar. Não havia um único gesto empolgado, curioso, amigável, ingênuo e irritante por parte dele. Ele a estava deixando irritada de fato, no final das contas, mas não pelos mesmos motivos que os outros recém-chegados. Sentia-se estranhamente desconfortável com sua presença principalmente porque tinha a forte impressão de que o menino poderia rosnar para ela a qualquer momento. Talvez Sango mudasse de ideia no dia seguinte e concordasse que seria melhor esperar mais um tempo até entregar um dos cargos de mentora para Kagome.

Suspirando, agarrada a essa esperança e ao conforto de deitar os músculos doloridos e a cabeça latejante ao travesseiro, a menina adormeceu rapidamente.

. . .

Nem ao menos o dia havia terminado de raiar Kagome já se punha de pé. Hoje já não havia mais treinos, o que a perturbava levemente, e isso significava que nenhum traço da rotina intensa de trabalho se faria necessária por enquanto.

O que a perturbava ainda mais.

Era incrível crer que poderia dormir por mais tempo, demorar-se um pouco mais ao se arrumar, tomar suas horas com alguma atividade corriqueira, lazeres, caprichos, qualquer coisa que viesse a mente. A simples menção a fazia estremecer. O dia seria um perfeito hiato, e ela sempre tivera dificuldade em preencher essas lacunas. A manhã quente se coloria sem pressa enquanto ela se espreguiçava e lavava seu rosto no cômodo anexo ao quarto, usado para a higiene corriqueira.

Olhou-se no espelho por um momento. Estava pingando, e duas olheiras tímidas insistiam em agarrar-lhe na pele. De forma vaga o cansaço que sentira na noite anterior retornou às suas pálpebras e ela-

Oh, não.

O garoto.

A lembrança transpassou sua cabeça como um raio. Enxugou-se rapidamente e vestiu o mesmo kimono branco da noite anterior. Passando a correr pelos cômodos que a separavam de seu pupilo, Kagome quase derrubou os pequenos objetos que inutilmente havia arrumado na estante da sala, últimos remanescentes de sua herança e das memórias de uma vida passada com os pais da qual ela não se recordava bem.

Com os punhos fechados e a respiração entrecortada, Kagome socou-se mentalmente. Não deveria estar tão nervosa com o fato de ter que treinar um novo Taijiya. Não deveria estar tão nervosa com sua presença, ela pensou enquanto batia levemente à porta do quarto de seu hóspede.


¹ Tantos: Adagas japonesas.

² Shurikens: Estrelas ninja.

Notas: Ficou pequeno esse primeiro capítulo, né? POR FAVOR, comuniquem-se comigo, preciso muito de um feedback.