Mentiras Brancas
Título Original: White Lies
Autora: Cassis Luna
Rate: T
Disclaimer: Harry Potter pertence a J.K. Rowling e esta fanfic a Cassis Luna
Shipper: HD/HP
Gênero: Romance/Humor
Atenção: Slash, homossexualidade, universo alternativo (o desenrolar dos acontecimentos não acompanham o último livro)
Sumário: Draco toma uma poção que o torna capaz de dizer se uma pessoa está mentindo ou não , Harry, aparentemente culpado por esta situação, é forçado a 'ajuda-lo' com os efeitos colaterais. Pela primeira vez eles terão que lidar um com outro sem poder se esconder atrás de mentiras.
Capítulo 1 – Acidentes em Poções
"— irá forçar um transmorfo a se revelar, normalmente é utilizada contra a Poção Polissuco e animagos. O seu feitiço equivalente é o Feitiço Restaurativo. Entretanto, não é forte o suficiente para funcionar em Metamorfagos e eu aconselho veementemente que vocês não tentem utilizá-la contra lobisomens, a não ser que vocês queiram ficar íntimos das suas próprias entranhas, seja antes ou depois de terem administrado a poção," Snape explicou arrastando a voz e assumindo uma expressão de escárnio como se considerasse todos os presentes culpados por pensar em tentar utilizar a poção contra um lobisomem, o que na verdade não era nenhum absurdo. "Bichos-papões podem–"
Harry podia sentir a forma como suas pálpebras iam ficando pesadas à medida que ele tentava, em vão, se manter focado na voz de Snape e em sua área de trabalho. Ele havia sido obrigado a fazer dupla com Malfoy, novamente, – o que não era nada surpreendente, apesar de que Snape já deveria ter se cansado a muito tempo de juntá-los na esperança de humilhá-lo – e ele estava sentado em um dos banquinhos, sendo o responsável pelos ingredientes enquanto Malfoy estava de pé ao lado do caldeirão, mexendo e murmurando os feitiços necessários para mantê-lo na temperatura correta.
Experiências passadas haviam ensinado aos dois que brigar não iria fazer com que as poções ficassem prontas sozinhas (apesar de ele ter se divertido bastante no início, afina,l Snape acabava sendo obrigado a tirar pontos de Malfoy também por conta das brigas) então eles finalmente chegaram a um acordo no qual Harry ficaria responsável por talhar, macerar e cortar os ingredientes (ter morado com os Dursleys tinha suas vantagens, Harry pensou amargamente, fora a proteção mágica por estar sob o teto da irmã de sua mãe, o que prevenira que ele fosse utilizado como capacho pelo Lorde das Trevas) enquanto Draco fazia todo o trabalho minucioso e as partes complicadas.
Harry nunca possuíra o dom da precisão. Ele estava mais para "uma pitada disso e um pouco mais daquilo" do que "dez mililitros disso e ¼ de um copo daquilo".
Em pouco tempo Snape parou de falar e passou a checar todos os caldeirões um por um, indo em direção ao fundo da sala, e Harry finalmente se deu conta de que ele falhara mais uma vez em prestar atenção.
Ele suspirou, essas noites mal dormidas estavam seriamente prejudicando-o. Okay, Poção Restaurativa. O que será que vem depois dos rabos de ratazana? Ele pensou, vasculhando sua própria coleção de plantas. Ao mesmo tempo em que fazia isso ele vasculhava seu cérebro na tentativa de recordar os ingredientes que Snape havia citado mais cedo. Alguma coisa que começava com ab... Ele pegou o abrótano–
"Absinto, Potter, absinto! Você não estava prestando atenção?" Malfoy exclamou, fungando com desdém. Ainda assim sua mão continuava mexendo a poção em intervalos de tempo perfeitos, sem perder o ritmo. Harry conseguia imaginá-lo contando (... doze, treze, quatorze...) em sua cabeça até as necessárias vinte e três mexidas no sentido horário enquanto ele franzia o cenho com impaciência e se preparava para repreendê-lo.
Há muito tempo Harry já admitira para si mesmo que entre os dois Malfoy é quem era o gênio de Poções, e de má vontade, ele ficava impressionado com a forma horrivelmente irritante com a qual Malfoy era capaz de ser preciso com o número e a velocidade de mexidas ao mesmo tempo em que conseguia prestar atenção no que ele estava fazendo.
"Cinco pontos da Grifinória por não ter prestado atenção, Potter," a voz de Snape reverberou pela masmorra, fazendo com que os sonserinos soltassem risadinhas silenciosas e os grifinórios praguejassem. Harry encarou o professor que estava de costas para ele, vendo a forma como ele continuava checando os caldeirões indo em direção ao fundo da sala. Era como se Snape estivesse tão acostumado a tirar pontos de Harry que agora ele o fazia quase que inconscientemente. Era perturbador.
"Eu estava prestando atenção, Malfoy," Harry mentiu, tendo que murmurar para que Snape não o escutasse.
"Quer dizer então que o inverno congelou o seu cérebro ao invés das suas orelhas?" Draco provocou, retrucando rapidamente. "Não que exista algo para ser congelado dentro dessa sua cabeça enorme," acrescentou com um sorrisinho de lado. Vários sonserinos que estavam próximos deles riram abertamente.
Draco removeu sua varinha de dentro do caldeirão, deixando que ela ficasse pingando logo acima da poção (Ah, isso significava que ele já terminara de mexer vinte e três vezes.) e gesticulou uma das mãos em direção à tábua de cortar que estava sob a responsabilidade de Harry. "Agora macere o absinto e não o abrótano."
"Sim, Excelentíssimo Chatonildo," Harry respondeu de volta, revirando os olhos e deixando de lado o abrótano que ele já havia começado a macerar. Ele estendeu uma das mãos para apanhar uma planta verde e folhosa em um dos cantos da mesa – e prontamente deixou escapar uma um ganido quando Draco desferiu um tapa sobre sua mão. "Porque diabos você fez isso?"
"Potter, isso é um estragão," Draco disse, suspirando de forma exasperada. "Apesar de ambas as plantas terem origens muito próximas, eu duvido muito que um estragão seja idêntico a um absinto, então ou você me oferece uma bela desculpa para ter cometido esse erro ou eu serei obrigado a atribui-lo a sua imensa estupidez, novamente."
Harry lançou-lhe um olhar penetrante, massageando a parte da mão que havia recebido o tapa. Ele olhou para a planta novamente e se deu conta, sem jeito, de que realmente aquele era um estragão, e que o absinto estava posicionado exatamente ao lado do abrótano que ele havia abusado mais cedo. Ele corou ao perceber o próprio erro e mais do que depressa apanhou o absinto, sentindo-se envergonhado. Sem paciência começou a amassar a planta com apenas uma das mãos. Minutos depois tornou novamente a encarar Malfoy. "Satisfeito?", grunhiu.
Se o sorrisinho vitorioso de Draco servisse de algum parâmetro, de fato o bruxo ficara satisfeito. "Honestamente Potter, você é horrível em Poções. Porque é que você ainda não desistiu?"
Um silvo fraco chamou a atenção de ambos e Harry lançou um olhar para a agora furiosa e borbulhante poção no caldeirão. Bem, ele poderia não ser nenhum Mestre em Poções, mas pelo menos ele sabia que a mesma não deveria estar reagindo daquela forma. O absinto, quase que de forma ofensiva, permanecia largado sobre a tábua logo ao lado do estragão, agora totalmente macerado. Harry sorriu. "Para te arrastar para baixo junto comigo," brincou, começando a rir quando Draco praguejou e rapidamente recolheu o absinto em suas mãos, jogando-o dentro do caldeirão.
O caldeirão continuou borbulhando por um tempo para depois começar lentamente a se acalmar, fervendo devagar, exatamente como fizera há alguns minutos atrás.
"Cinco pontos da Grifinória por tentar deliberadamente sabotar a poção do Sr. Malfoy," Snape exclamou, soando muito orgulhoso de si mesmo.
O som de um baque soou baixinho quando a testa de Harry colidiu com a mesa. Ele virou a cabeça para lançar um olhar mortífero na direção de Draco, que agora emanava presunção. "Essa poção também é minha," ele murmurou erguendo a cabeça, finalmente percebendo que o montinho de estragão macerado não estava tão grande quanto ele se recordava. Malfoy provavelmente havia pego um pouco da planta quando recolhera o absinto, sem se dar conta do que estava fazendo em meio a pressa. Ele piscou quando o silvo de antes retornou, e ele girou a cabeça para olhar para a poção que agora borbulhava com ferocidade. "Um, Malfoy?"
"O que é agora, Pot –"
BOOM!
Silêncio.
E então…
"Dez pontos da Grifinória por estragar a poção do Sr. Malfoy, Potter," a voz arrastada de Snape cortou o silêncio da sala que se encontrava preenchida por uma fumaça preta. "E fique aqui quando a aula acabar para cumprir a sua detenção," zombou.
A careta que Malfoy assumira logo após o caldeirão explodir em sua cara imediatamente desapareceu com a menção da detenção que Harry receberia. Ele girou o punho enquanto se Scorgificava sem nenhum esforço, até que ele pareceu se lembrar de alguma coisa e sua careta retornou com força. "Muito obrigado, Potter, agora teremos que refazer a poção."
Ron e Hermione olharam para ele de forma compadecida, dando tapinhas em suas costas à medida que o deixavam para trás para encarar sua condenação. Malfoy sorriu para ele com um brilho malicioso para logo em seguida sair das masmorras acompanhado de Goyle. Mais do que depressa ficaram para trás apenas ele e Snape, que agora o olhava com a sua forma habitual, um misto de arrogância e insulto que só ele conseguia fazer sem nenhum esforço.
A frase "foi culpa do Malfoy" já estava praticamente na ponta de sua língua, o que de fato era verdade, sério.
Fora Malfoy quem colocara o estragão no caldeirão, apesar dele saber muito bem que Snape nunca consideraria isso como uma justificativa boa o bastante para explicar o que acontecera. Depois da guerra e tudo mais, seria normal pensar que o homem finalmente ficaria mais compreensivo, ou pelo menos teria amolecido após ser abertamente reconhecido pelos seus esforços na guerra do Mundo Bruxo contra o bom e velho Voldemort, mas Harry obviamente estava esperando muito do mestre de Poções.
Apesar de Harry não odiar mais Snape, ele ainda considerava o professor um idiota viscoso. (o que era okay de se pensar, já que o sentimento era mútuo)
"Limpe esta sala, Potter," Snape começou ameaçadoramente, olhando-o por baixo de seu nariz torto. "Eu quero todos os ingredientes guardados em seus respectivos lugares e as mesas, o chão e o teto positivamente brilhando quando eu retornar em meia hora."
Então fora por isso que Snape não dissera para a classe limpar suas próprias mesas, Harry pensou de forma rabugenta.
"Deixe os caldeirões fervendo." E com isso Snape passou por Harry com um impressivo esvoaçar de capa para logo em seguida sair porta a fora.
Certo, talvez Snape tivesse no final das contas amolecido um pouco.
Ele não recolhera a varinha de Harry, então tudo o que ele precisava fazer era usar Scourgify como um louco e a sala ficaria novinha em folha. Os ingredientes teriam que ser estocados manualmente, claro, já que ele não queria acidentalmente colocar a pedra lunar junto com o acônito. Estava na hora de por as mãos na massa.
Claro que ele não se esquecera de que na verdade não era para ele estar fazendo isso. Aquilo tudo era culpa do Malfoy, o idiota arrogante que sempre tentava atormentá-lo. Apesar de que, Harry refletiu, não havia nada de novo nisso. Era reconfortante poder ser capaz de passar por algo tão normal, honestamente. Quer dizer, isso era a coisa mais próxima do normal que ele já possuíra. Depois da guerra, tudo simplesmente parou de fazer sentido. O Mundo Bruxo tratava-o como se ele fosse alguma espécie de deus, assim como o restante da população de Hogwarts.
Ele concordara em passar por aquele oitavo ano quando McGonagall oferecera apenas porque queria se manter próximo de algo familiar e provavelmente reconquistar o senso de normalidade que Voldemort lhe roubara. A ideia parecera ser boa na época, bem, ainda parecia ser, mas ele não contara com o fato de que os alunos do primeiro ano iriam se alinhar diante dele para pedir um autógrafo ou que multidões se amontoariam ao seu redor para perguntar "como foi que você o matou, como foi que você o matou, como foi que você o matou".
Graças aos céus ele tinha seus amigos que o tratavam como o velho Harry. Ron e Hermione finalmente estavam juntos, e era bom vê-los demonstrando aberta e confortavelmente o amor que tinham um pelo o outro. Mas então Neville também começou a sair com Luna, e Ginny começou a investir nele agressivamente, o que... não deveria incomodá-lo, mas incomodava.
Afinal de contas ele gostava de Ginny… Ele conseguia imaginá-los se casando e tendo filhos. Ele gostava dela, era só que...
Harry franziu o cenho.
Talvez ele não gostasse mais dela como antes.
A parte pior é que agora tudo estava mais insano. Bem, 'tudo' havia sido bem insano por toda sua vida, mas agora que o psicótico Lorde das Trevas que tentara dominar o mundo e matar a todos havia sido derrotado, estava na hora dele voltar a ser um garoto-bruxo normal! (Tudo bem que ele tinha dezoito anos, dificilmente era um garoto, mas mesmo assim...)
Reconhecidamente, até Harry tinha que admitir que ele fora inocente demais ao esperar que as pessoas fossem simplesmente esquecer do Garoto-que-sobreviveu-duas-vezes. Teria sido muito bom para ser verdade. Ser simplesmente Harry, isso seria–
Uma risada estridente interrompeu suas reflexões.
"Oh, Potter, seu canalha –"
"Pirraça!" Harry assumiu uma careta enquanto olhava para o fantasma que atravessara a parede e agora circulava logo acima dele, gargalhando profusamente.
"Oh, Potter, que encantador! Ele se acha tão charmoso! Sua cabeça enorme inchando! Até explodir!" Pirraça cantou, sorrido maliciosamente e mostrando os dentes. Ele se lançou para frente quando Harry apenas balançou uma das mãos em sua direção, ocupado demais em ajeitar os ingredientes da parte de baixo do gabinete.
Logo em seguida Harry assistiu com horror jarras e garrafas começarem a voar do armário em direção à parede oposta, provocando um grande estrondo, barulho de algo se despedaçando e – um blub? O quê? –
BOOM!
Ele girou a cabeça na direção da parede, em pânico, praticamente esperando se deparar com alguma espécie de buraco. Não havia nenhum buraco, mas aquilo não lhe trazia nenhum alívio, porque Pirraça estava se divertindo imensamente com os ingredientes do gabinete. Ele não sabia como poderia estrangular um fantasma, mas merda, como ele queria descobrir!
"Snape'y não ficará feliz quando ele ver Potty –" Pirraça continuava cantarolando, quase dando risadinhas de alegria enquanto se afastava do armário para dar reviravoltas no ar, invadindo o espaço pessoal de Harry ao mergulhar para baixo, divertindo-se com a expressão de horror na cara do bruxo que rapidamente mudava de pânico para raiva. "Pobre Potty–"
A porta foi aberta com um estrondo.
Tanto Harry quanto Pirraça congelaram, virando as cabeças na direção do portal onde Snape estava de pé, chocado, o corpo tenso devido a fúria reprimida. Harry teria ficado com pena dele se não estivesse tão ocupando sentindo pena de si mesmo.
Especialmente porque Snape começou a tremer e Pirraça convenientemente se apressou a desaparecer através do teto.
"N-não fui eu!" Harry guinchou.
Snape girou para encará-lo com escárnio. "Eu sei disso, Potter!" ele grunhiu. "Agora saia imediatamente daqui antes que eu faça você limpar essa bagunça!"
Harry saiu da sala como se fosse um raio, correndo o mais rápido que seus pés conseguiam suportar.
"Maldito poltergeist –" foi à última coisa que ele escutou ao se afastar das masmorras indo em direção à torre da Grifinória.
Que fique claro que Harry Potter não era nenhum pouco estúpido, ele sabia quando uma rota de fuga era lhe apresentada em uma bandeja de prata.
Mas apesar disso, pobre Professor Snape.
Mas por outro lado…
Pobre Pirraça.
Ele já estava próximo do retrato da Mulher Gorda, bastava que ele atravessasse o corredor do sétimo andar, pensando nisso ele apertou o passo – e um pedaço quadrado do chão logo abaixo de si desapareceu completamente.
Ele xingou enquanto uma das mãos se agarrava a varinha que estava no interior de seu bolso e a outra vasculhava por qualquer coisa na qual ele pudesse se agarrar, apesar de não haver nada muito próximo a medida em que ia caindo. Ele deixou escapar um doloroso 'oof' quando seus dedos freneticamente alcançaram e se agarraram a borda do piso, e ele sibilou ao sentir o raspar da pedra contra a sua bochecha, seus quadris e joelho, fora o súbito esforço sobre os seus dedos na tentativa de segurar todo o peso de seu corpo para evitar que ele despencasse.
Exalando profundamente, ele não tinha certeza se deveria agradecer as estrelas por seus reflexos ou praguejar contra elas por o terem colocado nesta situação, outra vez. Com suas mãos ocupadas, ele sabia muito bem que era impossível fazer qualquer movimento mais elaborado com a varinha.
Agarrando-se a alguns dos pedaços de pedra do piso e usando as unhas, ele se ergueu com muito esforço, passando a usar os cotovelos quando finalmente pode.
Na semana passada havia sido um armário de vassouras, ontem fora uma parede…
No momento em que ele conseguiu sair daquele buraco ele se ergueu e começou a correr a distância que ainda restava até o retrato da Mulher Gorda. Ele não iria brincar com a sorte, vai que o resto do chão resolvia se abrir novamente para tentar engoli-lo.
Ele saltou através do retrato imediatamente avançando na direção de Ron e Hermione que estavam inclinados sobre o dever de casa em frente a lareira. (Pelo menos Hermione esta.)
"O castelo está tentando me comer!" ele exclamou, sendo vitorioso em fazer com que seus amigos e alguns grifinórios próximos o encarassem como se ele finalmente tivesse enlouquecido.
"Um," Ron começou a falar vagarosamente e com um pouco de nervosismo. "Você está bem, cara?"
"O que você quer dizer com o castelo está tentando te comer?" Hermione perguntou com uma sobrancelha erguida.
"Bem –" Harry começou e então piscou. Agora que ele parara pra pensar sobre o assunto a explicação que ele tinha em mente soava como se ele definitivamente tivesse perdido a razão. A história que planejara contar soara tão bem alguns minutos atrás, mas de verdade, quanto mais ele pensava a respeito, mais ele percebia o quão... inacreditável era tudo aquilo. "Não tenho certeza," ele finalmente respondeu, se jogando em uma cadeira. "Provavelmente sou apenas eu sendo desajeitado," deu de ombros.
Ron gargalhou com isso. "E você vai e joga a culpa no castelo?"
Harry não pode evitar começar a rir ao ouvir isso.
Naquela mesma noite, ao se deitar, ele pensou que talvez aqueles fossem meros acidentes.
Ele provavelmente tropeçara sobre alguma coisa e acabara caindo dentro do armário de vassouras, e ele de fato escorara na parede no outro dia, podendo ter acionado alguma coisa... E ele provavelmente também fizera alguma coisa para acionar o chão.
Bem, pelo menos não caíra pelo buraco da mesma forma que atravessara a parede no outro dia. Ele demorara três horas só para descobrir como abrir à bendita, e quando finalmente conseguiu, já havia passado da meia-noite.
A verdade é que ele apenas queria ter uma boa noite de sono, muito obrigado.
E considerando o que acontecera na aula de Poções, ele provavelmente precisaria de uma para se preparar para um verdadeiro inferno pela manhã.
Snape estava de mau humor, e quando Snape estava de mau humor significava que todo mundo também estava porque qualquer deslize, por menor que fosse, significaria perder pontos. Quando o mestre de Poções ficava assim, até mesmo os sonserinos não estavam a salvo da habilidade inerente de Severus Snape de sair dando bronca por qualquer motivo.
Harry afundou ainda mais em seu banquinho, sentindo como se de alguma forma aquilo fosse culpa sua, mas ao mesmo tempo estava agradecido por Snape não ter decidido descarregar toda aquela raiva nele. Claro que em menos de quinze minutos já haviam sido descontados dez pontos da Grifinória e tudo por sua causa, mas pelo menos ele não era o único que estava sendo punido.
Poções havia sido a última aula que eles tiveram no outro dia e infelizmente era a primeira aula de hoje, portanto o caldeirão de todos estava exatamente a onde eles haviam deixado.
"Me deixa adivinhar, Potter, é você o responsável por isso," Draco murmurou logo ao seu lado, erguendo um pequeno frasco de Poção Polissuco que Snape havia bondosamente disponibilizado.
"O quê? Pela Poção Polissuco?" Harry perguntou confuso.
"Não, seu imbecil, responsável pela súbita vontade do Professor Snape de sair arrancado todas as nossas cabeças."
Harry se virou para o outro lado para poder esconder o rubor carregado de culpa que tomou conta de suas bochechas. "Súbita? Ele sempre está com vontade de arrancar as nossas cabeças."
Draco escarneceu. "Você quer dizer a sua cabeça. A Sonserina já perdeu dez pontos hoje, isso é um absurdo!"
"Não reclame, Malfoy," Harry comentou pesarosamente. "A Grifinória já perdeu trinta."
Draco sorriu de lado. "E de quem foi à culpa?"
Harry virou a cabeça para encará-lo. "Não, eu não sou o culpado por isso," exclamou com veemência.
"Okay, parcialmente culpado então," Draco replicou, dando de ombros.
Harry não tinha a menor ideia de como poderia responder a acusação, por isso acabou tendo que se limitar a ficar resmungando enquanto Snape finalmente terminava de atormentar Lilá Brown e pedia para que todos os presentes começassem a tomar suas respectivas poções.
Draco olhou para a Poção Polissuco enojado. "Não consigo acreditar que terei de beber algo contendo um cabelo seu, Potter. Só de pensar a respeito tenho vontade de vomitar."
Harry, que estava pronto para puxar alguns fios do próprio cabelo, sorriu de forma maldosa. "Se você preferir posso cuspir na sua poção, Malfoy."
Draco ficou verde ao ouvir isso. "Será que você precisa ser tão vulgar? Anda logo e coloca seu cabelo no frasco enquanto eu não estou olhando, assim posso fingir que ela não foi contaminada," ele ordenou.
Harry meramente continuou passando os dedos pelo cabelo, enrolando o sonserino. "Nós podemos trocar de lugar se você quiser. Eu posso tomar a poção."
Ele não tinha a menor ideia do porquê Malfoy considerava ser sua obrigação experimentar todas as poções que eles confeccionavam, Harry acreditava que o motivo do loiro fazer isso era para aprender tudo o que podia sobre a matéria. Afinal de contas, qual a melhor forma de estudar poções do que experimentando-as?
"Não, Potter," Draco revirou os olhos empurrando o frasco de Poção Polissuco em sua direção. "Ande logo com isso."
E então Harry finalmente puxou alguns fios do próprio cabelo e os depositou sobre o líquido viscoso. Por alguns momentos a poção soltou um leve silvo e de repente começou a mudar de cor, ficando levemente clara como ouro. "Saúde, Malfoy," ele sorriu.
Draco se virou para encará-lo, um pouco mais pálido do que o habitual e cheirando o frasco desconfiado. "Qualquer coisa contendo um pedaço seu deveria ser rotulado como veneno," murmurou para logo em seguida tomar toda a poção em um único gole, parecendo estar fazendo isso com um imenso esforço.
Harry ficou de costas para Malfoy acreditando que o mesmo desejava ter um pouco de privacidade. Ele conseguia se recordar de sua própria experiência com a Poção Polissuco e, apesar de não ter sido nada doloroso, fora no mínimo esquisito. Ele olhou ao redor de si, observando o resto da turma, e ficou maravilhado com o que viu. Dois Blaise Zabini, duas Lilá Brown, duas Padma Patil, duas Hermione Granger, dois Ron Weasley, dois Gregory Goyle… Ele se virou na direção de Draco e não pode evitar a gargalhada que escapuliu por entre seus lábios quando se deparou com a sua própria imagem o encarando de forma pensativa.
Ao ouvi-lo rir, Draco-Harry o encarou com sarcasmo. "Estou feliz ao ver que você considera isso tudo muito hilário, Potter, porque para mim esta está sendo uma experiência absolutamente pavorosa." E então parou surpreso ao ouvir a voz de Harry saindo de sua própria boca.
Isso só fez com que Harry risse com mais força. Pelo menos agora ele tinha certeza de que o típico olhar zombeteiro de Malfoy não combinava com ele.
Draco se olhou de cima em baixo, sorrindo de forma maldosa. "Tomar a Poção Restaurativa parece ser um imenso desperdício agora. Imagine como seria divertido dançar em cima da mesa da Grifinória desse jeito."
Era nessas horas que Harry imaginava como teria sido sua vida se ele tivesse aceitado a mão de Draco no primeiro ano. No ápice da Guerra os Malfoy haviam subitamente se voltado contra Voldemort e Harry se recordava do quanto ficara surpreso por ter se sentido mais leve e aliviado ao descobrir que Draco e Narcissa haviam trocado de lado. Lucius, entretanto, se manteve firmemente ao lado do Lorde das Trevas e atualmente estava encarcerado em Azkaban.
Vários gemidos ao redor da sala chamou a atenção de ambos, e um por um todos os estudantes voltavam a sua forma original logo após tomarem um frasco de Poção Restaurativa.
Draco-Harry fungou ressentido. "Que pena," ele disse, dando de ombros ao usar Scourgify no frasco que ainda segurava e o preenchia até a metade com a poção contida no caldeirão.
"Realmente, uma pena," Harry retrucou secamente.
Draco-Harry ergue o frasco em um brinde zombeteiro e tomou todo o conteúdo em um só gole. Ele estremeceu com o gosto e colocou o objeto sobre a mesa de trabalho–
E neste exato instante Harry assistiu a forma como Draco tombou para frente e escorregou em direção ao chão, caindo sobre ele.
Entrando em pânico e pulando imediatamente do banquinho, seus joelhos se chocaram dolorosamente contra o chão a medida que todo o peso de Malfoy era lançado sobre si. O loiro tremia violentamente.
Snape surgiu ao seu lado em um piscar de olhos. "O que foi que você fez, Potter?" Ele sibilou.
Harry abriu a boca enquanto arregalava os olhos e via a forma como o corpo pálido convulsionava em seus braços. "Nada! Eu – ele de repente –"
E então Malfoy ficou imóvel, relaxando o corpo sobre o de Harry.
Harry respirou fundo, virando o loiro para olhar seu rosto e checar seu pulso. Ele deixou escapar um suspiro trêmulo ao encontrar um.
Em poucos minutos todos estavam ao redor deles, alguns parecendo assustados, outros zangados, chocados, ou apenas curiosos.
Snape conjurou um feitiço para fazer com que Malfoy ficasse mais leve e logo depois sibilou para que o resto dos estudantes saíssem do caminho ao mesmo tempo em que erguia Draco nos braços. "A aula acabou, limpem seus locais de trabalho. Granger fique de olho na turma." E então ele se virou na direção de Harry com uma careta. "Potter, me acompanhe," disse irritado para logo em seguida sair praticamente correndo das masmorras, a capa tremulando furiosamente logo atrás de si.
Harry olhou uma última vez para as faces pálidas de Hermione e Ron antes de sair correndo na direção da enfermaria.
Draco acordou sentindo-se inexplicavelmente tonto enquanto encarava com os olhos semicerrados o teto branco. Ele conseguia ouvir a voz de Snape, e quem era a outra pessoa – Potter? E também havia Madame Pomfrey. Ele piscou – e então grunhiu ao se dar conta de que estava na enfermaria.
Sem ter a mínima ideia do motivo, pensou amargamente.
Sentando-se, acabou deixando escapar um gemido devido à pequena onda de náuseas que o assolou.
As vozes imediatamente se calaram e subitamente vários sons de passos começaram a se aproximar.
Draco piscou algumas vezes tentando focar a visão antes de olhar na direção de Madame Pomfrey que caminhava apressadamente até a onde ele estava. Ele franziu o cenho. Piscou novamente, agora com força, porque havia pontos claros dançando em seu campo de visão. Estes pontos ficaram ainda mais nítidos à medida que a bruxa se aproximava.
Ele a encarou de forma idiota.
Madame Pomfrey finalmente estava ao seu lado e ele não estava escutando nada do que ela estava dizendo, pois estava ocupado demais encarando os... Bem, aquilo não se parecia mais com pontos. Na verdade era como se houvesse um leve brilho rodeando a bruxa. Era algo quase que belo.
"Só irei conjurar alguns feitiços, Sr. Malfoy, apenas um rápido check-up, okay?" Madame Pomfrey informou, movendo a varinha várias vezes à medida que franzia o cenho.
Snape, que agora estava logo atrás dela, o olhava preocupado. "Tem alguma coisa errada com ele, Madame Pomfrey?"
Havia um leve brilho ao redor de Snape também.
"Na verdade não há nada de errado com ele, Professor Snape, ele…" Madame Pomfrey continuou parecendo não saber o que dizer enquanto olhava confusa para Draco. "Ele está perfeitamente saudável."
Snape ergueu uma sobrancelha na direção da bruxa.
"Qual foi mesmo a poção que ele tomou?"
Com isso Snape praticamente rosnou, o que atraiu a atenção de Draco na direção de Potter, que estava no final da cama, parecendo se sentir imensamente nervoso, culpado e simplesmente confuso. O grifinório também tinha o mesmo brilho rodeando seu corpo.
"Supostamente uma Poção Restaurativa," Snape retrucou, colocando ênfase na primeira palavra. Ele olhou de forma penetrante na direção de Potter. "O que foi que você colocou na poção, Potter?"
"Nada!" Harry exclamou sacudindo ambas as mãos diante de si para se defender. "Bem, teve o estragão – não, espere, isso foi na poção que explodiu, mas nós seguimos as instruções corretamente quando tivemos que refazê-la."
"Então você não colocou mais nada no caldeirão?" Snape questionou secamente.
"Eu já te disse que não, nada!" Harry retrucou, ficando irritado.
"Seria possível, Professor Snape," Madame Pomfrey começou e todas as cabeças se viraram para encará-la. "Que o Sr. Malfoy não tenha tido apenas uma reação alérgica ao ingerir a poção?" E então ela se virou para Draco. "Sr. Malfoy, você está se sentindo diferente?"
Draco deu de ombros, coçando um dos olhos. O brilho continuava presente ao redor dos três. "Na verdade não, mas todos vocês estão… Brilhando," ele finalizou de forma seca.
Todo mundo o encarou com incredulidade.
"Brilhando," Snape repetiu sem achar graça nenhuma disso.
"Okay, querido, acredito que você precise descansar mais um pouco," Madame Pomfrey comentou. "Você pode aparenta estar perfeitamente saudável, mas aquela poção te pegou de jeito."
Draco concordou, pensando em como ele ainda estava sonolento e sentindo-se enjoado e tonto…
"Eu irei te acordar depois do almoço, querido, agora vá dormir," Madame Pomfrey garantiu para logo em seguida fechar as cortinas ao redor de sua cama.
Logo em seguida ele pode ouvi-la expulsar Snape e Potter da enfermaria, dizendo para que ambos não perturbassem seus pacientes.
Notas da Tradutora: Bem, as atualizações serão semanais, mas tentarei apertar um pouco um passo logo no início para aproveitar minha semana de folga. Espero que tenham gostado do capítulo e que se divirtam da mesma forma que me diverti lendo esta história.
Até a próxima!
