Nobreza
Obsessão. Albus Dumbledore sabia que aquela palavra definia a mulher que estava diante dele como nenhuma outra palavra criada até aquele momento.
Ele acreditava que a curiosidade era um pré-requisito para qualquer um que desejasse seguir a carreira da adivinhação. Mas, em Sybill Trelawney, a curiosidade somada à sua vontade de chamar a atenção a tornavam descontroladamente obsessiva.
Todo ano, para impressionar, predizia a morte de um aluno novato em sua disciplina. A idéia ficava tão fixa na cabeça dela que logo a própria acreditava na brincadeira. O aluno em questão nunca mais poderia pisar na sala de Trelawney sem que ela predissesse sua morte pelo menos uma vez. Completamente obsessivo e descontrolado, nem o diretor conseguira fazer parar esse hábito.
No ano anterior, Dolores Umbridge, enviada do Ministério da Magia, resolvera inspecionar os professores. Trelawney foi posta em observação. A professora parecia pensar na própria expulsão mais do que seria normal. Chegara a consultar Dumbledore tantas vezes que o diretor passara a considerar a visita matinal dela ao seu escritório como algo rotineiro. Uma obsessão crescente e muito enfadonha para quem a cercava.
Daquela vez, o problema era o próprio Dumbledore. A mulher insistia em prever a morte do diretor, o homem que tanto admirava. Ele sabia que as visões de Trelawney estavam corretas, em breve ele não estaria mais entre os vivos, mas não podia dizer aquilo para a professora. Esperou que o tempo pudesse tranqüilizá-la e protegê-la da dor que suas próprias palavras lhe causariam futuramente.
Mas ela não desistia. Afinal, isso a caracterizava. Aquela obsessão desmedida e descontrolada que aborrecia a todos que a cercavam.
Olhando nos olhos lacrimosos da professora enquanto esta tentava convencê-lo a proteger-se, Dumbledore pensou, pela primeira vez, que aquela obsessão, ainda que descontrolada e ligeiramente enfadonha como as demais, também podia ser chamada de nobreza.
