Capítulo 1 - O presente
Jensen contemplou o belo quarto iluminado pelas velas tão cuidadosamente arrumadas por ele. Tinha feito um ótimo trabalho... O aroma que pairava no ar era delicioso, e as delicadas pétalas de rosa espalhadas pela cama davam um charme todo especial ao ambiente. Quem diria que aquela decoração tão refinada partira de um ex-mecânico? O louro sorriu. Jared ficaria feliz com a surpresa!
- Jay! É você!? – Jensen perguntou ansioso, ouvindo o barulho de alguém se aproximar.
- Sou eu, Sr. Ackles, vim trazer-lhe um chá. - O louro viu com desgosto que era Sebastian, o mordomo, com a mesma expressão fria de sempre. Pela milésima vez não era o seu amado. Aquela casa tinha empregados demais... E Jared, como de costume, estava demorando uma eternidade para chegar do trabalho.
- Nossa, amor, que lindo! Você que arrumou tudo isso? – Padalecki sorria exibindo as covinhas que tiravam Jensen do sério. Ele esperara por horas, mas ver aquele sorriso lhe dava a certeza de que o trabalho e a espera haviam valido a pena.
O louro acenou a cabeça em sinal afirmativo, orgulhoso. Em seguida começou a desabotoar a camisa do marido. Estava morrendo de tesão. Louco para curtir alguns momentos românticos ao lado do homem que amava.
O moreno segurou a cabeça do outro e deu-lhe um beijo na boca. Foi um beijo gostoso, sereno... Jensen era o amor da sua vida, e Padalecki era imensamente grato por tê-lo como marido. Afinal não existia homem mais bonito, mais doce e mais romântico em todo o universo...
- Ahh, Jay, eu te amo! – exclamou o louro, assim que libertou-se do beijo.
Jared ia responder que o amava mais, mas foi atacado por beijos e apertões que o deixaram sem fôlego. O amasso só foi interrompido porque Jensen lembrou-se que precisava colocar música ambiente e buscar os morangos com chocolate na cozinha.
- Fica aí quietinho que eu já volto. – Exclamou Ackles, apressado, e doido para retomar o que estavam fazendo.
Enquanto esperava, deitado na cama, o moreno sentiu suas pálpebras pesarem. Ele estava tão cansado... Acordava cedo, trabalhava o dia todo... Mas Padalecki não queria magoar o marido, que tivera tanto trabalho para preparar-lhes aquele belo ninho de amor. Tentava manter os olhos abertos, mas suas pálpebras pareciam estar sendo fechadas com cola. Foi a sua professora que as colou. E agora, como ele ia fazer a prova de matemática? Ele ia tirar zero! Mas isso pouco importava agora... Afinal ele estava pelado, no meio do pátio da escola!
Quando Jared Padalecki acordou não viu mais velas nem pétalas, apenas Jensen enroscado como uma bola magoada. O dia já começava a clarear. O moreno sentiu um frio na espinha ao se lembrar que não recordava de tê-lo visto voltar ao quarto. Sim, ele simplesmente havia adormecido...
- Jen? – Padalecki chamou baixinho.
Jensen fingia dormir, e não se abalou. Não estava a fim de conversa. Viver daquele jeito não estava dando certo pra ele. Quando o louro aceitou casar-se e se mudar para a mansão de Padalecki, jamais imaginou que sua vida se tornaria assim... Vivia na esperança de ter momentos ao lado de Jared. Planejava o seu entediante dia em função disso. O moreno, entretanto, para seu desgosto, parecia cada vez mais atarefado e, consequentemente, mais cansado também.
- Jen! – insistiu Jared. Dessa vez o moreno acariciou o marido de leve, que não pôde negar-se a abrir os olhos. – Desculpa, meu amor... Você não está bravo comigo, está?
- Não... – respondeu Ackles. Mas sua voz rouca soou um tanto infeliz.
Aquilo não era justo! Então Jensen não sabia que ele trabalhava duro o dia todo? Acordava cedo... Participava de dezenas de reuniões... Era um homem ocupado, que mal tinha tempo para relaxar durante o dia. O louro, ao contrário, passava o dia todo em casa dormindo, nadando na piscina, assistindo filmes e se divertindo. Jensen simplesmente não tinha o direito de ficar com aquela cara de vítima só porque ele, exausto, não conseguira se manter acordado para uma transa.
- Eu estava exausto... – justificou-se o moreno secamente. – E já estou atrasado... – resmungou olhando o relógio. Precisava se enfiar no chuveiro.
- Eu sei. – respondeu o louro, seguindo Padalecki até o banheiro. – É que eu fico o dia todo te esperando... E quando você chega, você dorme... – suspirou.
– Desculpa, Jen, mas quando chego em casa, a noite, depois de um exaustivo dia de trabalho, é difícil ter energia para fazer muita coisa... – Padalecki agora soava irritado.
- Tudo bem... Eu entendo que você seja muito ocupado. Mas então eu vou me ocupar também. Não tem cabimento que eu fique o dia inteiro apodrecendo aqui, sem fazer nada...
Jensen continuou falando, mas Jared não respondeu. A água que escorria agora por seu rosto e corpo o impediam de entender muito do que o outro dizia. Mas ele não precisava escutar. A ladainha era sempre a mesma... Padalecki não entendia o que mais aquele homem queria. Já havia lhe comprado praticamente um parque de diversões inteiro para se distrair em casa. Quisera ele não precisar fazer nada além de dormir e se divertir...
- Eu vou sair de casa hoje! – desafiou o louro, assim que Jared pôs os pés para fora do box. – E sozinho. Não quero nenhum segurança atrás de mim, me enchendo o saco.
Jared fechou a cara. Como Jensen era chato... O louro sabia muito bem que era perigoso sair desacompanhado. Jared era um homem importante, e, principalmente, muito rico. Assaltantes e sequestradores viviam de olho. Jensen, que já era conhecido pela mídia, seria alvo fácil.
- Tudo bem... Se te sequestrarem, sequestraram... – disse o moreno, dando de ombros, e fingindo não se importar.
- Ninguém vai me sequestrar, Jay! Deixa de ser paranoico! – Dessa vez o louro não se conteve, e explodiu com a voz alterada. Que se danasse se os empregados ouvissem. Ele não aquentava mais viver como um prisioneiro.
- Pode ser que sim. Pode ser que não... Eu não sei. - insistiu Jared.
Jensen notou que os olhos de Padalecki estavam marejados. O mais novo estava agora todo engravatado, e prontinho para sair. - Vou tomar o café da manhã no carro. Tenho uma reunião em vinte minutos... – resmungou ele.
Pronto. Lá estava Jensen. Sozinho de novo... Por mais que o rapaz tivesse vontade de sair, assim como anunciara ao marido, não conseguia parar de pensar em Jared. Ackles sabia que ele se preocupava de verdade, e partia seu coração saber que o outro devia estar com o coração apertado depois da discussão que tiveram.
A verdade é que ele tinha sido um insensível... Jared tinha motivos para estar traumatizado. Sharon Padalecki, sua mãe, morrera com um tiro na cabeça, depois de passar vinte dias sequestrada, em um cativeiro imundo. Fazia tempo. Jared era ainda adolescente. Mas o episódio deixara ele e seu pai extremamente paranoicos com a segurança daqueles que amavam. Agora, com 27 anos apenas, o moreno já havia perdido também o pai. O Sr. Gerald Padalecki morrera há quatro anos, e desde então, Jared, filho único do casal, assumira as empresas da família. Ele era competente e fazia um ótimo trabalho. Mesmo assim Jensen achava que era responsabilidade demais para alguém tão jovem.
O louro suspirou. Ligou para o marido em seguida.
- Desculpa, amor. Eu não vou sair da casa... Não se preocupe, tá? Eu te amo.
Jared sentiu um enorme alívio. Que bom que Jensen estava em segurança e de melhor humor.
- Eu também te amo, Jen. Me desculpa por não te dar a atenção que você merece...
- Mas no sábado você será todo meu... – completou Ackles, fazendo Padalecki sorrir.
Era quarta-feira ainda. Uma entediante quarta-feira... Jensen assistiu vários filmes e dormiu durante o dia. Mesmo assim o tempo demorava a passar. O rapaz lembrava-se de reclamar dos tempos em que trabalhava como mecânico. Nunca gostara de acordar cedo... Vivia se queixando. De certa forma, agora sentia falta. Mais do que de ter o que fazer, o homem sentia falta de ter com quem conversar. Os empregados o tratavam com uma formalidade desnecessária. Era impossível interagir com eles de igual para igual... Sebastian principalmente. Estava ali para servi-lo do que fosse necessário, mas nunca tinha um sorriso ou uma expressão amigável no rosto. Jensen tinha a certeza de que o mordomo não gostava dele, apesar de Padalecki, que o conhecia o homem desde criança, garantir que ele era frio com todo mundo.
Quando Jared chegou do trabalho com um presente para ele, Jensen não se surpreendeu. Em geral ganhar presentes tornara-se uma constante em sua vida. Principalmente após uma discussão... Para falar a verdade, aquele gesto apenas servia para deixar o louro irritado – afinal, ele tá tinha coisas demais, e companhia de menos... Mas aquele embrulho era tão grande que Jensen ficou curioso.
Dois empregados colocaram a caixa no quarto do casal e se foram, deixando os patrões a vontade.
- Pode abrir! Tenho certeza que vai gostar! – Jared parecia entusiasmado.
Jensen abriu a caixa com cuidado, revelando o que parecia ser... Um homem,! Estava vestido de calça jeans, camiseta vermelha e um tênis esportivo... Estava de olhos fechados e não respirava.
- O que... que... é isso? – perguntou o louro boquiaberto. O sujeito não se mexia. Estaria empalhado? Jensen sentiu calafrios percorrerem seu corpo todo.
Padalecki gargalhou alto da expressão assombrada do outro.
- É um robô, bobinho... O nome dele é Misha. Mas se quiser, pode chamar de outra coisa.
Um robô? Impossível! O tal Misha era absolutamente perfeito! A textura da pele, e dos cabelos escuros... Até seus olhos azuis não tinham nada de artificial. Tudo nele era exatamente como o de um ser humano. A única diferença era que Misha não se mexia. Pelo menos não ainda... Jensen estava boquiaberto.
- Dizem que ele é fantástico! Pena que não está carregado... Mas o fabricante já configurou pra você, e disse que basta deixar ao ar livre, recebendo luz natural por algumas horas, que Misha ganhará vida. Sua bateria é feita da mais alta tecnologia. Incrível como é capaz de armazenar tanta energia apenas com uma pequena carga de luz solar!
Jared gostava de novidades tecnológicas. Começou a discursar, cheio de paixão, sobre componentes eletrônicos de última geração e outras coisas das quais Jensen não entendia, e nem queria entender... O louro estava ainda simplesmente estupefato com o presente.
- Mas ele ganhará vida como? – perguntou o ex-mecânico interrompendo o marido.
- Como se fosse um humano, Jensen! Uma companhia pra você enquanto eu não estiver em casa! - disse Jared por fim, todo entusiasmado.
Ackles não pôde acreditar... Padalecki chegara ao cúmulo de presenteá-lo com um robô de companhia? Que idéia sem cabimento... Como se uma coisa mecânica pudesse agir como um ser humano... O louro agradeceu o presente de má vontade. Pelo jeito aquele seria mais um objeto inútil que logo ficaria abandonado em um canto qualquer da casa.
