N/a: Já há algum tempo que tinha tido a ideia para esta pseudo-one-shot, mas só hoje percebi isso. Não tenho tido muito tempo, tenho andado afastada deste mundo, mas sinto que ainda não é desta que me desligo do fandom. Espero que não desgostem demasiado e, se acharem que vale a pena, digam o que pensam.


De Ódio

por Ireth Hollow


Durante muito tempo, pensei que Harry Potter fosse a pessoa que mais detestava em todo o mundo. Mais do que aquele idiota do Longbottom, a chata da McGonagall ou os pobretanas dos Weasley. Mais do que Mad-Eye Moody, até.

Agora sei que isso não é verdade; há alguém pior, ainda mais passível de se odiar. Alguém em cuja presença não consigo estar sem torcer o nariz, alguém cuja visão me provoca náuseas, alguém cuja lembrança me faz praguejar em voz alta. Alguém que me humilha a cada passo, alguém capaz de fazer com que todos os meus triunfos se esfumem.

E esse alguém és tu, Granger.

És tudo aquilo que eu mais repudio: Sangue-de-lama, Gryffindor, a boa da fita, a melhor amiga do Rapaz-que-sobreviveu, a namoradita do Weasley, a menina dos olhos dos professores. És tudo aquilo que eu não queria ser… e, mesmo assim, consegues tirar-me tudo o que queria ter. E, por tudo isso, odeio-te.

Mas não é só por isso. Há muito mais em ti para odiar do que seria passível de existir numa pessoa. Não bastava seres quem és… ainda tinhas de fingir que não o és? Quem pretendias enganar, Granger?

Quando te vi pela primeira vez, tomei-te por alguém muito diferente. Estavas só, naquela livraria apinhada, caminhando por entre o resto dos feiticeiros como se merecesses estar ali tanto ou mais do que eles. Tomei-te por uma de uma qualquer família de sangue-puro, possivelmente uma daquelas antigas, tal era a superioridade que de ti emanava. E, quando te ouvi resmungar com o miúdo idiota – Ernie Macmillan, reconheço-o agora – que te deu um empurrão acidental, ainda mais firme ficou a minha suspeita. Quando dei por mim, estava mesmo atrás de ti, atraído pela força com que te movias naquele mundo que não poderia nunca não ter sido desde sempre o teu.

Atrevi-me a trocar algumas palavras contigo. Fiquei a saber o teu apelido; não o reconheci, mas, de certo, o meu pai saberia quem eras. Mostraste-te algo distante, quase fria, sem, contudo, seres desrespeitosa. No entanto, o que mais me cativou foi o brilho, misto de calculismo e inteligência, que denotava uma enorme ambição.

Gostei de ti, na altura.

Hoje, odeio-te, Granger. Odeio-te por te atreveres a ser quem eu não queria que fosses e, ainda assim, continuares a ser tudo aquilo que mostraste ser.