Capitulo 1: Meu Sonho…
"SORA! Graças a Deus você chegou, estava a ponto de ficar louca..."- disse uma linda, e desesperada mulher ao receber sua amiga de infância depois de uma ligação urgente de auxilio em seu escritório...
"O que foi Mimi? Vim assim que me ligou, disse que era uma emergência."- apesar do estado alterado da mulher de cabelo castanho, Sora não deixou de achar engraçado o aspecto de sua amiga, pois estava coberto de talco e outras substâncias, e ver Mimi naquelas condições era muito raro.
Um potente choro, se escutou do fundo do apartamento, e pela cara de sofrimento de Mimi, então Sora pôde mais ou menos suspeitar de que se tratava a "emergência", mas antes de poder dizer algo, se viu arrastada até um quarto que estava um desastre, e na cama, um pequeno bebê de cabelo castanho escuro chorava ternamente, Sora suspirou sabendo perfeitamente o que fazer.
Pouco depois, o pequeno infante ria nos braços de sua "Tia Sora" enquanto esta passeava pelo quarto lhe falando ternamente diante a mirada já mais tranqüila de Mimi.
"Muito obrigado, Sora. Te juro que não sabia o que fazer. Estava fazendo a comida e de repente começou a chorar e não sabia se tinha fome, estava sujo ou apenas queria companhia, logo chegou as roupas da tinturaria, o telefone tocou... e... perdi o controle... desculpa ter te incomodado por uma besteira...
"Não se preocupe, Mimi. Não foi nenhum incomodo, pode me ligar quando quiser, já te disse.
"Eu sei, e te agradeço muito... acho que ainda não me acostumei a ser mãe, mas você, olha só, não há dúvida que nasceu para ser mãe, tem o dom...
"Ay Mimi. O que está dizendo? É seu primeiro filho e é normal que no principio não saiba o que fazer, é só uma questão de tempo, seu instinto de mãe te dirá o que fazer, é só questão de paciência e que se organize melhor... e você jovenzinho, seja mais considerado com sua mãe e não lhe cause tantos problemas, a pobre está esgotada."- disse Sora enquanto depositava o pequeno nos braços de sua mãe que o abraçou amorosa, enquanto o pequeno parecia ter uma carinha que parecia dizer 'de acordo... Não volto a fazer... Por hoje.'
"É muito afortunada, Mimi. Seu filho é muito lindo e saudável. Mas também é bem tremendo...
"Nem me diga. Escutou seus pulmões? Adoro meu Daichi, é meu pequeno anjo, mas nos acorda a horas inumanas da noite e se não está dormindo, só quer comer, brincar, atenção o dia todo e continuar brincando... eu não sei de onde tirou isso..."
"Ja... De quem mais se não de seu pai, se é seu retrato vivo...
"Tem razão, com Tai e Daichi parece que tenho que cuidar de dois bebês e não apenas de um..."- as mulheres riram divertidas sob o olhar do pequeno bebê que parecia não entender a razão...
Taichi Yagami e Mimi Tachikawa haviam se casado depois de três anos de namoro, Tai apesar de ser um respeitável advogado no Japão, continuava sendo aquele rapaz impetuoso e cheio de energia de sua infância. Por sua parte, Mimi que havia voltado ao Japão ao cumprir a maioridade, tinha um programa de culinária na televisão, o qual havia deixado por um tempo para cuidar de seu bebê de dois meses.
Sora olhava fixamente o pequeno Daichi. Sem dúvida havia herdado muitos traços de seu pai, como seu cabelo castanho escuro, seu interminável apetite, mas também tinha os olhos mel de Mimi e essa necessidade de ter a atenção de quem o rodeia, sobre tudo de seus pais, que o mimavam mais que tudo.
Havia um desejo muito profundo que iluminavam aqueles olhos e que seu instinto de mulher a obrigava a ver realizado...
"E... Como foi na França?... Conseguiu fazer algo? Fiquei sabendo que tem uma das melhores clínicas do mundo e espero que logo me diga que vou ser tia..."
"É verdade... mas... quase sai correndo dali... Sou uma idiota! Se não fosse por minha covardia... talvez já estaria grávida, Mimi..."
"Pois sim mulher... Mas te entendo, ir a uma clínica de inseminação artificial não é como ir a um supermercado onde compra o que precisa e pronto... pra mim tudo isso me parece muito frio... não há nada como o método tradicional. Não acha? Além do mais se desfruta mais...
"MIMI!"
"Queee!? Não disse nada que não fosse verdade, mais ainda se o faz com a pessoa que ama, por exemplo... olha meu Daichi, é um verdadeiro anjo porque é parte de meu querido Taichi e de mim. Não é maravilhoso que o amor entre duas pessoas possa se materializar assim?"
"Ay Mimi... o casamento te fez muito bem... Mas devo admitir que tem razão... Queria ter um filho do homem que eu amo... Mas desde Tetsuya, não sai com mais ninguém e isso já tem um ano, por isso pensei que ir a uma clínica seria mais fácil, mas não pude fazer..."
"Sora, você sabe que te quero como se fosse minha irmã, e sei que será uma mãe maravilhosa algum dia, esse instinto que tem desde que éramos meninas... mas você sabe que as coisas pela força não funcionam, deveria deixar que tudo siga seu próprio curso, não acha?"
"...Bom... sim, tem razão... Mas é que..."
"Mi-chan!! Já cheguei querida."
Taichi Yagami chegou a seu lar sem saber que havia interrompido a conversa das mulheres que foram recebê-lo ao escutá-lo...
"Amor, que bom que chegou, não tem idéia de como me fez falta, começava a sentir saudades..."
"E eu a ti preciosa, por isso saí correndo quanto terminou o trabalho" - as mãos de Yagami rodearam a breve cintura de sua esposa atraindo-a para si dando-lhe um apaixonado beijo, esquecendo que Mimi trazia consigo seu filho.
"EJEM... Não queria interromper, mas se continuarem assim vão asfixiar o pobre Daichi"- comentou Sora divertida, ao ver que o jovem casal ainda se comportava como recém-casados.
Tai sorriu ao notar a presença de sua melhor amiga e após pegar seu filho, foi cumprimentá-la dando-lhe um beijo no rosto...
"Condenada ruiva...Por que não avisou que já havia voltado da França? Já nos fazia muita falta..."
"Claro que avisei! Verdade Mimi? Dois dias antes de voltar..."
"Ah, sim... Infelizmente meu Tai estava vendo uma partida de futebol e nem me fez caso quando lhe disse..."
"Eeeeh...Foi esse dia?U... Bom, vocês sabem que quando há futebol me esqueço de tudo... por certo, falando disso, olhem o que trouxe para Daichi..."- o jovem pai pegou uma sacola que havia deixado na entrada da casa, e dela tirou...
"UMA BOLA?? Taichi Yagami, não acha que nosso filho é muito pequeno para ter uma bola de futebol? Poderia se machucar!"
"Não se preocupe Mi-chan, os Yagami tem uma habilidade inata para o futebol, e logo ele aprenderá melhor..."
"Ay Tai... Não tem remédio... Não te disse, Sora?... Tenho que cuidar de dois bebê e não apenas de um..."- Sora e Mimi novamente riram divertidas enquanto pai e filho as observavam sem entender a razão.
Já era de noite quando Sora voltava esgotada a seu apartamento onde vivia sozinha desde a morte de seus pais em um trágico acidente automobilístico, há cinco anos. O lugar era pequeno, mas tinha todas as comodidades que poderia necessitar uma mulher solteira de 27 anos, e mesmo que sempre tenha sido muito independente, às vezes a solidão se fazia mais pesada quando chegava em casa depois de um pesado dia de trabalho, e não havia ninguém que se alegrasse por sua chegada.
Depois de tomar um banho que a ajudou a relaxar, se atirou na cama para ler um bom livro antes de dormir, mas enquanto avançava sua leitura, a conversar que havia tido com sua amiga foi ocupando seus pensamentos...
Talvez Mimi tinha razão e não deveria forçar tanto as coisas e deixar que o tempo simplesmente fizesse seu trabalho, mas era tempo o que sentia que estava contra ela, ainda mais quando suas amizades mais próximas já eram orgulhosas mães: Mimi tinha Daichi, de 2 meses; Hikari, Yahiko, de um ano; e Miyako tinha a pequena Mina de dois anos e estava grávida de três meses.
Seu desejo não era por afã de não ficar atrás, não era assim, mesmo que antes não admitisse, era algo que sempre havia desejado ter, mas parecia que ela era Sora, a prática e independente, a que jamais deixava que seus sentimentos ultrapassassem a razão... Porque se não fosse assim, perderia o controle de si mesma.
...Ser MÃE... Quem sabe havia se convertido numa obsessão... Isso pensariam as pessoas que não a conhecem, que simplesmente deseja um filho para não se sentir só... E então, que longe da verdade estariam... Era tão difícil compreender o desejo de sentir uma vida formando-se dentro de ti? Estar ligado por laços de sangue, querer entregar a alguém todo o amor que possa existir dentro de ti e muito mais?... Não... Seu desejo não era pelo egoísta desejo de ter alguém ao seu lado... Mais que receber, era o dar tudo o que tinha para oferecer... Se não fosse assim... Há muito que já haveria tomado medidas mais drásticas e definitivas para ver cumprido seus sonhos... Depois de tudo, o que de tão difícil seria ter passado uma noite em algum bar com algum desconhecido? E depois de alguns copos se entregar aos braços de um homem que jamais voltaria a ver e cujo rosto e nome esqueceria ao amanhecer?...Não queria que as coisas fossem assim... Talvez por isso também havia saído correndo daquela clínica...
O que fazer então? Como solucionar isso sem sentir que deixava de lado suas próprias convicções? Havia pensado tantas vezes... E apenas uma solução era a que mais lhe convencia depois de discernir dezenas de possíveis respostas... Mas... Isso significaria envolver uma pessoa especial, não qualquer conhecido comum... Sim uma amizade e presença fundamental para sua vida... E isso poderia fazer-la perder o que tanto estimava...
"Deus! Se continuar assim terminarei louca..."- finalmente terminou por jogar o livro no chão para se dispor a dormir e dar fim a sua crise existencial pelo dia de hoje. Porém o telefone que tinha em uma pequena cômoda ao lado de sua cama começou a tocar.
"Alô?"
"Sora? É Yamato."
"Yamato! Que surpresa, me alegra te escutar."
"A mim também... Oye, espero não ter te acordado, sei que é uma descortesia de minha parte te ligar essa hora, deve estar muito cansada e eu te incomodando..."
"Vamos, não diga isso. Sabe que pode me ligar a qualquer hora e em qualquer lugar. Mas, aconteceu algo?"
"Na verdade, não... É só que... há muito tempo não nos vemos... e... sabe que é minha melhor amiga e tudo isso... e bom... agora que esteve um mês na França... bom... eu..."
"Sentiu minha falta...?"
"Pois mesmo que não acredite, sim... YA! Sem rodeios, gostaria de tomar café comigo amanhã?"
"Yamato eu..."
"Bom... Se está ocupada, eu entendo... talvez em outra ocasião..."
"Não é isso... de fato... eu queria... queria..."
"Je. Agora é você que está enrolando... Acha que se trate de uma doença contagiosa ou algo parecido...?"
"Ja, ja, ja. Desculpa... o que passa... é que há algo muito importante que queria conversar com você..."
"O que foi? Tem algum problema? Está bem? Sora... Sabe que pode contar comigo para qualquer coisa..."
"Sim, não se preocupe, estou bem... é apenas um 'favor' que tenho que te pedir..."
"Um favor?... De que se trata?... Se estiver ao meu alcance, farei todo o possível."
"...Obrigado... Te digo amanhã, de acordo? Primeiro preciso ordenar minhas idéias."
"Está bem, como quiser. O que acha de nos encontrarmos no Sun Flower às dez?... É um lugar muito agradável e há muita privacidade para conversar sem interrupções..."
"Perfeito!... Então nos vemos lá."
"De acordo... Bom... descanse, Sora... E de verdade, não sabe o prazer que me deu te escutar. É minha ruiva favorita, sabia?
"Eu sei. E você é meu loiro favorito... Mas não diga ao Takeru, já sabe como é ciumento..."
"Je. Não se preocupe. Será nosso segredo... Boa noite, preciosa..."
"Boa noite, Yamato..."
Sora desligou com um sorriso em seu rosto. Sempre lhe fazia bem falar com seus amigos. Em especial com Yamato, era o melhor, com ele podia conversar sobre tudo... Mas...
"Ay, Sora... Em que acaba de se meter... ?"
Sem se dar conta, havia iniciado aquilo que não se atrevia a fazer. Amanhã teria que dizer a Yamato, já não havia volta e estava encrencada... Mas dizem que para qualquer preocupação e dúvida, o travesseiro é o melhor dos conselheiros. E a ruiva se deixou envolver pelas suaves palavras que este lhe brindava.
