Yu Yu Hakusho pertence a Yoshihiro Togashi.
Te amo
– Te amo, Yusuke.
– Te amo, Kurama.
Em seis meses o "boa-noite" foi substituído pelo "te amo". Façam ou não façam amor após chegarem da puxada jornada de trabalho, é sempre com um singelo "te amo" que se desejam uma noite tranqüila. Coincidência ou não, desde o primeiro "te amo", murmurado após a primeira entrega completa, eles não sabem o que é pesadelo.
Yusuke não sonha mais com o pai que o maltratava na infância, nem com o espírito do seu antepassado Raizen cobrando estadia no Makai, nem com batalhas de morte em ilhas sinistras ou youkais de três mundos tentando invadir o Ningenkai. Continua teimoso e estourado, afinal, certas coisas não mudam, e se mudassem acabaria a graça... Mas tornou-se mais responsável e até maduro. Aprendeu a ouvir mais, a relevar mais... A compreender mais.
Kurama deixou de visualizar em pesadelos o demônio fracamente selado ressurgir, dominar o coração de Shuuichi Minamino e fazer de seu espírito um grande vão negro. Foi um processo difícil. Numa das primeiras noites passadas ao lado de Yusuke, acordou-o aos gritos, no meio da madrugada. Volta e meia Kurama tinha uns flashes incômodos, e desta vez visualizara o youko matar a sangue frio um comparsa que deixara cair no caminho um valioso objeto. Qual objeto? Ele não sabia, vira apenas a poça vermelha sob o pálido corpo do youkai, sangrado pelas unhas do youko... Por suas unhas. No instante do sonho, doeu mais nele do que na vítima. Kurama tinha os olhos perturbados, tremia e suava. Mas Yusuke tratou de aninhá-lo em seu regaço... E o jovem ruivo não soube mais viver sem isso.
Agora, Kurama dorme como uma criança cuja consciência tem o peso de uma brisa de primavera. Dorme sob o olhar atento de Yusuke, que contempla o namorado como quem admira uma rara flor de beleza inédita. Ele inteiro lembra-lhe rosas. Pelos cabelos vermelhos, um tanto desalinhados, pela face de seda, pelo talhe elegante. E tem, sim, seus espinhos, mas poucos sabem disso... Poucos sabem que Kurama é um youkai num corpo humano, e que sua aparência andrógina e delicada oculta uma vontade de ferro e poderes incríveis. "Fascinante", pensa o detetive sobrenatural, o chocolate dos seus olhos se derramando em cascata sobre a fronte alva do amado.
Tão alvo quanto a fronte delicada de Kurama é o mundo de torpor em que Yusuke imerge, aos poucos, tomado pelo sono. Mas algo o desperta, antes que mergulhe totalmente no silêncio.
– Te a... mo, Yus... Yusuke.
Assim Yusuke descobre que Kurama às vezes fala enquanto dorme. Tem ímpetos de rir ao ver o rapaz repetir a frase com inocência, sorrir largamente e achegar-se mais ainda a seu peito. Mas abafa a vontade, para não acordar o namorado, que ressona tão calmamente. Ajeita com cuidado a posição da cabeça dele para que não acorde com o pescoço dolorido e, de olhos fechados, saboreia uma indizível sensação de bem-estar. Mas, antes de adormecer, lembra-se de devolver a gentileza inconsciente de Kurama. Afaga as madeixas longas e murmura, numa fala macia e quase inaudível que reserva somente ao seu ruivo:
– Te amo, Kurama...
Fim
