Madrugada
Barry acordou sobressaltado, olhando ao redor. Demorou alguns segundos até lembrar-se de que estava em seu quarto na Torre de Vigilância. Ele respirou fundo e esperou que seu coração voltasse ao ritmo normal. O aniversário de morte da sua mãe estava se aproximando e trazia consigo a temporada de pesadelos e noites mal dormidas. Mesmo já sendo adulto, Barry achava que nunca iria conseguir superar o trauma.
O velocista levantou-se e vestiu uma calça de moletom. Sabia que seus companheiros de equipe estavam dormindo no momento, mas não queria trombar com Diana por acaso nos corredores vestido apenas camisa e cueca. Assaltou a geladeira e sentou-se no observatório, encarando o espaço enquanto devorava seu "pequeno" lanche noturno. Lá em baixo, a Terra continuava normalmente girando no espaço, bilhões de pessoas vivendo suas vidas e ele ali, longe tudo. Sempre sentia-se minúsculo quando estava no observatório, afinal a ficha caia de que seu amado planeta era apenas mais um num universo gigantesco.
Enquanto estava perdido em seus pensamentos filosóficos e comendo, não escutou alguém aproximando-se até sentir um toque gentil em seu ombro.
-Não consegue dormir? -Hal sentou ao seu lado, sem nem pedir.
-Às vezes isso acontece comigo... -ele deu de ombros, oferecendo o saco enorme de batatinhas. -E você?
-Se meu cérebro resolvesse parar de lembrar que Ashley Hudson me dispensou no baile da sétima série, eu conseguiria dormir. -o aviador pegou algumas batatinhas.
-E dai você está lá, enfrentando um inimigo forte, precisando elaborar um plano e nada... -Barry falou de boca cheia. -Mas quando se deita, pensa nas coisas mais inúteis.
-Um saco... -Hal deitou no chão e cruzou as mãos atrás da cabeça.
Barry terminou as batatinhas e lambeu os dedos engordurados.
-Quando eu ainda estava na Força Aérea, uma vez dividi o quarto com um novato... E ele roncava muito, parecia um trator.
Ele imitou o som, fazendo uma careta junto e o Flash precisou tampar a boca pra sua risada não ser muito alta e ecoar pelo salão. Depois ficaram em silêncio, apenas olhando as estrelas. Então Barry também deitou-se no chão, ao lado de Hal. Seus braços se tocavam, mas eles não pareciam se importar com isso. Naquele momento era tudo o que o ruivo precisava, saber que alguém estava por perto.
-Sabe que se precisar desabafar... -Hal praticamente sussurou. -Sou todo ouvidos.
-Obrigado...
Flash segurou a mão do Lanterna Verde e respirou fundo, não deixando que o peso em seu coração aumentasse. Havia passado por aquele momento tantas vezes antes e ainda iria passar nos próximos anos, mas nunca era fácil. As lágrimas acabaram caindo sem que ele quisesse, mas foi inevitável. A Torre de Vigilância estava mergulhada no silêncio, apenas os computadores emitindo alguns zumbidos leves. Barry sentiu o aperto em sua mão ficando mais morte e o calor de Hal.
-Eu estou bem... -comentou, limpando o rosto com a mão vaga.
-Quer que eu vá com você no túmulo de Nora? -o aviador virou-se para encarar melhor o amigo.
-Eu gostaria muito. -ele parecia mais leve. -Mas não vai te atrapalhar?
-Prioridades, meu caro... -Hal sorriu, levantando as sobrancelhas.
-Só não vai com seu uniforme, minha mãe odiava verde. -Barry sorriu de volta, cutucando-o no ombro.
