Sempre moramos em Manchester. Nós estudávamos juntos desde a quarta serie. Nunca fomos amigos ou próximos, na verdade, nós nem nos falávamos muito. Nunca fazíamos trabalhos juntos ou qualquer pesquisa que fosse; ele sempre foi envolvido com futebol e eu preferia literatura e pintura. As garotas o rodeavam e ele poderia ficar com qualquer uma que quisesse, embora, ele não fosse do tipo de ficar com várias. Na verdade, desde que isso começou a fazer parte do nosso cotidiano que eu o respeitava muito.

Quando eu tinha quinze anos comecei a sair com o meu primeiro namorado, Miguel Corner, e Harry começou um namoro meio esquisito com Cho Chang. Ela era uma garota bonita e fazia parte do time de futebol feminino, daí, talvez, o interesse e envolvimento dos dois.

Eu o vi, de longe, tornar-se, de um menino desengonçado e magricela, a um adolescente bonito, educado, reservado, e com os olhos verdes mais lindos e tristes do meu mundo. Ele perdera os pais muito cedo pelo que Rony, meu irmão e melhor amigo dele, comentara uma vez. E ele vivia com o seu padrinho bonitão, Sirius Black.

Harry era um ano mais velho que eu, mas ele começou a estudar no mesmo ano que eu, por isso estudávamos juntos. Quando ele tinha dezessete, seu namoro com Cho acabou e neste mesmo ano Sirius dera a Harry uma harley davidson prata e meio antiga que pertencera a ele na juventude. Lembro como ele ficou alegre com o presente e lembro também como as meninas ficaram o assediando para que ele lhes desse uma carona e eu sempre ria muito quando o via dar o fora nelas, uma por uma.

Nesse ano eu também terminei meu namoro com Miguel e alguns meses depois, comecei um relacionamento não muito serio com Dino, ele era uma espécie de amigo daqueles por quem se sente uma atração, mas nada além disso. Harry ainda continuava sozinho. Ele começou a trabalhar na oficina do Sr. Riddle, primeiro, ajeitando motos, depois carros e eu fui convidada pelo diretor Alvo a escrever colunas no jornal da escola, o que era uma boa oportunidade de, futuramente, conseguir uma vaga no jornal da cidade.

No meio do ano, em um dia ordinário na aula de historia, o professor Bins passou um trabalho sobre a segunda guerra mundial e fez sorteio das duplas. Eu e Harry ficamos juntos. Marcamos de ir fazer o trabalho na casa dele no sábado, pois ele trabalhava durante a semana.

No horário marcado eu cheguei lá e quem me recebeu foi o padrinho dele. Sirius me informou que ele me esperava no quarto no primeiro andar, e ele parecia não se importar se Harry e eu ficássemos sozinhos lá. E foi aí que tudo começou. No primeiro momento ficamos nos encarando e logo depois começamos a discutir ideias sobre o trabalho. Durante as horas que passamos, descobrimos várias coisas um do outro. Curtíamos os mesmos estilos musicais, e tínhamos gostos parecidos para literatura e filmes, como mistérios policiais, aventuras, dramas...

Divertimos-nos mais do que estudamos naquela tarde, e quando deu seis da noite, ele insistiu em me levar para casa na moto dele. Devo confessar que foi uma das melhores experiências que já havia provado até então. Eu fui colada e um pouco reclinada sobre ele, abraçando sua cintura, sentindo o seu cheiro gostoso. Percebi que ele pegara um caminho mais longo e demorado até minha casa; nem comentei nada, até sorri comigo mesma, pois eu estava adorando aquilo tanto quanto ele.

Quando paramos em frente a minha casa, perto da caixa do correio, eu permaneci algum tempo agarrada a ele e Harry também não fez nenhum movimento para que eu saísse dali. Pelo contrário, ele pôs uma mão sobre uma das minhas que estava em seu peito, sentindo o seu coração pulsante, e entrelaçou nossos dedos. Desencostei minha cabeça de suas costas no mesmo instante em que ele virou-se em minha direção. Vendo a intensidade com a qual ele me fitava, engoli em seco, retirei minha mão debaixo da dele suavemente e resolvi descer da garupa de sua moto. No chão, quando voltei a encará-lo novamente, vi confusão misturada a certa decepção em seu olhar já triste.

Meu coração falhou uma batida. Ficamos nos olhando de maneira intensa por vários segundos. Vi os seus olhos irem para meus lábios. Observei o desejo neles e senti uma vontade louca de voltar para ele e beija-lo com ardor. Mas contrariando esse pensamento louco, dei um tchau para ele e caminhei até a porta de casa e, sem me virar, ouvi ao longe ele dizer um "nos vemos depois".

XxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxX

Quando eu cheguei na escola segunda feira, Dino veio ao meu encontro e me beijou. Não havíamos nos visto desde sábado, e no domingo ele até ligou para mim e perguntou se eu queria sair. O que eu recusei. Não sei bem explicar o porquê de eu estar tão abalada com algo que nem tinha acontecido, mas eu simplesmente não conseguia parar de pensar em Harry um só segundo desde o momento em que eu havia entrando em casa naquele sábado a noite. Então, quando Dino me beijou eu não senti nada, até me desvencilhei dele.

Ele estranhou e perguntou o que eu tinha. Com a maior cara de paisagem respondi "nada". As semanas seguintes foram horríveis para mim. Eu não havia falado mais com Harry e ele também nunca vinha falar comigo. No entanto, quando eu arriscava uma olhadela em sua direção ele sempre parecia estar me olhando. Nas aulas, na hora do intervalo e quando eu ia embora de mãos dadas com Dino, ele nos observava sentando em sua moto, com aquele olhar triste e aquela jaqueta preta que o deixava rebelde.

Naquelas semanas em que eu estava tão confusa, foram também as semanas em que Dino ficava arrumando pretextos para ficar comigo e eu estava odiando isso. Odiava quando ele tentava me beijar, ou quando ele aparecia de surpresa lá em casa e me levava para jantar fora. Mas o que mais me incomodava era o fato de ele estar sempre me seduzindo, tentando transar comigo. Eu fiquei com nojo dele depois da terceira tentativa. Mas ninguém, principalmente ele que era um cara muito legal e atencioso, merecia aquele desprezo todo de mim.

Eu sabia que ele não era culpado. Estávamos juntos há quase um ano e não estava sendo completamente sincera com ele. Quando já não estava mais agüentando aquela situação toda, eu terminei tudo entre nós, seja lá o quer que fosse aquilo. Eu, sinceramente, não conseguia entender o porquê de estar me sentindo assim em relação a Harry. Apenas aquela tarde juntos em que nada de especial acontecera.

A notícia não levou mais de três dias para que se espalhasse pela escola inteira. Ao chegar a noite em casa, eu chorei. Não por ter terminado tudo com Dino, mas pela confusão que ocorria em minha mente e em meu coração. Não conseguia reprimir as lágrimas e os sentimentos doloridos e intensos ao lembrar-me de Harry, fitando-me com aqueles olhos tristes; nem ao menos consegui ouvir Rony falar coisas sobre ele como: "Harry não está em seu estado normal nessas últimas semanas", "Ele dispensou a Romilda Vane e a garota é gostosa demais", Tudo isso doía em meu peito. Eu não sabia explicar que espécie de sentimento era aquele, parecia algo doentio.

Depois do feriado da Páscoa, todos nós voltamos para escola e para nossas rotinas e eu para meu sonho-pesadelo que era o Harry. Desci do carro e entrei no colégio, indo em direção ao meu armário. As aulas passaram como um verdadeiro borrão para mim. Ao fim da tarde, dispensei a carona de Rony e preferi ir andando a pé para casa, tentar espairecer a mente um pouco.

Já estava caminhando a uns dez minutos quando escutei um barulho de moto e a luz vindo da esquina, mas continuei caminhando normalmente. A moto havia parado ao meu lado, arrisquei uma olhadela e o vi ali, parado, sentando na moto, com aquela jaqueta preta, a mochila em suas costas, as mãos nos bolsos e os olhos em mim. Meu peito apertou dolorosamente e meus olhos embaçaram, porém, obriguei-me a manter o controle e não chorar.

— Oi. — A voz macia dele saiu dolorida e não mais que um sussurro rouco.

— Oi. — Respondi de volta, sem saber o que fazer depois. Minha voz não saiu muito diferente da dele.

— Eu soube que você e Dino... — Ele não terminou a frase e pude perceber o esforço que ele fazia ao dizer-me aquilo, seu peito subia e descia pesadamente, assim como o meu, mas mesmo assim forçou-se a perguntar. — É verdade?

Suspirei pesadamente antes de responder, meus olhos(ainda embaçados) sempre fixos nos dele, sem jamais deixa-los. Via beleza, incerteza e anseio neles.

— Sim.

Ele deu um meio sorriso sincero, algo que eu me lembro de nunca ter visto antes. Ele estava sem jeito na minha frente e feliz pelo fato de eu estar livre do meu antigo relacionamento. Não consegui evitar e sorri um pouco também. Fitamos-nos com intensidade e ele tocou a minha face com a palma de sua mão. Vi seus olhos fixos em meus lábios e quando ele engoliu em seco. Eu fui até ele e minhas mãos subiram pelo seu peito, sentindo o seu calor.

Em um segundo ele havia passado os braços pela minha cintura e havia me puxado para si com certa urgência e logo após isso seus lábios cobriam os meus com ardor.

Retribui ao beijo espontaneamente e para mim não havia sensação mais perfeita. Eu sentia o toque de suas mãos em minhas costas, me pressionando a ele, sentia minha língua ser sugada levemente por ele, fazendo qualquer pensamento coerente ir embora. A única coisa que eu sentia era ele.

Em certo momento eu me sentei de lado sobre a moto sem separar nossas bocas nenhum instante. Ele me apertava e me deixava sem fôlego, e eu adorava isso. Ele suspirou pesadamente e sorri. Fomos diminuindo a intensidade do beijo aos poucos e ele mordeu de leve o meu lábio inferior. Quando abri os olhos e o fitei, vi algo muito intenso em seus olhos. Ele ainda me abraçava e encostou a testa na minha.

— Você quer ir para casa? — Ele sussurrou ao meu ouvido, depois de beijar o meu pescoço.

— Não. — Respondi com sinceridade. — Eu quero você.

Foi a vez dele sorrir, contido e discretamente, do jeito que ele era.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx X

Há um fato importante que devo esclarecer. Nunca tive nenhum tipo de paixonite boba por Harry Potter. Quero dizer, eu o conhecia desde que tinha doze anos, quando ele tornou-se o melhor amigo de Rony e passou a freqüentar a nossa casa.

Nós nunca nos falávamos. Repito, nunca fomos próximos na escola e não tínhamos o mesmo grupo de amigos, mas eu sentia que o conhecia de certa forma. Quando éramos crianças havia uma espécie de cortina de ferro entre nós, não que eu não gostasse dele, apenas não dava a mínima para ele ou meu irmão. Porém, sempre ouvia meus pais comentarem sobre ele.

Então, eu sabia que os pais dele haviam falecido quando ele tinha apenas um ano de idade e que havia sido criado por seu padrinho e melhor amigo da família, Sirius Black. Harry sempre fora um garoto muito sério e reservado e, de certo modo, tímido. Um jovem muito bonito e rico e isso era um dos fatores que faziam com que as garotas corressem atrás dele.

Eu comecei a admirá-lo pelo fato de ele não usar isto para ficar com várias garotas, ao contrário do que muitos rapazes na sua idade, certamente, fariam. Harry também tinha outras qualidades muito raras e importantes. Ele era muito humilde, honrado e simples. Mesmo sendo rico, ainda trabalhava em uma oficina, concertando carros e motos, e ele gostava daquilo, gostava de verdade.

Mas como alguém que tinha qualidades, ele também tinha defeitos, óbvio. Ele era muito brigão, mal humorado e ciumento. No entanto, eu achava aquilo um certo charme, apesar de na maioria das vezes me deixar louca de raiva e constrangida, querendo esgana-lo. Era raro nos verem brigando, mas quando isso acontecia era porque estava sério. Passávamos a semana inteira emburrados e quando não agüentávamos mais, alguém cedia no orgulho e ia até a casa do outro.

Sempre ficávamos trancados no quarto dele. Deitados em sua cama, debaixo dos cobertores, com as janelas abertas mostrando o tempo nublado lá fora e uma música romântica tocando no rádio. Éramos assim. Não gostávamos de nos agarrar na frente de ninguém. Na verdade, não conseguíamos conter aquele sentimento forte que tínhamos. Ás vezes eu ficava pensando se meu coração jovem agüentaria tanto amor porque eu não achava a nossa relação muito normal para um casal da nossa idade.

Eu era feliz com ele, com nossa relação. Não era algo desagradável e realmente me fazia muito bem. Harry era uma companhia excelente e um namorado fiel, o que nos dias atuais, é algo muito difícil de encontrar. Meus pais e Sirius e todos os nossos amigos davam o maior apoio para nós.

XxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxX

Eu havia acabado de me despedir dele com um selinho. Entrei em casa leve e feliz, com uma sensação maravilhosa de felicidade dentro do mim. Dei boa noite a mamãe e subi as escadas até meu quarto, louca para tomar um banho e me deitar.

Pouco depois das dez, Rony entrou pálido e abatido no meu quarto, sem nem ao menos bater. Quando vi sua expressão, meu coração acelerou de medo.

— O que aconteceu?

Ele apenas olhou para mim, muito chocado para falar alguma coisa. Me remexi na cama e esperei silenciosa que ele fizesse alguma coisa. Foi com muita surpresa e aflição que vi os olhos de Rony se encherem d´agua e uma lágrima cair de seu rosto.

— Pelo amor de Deus, Rony. — Levantei-me da cama de um pulo e fui até ele. — O que aconteceu?

— Eu... — Ele entalou com um soluço. — É o Harry...

Meu coração apertou e pareceu sair do meu peito. Meu estômago apertou-se até uma dor sufocante atingir minha garganta, formando um caroço lá. Meus olhos de repente estavam embaçados.

— O que... aconteceu? — Minha voz saiu em um sussurro de agonia e desespero.

— Ele sofreu um acidente e...

Mamãe e papai entraram alvoroçados e preocupados no quarto. Suas expressões eram aflitas. Eles me lançaram um olhar de compaixão que eu nunca havia visto até então.

— Mãe... — Tentei falar, mas não consegui. A dor no peito me impedia de dizer algo.

Ele me abraçou apertado enquanto papai ia até Rony e tentava tira-lo da cadeira onde ele havia desabado. Não conseguia sentir mais nada, só ouvia papai dizer algo bem distante.

— Vamos até o hospital. — Ele disse. Minha mente demorou para processar o que ele havia dito. — Vamos ver o que aconteceu?

— O quê? — Me virei para ele lentamente. — Ele não morreu?

— Não minha filha. — Mamãe, que ainda segurava o meu braço falou, enquanto descíamos as escadas.

Mas mesmo assim, nenhum pouco da dor diminuiu. Fiquei um pouco menos entorpecida, mas a sensação de perigo só passaria quando eu o visse são e salvo na minha frente e algo me dizia que são não era bem o que eu is encontrar ao chegar ao hospital. Quando entramos na sala, Fred, George, Percy e Gui estavam ali. Parados e meio tontos.

— Vamos! — A voz de papai ressoou pela sala. — Sirius está nos esperando.

Entramos no carro e fomos o mais rápido que pudemos até o St. Mungus, um dos hospitais mais privilegiados de Manchester. No caminho eu ficava remoendo em minha cabeça o que teria acontecido. Como teria acontecido. Quando...? Por que...?Onde...?

Só me dei conta de que havíamos chegado quando papai freou forte e ele, mamãe e Rony, começaram a sair da vã. Nervosa me recostei no carro, esperando que minhas pernas criassem força para me levar até lá dentro. O quanto mais eu queria correr até lá e saber o que tinha acontecido e como ele estava, eu também não queria, nem tinha vontade para isso. Ele estava vivo, mas parecia que estávamos indo a um funeral.

Fomos direcionados a ala de emergência do hospital, e quando entramos na recepção, encontramos Sirius, sentado com a cabeça baixa recostadas nas mãos. Eu via seus ombros tremerem levemente e corri até ele desesperada. Não fiz nenhum sinal de aproximação, apenas afundei-me no sofá e o abracei. Senti quando ele endireitou-se e quando me viu, ele também me abraçou.

— Como ele está? — Perguntei chorosa. Sirius olhou bem para mim, seus olhos estavam vermelhos e eu tinha certeza de que os meus estavam da mesma maneira.

— Vivo. — Sirius respondeu de volta e cumprimentou meus pais e Rony.

— Mas o que aconteceu? — Perguntei mais uma vez. — Como?

— Ele sofreu um sério acidente de moto quando vinha de sua casa. — Sirius falou. — Já eram quase oito e ele ainda não havia chegado. Liguei para o celular dele e a voz estranha de uma moça falou.

— Moça? Quem era?

— Eu não sei quem era. — Ele falou inconsolável. — Mas foi ela que o encontrou caído no chão da rua, inconsciente e sangrando.

— Por que só agora me disseram? — Perguntei enraivecida.

— Gina! — Papai me repreendeu, mas ignorei. — É um momento difícil para todos.

— Desculpe. — Fechei meus olhos e suspirei. — E como ele está agora?

— Os médicos estão na sala de cirurgia com ele. O estado de Harry é muito grave. Me fizeram assinar um termo de responsabilidade...

Lágrimas pesadas caíram dos meus olhos. Baixei minha cabeça e senti alguém me abraçando. Eu não podia acreditar, eu não queria acreditar. Meu amor... eu estava a ponto de perde-lo.