Odaiba, Japão.
De pé, na porta da escola, encontrava-se Sora Takenouchi, de 17 anos. Ela se sentia desconfortável, devido às roupas do clube de tênis, que deixavam suas pernas à mostra. Era o ultimo dia das férias de verão em Odaiba e a cidade ainda mantinha o ar da estação: as árvores estavam verdes e o sol brilhava em contraste com um céu azul e limpo. Uma brisa um pouco mais fresca era a única evidência de que o verão estava realmente acabando. Mas nem aquele dia bonito conseguia acabar com o mau humor da garota.
"Que droga, Yuki!", pensou ela, enquanto se encolhia na esperança de se manter discreta. Seu namorado, Yuki, havia prometido que iria buscá-la após o treino. Sora ficara muito feliz com a noticia, já que ele vivia ocupado pois já estava na faculdade e precisava estudar muito. Mas depois de 40 minutos esperando, ela se virou e seguiu em direção ao seu apartamento, desapontada.
Hong Kong, China.
Já no aeroporto, Taichi Kamiya se perguntava mentalmente se era seguro voltar ao Japão. Afinal, saíra de lá para escapar de um problema que lhe parecia impossível de resolver. Mas estava com saudade de casa e de seus amigos... especialmente de Sora Takenouchi, que fora sua melhor amiga durante 12 anos. Quando fora embora de Odaiba sem nenhuma explicação, ficou 2 anos sem manter contato com ela. Queria vê-la feliz, mas estava cansado de sofrer. Mesmo assim, decidira que era hora de pedir uma transferência e finalmente voltar para casa.
"Chega, Tai. Se for para pensar assim, fique por aqui mais um tempo.", ele se repreendeu. Seu estômago doía de ansiedade, mas também de medo. Medo de que as coisas não mudassem, e ele continuasse a pensar na bela menina dos olhos vermelhos. Ele soltou um suspiro pesado e foi na direção do embarque. Dali a algumas horas, ele sabia que teria que lidar com seu antigo "problema".
Odaiba, Japão.
Enquanto isso, Kari Kamiya corria contra o relógio. Seu irmão acabara de embarcar no voo para casa e ela ainda não havia conseguido falar com todos os amigos que iriam esperar por ele no aeroporto. Ligara para Matt, Izzy, TK, Joe, Davis, Yolei, Ken e Cody. Mimi morava nos EUA, seria impossível para ela. Kari estava em duvida em ligar para Sora. Desde que ela começou a sair com Yuki, Tai se afastou o máximo que podia, pois seu coração ficara em pedaços. Então seu irmão decidiu sair de Odaiba, porque não queria se intrometer naquele relacionamento.
No entanto, Sora não sabia de nada. Na verdade, ela nem fazia ideia de que Tai a amasse daquela forma. Eles jogavam juntos, viam filmes até tarde e dormiam juntos quando eram menores. Mas assim que ela começou a namorar, ele parou de falar com a amiga, o que a deixou extremamente confusa e magoada.
"Queria que Tai estivesse aqui...", era o que Sora pensava todos os dias desde que ele fora embora. Tentou ligar, mandou cartas, mas nunca foram respondidas. Ela estava deitada em sua cama, vendo fotos aleatórias que tinha com Tai. A primeira foto era dos dois, construindo um enorme castelo na caixinha de areia do parque. A segunda era deles, quando tinham 6 anos, brincando com uma bola de futebol surrada. Aquela bola era a prova da paixão que ambos tinham pelo esporte. Compraram-na com a mesada, porque os meninos mais velhos não os deixavam jogar. Sora sorriu para o menininho da foto. Ele exibia o mesmo cabelo rebelde que Tai sempre tivera. Os olhos cor de chocolate brilhavam com alegria, enquanto olhava para a menininha que estava em seu lado e o seu sorriso era tão feliz e sincero, que chegava a doer, pois alguma coisa tirara aquele sorriso de perto dela nos últimos dois anos. Ficara tanto tempo olhando para a foto, que não percebera a leve batida na porta.
– Sora – chamou sua mãe, sobressaltando-a – É a Kari Kamiya ao telefone. – acrescentou, entregando o telefone à filha.
– Alô! – Sora ficou brevemente surpresa. Ela e Kari sempre se deram bem, mas não se falaram muito depois que Tai foi para Hong Kong. Algumas vezes, saíam juntas em grupo e tinham breves conversas. Mas nada além disso.
– Oi, Sora. Como está? – Kari estava meio insegura do que fazer. Não sabia se seu irmão gostaria de vê-la, mas ela tinha que avisar à Sora, que não sabia do motivo para Tai ter ido para tão longe. Decidira não mencionar que Yuki fosse, mas ele com certeza iria, se Sora decidisse chamá-lo. Estava em um grande dilema, que precisava ser resolvido naquele momento.
– Estou ótima! E então, o que manda? – Sora queria parecer casual, mas tinha medo do que poderia sair daquela conversa, pois Kari era uma pessoa difícil de se interpretar.
– Bem, eu queria saber se... – Kari hesitou por um instante, pensando no que seria melhor. "Me desculpa, Tai.", pensou ela enquanto falava sobre os planos que tinha feito para a chegada do irmão naquela noite.
Depois de ouvir que Tai estaria de volta em poucas horas, Sora ficou atônita. Todos os dias, desejava secretamente que Tai voltasse, porque sua vida era muito mais fácil quando ele estava por perto. Porém, o que mais a deixou nervosa era o fato de que ele havia parado de falar com ela. Não tinha sentido nenhum ela ir até o aeroporto esperar por ele. Mesmo assim, ela vestiu uma roupa qualquer e saiu de casa para encontrar Kari e ir até lá.
No aeroporto, já no Japão, Tai andava até a esteira, onde pegaria sua bagagem. O local estava cheio, devido ao fim das férias. Marcara de encontrar Kari na entrada principal do aeroporto, já que era de fácil visualização e acesso. Assim que pegou suas malas, andou até seu destino e ficou esperando por sua irmã mais nova. Ele a via às vezes, já que sua mãe permitia que ela viajasse sozinha até Hong Kong, mas não via o resto de seus amigos há muito tempo.
– Tai! – ele nem teve tempo de saber o que aconteceu, pois Kari já havia derrubado suas malas e o abraçado com força.
– Oi, Kari – cumprimentou ele, sorrindo. Atrás de sua irmã, vinha Matt, que o abraçara tão forte que o levantou do chão. Izzy, Joe e TK, que estavam com um sorriso enorme no rosto. Depois vinham Ken e Yolei, que para seu espanto, estavam de mãos dadas. Davis e Cody estavam logo atrás, conversando animadamente, mas assim que viu Tai, Davis foi abraçá-lo. Todos pareciam muito felizes por ter seu amigo de volta. Tai abraçou todos e fez muitas piadas. Mas então ele a viu e ficou paralisado e ao mesmo tempo, maravilhado. Ela estava com um sorriso tímido no rosto e andava em sua direção. Parecia meio hesitante, mas seus olhos vermelhos brilhavam.
– Oi, Tai... Quanto tempo – Sora murmurou aquelas palavras quase inaudíveis enquanto caminhava até seu melhor amigo. Ela reparou que ele havia crescido, mas fora isso, não mudara em nada: ainda tinha cabelos revoltos e um sorriso insano, mas ao mesmo tempo, doce.
Tai olhava para sua melhor amiga, sem entender o que ela havia murmurado. Ele estava entorpecido ao vê-la ali, esperando por ele. Notara o quanto ela havia ficado muito mais bonita. Seu cabelo agora batia um pouco abaixo dos ombros e ficara mais atlética. Seus olhos estavam banhados de luz, intensificando o vermelho deles. Ela se adiantou para um abraço que Tai não estava esperando. Mas tão rápido quanto começou, ela saiu do abraço e começou a socá-lo com todas as suas forças.
– Você. É. Um. Estúpido. Kamiya – Sora pontuava cada palavra com um soco. Os amigos a olhavam com uma mistura de surpresa, vontade de rir e pena. Todos sabiam que Sora fora a que mais sofreu com a partida repentina e sem explicação de Tai.
– Ei, calma, Sora! – exclamou ele, enquanto tentava se defender dos socos com os braços. Finalmente, Tai conseguiu pegá-la pelos pulsos e mantê-la parada. Mas seu ataque de raiva não continuou. Sora apenas encostou a cabeça no peito de seu melhor amigo e começou a chorar.
– Eu senti tanto a sua falta... – ela murmurou baixinho. Os olhos de Tai se arregalaram de surpresa, mas uma estranha sensação de constrangimento tomou conta dele. Estava envergonhado por tê-la magoado daquela maneira. Ele a abraçou e deixou que ela chorasse.
– Eu também senti... – sussurrou ele finalmente, levantando o rosto dela, para que ele pudesse limpar suas lágrimas. No momento em que olhou nos olhos dela, Tai percebeu duas coisas: que era um idiota por tê-la abandonado durante dois anos e que ainda era extremamente apaixonado por ela.
