Era a data
Dançava por entre os becos vazios de Los Angeles, os pés movimentavam uma música estranha, a boca sibilava qualquer som; e as mãos carregavam uma rosa.
Uma rosa cor de carmim aveludada.
A madrugada brindava o companheiro, mas não com estrelas e Lua, mas sim, com a neblina espessa; que rondava a figura bailarina.
Oh, era o horário que os pequenos dormiam, por medo do bicho-papão; mal sabiam que um, percorria alegre a pequena rua.
Se não fossem os postes iluminados, ele estaria sozinho naquela data.
Não, havia os ratos... Como poderia esquecer as mimosas criaturas?
A data era tão festiva. Claro que era. E precisava comemorar.
Gostaria de rosas? As enviaria com uma coroa de espinho.
Mas, seria tão triste não ver o seu vermelho manchando a camisa branca.
A risada festiva e sonora convidou os pequenos habitantes do lixo; que se juntasse a ele.
Oh, que se juntassem...
Mandaria um rato negro com um pequeno bilhete. Mas e as rosas?
Ah, que dúvida, que dúvida.
Sorriu, bailando com a voz, com a rosa; com o corpo.
Era hoje. Uma data feliz, bonita até. Quantos anos mesmo?
25.
Poderia mandar 25 ratinhos, envoltos em 25 rosas coroadas com espinhos.
Todos dentro de uma caixinha, amarrada com um laço de cetim.
Que belo, belo presente!
Mas perderia o rosto dele. Perderia os olhos, a boca, o nariz, as mãos.
Não veria o presente sendo aberto. E com certeza, quando fosse aberto, ele estaria longe.
Estaria longe.
Longe dele. Longe dos olhos, do nariz, das mãos, da boca.
E longe, cada vez mais longe.
O sorriso, a risada, a dança; sumiram em frações de um segundo.
Olhou ao redor, as malditas criaturinhas roedoras estavam aos seus pés, enquanto a fumaça nebulosa o impedia de enxergar além. Apenas a fraca luz amarelada do poste e a rosa esmagada na mão, o observava.
Deixou o corpo cair na guia da calçada fria, como a noite; e os olhos emanavam uma singela gota salgada. O pequeno corte no dedo, aberto pelo espinho; também vertia algo salgado. Misturava-se com a cor da flor e pingava astuto no chão.
Não havia companhia naquela data. Não havia a companhia dele, na data.
E a data era dele. E, tinha o presente nos pés, os ratos e a pequena poça vermelha.
A cabeça pendeu pesada nos joelhos.
Não mandaria nada. Nem sequer sabia onde ele estava.
Mesmo que quisesse brindar com ele, aquela data.
Mesmo que quisesse...
E o muito querer é o mesmo de não poder.
"Feliz Aniversário, L"
Olhou mais uma vez, a comprida rua, e sem ver nada, outra vez; voltou a encaixar a cabeça e os braços no joelho. Sentia frio.
Um frio imenso.
Oh, o que os pequenos fariam se vissem um bicho-papão chorando?
Chorando numa data, tão, tão festiva
Eles diriam
Bicho-papão não chora.
não chora...
X
Nota: Ficlet. É só uma inofensiva ficlet.
Não sei, na boa, o porquê de eu escrever tanto sobre o B.
Não sei (...)
