Confusão no aeroporto
O.o.O
Este era um dia especial na vida de todos. Afinal, não era todo dia que se comemorava o aniversário com uma viagem à terra natal.
- Seu marido é um gênio, não é?
Pandora virou-se para ele, sorrindo alegremente e beijando-o, sonoramente, nos lábios.
- Achou que eu esqueceria seu aniversário?
- Achei! – ela balançou a cabeça, afirmativamente.
- Fala! – ele sorriu satisfeito – Fui demais, não fui?
- Confesso que você tem algo na cabeça além dos chifres de Wyvern!
- Nós já conversamos sobre esta "expressão"! – ele ofendeu-se.
- Força do hábito! Pense pelo lado positivo!
- Há um? – ele indagou, cínico.
- Claro, meu amor! Pelo menos não dirão que é por conta de...
Calou-se. Seus olhos pararam numa certa vitrine.
- Olha! – exclamou, indo em direção à loja.
- Por conta de quê? – Radamanthys franziu o cenho.
- Podemos comprar, querido? – ela perguntou, fazendo cara de menina maliciosa.
Radamanthys aproximou-se e juntos, entraram na loja.
- Quanto custa?
Perguntou o cavaleiro, apontando para o anel, em cuja ponta uma pequena pedrinha brilhava.
- Cinco mil euros! – respondeu a vendedora.
Radamanthys sorriu.
- Estou falando sério!
- Eu também! – ela retrucou sem entender; o sorriso sumiu do rosto pálido do inglês.
- Está achando que eu tenho cara de quê? – indignou-se.
- Senhor...
- E então, amor? – Pandora aproximou-se com o anel no dedo – Já pagou?
- My love...- ele abaixou a voz – ...É melhor darmos uma volta por ai!
- Com licença, senhora! – a vendedora acercou-se – Nossa! Esta safira celta ficou magnífica em você!
- Safira o quê? – Pandora estreitou a visão.
- Celta! Ela tem energias das antigas sacerdotisas! – falou a jovem, em tom entusiástico.
- Sério? – os olhos da esposa brilharam – Ficou mesmo bonito?
- Achei a sua cara! Não concorda, senhor?
Radamanthys a fuzilou com o olhar.
- Responde, insensível! – rosnou Pandora.
- Querida...- pigarreou – ...Acho que esta pedra não combinou com...- procurava as palavras – ...Com seus olhos!
- Você acha? – a mulher fitou o anel em dúvida.
- Mas claro que combina, até se destaca por ser de outra cor! – completou a moça.
- Também acho, querido! – Pandora virou-se para o marido.
- Você não teria algo mais simples? – perguntou Radamanthys, com cara de aflição.
- Algo mais simples para sua simples esposa!? – Pandora irritou-se.
- Não, querida! – ele consertou – Só acho que você não precisa desse anel!
- E por que? – ela cruzou os braços.
- Ora...Porque...- embaraçado – ...Porque você já é a própria safira celta, meu amor! – sorriu.
A famosa gota apareceu na cabeça da vendedora. Silêncio.
- Ah, que lindo, Radamanthys! – Pandora derreteu-se – Você é um inseto sensível! – lágrimas.
- Querida...- ele tentava consolá-la.
- Alguém jamais me disse que eu era uma safira celta! – tirou o anel.
- Ora, meu amor! – sorriu aliviado – Não é para qualquer um perceber isso!
Saíram da loja abraçados. O aeroporto internacional de Londres estava apinhado de gente naquela manhã.
- De que horas é o embarque? – perguntou Pandora, ansiosa.
- Daqui a 20 minutinhos! – respondeu Radamanthys, consultando o relógio.
- Ainda não acredito que você me deu uma viagem ao meu país no meu aniversário!! – ela abriu um sorriso enorme.
- Nem eu! – suspirou, desanimado.
- Por que essa cara? – ela franziu as sobrancelhas.
- A mesma de sempre! – ele riu amarelo.
- Vamos logo fazer o check in!
Disse Pandora, imperiosa, caminhando a passos largos pelo saguão lotado.
- Oh, mulherzinha! – Radamanthys a seguiu.
..x.. 5 horas depois ..x..
De braços cruzados, as feições transfiguradas numa feia careta, Pandora andava de um lado à outro da pequena sala de espera. Radamanthys suspirou, voltando a concentrar-se na leitura de uma "interessante" revista que havia encontrado.
- Está passando bem, meu amor?
A última coisa que viu foi o punho fechado da esposa na sua cara.
- Eu precisava disso! – rosnou ela.
- O que eu fiz agora???
Pandora o fitou com olhos enlouquecidos.
- Eu juro que não leio mais a revista! – ele disse com as mãos juntas.
O semblante da mulher modificou-se numa contração desconfiada.
- Que revista?
Radamanthys voltou à si.
- Nada! Nenhuma!
- Radamanthys McGreen! – levou as mãos à cintura – O que está aprontando?
O homem agarrou a revista com as duas mãos, apertando-a como se fosse a armadura de Atena.
- Não se aproxime!
- Dê-me a revista! – Pandora falou entre dentes.
- Nunca!
- Radamanthys...- ela cerrou os punhos – ...Você ainda quer ir voando para Alemanha?
Afastando-se dela, ele esticou o braço para lhe passar a maldita revista. Logo depois virou-se de costas e colocou-se em posição de defesa.
- Ah! – ela exclamou – Era isso! – sorriu calmamente - Achou que eu ficaria com raiva disso?
E com ar de riso, ergueu a revista cujo título, em letras garrafais, era: PLAYBOY.
- E não ficou? – perguntou, intrigado.
- Meu amor! – ela ria em tom alto, fazendo-o abrir um sorriso também – Como pôde pensar uma coisa dessas?
- Puxa! Achei que era hoje que eu voltaria para o Meikai!
Pandora, ainda sorrindo, levantou o pé e desferiu contra a canela dele uma forte pontada com seu salto agulha. Radamanthys abriu a boca, mas nenhum som escapou de seus lábios.
- Miserável! Cachorro! – ela espumava – Como ousa ler revistas pornôs no dia do meu aniversário? – um grito ecoou pelo recinto.
Todos observavam a cena, curiosos. O marido abriu um sorriso nos lábios agora, ligeiramente cortados.
- Então eu sou inocente!
- Como é? – ela franziu o cenho.
- Sim, querida! – falou em tom de vítima – Apanhei sem merecer, pois eu não estava lendo! Só estava olhando!
Pandora estava prestes a perder as faculdades mentais quando um homem, que trabalhava na companhia aérea, apareceu.
- Com licença...- pediu o senhor – ...Bom dia damas e cavalheiros!
- E o que tem de bom? – grunhiu a alemã.
- Queira nos desculpar o pequeno atraso...- continuou ele, sem lhe dar atenção.
- Pequeno? – ela explodiu – Estamos aqui há 5 horas e ainda diz que foi um pequeno atraso?
- Minha senhora, escute...
- Escute o senhor! Hoje é meu aniversário e o imprestável do meu marido tem a audácia de ver revista de mulher pelada...
O espantado senhor caminhava para trás a medida que ela caminhava para frente.
- ...E ainda sou obrigada a ficar aqui sentada por 5 horas... – e fez um gesto com a mão, mostrando 5 dedos – ...Esperando um avião idiota!
A última frase saiu num urro ensurdecedor.
- Aposto dez pratas em como ela acerta o estômago! – cochichou Radamanthys a um velhinho.
- Aposta aceita! – respondeu o outro.
- Houve problemas com os vôos! – o funcionário tentava explicar.
- Eu quero que você pegue os seus vôos e...
- Aposto 30 em como ela vai nos "documentos"! – ponderou o velhinho.
- Quarenta se for na cara! – retrucou Radamanthys.
- Fechado!
Encolhido na parede, o oficial esperava o desfecho da cena. Pandora sorriu amarela e suspirando...
- De que horas irei embarcar?
- Bem...Ainda não...
Ela ergueu o punho, fechado, enquanto assobiava sarcasticamente.
- Providenciarei isso imediatamente, senhora!
- Obrigada! – amarela – O senhor é um amor!
E sentando-se num dos bancos, cruzou as pernas e suspirou. Olhou para os rostos atônitos ao seu redor.
- Nada como a educação feminina!
O homem voltou aos seus afazeres e a paz novamente reinou no recinto. Radamanthys aproximou-se, sentando ao lado da esposa, segurando uma latinha de refrigerante.
- Está afim? – ofereceu.
- Não! Estou de regime, não notou! – ela folheava o jornal.
- Quer que eu seja sincero?
o.O.o No avião o.O.o
Acomodaram-se confortavelmente em suas poltronas, suspirando aliviados.
- Enfim, embarcados! – brincou o marido.
- Uau! Olha só! - Pandora vendo pela janela.
- O que? – Radamanthys debruçou-se para olhar.
- Estamos voando tão alto que as pessoas até parecem formigas!
- (famosa gota) Querida...Isto são formigas! O avião nem decolou ainda!
Ela sorriu amarela.
- Estava apenas testando sua capacidade de dedução!
Finalmente a aeronave ganhou altura e todos os passageiros entraram num leve torpor, alguns abrindo livros, outros escutando música e muitos apenas fechando os olhos e preparando-se para dormir. Uma aeromoça aproximou-se empurrando um carrinho.
- Desejam alguma coisa?
Radamanthys ergueu o corpo, tirou a carteira e a abriu.
- Quanto custa os amendoins?
A aeromoça o encarou, intrigada.
- Oh, defenestrado! – Pandora chamou – Essa comida não se paga! – falou entre dentes.
- Sério? – o inglês fitou a aeromoça – É de graça? – Pandora estrebuchou.
- Sim, senhor...- sorriu a aeromoça.
- Sendo assim...
E, calmamente, começou a pegar tudo que via em cima do carrinho, sob os olhos atônitos da moça e o semblante corado de Pandora que procurava um lugar para enfiar a cabeça.
- Só isso, senhor?
Carrinho vazio.
- Acho que sim! Mas se der para trazer uma dose de Whisky! Aniversário da minha mulher! – olhando para uma encolhida Pandora – Podíamos fazer um brinde, amor...
- Querida...- Pandora, sem graça – ...Não vamos querer mais nada por enquanto!
- Com licença! – e a jovem afastou-se apressadamente.
- Que legal! – Wyvern sorria – Comida de graça! Podíamos fazer umas "comprinhas" aqui então gastaríamos menos no seu jantar!
..x..
Ela fechou o livro que havia comprado no aeroporto. Bocejou entediada. Mas havia algo estranho. Sentiu como se estivesse sendo vigiada. Franziu os sobrolhos antes de virar-se para o marido.
- Que cara de paspalho é esta?
Radamanthys, fitando-a com olhos semi abertos, um olhar de lascívia e um meio sorriso cínico, conquanto patético nos lábios, falou:
- Sabe em que estou pensando?
- Você está pensando? – perguntou a esposa, em tom sarcástico.
- Em irmos...- e ele apontou com o polegar para a parte de trás do avião.
- Irmos aonde? – ela, sem entender.
- Para o banheiro!
Entreolharam-se.
- Ficou louco? – ela disparou.
- Eu sempre quis fazer isso!
E ele meteu a mão por baixo da saia dela, fazendo-a pular no assento do avião.
- Vamos, querida! – ele insistiu em tom mavioso.
Ela levantou-se pressurosa e arrastando-o pelo colarinho, entraram no minúsculo compartimento que recebia o nome de banheiro.
- Você é doido!
Ela comentou, completamente imprensada entre ele e o balcão da pia.
- Não resisto a você!
Respondeu Radamanthys beijando-a, espremido entre ela e a porta do cubículo.
- Feliz aniversário, meu amor! – disse ele, num sussurro.
- Eu estou sufocando! – falou Pandora, tentando passar uma perna para o outro lado.
- Está muito quente aqui! – Radamanthys forçava a mão entre eles para abrir a calça.
- Isso não vai dar certo! – rosnou ela, com o pé preso entre o ombro dele e teto.
- Estamos quase lá! – ele fez uma careta ao bater a cabeça no teto – Como podem chamar isso de banheiro?
- Vai logo com isso! – rosnou ela.
- Estou tentando! – ele tateava com a mão – ACHEI!!!! – gritou ao encontrar o botão da calça.
- Berra mais alto! – grunhiu a mulher.
- Agora é só encontrar o lugar...- suando – ..Isso aqui está parecendo teste para o inferno!
- Radamanthys, não estou mais agüentando! – Pandora, completamente contorcida.
- Relaxa! Eu sinto que estou quase lá!
- Lá aonde?
- Ué...lá...- ele gesticulava com os olhos.
- Como lá se ainda estou de calcinha?
- Sério? – ele olhou para baixo.
TOC TOC TOC
Os dois estacaram silenciosos.
- Dá para desocupar logo o banheiro?
Uma voz esganiçada de homem berrou do lado de fora. Dentro, o casal tentava, ginasticamente, ajeitar-se, mas na pressa, só pioravam as coisas.
TOC TOC TOC
- Eu estou passando mal!!!!!!!!!! – gritou o cara.
- Se bater mais uma vez ficaremos aqui até o avião pousar! – gritou Pandora.
- Minha cabeça! – Radamanthys esbravejou pela pernada recebida.
- Saia da frente, paspalho! – ela reclamava.
- Para onde, anta?
- O QUÊ????
- Nada! - ele consertou.
- Abre logo essa porta!
- Está emperrada! – Radamanthys empurrava.
- Mas você é imprestável mesmo!
- My God! Que calor... - seus olhos faiscaram – ...Quer saber do que mais...
- Não se atreva...
- MÁXIMA PRECAUÇÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Uma desastrosa cratera abriu-se na porta do banheiro antes que esta, partindo-se em duas, caísse ao chão sob os olhares perplexos do senhor e da aeromoça. Radamanthys e Pandora sorriram amarelos.
- Belo sutiã!
Comentou o inglês à jovem que tivera sua camisa destruída também e tentava esconder-se com as mãos. O senhor olhou para o estrago.
- Posso saber como vou usar o banheiro?
..x..
- Minha única chance de transar no avião...- Radamanthys fazia bico.
- Não era por causa do meu aniversário? – Pandora girou seus olhos para ele, ofendida.
- Claro que era, meu amor! – sorriu amarelo – Você merece uma grande aventura!
- Eu devia era estrangular você!
- Estava tão perto quando aquele babaca apareceu...
- Radamanthys, é melhor você não pensar em mais nada o restante da viagem! – anunciou Pandora.
O homem deu de ombros e ambos recostaram-se em suas poltronas. Foi quando, revolvendo-se na cadeira sob os olhos reprovadores do marido, Pandora, bastante taciturna, tomou um ar sério.
- Eu pensava em lhe dizer isto durante o jantar, mas acho que esta noite...
- O que foi? - ele franziu as sobrancelhas.
E tomando fôlego...
- Eu estou grávida!
Lentamente, como numa revoada de desbotados fragmentos, um atônito inglês escutou, completamente atordoado, a aeromoça falar, pausadamente:
- Senhores passageiros, sejam bem vindos à Alemanha!
O.o.O FIM O.o.O
