AUTOR: Less Wrong
FANFIC ORIGINAL: Harry Potter and the Methods of Rationality
NOTA DO TRADUTOR:
1. Se você viu algum erro ou conhece termos melhores para as referências externas, avise. Se quiser contribuir para a tradução, me contate!
2. Palavras ou parênteses com um asterisco representam termos ou trechos que não pude traduzir. No entanto, obras que não receberam tradução para português ficarão com o título na língua original, o mesmo valendo para termos científicos.
Aviso legal: J. K. Rowling possui Harry Potter, e ninguém possui os métodos da racionalidade.
É de comum acordo que esta fic atingiu seu ápice em torno do capítulo 5, se você ainda não gostar dela após o capítulo 10, desista.
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Esta não é uma fic single-point-of-departure* - onde existe um ponto primário de partida, em algum ponto no passado, mas também outras alterações. O melhor termo que eu já ouvi para esta fic é "universo paralelo".
O ritmo da história é aquele folhetinesco, o de um programa de TV correndo por um número pré-determinado de temporadas, onde os episódios são traçados individualmente, mas com um arco global levando a uma conclusão final.
Toda ciência mencionada é ciência real. Mas por favor tenha em mente que, além do reino da ciência, os pontos de vista dos personagens podem não representar os pontos de vista do autor. Nem tudo o que o protagonista faz é uma lição de sabedoria, e conselhos oferecidos por personagens malévolos podem não ser confiáveis ou serem perigosamente ambíguos.
Sob o luar cintila um minúsculo fragmento de prata, a fração de uma linha...
(vestes negras, caindo)
...sangue vaza em litros, e alguém grita uma palavra.
Cada centímetro da parede é coberto por uma estante. Cada estante tem seis prateleiras, indo quase até o teto. Algumas estantes são empilhadas até o topo com livros de capa dura: ciência, matemática, história, e tudo mais. Outras prateleiras têm duas fileiras de brochuras de ficção científica (*). E ainda não é o suficiente. Livros transbordam nas mesas e nos sofás e fazem pequenas pilhas debaixo das janelas.
Esta é a sala de estar da casa ocupada pelo eminente professor Michael Verres-Evas e sua esposa, Sra. Petunia Evans-Verres, e seu filho adotivo, Harry James Potter-Evans-Verres.
Há uma carta sobre a mesa da sala de estar, e um envelope, sem selo, de pergaminho amarelado, endereçado a Sr. H. Potter em tinta verde-esmeralda.
O Professor e sua esposa estão falando bruscamente um com o outro, mas eles não estão gritando. O Professor considera gritos incivilizados.
"Você está brincando," Michael disse a Petunia. Seu tom indicava que ele estava com muito medo de que ela estivesse falando sério.
"Minha irmã era uma bruxa," Petunia repetiu. Ela parecia assustada, mas manteve sua posição. "O marido dela era um bruxo."
"Isso é absurdo!" Michael disse bruscamente. "Eles estavam no nosso casamento - eles nos visitaram no natal -"
"Eu disse a eles que não era para você saber," Petunia sussurrou. "Mas é verdade. Eu vi coisas -"
O Professor rolou seus olhos. "Querida, eu entendo que você não seja familiar com a literatura cética. Você pode não perceber o quão fácil é para um mágico treinado falsificar o aparentemente impossível. Se lembra de como eu ensinei Harry a dobrar colheres? Se for como se eles pudessem sempre saber o que você está pensando, chamamos de leitura fria -"
"Não eram colheres -"
"O que era, então?"
Petunia mordeu seu lábio. "Eu não posso só dizer a você. Você vai achar que eu estou -" Ela engoliu. "Escute. Michael. Eu não estive - sempre assim -" Ela gesticulou para si mesma, como a indicar sua forma graciosa. "Lily fez isso. Por que eu - por que eu implorei a ela. Por anos, eu implorei a ela. Lily tinha sempre sido mais bonita que eu, e eu tinha... sido ruim com ela, por causa disso, e então ela ganhou mágica, você pode imaginar como eu me senti? E eu implorei a ela para usar alguma mágica em mim para que eu pudesse ficar bonita também, mesmo se eu não pudesse ter a mágica dela, pelo menos eu podia ser bonita."
Lágrimas estavam se juntando nos olhos de Petunia.
"E Lily dizia não, e fazia as desculpas mais ridículas, como a de que o mundo poderia acabar se ela fosse legal para a irmã dela, ou um centauro disse a ela para não o fazer - as coisas mais ridículas, e eu a odiei por isso. E quando eu tinha acado de me graduar, eu estava saindo com esse menino, Vernon Dursley, ele era gordo e ele era o único menino que falava comigo no colégio. E ele disse que ele queria filhos, e que seu primeiro filho seria chamado Dudley. E eu pensei comigo mesma, que tipo de pai chama o filho dele de Dudley Dursley? Era como se eu visse todo o futuro da minha vida passando na minha frente, e eu não podia agüentar isso. E eu escrevi para minha irmã e disse a ela que se ela não me ajudasse eu preferiria -"
Petunia parou.
"De qualquer modo," Petunia disse, a voz dela pequena, "ela me deu isso. Ela me disse que era perigoso, e eu disse que não me importava mais, e eu bebi aquela poção e eu fiquei doente por semanas, mas então eu fiquei melhor, a minha pele clareou e eu finalmente ganhei uma forma e... eu estava linda, as pessoas eram legais comigo," a voz dela quebrou, "e depois daquilo eu não podia mais odiar a minha irmã, especialmente quando eu soube o que a mágica dela trouxe a ela no fim -"
"Querida," Michael disse gentilmente, "você ficou doente, você ganhou algum peso enquanto estava na cama, e a sua pela clareou por si mesma. Ou ficar doente tenha feito você mudar a sua dieta -"
"Ela era uma bruxa," Petunia repetiu. "Eu vi."
"Petunia," Michael disse. A irritação estava se arrastando na sua voz. "Você sabe que isso não pode ser verdade. Eu realmente tenho que te explicar por quê?"
Petunia torceu suas mãos. Ela parecia estar à beira das lágrimas. "Meu amor, eu sei que eu não posso ganhar discussões com você, mas por favor, você tem confiar em mim nisso -"
"Pai! Mãe!"
Os dois pararam e olharam para Harry como se eles tivessem esquecido de que havia uma terceira pessoa na sala.
Harry respirou profundamente. "Mãe, os seus pais não tinham mágica, tinham?"
"Não," Petunia disse, parecendo intrigada.
"Então ninguém em sua família sabia sobre mágica quando Lily pegou a carta dela. Como eles foram convencidos?"
"Ah..." Petunia disse. "Eles não mandaram uma carta apenas. Eles mandaram um professor de Hogwarts. Ele -" os olhos de Petunia se moveram para Michael. "Ele nos mostrou mágica."
"Então vocês não têm que brigar por isso," Harry disse firmemente. Esperando que dessa vez, só dessa, eles o ouvissem. "Se isso é verdade, nós podemos apenas trazer um professor de Hogwarts para cá e ver a mágica por nós mesmos, e Pai vai admitir que é verdade. E se não, então Mãe vai admitir que é falso. É pra isso que o método experimental serve, para que a gente não tenha que resolver as coisas só pela argumentação."
O Professor virou e olhou na direção dele, desdenhoso como sempre. "Oh, qual é, Harry. Realmente, mágica? Eu pensei que você faria melhor que tomar isso a sério, filho, mesmo que você tenha apenas dez. Mágica é simplesmente a coisa mais anticientífica que há!"
A boca de Harry retorceu com amargura. Ele era tratado bem, provavelmente melhor do que a maioria dos pais biológicos tratavam seus próprios filhos. Harry foi enviado às melhores escolas elementares - e quando aquilo não funcionou, ele foi provido com tutores da força de trabalho infinita de estudantes esfomeados. Harry sempre foi encorajado a estudar o que quer tomasse sua atenção, comprado todos os livros que tomassem suas fantasias, patrocinado em qualquer competição de matemática e ciência em que entrasse. A ele era dada qualquer coisa razoável que quisesse, exeto, talvez, a menor sombra de respeito. De um Professor titular que ensinava bioquímica em Oxford dificilmente podia ser esperado que ouvisse o conselho de um pequeno garoto. Você ouviria para Demonstrar Interesse, claro; isso era o que um Bom Pai faria, e, se você concebesse a si mesmo como um Bom Pai, era o que faria. Mas levar um menino de dez anos a sério? Dificilmente.
Às vezes Harry queria gritar para seu pai.
"Mãe," Harry disse. "Se você quer vencer a argumentação com o Pai, olhe no capítulo dois do primeiro livro de The Feyman Lectures on Physics. Lá há um trecho sobre como filósofos dizem muita coisa sobre o que a ciência absolutamente requere, e isso tudo é errado, por que a única regra em ciência é a de que o árbitro final é a observação - que você só tem que olhar o mundo e reportar o que você vê. Hm... Eu não consigo pensar improvisadamente em onde achar algo sobre como é um ideal da ciência assentar as coisas por experimentos ao invés de argumentos -"
Sua mãe olhou na direção dele e sorriu. "Obrigada, Harry. Mas -" sua cabeça reergueu-se para encarar seu marido. "Eu não quero vencer um argumento com seu pai. Eu quero que, que meu marido ouça sua esposa que o ama, e confie nela só dessa vez -"
Harry fechou os olhos brevemente. Casos perdidos. Ambos os seus pais eram casos perdidos.
Agora seus pais estavam entrando em um daqueles argumentos novamente, um onde sua mãe tentava fazer seu pai se sentir culpado, e seu pai tentava fazer sua mãe se sentir estúpida.
"Estou indo para o meu quarto," Harry anunciou. Sua voz tremeu um pouco. "Por favor tentem não brigar muito sobre isso, Mãe, Pai, nós sabemos logo como isso vai acabar, certo?"
"Claro, Harry," disse seu pai, e sua mãe deu a ele um beijo de reassegurança, e então eles voltaram a brigar enquanto Harry subia a escada para seu quarto.
Ele fechou a porta atrás dele e tentou pensar.
O engraçado era, ele devia ter concordado com Pai. Ninguém tinha nunca visto nenhuma evidência de mágica, e de acordo com sua Mãe, havia um mundo mágico inteiro lá fora. Como podia alguém manter uma coisa daquelas um segredo? Mais mágica? Aquele parecia um tipo de desculpa ainda mais suspeito.
Devia ser um caso extremamente simples para Mãe estar brincando, mentindo ou sendo insana, em ascendente ordem de horror. Se sua Mãe tinha mandado a carta ela mesma, poderia-se explicar como ela chegou à caixa de correio sem um selo. Uma pequena insanidade era muito, muito menos improvável que o universo realmente trabalhando daquela maneira.
Exceto que alguma parte de Harry estava completamente convencida de que mágica era real, e tinha sido desde o instante em que ele viu a carta putativa da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Harry esfregou sua testa, irritado. Não acredite em tudo o que pensa, um de seus livros tinha dito.
Mas essa certeza bizarra... Harry estava encontrando a si mesmo esperando aquilo, sim, um professor de Hogwarts iria mostrar e sacudiria uma varinha e a mágica sairia. A estranha certeza não estava fazendo esforços em se guardar contra falsificação - não estava fazendo desculpas adiantadas para por quê não haveria um professor, ou o professor ser capaz apenas de entortar colheres.
De onde você veio, pequena estranha predição? Harry direcionou o pensamento a seu cérebro. Por quê eu acredito no que eu acredito?
Usualmente Harry era muito bom em responder àquela pergunta, mas nesse caso em particular, ele não tinha nenhuma pista do que seu cérebro estava pensando.
Harry deu de ombros mentalmente. Uma peça plana de metal em uma porta permite empurrá-la, e uma alça em uma porta permite puxá-la, e a coisa a fazer com um hipótese testável era ir testá-la.
Ele pegou um pedaço de folha pautada da sua mesa, e começou a escrever.
Cara Vice-Diretora
Harry pausou, refletindo; então descartou a folha por outra, apertando outro milímetro de grafite da sua lapiseira. Isso pedia uma caligrafia cuidadosa.
Cara Vice-Diretora Minerva McGonagall,
Ou A Quem Quer Que Isso Concerna:
Eu recentemente recebi sua carta de convocação a Hogwarts, endereçada a Sr. H. Potter. Vocês podem não ter ciência de que meus pais biológicos, James Potter e Lily Potter (outrora Lily Evans) estão mortos. Eu fui adotado pela irmã de Lily, Petunia Evans-Verres, e seu marido, Michael Verres-Evans.
Estou extremamente interessado em freqüentar Hogwarts, condicionalmente de que tal lugar atualmente exista. Apenas minha mãe Petunia diz saber sobre mágica, e que ela mesma não pode usá-la. Meu pai é altamente cético. Eu mesmo estou incerto. Eu também não sei onde obter qualquer dos livros ou equipamentos listados na sua carta de convocação.
Minha Mãe mencionou que vocês enviaram um representante de Hogwarts para Lily Potter (então Lily Evans) em ordem de demonstrar à família dela que mágica era real, e, eu presumo, ajudar Lily a obter seu material escolar. Se vocês pudessem fazê-lo para minha própria família seria extremamente útil.
Sinceramente,
Harry James Potter Evans-Verres.
Harry adicionou seu atual endereço, então dobrou a carta e a pôs em um envelope, endereçado a Hogwarts. Maior consideração o levou a obter uma vela e derramar cera na aba do envelope, na qual, usando a ponta de um canivete, ele imprimiu as iniciais H.J.P.E.V. Se ele estava decaindo na loucura, ele o estava fazendo com estilo.
Então ele abriu sua porta e desceu as escadas. Seu pai estava sentado na sala-de-estar lendo um livro de alta matemática para mostrar o quão inteligente ele era; e sua mãe estava na cozinha preparando um dos pratos favoritos de seu pai para mostrar o quão amorosa ela era. Não parecia que eles estivessem falando um com o outro de todo. Assustador que argumentar pudesse ser, não argumentar era de algum modo muito pior.
"Mãe," Harry disse no silêncio enervante, "eu estou indo testar a hipótese. De acordo com a sua teoria, como eu mando uma coruja para Hogwarts?"
Sua mãe se virou da bancada da cozinha para olhar para ele, parecendo chocada. "Eu - eu não sei, eu acho que você só tem que ter uma coruja mágica."
Aquilo devia ter soado altamente suspeito, oh, não há maneira de testar a sua teoria então, mas a certeza peculiar em Harry pareceu crescer ainda mais.
"Bem, a carta chegou aqui de alguma maneira," Harry disse, "então eu vou só sacudí-la lá fora e chamar 'carta para Hogwarts!' e ver se uma coruja a pega. Pai, você quer vir assistir?"
Seu pai sacudiu sua cabeça varagosamente e manteve a leitura. Claro, Harry pensou para si mesmo. Mágica era uma coisa desgraçada em que só gente estúpida acreditava; se seu pai fosse tão longe a testar a hipótese, ou mesmo assistí-la sendo testada, ele poderia se sentir como se estivesse se associando àquilo...
Só quando Harry saiu pela porta dos fundos, no quintal, ocorreu a ele que se uma coruja viesse e agarrasse a carta, ele teria algum problema em contar a seu Pai sobre isso.
Mas - bem - isso não pode realmente acontecer, pode? Não importa o quanto meu cérebro pareça acreditar. Se uma coruja realmente vier e apanhar este envelope, eu vou ter preocupações muito mais importantes que o que Pai pensa.
Harry tomou fôlego, e levantou o envelope no ar.
Ele engoliu em seco.
Chamar carta para Hogwarts! enquanto segurando um envelope alto no ar no meio so seu próprio quintal era... muito embaraçoso, agora que ele pensou sobre isso.
Não. Eu sou melhor que Pai. Eu vou usar o método científico mesmo que isso me faça sentir estúpido.
"Carta -" Harry disse, mas saiu mais como um coaxo sussurrado.
Harry tomou coragem, e gritou para o céu vazio, "Carta para Hogwarts! Posso pegar uma coruja aqui?"
"Harry?" perguntou uma voz entretida, uma dos vizinhos.
Harry abaixou sua mão como se tivesse se queimado e encondeu o envelope atrás de si como se ela fosse ilegal. Sua face toda estava fervendo de vergonha.
O rosto de uma senhora espiou por cima da cerca vizinha, cabelos grisalhos escapando da sua rede de cabelo. Sra. Figg, a ocasional babá. "O que você está fazendo, Harry?"
"Nada," Harry disse em uma voz estrangulada. "Apenas - testando uma teoria realmente boba -"
"Você recebeu a sua carta de convocação de Hogwarts?"
Harry congelou no lugar.
"Sim," os lábios de Harry disseram um momento depois. "Eu recebi uma carta de Hogwartas. Eles dizem que querem a minha coruja até 31 de julho, mas -"
"Mas você não tem uma coruja. Pobrezinho! Eu não consigo imaginar o quê alguém devia estar pensando, mandando a você apenas a carta padrão."
Um braço enrugado foi esticado por cima do muro, e abriu a mão esperando. Dificilmente pensando a este ponto, Harry deu a ela seu envelope.
"Apenas deixe comigo, querido," disse Sra. Figg, "e em um minuto ou dois eu vou enviar a alguém."
E a face dela desapareceu por sobre a cerca.
Houve um longo silêncio no quintal.
Então a voz de um garoto disse, calma e quietamente, "O quê."
