Disclaimer: Saint Seiya pertence ao tio Kuru, coisa e tal -q Mas a fanfic me pertence, dois beijos.
N/A: Esta fic faz parte de uma série de ficlets que estou escrevendo sobre a vida do Aiolia e do Mu morando juntos. Elas pertencem ao mesmo universo de Change of Heart, mas podem ser compreendidas de forma independente, pois se passam três anos depois. Então, se você não leu CoH, não tem problema.
Agradeço ao meu carneiro-beta, Orphelin, pela revisão.
Dedicado à Narcisa Le Fay, que é geminiana, aniversariante e muito criativa S2
Numa Tarde Qualquer
Parte I
Mu abriu a porta de sua casa e foi recebido pelo silêncio. Estranho. Em geral, em uma tarde de sábado sem treinos como aquela, Aiolia estaria tocando bateria em alto e bom som. Ele não tinha chegado ainda?
Avançou pela sala. Nenhuma jaqueta largada no sofá, que milagre. A cozinha permanecia em perfeita ordem, sem sinais de uso. No quarto, as janelas e cortinas se encontravam fechadas. A penumbra dominava o local.
Seu estômago gelou, adivinhando qual era o problema.
Nas pontas dos pés, Mu alcançou a cama e puxou um pouco o edredom. Graças à fraca iluminação que adentrou o quarto pela porta que deixara aberta, deu para ver Aiolia estava dormindo e tinha as faces afogueadas.
Logo ele, que não costumava corar nem nas ocasiões mais constrangedoras?
Para confirmar suas suposições, Mu encostou a mão sobre a testa dele com suavidade. Febre, sem dúvidas.
Céus, não. Será que conseguiria sair dali na velocidade da luz? Ligar para Aiolos vir pajear o irmão caçula e correr para as colinas, seria sensato. Ao menos até que Aiolia sarasse.
Tudo isso porque, Mu sabia muitíssimo bem, Aiolia era um doente terrível.
Seu azar era que o universo nunca conspirava a seu favor no que dizia respeito a seu genioso namorado. Antes que pudesse fazer sua saída estratégica, ou algo do tipo, Aiolia se remexeu sob seu toque e acordou. Os olhos claros pestanejaram sonolentos e a boca avermelhada soltou um muxoxo.
— Estou morrendo…
— Não está, não – disse Mu, com amabilidade e firmeza, sentando-se na cama. – O que sente?
Aiolia explicou que sentia muito frio, dor no corpo e ardência na garganta. Pontuou o último sintoma com uma tosse sofrida, que provou a veracidade de suas palavras e mostrou que ele não dramatizara a coisa toda. Por fim, respirando com esforço, sentou-se e acendeu a luminária à cabeceira da cama, encolhendo-se diante da claridade ofuscante.
Foi a partir daí que Mu soube que não iria a lugar nenhum. Aiolia inclinou a cabeça coroada de cabelos despenteados para o lado, mordeu o lábio inferior e passou a fitá-lo com os olhos azul-esverdeados grandes e cintilantes. Parecia perguntar, sem palavras, se Mu cuidaria dele. Emanava um ar tão inocente que Mu começou a se esquecer do quão terrível ele era capaz de ser.
Como sempre.
— Entendo. Vou buscar o termômetro e…
Aiolia deitou a cabeça sobre o ombro de Mu, envolvendo sua cintura com um braço.
Puxa, era impossível não querer cuidar de Aiolia quando ele fazia puppy eyes e ficava adorável daquele jeito. Tinha uma noção perfeita do efeito que causava, com certeza. Mu afagou os cabelos castanhos-dourados bagunçados e sorriu. Nunca seria capaz de fugir. Apesar dos pesares, gostava quando ele precisava de cuidados.
Ficaram parados por um momento, segurando um ao outro em silêncio. No entanto, o calor do corpo de Aiolia não tardou a ultrapassar o tecido grosso da blusa de Mu.
— Agora estou preocupado, deixe-me buscar o ter-…
— Naah, sabe o que você poderia fazer por mim? – Aiolia ronronou, soltando-o.
— Hmm… O quê?
Aiolia apontou para o closet. A porta aberta deixava entrever uma caixa no chão. Mu foi até lá com um mau pressentimento. Dentro dela havia uma roupa branca bastante suspeita.
— Querido…
Querido indicava que Mu faria uma reprimenda. Era algo que Aiolia já aprendera porque apressou-se a dizer:
— Eu não planejei ficar mal pra você usar isso. Eu queria era estar saudável pra aproveitar direito. Como não tive essa sorte, você podia usar pra me animar, né?
Com um olhar significativo, Mu cruzou os braços, voltando até a cama para sentar-se nela.
— Poxa, estou agonizando aqui. – Aiolia fez beicinho. – Se eu morrer, você vai se sentir culpado pelo resto da vida por não ter realizado o último desejo do seu único e verdadeiro amor.
Mu comprimiu os lábios. Ah, a chantagem emocional…
— Se está tão mal, meu único e verdadeiro amor, vamos ver um médico.
Um sorriso enviesado se desenhou no rosto de Aiolia.
— Ehrm, nem vem, eu me refiro a um de verdade.
Aiolia encostou-se outra vez ao corpo de Mu, esfregando a bochecha na sua da forma que um gato indolente faria… deslizando os lábios macios por sua mandíbula e descendo rumo ao pescoço…
Não teve como Mu conter um suspiro, arrepiando-se ao sentir aquela respiração ardente atingir sua pele sensível. Aquilo era suborno…
Abriu a boca para comentar que, pelo jeito, Aiolia estava melhor do que imaginava, porém, ele se distanciou com os olhos desfocados, apoiando a mão na testa.
— Opa, tontura.
Com cuidado, Mu o fez se deitar. Beijou a têmpora dele e levantou-se para pegar o termômetro.
Aiolia não deixou. Óbvio. Não era do tipo que desistia. Agarrou Mu pelo punho e voltou a insistir, a voz cansada aliada a um novo beicinho:
— Usa pra mim, por favor…
Aiolia tem cada ideia, era o pensamento que ficava se repetindo na mente de Mu desde o instante em que entrara no banho até terminar de fechar os botões da roupa nada convencional que fora persuadido a vestir.
Poupou-se de uns dois ou três acessórios típicos da profissão, que jaziam na caixa, e consolou-se ao pensar que poderia ser pior. Em vez do jaleco de médico, Aiolia poderia ter escolhido uma fantasia de enfermeira, daquelas infames.
Olhou-se por um longo tempo no espelho e bufou de leve para seu reflexo corado. O traje era meio transparente. Dava para vislumbrar os ralados que maculavam a pele de suas costas – ralados que, por sinal, eram culpa de Aiolia.
Enquanto se acostumava com a vestimenta precária, Mu foi preparar um chá. E só. Não havia nada, nem ninguém no mundo, que convenceria seu namorado teimoso a tomar um remédio.
Não, nem mesmo Aiolos, que era tão resistente a remédios quanto o irmão.
Ao voltar para o quarto, encontrou Aiolia quase dormindo, embolado sob o edredom e umas três cobertas, balbuciando palavras sem sentido sobre a situação.
— É a recompensa por ter ficado sob a chuva, lá no quintal, ontem à noite. – Mu sentou-se na cama com a xícara de chá e o termômetro, entregando ambos a ele.
— Você ficou lá comigo e está ótimo. – Aiolia ajeitou o objeto sob o braço. Em seguida, mirou um olhar de pura aversão para a chávena. – Não é justo.
Sorrindo, Mu apertou a bochecha ruborizada dele e replicou com bom humor:
— Talvez minha resistência seja maior do que a sua, hum?
Aiolia fungou, arqueando uma sobrancelha.
— Deve ser porque você quase não tomou chuva, espremido entre a árvore e eu. Aliás, os ralados nas suas costas estão melhores?
A tez clara de Mu ganhou um tom de vermelho vivaz. Por que tinha se deixado levar pelo abusado, em pleno quintal e debaixo de chuva? Não se recordava. Na dúvida, fez uma nota mental para não ficar cedendo sob tais circunstâncias. Balbuciou um sim em resposta à pergunta e desviou o olhar para o nada.
Não que Aiolia se mostrasse ciente de seu constrangimento. Boquiaberto, ele enfim admirava o que Mu havia vestido. Pousou a xícara sobre a mesinha de cabeceira e o puxou para si em um aperto firme, parecendo satisfeitíssimo pela própria ideia brilhante.
— Ficou o máximo! Ah, espera aí. – Afrouxou os braços, o suficiente para abrir um botão do jaleco e deslizar os dedos na região abaixo do umbigo de Mu. – Por que não dispensou as calças também?
— É incrível como nem doente você desanima. – Mu deu um tabefe na mão atrevida e fechou o botão violado. – O que não significa que você está em condições. Então, as calças permanecem em mim e você toma seu chá.
— O quê?
— Você não acha, de verdade, que está em condições de se esforçar, acha?
— Talvez. – Aiolia deu de ombros. – Em todo caso, não precisa esfregar na minha cara. Como fica meu orgulho viril?
— Você precisa seguir as recomendações do seu médico para sarar, mocinho. – Mu apontou seu colarinho branco, piscando de forma despretensiosa.
Estava mais ou menos certo sobre sua resistência imunológica. Podia não adoecer com tanta frequência quanto Aiolia, mas, se adoecia, levava vários dias para se recuperar; ao oposto de Aiolia, que sarava quase que de um dia para o outro. E sem comprimidos nem xaropes, como fazia questão de pontuar com altivez cada vez que via Mu às voltas com diversos chás e remédios – naturais, na medida do possível.
Ou seja, não demoraria para Aiolia estar em perfeitas condições para tudo…
— Okaay, agora é a parte em que reúno a minha bravura para tomar este negócio de gosto horrendo que chamam de chá. – Devolveu o termômetro para Mu e respirou fundo. – A gente vê que o amor da pessoa está acabando assim, quando ela tortura a outra, que está à beira da morte, e nem sente remorso.
Mu lhe deu um selinho ligeiro, preferindo atentar-se ao termômetro, que marcava 38,5ºC, àquele drama.
Aiolia revirou os olhos, terminou de beber fazendo careta e voltou a se ajeitar sob as cobertas. Sua expressão deixava evidente o quanto se sentia péssimo.
— Oh, meu pobre bebê dodói. – Mu acariciou a nuca dele.
— Aff, não me cham-…
Aiolia se calou. Algo incomum, visto que não deixava de protestar quando Mu aludia ao fato de que ele era o mais novo entre os dois.
— Pensando bem… – Aiolia coçou o queixo. – Venha me encher de carinhos e me esquentar, estou com taaanto frio.
Espertinho. Mu sorriu, jogando os cabelos para trás, e analisou a cama. Acabaria passando mal debaixo de tantas cobertas. O inverno não chegara àquele ponto. Experimentou deitar sobre elas e abraçar Aiolia.
Não funcionou. Ele resmungou que não tinha que ter nada entre eles. Acabaram chegando a um acordo apenas ao convencê-lo a deixar que abrisse as janelas e a ficar somente com o edredom, prometendo aquecê-lo com seu calor corporal.
Em instantes, Aiolia adormeceu, guiado pela febre e pelas carícias de Mu. Com um suspiro, Mu aninhou-se no tórax dele e acabou por adormecer também.
No final, até que Aiolia não estava dando tanto trabalho quanto de costume. Impressionante.
As horas foram passando entre idas e vindas dos braços de Morfeu. De tempos em tempos, Aiolia acordava – quando a febre baixava – reclamando das dores, das tosses e do fato de estar assando sob o edredom. Aí, ele o chutava para fora da cama. Entretanto, não demorava a reclamar do fato de estar congelando por ter se descoberto.
Apesar de ter um pouco de fome, não conseguia comer nada do que Mu oferecia; até os aromas suaves provocavam náuseas. Quando a febre aumentava, ele dormia, fazendo questão de ter Mu nos braços.
Às vezes, Aiolia delirava, fazendo perguntas filosóficas – Onde estou? Quem sou eu? De onde saiu esse monte de cabelo comprido? – e caía no sono outra vez.
O difícil era que Aiolia continuava a ser inquieto. Nas raras vezes em que acordou um pouquinho melhor, ele já quis se levantar e flanar pela casa. Mu o seguia dando advertências. Afinal, como iria carregá-lo de volta para a cama se ele desmaiasse de repente? Além disso, começara a chover. Se Aiolia inventasse de sair para o quintal ninguém poderia detê-lo – porque, sim, ele perdia o juízo ao ficar cismado com algo.
Com sua paciência usual, Mu dedicou-se à situação com praticidade. Era tão cansativo que, quase no final da tarde, ele apagou e, pela primeira vez, continuou assim quando Aiolia acordou quase sem febre.
— Mu? – sussurrou, tendo que se erguer num cotovelo para observá-lo, visto que ele se mantinha de costas para si e preso em seu abraço.
Tomara que o convencesse a usar aquele traje de novo. Mu estava perfeito. Isto é, Mu era perfeito. Aiolia afastou algumas mechas que cobriam o pescoço de seu médico, depositando beijos naquela região.
Mu estremeceu em seu sono, sem chegar a acordar. Aiolia abriu alguns botões e alcançou a pele macia dele, subindo os dedos devagar pelo tórax, descendo com languidez pelo abdômen… Mu estremeceu pela segunda vez. Aiolia não resistiu e lhe deu uma chupada nada delicada na garganta.
— Aw!
Alheio, Aiolia invadiu as calças de Mu e acomodou a mão na virilha dele.
— Hey, o que você…?
— Oh-owh… – Aiolia parou e enterrou o rosto no pescoço de Mu. – Agh, maldita tontura.
— Aiolia!
Pelo timbre indignado, Mu tinha constatado que seu corpo se pressionava contra o dele com uma disposição enorme.
— Você não tem jeito.
Soltando um risinho breve e fraco, Aiolia levou a cabeça de encontro ao travesseiro.
— E essa mão vai ficar aí, é?
— Vai, porque essa é uma parte superquente do seu corpo.
— Boa tentativa.
Sem a menor piedade, Mu tirou sua mão dali, ignorando suas reclamações. Depois, se virou na cama até ficarem de frente.
— Não me provoque nesse estado.
— Caramba, como é duro ser eu.
— Deu para sentir. E ainda diz que está morrendo.
— Exato. Pode ser nossa última chance de…
— Você é inacreditável.
Mesmo na escuridão cada vez maior pelo avanço das horas, Mu deve ter conseguido ver o sorrisinho para lá de culpado que deixou escapar, pois estreitou os olhos em desconfiança.
— Obrigado, Mu.
— Pelo quê? – sussurrou, enrolando uma mecha do cabelo de Aiolia entre os dedos.
— Cuidar de mim, usar essa roupa e tal. Por tudo.
— Até pelo chá?
De olhos fechados, Aiolia franziu as sobrancelhas. Sim, até pelo bendito chá.
— Mas só porque eu sei que você fez pensando no meu bem.
Mu pressionou os lábios sobre os seus num beijo que foi logo interrompido. Aiolia teve que se virar para tossir. Droga, era tão frustrante.
— Agora que me ocorreu um detalhe… – disse Mu, após a tosse acalmar. – E se eu me contagiar e ficar doente também?
Aiolia piscou e garantiu:
— Eu vou cuidar de você, é claro.
N/A: Eu venho pensando na ideia dessa fic desde o final do ano passado. Bem, nasceu finalmente graças à inspiração por ter andado doente e pela Cissy, que fez anos. Espero que ela tenha gostado '-'
Como me saí? Reviews? :3
