Eu estava nua.

Essa é a segunda vez que um youkai resolve que me deixar nua é parte do processo de conclusão do plano maligno dele.

Essa também é a segunda vez que Inuyasha me vê pelada (sem contar um incidente ou dois durante o banho, claro).

E a segunda vez que ele vêm me salvar na forma humana...

Estamos sozinhos, eu e ele, Inuyasha está andando a minha frente, sem camisa, com as bandagens que eu tinha feito mais cedo, antes de anoitecer. Ele está tenso, olhando em volta sem parar, com a tesusaiga na sua forma velha e enferrujada na mão. Ele me deu a capa de rato de fogo dele, e não olhou para trás, nenhuma vez.

Eu estou morrendo de frio, mas estou sendo o mais silenciosa possível para Inuyasha não notar. Já temos problemas demais.

No momento, estávamos andando pela floresta escura, sozinhos. Eu consegui convencer Inuyasha fugir, e deixamos Sango e Miroku cuidando do youkai. Eu não sei onde Shippou e o velho Myouga foram. Estavamos completamente sozinhos.

Eu olhei em volta e.. Nada. Estavamos em uma clareira, as árvores distantes alguns metros de nós. Tudo que tinha a nossa volta eram flores pequenas flores amarelas e acima, muitas estrelas.

Do nada, Inuyasha parou. Foi ai que eu percebi que ele estava ofegante, muito ofegante.

- Inuyasha.. Você está bem? - Eu perguntei, preocupada.

Ele balançou a cabeça e eu já me preparei mentalmente para a patada que ia levar ("estou garota estúpida"), mas ela não veio. Sem olhar para mim, Inuyasha só deitou no chão, de barriga pra cima, olhos fechados e respirando com força.

Eu me abaixei rapidamente ao lado dele. – Ai meu Deus, você está bem? – Eu perguntei de novo, desesperada para ajuda-lo.

- Vou ficar. Só vamos ficar aqui um pouco. – Ele respondeu ofegante.

Sem arco, sem flecha, Inuyasha na forma humana, com uma tesusaiga enferrujada, no meio de uma floresta escura. Estavamos na pior situação possível.

Eu afastei esses pensamentos da minha cabeça e deitei ao lado do Inuyasha humano. Eu sabia que ele não ia dormir, e eu também não ia. Eu queria ir procurar por água, ou ervas medicinais, mas não podíamos nos perder, então, em vez disso, eu só virei de lado e fiz carinho na testa dele.

Ele olhou para mim, confuso, e eu só respondi – Desculpe, estou tentando ajudar. Te incomodo? – Eu fiz que ia tirar a mão, mas ele estendeu a dele e a segurou ali.

"continua, por favor" Ele murmurou.

Eu sorri de levinho e continuei fazendo carinho nele, enquanto esperava a respiração dele voltar ao normal.

Depois de algum tempo, eu vi que a respiração dele voltou ao normal, e ele ficou quieto, mas os olhos dele se puseram a varrer o nosso entorno.

- Melhorou? – Eu perguntei, tensa.

- A dor passou comigo deitado. – Ele disse, virando para me olhar. – Eu odeio ser mortal. Tudo dói mais, fica mais sensível, mais pesado, mais lento. Não sei como você consegue.

Eu dei uma risadinha, deitando minha cabeça na relva. – Bom, eu não conheço nenhuma outra vida. – eu tirei minha mão da testa dele e a apoiei em cima das bandagens. – Sinto muito não poder trocar nada agora, gostaria de ter meus suprimentos comigo.

- hunf, besta. – ele respondeu, sem me olhar. – Você já faz tanta coisa e ainda quer fazer mais, tão besta. – Enquanto ele dizia isso, ele levantou a própria mão e pegou a minha.

Eu me senti corar.. Inuyasha e seu jeito irritante, eu pensei. Me dizendo algo fofo do jeito mais mal educado possível. Sem saber o que fazer, eu tirei minha mão da dele e virei para o outro lado.

Senti ele me olhando, mas não virei, sem saber o que fazer.

Que saco, por que o Inuyasha não podia ser mais fofo? Por que ele não podia demonstrar mais que me amava? Ele sempre tinha que ser tão grosso?

Sempre fazia de tudo para me proteger, me carregava onde quer que fosse, mas era absolutamente incapaz de falar uma palavra gentil... Ou de tentar me beijar.

De repente, eu fiquei com raiva.

O que eu precisava fazer para esse idiota me notar?

Eu acordei de repente.

Eu levantei assustada, desorientada por ter dormido sem perceber e... Nada. Não havia nada em volta.

- Qual o seu problema? – Eu ouvi.

Quando virei pra trás, Inuyasha ainda estava deitado na mesma posição de antes, agora me olhando com uma sobrancelha erguida. A expressão dele era uma mistura de irritação e preocupação.

Eu me virei para falar que não era nada e.. Inuyasha corou como carvão na brasa e virou para o o lado, se recusando a me olhar.

Eu levei um minuto para entender o que houve.

Minha única roupa, no momento, era a pele de rato de fogo vermelha, e ela tinha meio aberto enquanto eu dormia, quando eu virei de lado ela abriu completamente na frente.

OPS.

Eu limpei a garganta e me deitei de novo, arrumando a pele de rato de fogo e com mais vergonha que nunca.

"Eu gostaria que ele tivesse ficado olhando fixamente." Eu pensei, surpresa comigo mesma.

Que droga, por que Inuyasha não me dava atenção.

Até que eu me toquei: Se ele tinha ficado tão vermelho, é porque ele tinha gostado do que ele viu.

Meus peitos eram super bonitos, poxa.

Acho.

Deitada olhando as estrelas, eu, inconscientemente, comecei a abrir a roupa pele de rato de fogo, sem Inuyasha perceber. "agora ou nunca" pensei.

Eu abri o casaco, silenciosamente, e então, me levantei e me inclinei sobre Inuyasha, tomando o cuidado de não colocar meu peso nele, enquanto o casaco de pele de rato de fogo escorria pelos meus ombros.

- oi. – Eu disse.

Ele só olhou para mim, em choque. Eu vi a boca dele abrir e fechar, e pude ver os olhos dele se esforçando para não olhar para baixo.

- O lobo comeu a sua língua? – Brinquei.

- Ka.. Ka.. Kagome, o que você está fazendo? – Ele finalmente perguntou, surpreso.

- Inuyasha.. – Eu comecei, minha mágoa transparecendo na minha voz. – Por que você não me dá atenção?

- Como assim não te dou atenção? Eu te dou tanta atenção quanto eu dou a qualquer outra pessoa.

- Mas eu não sou qualquer outra pessoa. – Eu disse, me abaixando, chegando mais perto.

Ele, de repente, me olhou sério. – Não, não é mesmo.

- Então por que você não me dá atenção, Inuyasha? – Eu perguntei de novo, dessa vez, eu sei que ele sabia do que eu estava falando.

Ele pensou um pouco antes de responder, os olhos dele fixos nos meus. Ele estava levemente ofegante agora, mas não de dor. – Porque eu nunca achei que tinha... permissão para isso. – Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele continuou. – Eu não sou Miroku, sabe? Eu respeito as mulheres.

Eu saí um pouco de cima dele, ainda descoberta. Surpresa.

Na verdade, essa tinha sido uma resposta muito fofa.

- e se eu disser.. – Comecei, hesitante. – E se eu disser que estou te dando permissão agora?

Ele deu uma risada baixa que fez meus olhos se encherem de lágrimas.

- A ideia de fazer sexo comigo te faz rir? Como você pode ser tão cruel? – Eu perguntei, meio alto, com os olhos marejados.

Ele me olhou, assustado, e se sentou, com uma gemido de dor.

O som me fez parar na hora. – Não se sente! Você pode abrir os ferimentos de novo.

Ele me lançou um olhar sarcástico. – Então, você não quer que eu me sente, mas você quer que eu transe com você. Você sabe que sexo envolve um pouco de movimento, certo?

A fala sarcástica dele me fez corar e dar uma risadinha nervosa. Eu levantei a mão atrás da cabeça enquanto ria.

Inuyasha, de repente, ficou vermelho como uma lagosta enquanto me olhava, e se deitou rapidamente. – Pelo amor de Deus, mulher, que hora você escolheu para me seduzir.

Ops, de novo.

Eu abaixei os braços e parei de rir, mas não me cobri. Em vez disso, eu deitei colada no braço esquerdo de Inuyasha. – Desculpe, mas pareceu a ocasião perfeita.

Ele me lançou outro olhar sarcástico, eu quase podia ouvir ele se perguntando se eu era mesmo louca, mas não disse nada. Ele só estendeu o braço direito (o esquerdo estava preso) e cobriu minhas costas com a pele de rato de fogo.

Confortavelmente instalada, quentinha, abraçando o braço de Inuyasha e com a minha cabeça deitada no espaço entre o ombro e o queixo dele, eu dormi de novo.

Eu acordei com o sol, recém-nascido, batendo nos meus olhos.

Inuyasha não estava mais do meu lado, eu estava sozinha na relva, minha nudez coberta pela pele de rato de fogo. Eu me sentei, segurando a pele vermelha para me cobrir e olhei em volta, procurando por cabelos prateados e uma calça vermelha.

Nervosa por estar sozinha, eu me levantei e voltei a me amarrar na pele de rato de fogo, fazendo o vestido que eu estava usando na noite anterior.

- Inuyasha, cadê você? – Eu chamei, lutando para amarrar as mangas atrás da minha cintura.

Como mágica, um borrão prateado e vermelho apareceu na relva.

Em um salto, Inuyasha reapareceu bem na minha frente, Tesusaiga transformada em uma mão, e na outra, um pequeno buquê de florzinhas amarelas.

Um buquê de flores. Amarelas.

- Precisa de ajuda? – Ele perguntou.

Eu fiz que não com a cabeça e terminei de amarrar as mangas nas costas. - Tudo certo. – eu disse.

Ele balançou a cabeça em concordância, e parou na minha frente. Ele guardou a tesusaiga e ficou olhando para baixo, como se esperando eu fazer alguma coisa.

Eu só fiquei olhando o buquê o flores, até que não aguentei mais. – Inu, essas flores...

Ele só levantou o braço estendido, enfiando as flores no meu nariz. – PRA VOCÊ, É CLARO. – Ele meio falou, meio gritou, nervoso, envergonhado.

Largou as flores na minha mão e deu um pulo para longe.

Eu dei um pequeno sorriso, já acostumada com o jeito estranho de Inuyasha demonstrar afeto e andei na direção dele.

- Amei as flores, Inu. – Eu disse, o mais carinhosamente que eu consegui, quando cheguei perto dele.

Ele nada disse, só sorriu de leve e virou de costas e começou a andar.

Eu andei atrás dele durante alguns minutos, quando ele, do nada, parou e virou de costas, me olhando muito sério.

- Kagome, você é virgem, não é? - Ele perguntou.

Eu corei como nunca corei na vida. – Eu.. Eu.. Por que você quer saber?

- Porque eu quero.

- TÁ, sou sim, por que?

Ele me olhou por algum tempo, me deixando cada vez mais nervosa, antes de dizer:

- Me dê permissão, novamente, na próxima lua nova.

Virou de costas e voltou a andar.