l'enfer du froid
(Inferno frio)
Itens: -Cadáver – Violino – Dança [bônus 0,1] – Tocha apagada.
Tema: Inverno
Linha de inspiração:
Eu não consigo sentir meus sentidos
Eu apenas sinto o frio (Frozen – Within Temptation)
Fanfic escrita para o I Challenge "Estações" - FFHP.
Ele era apenas mais um rosto a vagar pela neve, onde, ao que parecia, muitos anos haviam se passado desde que toda a brancura que se estendia a sua frente deixara de ser uma cidade. Talvez, se prestasse bastante atenção, poder-se-ia ouvir o eco dos sorrisos gargalhados que outrora habitaram aquele terreno.
Ele era apenas mais um rosto a vagar pela neve, e nada mais. Uma face carregada de remorso, contorcida na eterna tortura de seus infortúnios passados.
E então, enquanto distribuía lágrimas e pecados pela neve, Severus Snape escutou, tão claro quanto seus ouvidos eram capazes de distinguir, as notas inconfundíveis de um violino qualquer, numa ruela qualquer, tocado por um andarilho qualquer, aquela canção, que só a ela pertencia.
Suas pegadas estancaram. Ele fechou os olhos.
Era capaz de vê-la dançando exatamente como gostava de se lembrar, com seu vestido esvoaçando a adornar-lhe as pernas, aplicadas em passos tão perfeitos: Sua Lily. Seus olhos tão absolutamente verdes, de um brilho tão singular, seu sorriso tão lindo, que jamais seria contemplado por mais ninguém... A personificação de um anjo, a irradiar luz.
Mesmo sob os flocos de neve que caíam pouco a pouco sobre seus ombros nus, a moça não parecia sentir frio. Ela apenas sorria, com seus cabelos vermelhos como sangue, como fogo, diante de toda a cruel brancura que se revelava ao cenário.
Ele queria tocá-la, senti-la em sua pele alva e o aroma adocicado. Queria sentir mais uma vez o sangue correndo em suas veias.
Mas não havia sangue.
Havia apenas frio. O frio da morte, o frio do inverno.
Snape tentou olhá-la nos olhos, mas eles agora eram opacos e vazios, e cobrindo-lhe o corpo havia apenas trapos. Seus cabelos, como tochas, haviam se apagado.
A moça não mais dançava.
Ela não mais dançaria.
música parou, trazendo-o de volta ao seu inferno, lembrando-o de seus erros.
Lily Evans estava morta.
Ele era o culpado.
E então, mais uma vez aquela rua se encheu de som, o grito desesperado de um homem cujo destino o havia condenado.
Ou talvez o grito costumeiro de um pobre coitado morador do número 7, um louco atormentado por invernos passados, que sempre sentiria o frio do remorso.
