Título: One, two, three.
Autora: Lisi B.
Fandom: Supernatural
Ship: Dean/Sam; Dean/Castiel
Gênero: Agnst
Censura: PG
Sinopse: Umdoistrês, seja forte. Faça isso por ele.
Avisos: Continuação de Cordas . Fic pós apocalipse.
Um, dois, três e você vai mover seu braço, Dean pensou pela milésima vez.
Pela milésima vez só naquele dia. E ele repetia aquilo há tanto tempo.
Você consegue.
Mas ele não conseguiu, da mesma forma que não havia conseguido no dia anterior, nem no dia antes daquele. Nem em todos os outros dias desde que o Apocalipse acabou.
Tente mais uma vez, ele tentou erguer o braço direito, mas sentiu que havia cordas o segurando na cama com toda a força do mundo.
Viu pelo canto do olho uma enfermeira loira entrar no quadro e checar os aparelhos que estavam ao lado dele.
- Como vamos hoje, Dean? – Perguntou em sua típica voz doce.
Arrumou o lençol sob o corpo dele, não esperando uma resposta que ambos sabiam que nunca viria.
Fechou os olhos, um dos únicos movimentos que ainda tinha, e desejou poder responder. Desejou com tanta força, que na sua cabeça, ele imaginou que tinha conseguido murmurar um "eu estou péssimo, e você?", mas foi apenas ilusão. Tudo era apenas ilusão.
Talvez o hospital luxuoso não fosse, nem as enfermeiras simpáticas. E talvez as visitas de Castiel também não fossem.
E talvez ele estivesse com sono e cansado de tanto pensar em se mover.
Mal tinha fechado os olhos e estava em um quarto de motel barato, o teto era bege. Percebeu que estava deitado, mas que dessa vez não existia nenhuma corda o mantendo daquele jeito, então em um movimento rápido se levantou, sentindo falta – mesmo que em sonho – de poder se mover.
- Eu posso me tornar rancoroso qualquer dia desses, e então nem mesmo em sonho você vai poder se mover. – Castiel disse lentamente.
Dean se virou e deu de cara com o anjo, que tinha a expressão fechada.
- No dia que fizer isso, aproveite e coloque Zach no mesmo sonho, então eu vou poder chamar de pesadelo. – Retrucou, dando passos longos para longe do outro.
Soltou um longo suspiro e se perguntou por que diabos tinha achado que algumas semanas sem suas visitas fariam Dean mudar de idéia.
- Um ano, Dean. Hoje completa um ano. – Declarou, sua voz profunda e pesada.
Deu um soco na parede e ficou feliz em sentir dor. Não se sente dor em sonhos. Mas talvez em um sonho com um anjo, um sonho que era praticamente realidade, qualquer coisa fosse possível.
- Um ano, Cas! – Outro soco. – Um ano deitado em um hospital, sem poder me mexer – Outro soco, e os ossos da sua mão começaram a doer. – Um ano desde que eu disse sim pro imbecil do seu irmão!
Baixou os olhos, olhando para o chão enquanto Dean continuava soqueando a parede. Castiel se perguntou quando que poderia visitar Dean sem que eles brigassem; se perguntou quando Dean iria aceitar ajuda.
- Você só precisa dizer sim de novo e tudo acaba, Dean. – Murmurou muito calmamente, se aproximando dele. – Apenas outro sim.
Tocou o ombro dele, no que Dean se moveu e pegou a mão de Castiel com força.
- Eu não sou um cachorrinho que abana o rabo ao ouvir que o Papai o aceitou de volta em casa. – Falou com os olhos semicerrados, brilhando de raiva.
Puxou sua mão para si.
- Você é exatamente esse cachorrinho, Dean. Porque se fosse o seu pai, você também teria ido correndo. – Castiel cansou de ser calmo e compreensivo com Dean.
Empurrou Castiel com força contra a parede que antes ele dava socos. Gostou de ter força e movimento.
- O meu pai não teria deixado acontecer o que aconteceu com o meu irmão.
Suas mãos estavam no colarinho da camisa de Castiel, o segurando com força contra a parede, sem ser impedido pelo anjo.
- Nós não vamos entrar novamente nessa discussão, Dean. – Cortou, um pouco ressentido. – Você tem um lugar no paraíso. Você disse sim para o anjo certo e você acabou com o Apocalipse.
Colocou suas mãos sob as de Dean e quase perdeu a linha de pensamento com o toque que, agora percebia, ele sentiu falta.
- É a você que devemos alguma coisa, não a Sam. – Com sua força sobrehumana, ele afastou as mãos de Dean com facilidade.
Deu as costas a Dean, fazendo menção de se afastar, no que o outro o empurrou novamente. Parte com a sua raiva habitual, parte com a raiva que acumulara pelos dias que Castiel havia sumido.
- Você deixou que ele dissesse sim, Cas. – Falou após empurrá-lo, e encostou as costas na parede.
Precisava de um apoio, precisava de qualquer coisa que o tirasse da realidade – ou do sonho que se encontrava, tanto faz.
- Você também teve culpa nisso, Dean. Você sabe disso e é por isso que continua aqui. Por isso que não aceita a nossa ajuda.
Uma lágrima ameaçou cair pelo rosto de Dean e ele franziu os lábios.
- Não foi isso que aconteceu.
- Você o soltou, Dean. Isso que aconteceu. – Tentou evitar, mas quando viu estava ao lado dele, sentindo-se pequeno por não poder ajudá-lo da forma que ele queria.
Balançou a cabeça, dizendo a si mesmo que Sam não tinha dito sim por esse motivo.
- Ele só queria que tudo acabasse. – Balançou a cabeça novamente. – Não foi por mal.
- Nada foi por mal, Dean. Foram apenas conseqüências maiores do que todos nós-
Fechou as mãos em punho e interrompeu o anjo.
- Não fale como se fosse o destino. – Disse com nojo. – Só...não fale como os seus irmãos.
Ficou em silêncio alguns segundos, tentando achar palavras que fizessem Dean entender.
- Você estava ligado a Sam – Castiel começou – como se alguma coisa prendesse vocês um no outro. Você não pode me culpar por também ter uma ligação com os meus irmãos.
Dean o ignorou e andou para longe dele. De novo.
Andou de um lado para o outro do quarto, sentindo suas pernas se movendo como nunca mais se moveriam.
- Eu gostaria que você estivesse lá, Dean. – Castiel ensaiou um sorriso e voltou a se aproximar do outro. – Sua mãe gostaria que você estivesse lá.
Virou o rosto para Castiel, e teve uma vontade incontrolável de abrir os olhos e simplesmente poder dar adeus a ele.
Um, dois, três e você vai abrir os olhos, mas nada aconteceu. Porque nem em sonho ele podia comandar alguma coisa.
- Não venha com essa pra cima de mim, Cas. – Avisou, balançando a cabeça de um lado para o outro para se convencer de que rever sua mãe não valia a pena. – Sam não está lá.
Novamente o anjo tocou o ombro de Dean, querendo mais do que tudo convencê-lo do que era certo.
- Você nunca vai se mover novamente, Dean. Nunca. Deixe de ser teimoso e aceite isso.
Dessa vez Dean estava distraído demais pensando em uma resposta para afastar-se do toque dele.
- Não. Eu sei que eu vou conseguir, Cas. – Respirou fundo. – Se eu tentar com força o suficiente, eu vou conseguir. Pode demorar anos, mas eu vou.
Subiu o toque do ombro para o pescoço dele, e se aproximou lentamente, se aproveitando do olhar convicto e sonhador de Dean.
- Venha comigo, Dean. – Fechou os olhos brevemente. – Você é provavelmente a única pessoa que recusa o paraíso toda vez que ele lhe é oferecido.
Dean também fechou os olhos e respirou fundo, deixando com que Castiel se aproximasse um pouco mais, e então o anjo tinha seus lábios próximos do seu ouvido.
- É o paraíso, Dean. Tem tudo o que você já quis. – Acabou de falar e começou a aproximar seus lábios dos de Dean, em um ato que ele não conseguia impedir.
As palavras foram como um choque contra a sua pele, e Dean afastou o rosto.
- Você pode levar Sam pra lá, não pode? – Pediu, e seus olhos brilharam momentaneamente.
Os ombros de Castiel murcharam. Era sempre sobre isso.
- Nós já conversamos sobre isso, Dean.
Colocou suas mãos no rosto de Castiel, formando uma concha em suas bochechas e o encarando profundamente.
- Aparentemente vocês têm uma vaga sobrando, já que estão insistindo tanto para eu aceitá-la. Dê para Sam. Por favor, Cas.
Postou as mãos sob as de Dean e as apertou com força.
- Ele fez a sua escolha. O Senhor é justo, Dean. A vaga é sua.
Tirou as mãos do rosto de Castiel.
- Então ponha-a à venda, pois eu não quero.
Murmurou um "Deus" quase inaudível e se perguntou por que ainda perdia seu tempo tendo essas conversas com Dean. Ainda que soubesse que a resposta era simples.
- Você sabe que um dia vai ter que aceitá-la, não sabe? Nem que você morra de velhice, acabado em uma cama. Um dia você vai morrer, e é pra lá que você vai ir. Então só me diga, pelo amor de Deus, o motivo de você continuar aqui.
Olhou para o chão, pensando nas palavras de Castiel e ignorando sua pergunta.
- Eu gostaria de poder acordar agora, Cas. – Murmurou um longo tempo depois.
Ergueu as sobrancelhas.
- Achei que você gostasse desses sonhos. Do movimento.
Deu os ombros e soltou um "Nah". Pensou em talvez se despedir de Castiel, porque talvez essa fosse sua última visita.
- Só me responda, Dean. – Pediu, e o outro sabia que este seria o preço que teria que pagar para poder acordar.
Olhou fixamente para os olhos de Castiel, se perguntando por que a corda que antes os amarrava agora parecia fraca e inexistente. Seria mais fácil se ela ainda existisse, seria mais fácil se fosse por Castiel que ele quisesse se mover.
- Porque ele, quando morrer, vai ir pro inferno, Cas. – Respondeu, e seus olhos brilharam. – Mas enquanto ainda existir uma chance de eu me mover, por menor que seja, eu não vou desistir.
Massageou as têmporas com a ponta dos dedos.
- Ele é mais forte que eu, eu sei que ele está tentando também. E então nós vamos nos recuperar. E nem que seja daqui dez anos, nós ainda vamos ter tempo.
Castiel quis dizer que nenhum dos dois nunca voltaria a se mover, porque era impossível ser um receptáculo de um poderoso anjo, e ainda assim ficar com o corpo intacto. Mas então Castiel percebeu que aquilo era o que mantinha Dean, era o que mantinha a sua força.
A esperança de que talvez, um dia, eles pudessem ser Sam e Dean novamente. E Castiel se deu conta de que esperança era um sentimento tão atípico de Dean, que apenas o desespero poderia ter feito com que ele chegasse a esse ponto. Então Castiel percebeu o quão importante aquilo era para ele.
E, por Castiel ainda manter a corda de Dean amarrada em seu pulso, ele não pôde tirar isso do outro. Porque era a única coisa que ele ainda tinha.
O quarto ficou embaçado e Dean ouviu novamente a voz da enfermeira, que provavelmente agora estava iniciando suas tarefas no companheiro de quarto dele.
- Como vai, Sam? – Ela perguntou, no mesmo tom que usava com ele.
Abriu os olhos e percebeu que ela havia mudado sua cama de posição, e agora ele podia ver a outra cama.
Mexa a cabeça. Fale. Mexa a mão. Só um dedo, não é tão difícil, pensou, implorando para conseguir dar qualquer sinal de que sua mente continuava em seu corpo.
Viu os olhos de Sam se abrirem lentamente, e ele parecia concentrado em alguma coisa. A enfermeira sorriu para ele e abaixou-se, movendo o pé da cama dele e então moveu sua cama também, de modo que os dois pudessem se olhar. Porém seu corpo ainda atrapalhava o campo de visão.
- Essa é a hora do dia em que eu mais gosto de vocês. – Ela comentou feliz, acostumada a falar sozinha quando estava com eles.
Tocou no cabelo de Sam, afastando-o dos seus olhos, e causando inveja a Dean. Inveja do toque.
- Olhos brilhando, olhares profundos. – Continuou. – Bem no fundo vocês ainda estão aí, não?
Afastou-se e andou até a janela para abrir a cortina. E então, sem o corpo dela para impedi-lo, Dean pôde olhar nos olhos de Sam. Piscou lentamente, no que seu irmão fez o mesmo, e ele sentiu que sim, valia a pena recusar o paraíso se fosse para saber que seu irmão continuava ali.
Um, dois, três. Se mova, Dean. Seja forte.
Implorou mentalmente e repetiu aquele mantra algumas vezes, sentindo que talvez a intensidade do olhar de Sam o ajudasse.
Qualquer movimento, qualquer um. Por favor, murmurou mentalmente, concentrando o olhar em Sam.
Lentamente, ele viu o canto dos lábios de Sam se curvar, e antes que se desse conta, seu irmão sorriu. Piscou os olhos lentamente, querendo dizer que tinha visto aquilo, querendo dizer você conseguiu, Sam, sentindo seu coração triplicar de tamanho.
O sorriso não durou mais do que dois segundos, mas para Dean, valeu o ano inteiro que passou ali. Respirou fundo.
Umdoistrês, seja forte. Faça isso por ele.
Desconfortavelmente, sentiu suas sobrancelhas se erguendo de forma cômica, e viu nos olhos de Sam que se fosse possível, seu irmão estaria gargalhando. Da mesma forma que Sam, ele não conseguiu manter o movimento por muito tempo, mas foi o bastante. Porque foi um movimento. Mínimo e insignificante aos olhos dos médicos especialistas do hospital caro que os anjos os colocaram, mas enorme para os dois.
Ainda havia cordas segurando suas pernas e seus braços, mas agora Dean quase podia sentir uma corda voltando a ligá-lo a Sam.
(N/A): Eu não queria fazer essa fic u.u fiquei com a idéia uns três dias na cabeça, até que finalmente ela me venceu e eu tive que escrever. E eu odiei o Castiel dessa fic. mas não sei, eu precisava dar um final pra Cordas. E levando em consideração minhas outras fics, esse é um final muito feliz.
Lisi B.
