Absurdo. O Príncipe Edward Anthony Cullen de San Montico não acredita em magia... ou no amor verdadeiro. Cada mulher que visita o reino deve colocar o anel, pois ele escolherá a noiva certa para o príncipe. Felizmente, não coube em ninguém. Isto é, até a herdeira americana propensa a acidentes, Isabella Swan colocar o anel!

CAPÍTULO 1

(POV EDWARD)

Sabe que ela ateou fogo à Casa Branca, Alteza? – sussurrou Jasper Whitlock.

Sua Alteza o príncipe Edward Anthony Cullen de San Montico observou a suposta piromaníaca, uma jovem com um rosto oval e uns olhos cor de chocolate que combinavam com seu vestido de corpete ajustado. Seu cabelo castanho brilhava sob a luz dos candelabros do grandioso vestíbulo enquanto saudava os altos dignitários com um sorriso.

–Quem é?

–Isabella Marie Swan, Alteza - respondeu Jasper.

Jasper sabia tudo sobre os convidados ao baile de aniversário do príncipe. Mas, como conselheiro real, esse era seu trabalho.

–Swan? A filha de Charles Swan, o multimilionário norte-americano?

–Sim, Alteza. Veio com o pai.

Edward suspirou. Conhecia bem as mimadas herdeiras norte-americanas; tinha estado comprometido com uma delas. Uma mulher mimada e caprichosa, cujo único interesse era acrescentar um título nobiliárquico à sua lista de posses.

–Disse a minha mãe que não convidasse a nenhum americano. Já sabe como são com a realeza.

–Sem dúvida sua mãe não teve remédio senão convidá-los Alteza, considerando a substanciosa doação que a família Swan fez à sua Fundação - murmurou Jasper -. E nem todas as mulheres americanas são iguais...

–É meu aniversário. Deveria ter sido consultado sobre a lista de convidados.

–A julgar pelas mulheres que vieram, eu diria que à rainha Esme não tem feito falta sua ajuda Alteza - sorriu Jasper–. E devo dizer que Isabella Swan parece uma princesa. É muito bonita e com seu dinheiro e suas conexões...

–É só uma herdeira americana.

–A lenda não proíbe que as herdeiras...

–A lenda, Jasper? -interrompeu-o o príncipe. Só escutar essa palavra já o punha doente. - Crê realmente que o anel real vai eleger a alguma destas mulheres, que encontrarei o verdadeiro amor e que San Montico prosperará com meu matrimônio?

–Sim, Alteza.

Ridículo. Era inteiramente ridículo que o sensato Jasper acreditasse na lenda do anel real. A magia não existia e, entretanto, os deveres para com sua pátria e sua família o atavam à aquela lenda. Se tivesse se casado...

A música de Debussy, interpretada por trinta músicos, chegava do salão de baile. Poderiam estar tocando um réquiem, para ele não faria diferença. Sabia o que o esperava e o temia.

As mulheres, vestidas com seus melhores ornamentos, sonhavam, experimentando o anel. Os homens, vestidos de smoking, esperavam para consolá-las quando comprovassem que ele não as elegia. Beijos no ar, brinde vazios, conversação frívola. Os convidados tinham menos substância que as borbulhas de suas taças de champanhe.

Nunca deveria ter aceitado tomar parte naquela farsa. Nunca. Deveria estar navegando, relaxando no iate real e bebendo sua cerveja favorita. Se não fosse pela lenda...

A lenda.

Edward não queria saber nada dela. Não acreditava nela, como não acreditava na "dona Carochinha" ou no amor à primeira vista. Talvez há duzentos anos atrás as lendas tinham sentido, mas não no século XXI.

Tinha que converter San Montico em um país moderno, mas essa era uma tarefa difícil. Cada passo para o progresso era uma batalha para o príncipe. Quanto mais esforço fazia para modernizar o país, mais resistiam os cidadãos em aceitar as mudanças. A gente da ilha se aferrava a suas velhas tradições e mitos como se sua vida dependesse disso.

Edward não tinha demorado muito em dar-se conta de que os antiquados costumes, como a lenda do anel, que era tão querida para os habitantes de San Montico, impediam o progresso.

Mas, uma vez que provasse que não passava de uma lenda, a ilha poderia dar um salto gigante para a modernização. Era o melhor para seu país e o melhor para ele.

–A lenda é pura fantasia, Jasper, e lhe provarei isso. Assim que der meio dia, tudo isto irá terminar.

–Provavelmente será só o princípio Alteza. A lenda mostrou-se verdadeira em todas as outras ocasiões.

–A lenda se fez realidade porque meus ancestrais, incluindo meus próprios pais, escolheram que assim fosse. E eu não penso fazer isso. Por que não se casa e tira esta pressão de cima de mim?

Jasper suspirou.

–Alteza, já sabe que não posso me casar até que você o faça.

Outro estúpido costume. Seu estado civil não deveria ter nada que ver com o de seus conselheiros. Se Jasper não insistisse tanto em "cumprir com as tradições"...

–Por isso está desejando que eu me case.

–Minha única razão para isso é o bem-estar do país, Alteza. Precisa encontrar uma esposa.

–Estive tentando encontrá-la, Jasper - suspirou ele.

Para tentar salvar-se da lenda, tinha saído com dúzias de garotas e, até seis meses atrás, acreditava ter encontrado a mulher de sua vida. Mas tinha sido um tremendo engano. Desde então, encontrar uma esposa tinha sido uma odisséia, mas Richard não podia abrir seu coração a qualquer uma.

- Fui além do que o dever exige de mim. Isso deveria contar.

–Mas nenhum de seus esforços... teve êxito, Alteza. Continua solteiro e San Montico precisa de um herdeiro.

Edward estava cansado de escutar o que San Montico esperava dele. Sabia muito bem. Tinham lhe ensinado desde o dia em que nasceu.

–Posso ter um herdeiro sem me casar - murmurou, arrumando as luvas.

Jasper fez uma careta de horror.

–Alteza!

Provavelmente Edward se excedera dizendo aquilo, mas não tinha podido evitar. Todo mundo em San Montico, incluindo seus pais, esperavam que se casasse com uma das convidadas ao baile.

–Olhe os problemas que tiveram as outras Casas Reais, especialmente os Windsor. Um matrimônio de conveniência não assegura estabilidade e pode ser daninho para uma instituição tão antiquada.

–Está falando do matrimônio ou da monarquia, Alteza? - brincou Jasper, na verdade, tanto seu melhor amigo quanto conselheiro. Edward não pôde evitar um sorriso - Mas teremos que terminar esta discussão mais tarde. O senhor Swan e sua filha se aproximam.

Charles Swan, muito elegante em seu smoking, fez uma reverência ao chegar frente ao príncipe.

–Alteza, quero lhe apresentar a minha filha, Isabella.

Bonita, certamente, mas uma princesa, impossível. Seu rubor e o brilho de seus olhos lhe disseram que a jovem estava impressionada. O que podia esperar-se de uma norte-americana? Quando Edward decidisse casar-se, escolheria uma mulher que o visse como um homem, não como um príncipe. Mas, no momento, teve que sorrir forçadamente.

–É um prazer conhecer sua encantadora filha.

A jovem lhe fez uma reverência.

–Feliz aniversário, Beleza, digo Alteza.

Edward teve que fazer um esforço para não levantar os olhos ao céu.

–Obrigado, senhorita Swan - respondeu, beijando sua trêmula mão - Estou encantado de que tenha podido vir.

Quando soltou sua mão, ela deixou cair a bolsinha e Edward, amavelmente, inclinou-se para juntá-la do chão. Mas a jovem o fez ao mesmo tempo e acabaram por chocar as cabeças uma na outra. Só a afortunada intervenção do pai impediu que Bella caísse no chão.

–Não sabe como sinto - murmurou ela, tocando seu braço, um imperdoável erro de protocolo - Encontra-se bem Alteza?

Quanto antes se livrasse dela, melhor. Ignorando a dor que sentia na testa, o príncipe lhe entregou a bolsa.

–Perfeitamente.

Antes que Bella pudesse dizer ou fazer algo mais, seu pai a empurrou para fora da fila.

–Alteza, minha esposa lamenta não ter podido vir a sua festa de aniversário, mas tinha um compromisso urgente.

Edward assentiu, sem deixar de observar Isabella, que continuava saudando os dignitários de San Montico. Devia ser devido ao golpe na cabeça que a via rodeada de nuvenzinhas brancas, como um anjo. Mas certamente não o era. O príncipe esfregava a testa quando ela se voltou para mirá-lo e seus olhares se encontraram. Ao mesmo tempo, ela estendeu a mão para saudar a...

Não.

Edward teve que apertar os dentes para não gritar. A jovem Isabella Swan estava dando a mão a uma armadura e, com o puxão, arrancou-lhe o braço.

Nem sequer as batalhas mais sangrentas contra franceses e espanhóis tinham conseguido destroçar essa valiosa armadura e tinha que ser uma mulher, uma americana... Edward sentiu que sua pressão sangüínea aumentava. Bella tentou esconder o braço detrás de sua bolsa enquanto o pai dela murmurava algo que soava como uma desculpa.

O príncipe a aceitou com um sorriso forçado. Não era hora de perder a paciência. Era só um braço que tinha pertencido a sua família durante centenas de anos.

–Precisa de ajuda, senhorita Swan?

Ela levantou o braço, sorrindo.

–Parece que já me deram uma mão.

Ao menos, tinha senso de humor. E não tinha ateado fogo ao palácio. Ainda.

–Uma mão sempre é bem-vinda - disse o príncipe.

–O que devo fazer com... isto?

–Jasper, por favor, ajude a senhorita Swan.

–Sim, Alteza - disse ele, tentando conter o riso, e pegando o braço.

–Lamento muito havê-lo quebrado - desculpou-se ela.

–Não o quebrou -disse Jasper antes que Edward pudesse responder-. É que é... velho.

Como o resto das insubstituíveis obras de arte do palácio. Edward tinha sido prevenido sobre o incêndio na Casa Branca e não pensava permitir que o mesmo ocorresse ali. Assegurar-se-ia de que alguém afastasse aquela mulher de qualquer chaminé. Já ia ser uma noite muito longa sem a necessidade de pirotecnias.

****

(POV BELLA)

"Os Swan não se impressionam com nada. Os Swan não se impressionam com nada". Bella repetia mentalmente a frase que tantas vezes tinha ouvido em sua casa. Mas lhe custava não impressionar-se com nada aquela noite.

Estava boquiaberta. Sua família era muito rica, uma das mais ricas do mundo, mas nunca tinha visto tantas obras de arte; belíssimas antiguidades, telas dos grandes mestres, candelabros de bronze e cristais da Boêmia enchiam cada salão daquele palácio de conto de fadas. Mas nenhuma daquelas belezas podia comparar-se com a do príncipe.

Um só olhar tinha feito com que seu pulso se acelerasse e ouvisse sinos, embora tenha dado conta pouco depois de que era simplesmente o som das taças ao chocarem-se.

O príncipe conversava com um grupo de mulheres que bebiam cada uma de suas palavras e Bella ficou prudentemente afastada. Queria memorizar seus traços para fazer um desenho quando voltasse para hotel.

Certamente, era o Príncipe Encantado. Nada, nem sequer as tapeçarias penduradas nas paredes, nem as jóias das convidadas, podiam comparar-se com o príncipe Edward Anthony Cullen de San Montico em seu uniforme branco com botões dourados.

Nesse momento o príncipe sorriu. Um sorriso meio torto, e ela teve que tomar ar. Nenhum homem merecia ser tão bonito. Media quase um metro noventa e caminhava com ar real. Suas aristocráticas feições eram suavizadas por seus generosos lábios, uns cílios maravilhosos e uma covinha na bochecha esquerda. O contraste era... devastador. Com os olhos verdes de um tom que ela nunca havia visto igual, e os cabelos cor de bronze, meio desalinhado, o príncipe era o partido do século.

A lástima era ser um príncipe e ter cada um de seus movimentos seguido pela imprensa e pelo público. Embora Bella não importasse com isso essa noite. Era uma noite muito mágica para deixar que os paparazzi a arruinassem. Aquela noite se sentia como Cinderela e não ia se preocupar com o que dissessem dela os jornais.

Levantou os olhos para observar os belos afrescos pintados no teto. Quase podia cheirar as camadas de tinta e o suor do artista que os tinha criado séculos atrás.

–Está bem, senhorita Swan?

Ao voltar-se, encontrou o jovem que a tinha ajudado com o braço.

–Sim - respondeu, sorrindo.

–Sou Jasper Withlock, conselheiro do príncipe. Conhecemo-nos antes.

–Sim, é verdade - sorriu Bella, envergonhada.

–Já experimentou o anel? -perguntou o homem, assinalando um pedestal coberto de veludo negro sobre o qual brilhava um anel com um enorme diamante.

–Não - respondeu ela –. Que tipo de anel é?

–O anel de noivado da família real – respondeu Jasper, tomando a jóia. O enorme diamante rodeado de rubis e safiras brilhava com mil cores sob a luz dos candelabros – Todas as noivas da família real o usam.

–É uma peça de museu.

– Por favor, prove-o.

–Não acredito que seja boa idéia.

–Deve fazê-lo – insistiu Jasper – Todas as mulheres que vêm ao baile devem experimentar o anel. Por favor, senhorita Swan.

–E se me servir, ganho um prêmio ou algo parecido?

Jasper sorriu.

–Algo parecido.

Bella voltou a olhar o príncipe. Seria divertido provar o anel. Uma oportunidade única de sentir-se realmente como Cinderela.

–Ok.

Jasper tomou sua mão. Enquanto o conselheiro real o punha, Bella sentiu uma espécie de corrente elétrica que lhe subia pelo braço. Ajustava-se perfeitamente a seu dedo, como se tivesse sido feito para ela.

Algum dia, ela também teria seu próprio anel de noivado. Não tão espetacular, certamente. Bella sonhava com uma singela aliança de compromisso. E um homem que a amasse por si mesma e que quisesse as mesmas coisas que ela: filhos, cães, uma casinha com jardim. Uma vida normal.

Nada mais de imprensa, nada mais de fotos, nada mais de suposições sobre o que se passava em seu coração. Nada mais acordos de separação de bens redigidos por seus advogados para proteger uma herança que ela não queria.

–Sente-se bem, senhorita? – perguntou Jasper.

–Sim - respondeu ela, sentindo-se um pouco enjoada. Muito sol, muita champanhe, muito príncipe. O proverbial relógio acabava de dar as doze e era hora de Cinderela abandonar o baile - Obrigado por deixar que o experimentasse. É lindo.

Bella tentou puxar o anel, mas não conseguiu.

–Algo errado, senhorita Swan?

Bella tentou tirá-lo novamente, mas seus dedos se deslizavam sobre a elaborada jóia, sem êxito. O anel não se movia.

–Não posso tirar isso.

–Deixe-me tentar - se ofereceu Jasper, puxando o anel - Parece que não sai.

–Tenho que tirá-lo Se meu pai souber, me matará. E o príncipe... - Bella olhou o príncipe que, felizmente, estava muito concentrado na conversação com suas convidadas para dar-se conta do que estava acontecendo – Importa-se se eu for ao banheiro para tentar puxar isso?

Por alguma estranha razão, Jasper parecia estar felicíssimo.

–Não vai sair, senhorita Swan.

–Por favor, me deixe tentar!