Isto não está acontecendo!
Uma
mulher corria desesperadamente entre as grandes árvores
daquela floresta frente à sua casa, junto de sua única
filha. A mulher e a criança estavam de camisola branca quase
que iguais, porém muito sujas pela lama e rasgadas por
espinhos que tinham em alguns galhos de árvores. Suas
respirações estavam um tanto alteradas e seus pulmões
já doíam pela corrida. A menina seguia sua mãe
sem entender o motivo e por descuidado tropeçou numa raiz que
estava levantada do solo e caiu no chão. A mãe da
garota pegou-a no colo e voltou a correr recusando-se a olhar para
trás. Porém, um feixe de luz branca surgiu sobre suas
cabeças e ambas pararam de correr. A luz foi ficando cada vez
mais forte e as duas começaram a se desesperar.
- Por
favor, deixe-nos em paz! - gritava a mãe da garota - Por
favor!
- O que ta acontecendo mamãe? - gritava a garota
abraçando sua mãe com força.
A luz ficou mais
forte a ponto de cegar os olhos. As duas se abraçaram o mais
forte que podiam para ter certeza de que ficariam juntas. E,
repentinamente, a luz sumiu, e junto dela a pequena garota também.
A mulher ficou lá, paralisada, sem mexer um músculo
sequer. De repente, ela levou a mão à cabeça e
sentiu uma lágrima sair de seus olhos.
- ...Não...
- disse ela com a voz extremamente rouca enquanto sentou-se de
joelhos no chão. Ela tirou suas mãos da cabeça e
colocou-as no chão ao mesmo tempo em que inclinou sua cabeça
para cima - NÃÃÃO!
Era
manhã de uma quarta-feira e Sakura e Shaoran estavam numa
clínica com a finalidade de entrevistar uma mulher que,
durante a madrugada, teve uma certa visão e sua filha sumiu
misteriosamente.
Sakura acabara de ler os relatórios com
toda a atenção e virou-se para encarar seu parceiro.
Este último estava na recepção da clínica
conversando alegremente com a recepcionista. Sakura soltou um suspiro
e levou a mão à testa "Shaoran não pode ver
nenhuma mulher esbelta que já se sente o dono da casa."
Pensou consigo mesmo enquanto retirava sua mão da testa e
partiu em direção do balcão de recepção.
Enquanto se aproximava, escutava atentamente a "magnífica"
estória de seu companheiro:
- ...Aí nós fomos
até o ambulatório do colégio e fizemos uma
guerra de seringas. No dia seguinte todo mundo acordou com dor no
traseiro e...
- Com licença. - Disse Sakura cortando o
assunto de Shaoran pela metade enquanto lançou-lhe um olhar
fulminante. - Acho que já podemos conversar com a senhorita
Sonomi, não acha? Já se passaram os 15 minutos e temos
que investigar o local do ocorrido.
Shaoran olhou para Sakura com
um sorriso como quem dizia "Por que você cortou o meu
barato?" e balançou a cabeça afirmando o que
Sakura acabara de falar.
- Depois conversamos. - despediu-se da
recepcionista e essa sorriu em resposta.
Sakura pegou o braço
de Shaoran e puxou-o andando apressada.
- Ei, mas que diabos está
fazendo!
- Temos que resolver um caso, agente Li, e você
perde seu precioso tempo xavecando recepcionistas de clínicas!
Quando você vai melhorar heim?
Shaoran parou frente a Sakura
e segurou-a em seus braços.
- Ficou com ciúmes
foi?
- Você nunca me viu com ciúmes Shaoran.
-
Estou vendo agora, não estou?
- Não, não
está.
Voltaram a andar e Shaoran sorria como se estivesse
satisfeito. Passou um braço pelas costas de Sakura e apoiou
sua mão no ombro dela. Adorava vê-la com ciúmes,
parecia que ficava mais bonita enquanto está irritada. E ela
não reagiu ao toque de seu companheiro, deixou do jeito que
está. Sente-se segura nos braços de Shaoran embora
muitas vezes ele a decepciona.
Pararam frente a uma sala e ficaram
a observar uma mulher que questionava Sonomi. Ela levantou-se ao ver
que os agentes estavam prontos para entrar e dirigiu-se até a
porta.
- Vocês devem ser os agentes do FBI, não é?
Chamo-me Keiko Akimura - cumprimentou Sakura e Shaoran apertando-lhes
a mão - e sou formada em psicologia.
- Eu sou a agente
Sakura Kinomoto e este é meu parceiro, agente Shaoran Li.
Senhorita Keiko, o que você pode nos dizer sobre o caso de
Sonomi Daidoudji? - perguntou Sakura cruzando os braços.
Keiko
tornou a olhar para Sonomi através da janela de vidro da sala
e suspirou. Cruzou os braços da mesma maneira que Sakura e
encarou-a dando a resposta:
- Realmente é um caso muito
difícil de se explicar, agente Kinomoto. Ela não me
falou nada e ficava apenas escrevendo números num papel.
-
Podemos conversar com ela? - perguntou Shaoran.
- Claro, se vocês
conseguirem...
Shaoran olhou para Sakura e entrou na sala sendo
seguido por sua companheira. Esta última fechou a porta e
dirigiu-se até a mulher.
Do lado de fora, Keiko observava
tudo com olhos bastante curiosos.
Shaoran puxou uma cadeira e
sentou-se ao lado de Sonomi enquanto observava-a escrever uma
seqüência de números num papel inúmeras
vezes: 0092. Aquilo deixou Shaoran curioso, porém não
falou nada a respeito.
- Oi eu sou o agente Shaoran do FBI e
queria que você me respondesse algumas perguntas. Acha que pode
fazer isso?
Mas a mulher nada falou, nem se quer moveu seus olhos
para encarar os dois estranhos que estavam em sua presença.
-
É para o seu bem. - Disse Sakura aproximando-se de Sonomi e
apoiou sua mão sobre as mãos dela. Olhou para os
números escritos no papel e encarou-a novamente. - Deve estar
sentindo muita falta de sua filha. - porém, esta continuou a
ficar muda e não movia nenhum músculo sequer. - Eu
também ficaria assim caso minha filha sumisse, mas se eu não
falasse nada para ninguém, eu não teria a chance de
acha-la.
Sonomi levantou seus olhos e, pela primeira vez, encarou
Sakura profundamente.
- Você quer sua filha de volta, não
quer? - Mais uma vez Sakura perguntou enquanto deixava suas mãos
sobre as mãos de Sonomi. Esta continuou a ficar quieta, porém,
algumas lágrimas saíram de seus olhos e correram em seu
rosto.
- ...Não quero mais... - respondeu com a voz rouca
e tornou a ficar quieta.
Sakura encarou Shaoran extremamente
espantada com a única resposta daquela mulher. Insistiu em
encara-la por mais um tempo antes de fazer outra pergunta:
- Por
quê?
Shaoran levantou-se da cadeira e ajoelhou frente a
Sonomi.
- Está com medo de ver sua filha diferente do
normal, não é? - perguntou Shaoran com o rosto sério
enquanto observava a reação de Sonomi. Ela levantou
seus olhos encharcados pelas lágrimas e encarou Shaoran com um
certo espanto em seu olhar. - Pelo que li no seu relatório, o
seu marido sumiu a dois anos atrás pelo mesmo motivo descrito
e nunca mais apareceu.
Sonomi continuava a encarar Shaoran com a
boca semi-aberta até que algumas palavras resolveram sair:
-
Eu...tenho medo...
Sakura observava o diálogo dos dois
com muita dúvida. Sua cabeça não conseguia
entender mais nada do que estavam falando. Viu que Shaoran apoiou sua
mão na mão de Sonomi da mesma maneira que ela havia
feito minutos atrás.
- Eu sei o que sente, sei o medo que
corre dentro de você... Eu já passei pela mesma coisa e
perdi a minha irmã caçula, Sonomi. Preciso que você
me fale o que aconteceu para te ajudar a achar a sua filha e para eu
encontrar a minha irmã.
Sonomi e Sakura olhavam dignadas
para Shaoran. Trabalham juntos a sete anos e ele nunca contou nada
sobre o sumiço de sua irmã para Sakura. "Será
que é esse o verdadeiro motivo para Shaoran abrir essas
investigações?" pensou consigo própria e
ficou a espera de alguma reação de Sonomi.
Ela
encolheu suas pernas para perto de si e, com a testa apoiada nos
joelhos, falou:
- Eu estava jantando com Nadeshiko...quando as
luzes apagaram. Fui até a caixa de luz que fica próxima
da janela e vi uma imensa claridade vindo do céu...
Sakura
cruzou seus braços e desviou os olhos para a janela. Viu que a
psicóloga permanecia em pé e olhava curiosa para o
diálogo de Shaoran e Sonomi. Se bem que Sakura já
estava achando aquela estória uma besteira total. Mas
continuou a escutar atentamente...
- E o que foi que você
fez depois? - Perguntou Shaoran.
- Eu lembrei que o mesmo
aconteceu com o meu marido e não queria que levassem minha
filha ou eu própria. Depois eu peguei a mão de
Nadeshiko e fugimos de casa em direção da
floresta...
- E foi nesse momento que sua filha sumiu? -
Insistiu Shaoran.
Mais uma vez, Sonomi sentiu seus olhos encherem
de lágrimas porém tentou manter a calma e continuou a
falar com a voz trêmula:
- Ela tropeçou numa raiz de
árvore e, quando a peguei no colo, a luz estava sobre nossas
cabeças. E quando a luz desapareceu, Nadeshiko sumiu junto e
fiquei sozinha...
Sonomi abaixou sua cabeça e Shaoran
olhou para Sakura. Esta parecia um pouco constrangida com o fato
descrito por aquela mulher, mas achou melhor não falar nada em
sua presença.
- Senhorita Sonomi, eu prometo que vou achar
a sua filha. Não importa o tempo ou o lugar, mas vou acha-la.
- ele apertou a mão de Sonomi em sinal de segurança e
retirou-se da sala sem falar mais nada.
Sakura estranhou o gesto
de seu parceiro e, como ele, saiu da sala deixando Sonomi sozinha.
-
Como vocês conseguiram? - perguntou a psicóloga Keiko
indignada ao ver que Sonomi respondera todas as perguntas dos
agentes.
- Eu também quero saber. - respondeu Sakura com
passos apertados para alcançar Shaoran.
Saiu da clínica
e viu Shaoran entrando no carro. Apressou-se ainda mais para chegar
no carro a tempo.
- O que está fazendo? Ia me deixar
sozinha aqui?
- Claro que não, você sempre aparece
nas horas certas Sakura.
Shaoran apoiou sua mão na perna de
Sakura e olhou profundamente em seus olhos com um sorriso estampado
em seus lábios. Sakura retribuiu o sorriso mas não
esqueceu de expor sua dúvida.
- O que era aquilo que ela
estava escrevendo no papel?
- Não sei, mas creio que deve
ser algo importante.
- Um código?
- Talvez...
Sakura
suspirou e voltou a questionar Shaoran.
- Por que nunca me falou
sobre o desaparecimento de sua irmã?
Antes de responder a
essa pergunta, ele colocou suas mãos no volante e deu a
partida
- Para onde estamos indo?
- Nossa, qual pergunta você
quer que eu responda?
- Todas, mas me fale primeiro aonde estamos
indo.
- Para a casa de Sonomi. Quero tirar algumas conclusões.
-
Você acreditou naquela baboseira Shaoran? Acha mesmo que foram
os extraterrestres que raptaram a filha dela?
- Acredito pois o
mesmo aconteceu com a minha irmã. - Virou seu rosto para
encarar Sakura e viu que esta fazia o mesmo, como se quisesse escutar
a sua estória. - Bem, eu tinha 12 anos e ela 8. Dormíamos
no mesmo quarto, desde bebês. No mês seguinte, íamos
ter quartos separados, mas esse dia nunca chegou, porque uma noite
ela desapareceu da cama, sumiu no ar.
- Como pode uma criança
sumir do nada?
- Ninguém sabe. Minha família tinha
bastante dinheiro, seríamos capaz de fazer qualquer coisa para
acha-la. Estávamos até esperando um pedido de resgate
mas nada aconteceu. Tentei esquece-la, mas nunca consegui.
- A dor
ainda está dentro de você, não é?
- É
sim... - concordou Shaoran - Mas eu sou a única testemunha
disso tudo, sou o único que vi como que MeiLin desapareceu e
foi da mesma maneira que Sonomi contou, mas nunca contei a ninguém
pois ninguém acreditaria em mim. Tinha só 12
anos!
Sakura virou seu rosto para a estrada e ficou assim,
observando-a. Não sabia o que dizer para seu parceiro, não
mesmo. Não sabia se acreditava, se ignorava, simplesmente não
sabia...
Cerca de uns quarenta minutos se
passaram e Shaoran estacionou o carro frente à casa de Sonomi.
Era uma casa grande e bonita, ficava um pouco isolada das demais
casas. Ao lado tinha uma floresta, devia ser lá onde Sonomi
correra com sua filha na noite passada e onde a menina sumiu. Talvez
houvesse alguma pista por lá.
O local estava interditado
pela polícia local, e alguns guardas pediram a identificação
dos agentes. Mostraram seus crachás e se apresentaram.
- Eu
sou o agente Li e esta é minha parceira agente Kinomoto, somos
do FBI e estamos sob investigação desse caso.
- Oh,
que bom que vocês chegaram, eu sou o xerife Saburo e interditei
a região onde Sonomi disse que a garota sumiu. Quero que vejam
algo!
Os agentes entreolharam-se curiosos e seguiram o xerife para
dentro da floresta. Não demorou nada para pararem novamente e
o xerife apontou para o local do crime.
- Ali! Estão vendo?
- com o dedo, fez um sinal de círculo ao redor daquele mato. -
Está uma marca de círculo no chão, parece que
queimaram a terra. E mais a esquerda estão alguns números
desenhados no chão.
Shaoran aproximou-se e seguiu com os
olhos aquele círculo. Era grande, e no centro havia outro
círculo menor. Talvez fora ali que Sonomi ficou com Nadeshiko.
Depois foi ao local onde o xerife dissera que havia alguns números
desenhados. Sakura seguiu Shaoran porém seus olhos estavam
espantados diante do que via. No momento, não saberia dizer o
que ou quem fez aquele desenho.
- 0092. - Foi a única coisa
que Shaoran disse.
- É o mesmo número que Sonomi
escreveu no papel! - exclamou Sakura.
- E então? Suspeitam
de alguma coisa? - perguntou o xerife certo de que nem eles sabem o
que era aquilo.
- Particularmente eu sei o que é, mas não
posso expor minha tese sem ter apoio. - disse Shaoran enquanto olhava
para Sakura com um sorriso tímido. - Vou dar uma olhada na
casa dela, com licença...
O xerife aceitou e os agentes
foram até a casa de Sonomi.
Sakura estava aborrecida com os
foras que Shaoran estava lhe mandando neste curto tempo do caso.
-
Escuta Shaoran, se você sabe que eu não acredito nessas
suas teses maravilhosas, então por que falar nelas?
- Olha,
como explica aquele círculo e aqueles números na
mata?
- Muito simples! Alguém veio com uma tocha de fogo e
desenhou um círculo.
- Deve ser um ótimo desenhista,
pois os dois círculos estavam redondinhos.
- Shaoran, eu
não vi nada do que você viu nem o que Sonomi viu, mas
acho isso um fato que não se pode jogar a culpa em ETs.
Existem muitas explicações para esse seqüestro.
-
Sério? Me fale uma que explique como eles usaram a luz vindo
do céu, como raptaram a menina no colo de sua mãe e
porque pegaram justamente aquela criança.
Sakura,
aborrecida, cruzou seus braços e aproximou-se de Shaoran
encarando-o.
- Olha, eu NÃO sei como fizeram isso e NÃO
sei porque fizeram isso, mas sei que não tem nada ligado com
os alienígenas de marte.
- E como você tem tanta
certeza, heim? - gritou Shaoran e saiu deixando Sakura sozinha.
Ela
já estava acostumada com isso, trabalha com Shaoran a sete
anos e ele sempre escolhe as respostas mais absurdas para resolver
esses tipos de casos. Mas mesmo no meio de tanto absurdo, Sakura ama
ele. E foi com este pensamento que sorriu e dirigiu-se para a casa de
Sonomi.
Viu que Shaoran andava sem rumo dentro da casa, não
sabia por onde olhar ou o que procurar. Mexia em tudo que via na sua
frente mas nada lhe satisfazia. Sakura aproximou-se dele observando-o
sem que este percebesse:
- O que está fazendo?
-
Tentando descobrir algo sobre o desaparecimento do marido de Sonomi.
Não é possível, tem que ter alguma coisa aqui!
-
Shaoran... - disse Sakura colocando sua mão sobre o ombro dele
e este virou-se para encara-la - Seja lá o que estiver
procurando, aqui não vai achar nada. Talvez seria melhor
perguntar para Sonomi, não acha?
Shaoran olhava para Sakura
com tristeza. Sabia que ela queria ajuda-lo mas não pode se
não acredita nele. E não era apenas esse caso que o
perturbava, era a grande semelhança que existia com o caso de
sua irmã. Talvez se ele seguir este caminho, ele poderá
descobrir algo, ou também pode descobrir nada.
- Eu não
consigo faze-la mudar de idéia, não é Sakura?
Acho que só vai acreditar em mim quando perder algo
extremamente importante de sua vida.
- Isso nunca vai acontecer
Shaoran, e como cientista eu acredito naquilo que devo acreditar.
Ele
afirmou com a cabeça e logo soltou um sorriso. Abriu seus
braços e foi até Sakura dando-lhe um forte abraço
e um beijo em sua testa. Esta retribuiu ao abraço e apoiou sua
cabeça no forte ombro de Shaoran.
- Desculpe... - disse
Shaoran - Eu estava nervoso e nem percebi que gritei com você.
-
Tudo bem... Acho que somos dois nervosos e eu não fui justa
em desafiar você.
Shaoran riu. Segurou o rosto de Sakura com
suas mãos e olhava profundamente em seus olhos. - Nunca me
desafiou, Sakura.
Seus rostos inclinaram um pouco até
sentirem seus lábios tocarem suavemente. Era uma sensação
maravilhosa para ambos, e queriam ficar assim, juntos, para o resto
de suas vidas. Porém, o clima romântico quebrou-se
quando o celular de Shaoran tocou.
- Shaoran Li.
- Aonde vocês
estão? - era a voz de Fujitaka.
- Na casa da senhorita
Sonomi, por que?
- Deviam tomar mais cuidado com o que falam!
-
Como assim senhor?
Quarenta minutos depois,
Shaoran e Sakura estavam de volta na clínica e andavam
extremamente apressados. Shaoran abriu a porta com violência e
dirigiu-se automaticamente para a recepção.
- Por
que deixaram que eles a levassem? - gritou Shaoran para a
recepcionista que, ainda hoje, xavecou-a um bocado.
- Eu não
pude fazer nada! - respondeu a pobre mulher encolhendo-se diante da
fúria de Shaoran. - Eles simplesmente vieram aqui,
ameaçaram-nos de morte caso não entregássemos a
senhorita Sonomi.
- Droga! - disse Shaoran dando um soco no
balcão.
- Acalme-se Shaoran! - disse Sakura um tanto
assustada com a reação de seu parceiro.
- Senhores!
- Uma voz veio do corredor e os agentes viraram-se para ver. Era
Keiko, a psicóloga que questionou Sonomi sem obter respostas.
- Tenham calma, por favor.
- Calma! - disse Shaoran se
aproximando da outra mulher - Você sabe o que eles farão
com ela? Provavelmente tirarão a sua memória ou então
sumirão com ela, só isso, o que acha heim?
Keiko
recuou um pouco ao perceber que Shaoran estava realmente nervoso e
abaixou sua cabeça um pouco.
- Desculpe...
- Mas afinal,
quem são "eles"? - perguntou Sakura sem entender
nada.
- "Eles" - disse Shaoran virando-se para Sakura -
são pessoas que sabem de tudo e fazem qualquer coisa para não
mostrar a verdade para o mundo. Fazem de tudo para que essas pessoas
que tiveram certas visões, esquecerem ou não falarem
nada a respeito do que viu. Temos que tomar cuidado com os nossos
olhos e com nossa boca, pois nem sempre o que a gente vê, a
gente pode sair por aí contando.
- Quer dizer então
que eles vão apagar a memória de Sonomi? - perguntou
Sakura.
- Provavelmente. Droga, justo agora que precisávamos
fazer algumas perguntas para ela.
Shaoran andava sem rumo pelo
salão da clínica. Sakura não sabia o que dizer
naquele momento, mas o silêncio foi interrompido por uma voz
conhecida.
- Fujitaka! - Disse Sakura um pouco surpresa.
Shaoran
arregalou seus olhos e dirigiu-se até Fujitaka. - Ainda está
aqui? Por que não foi atrás daquela mulher?
- Sou
eu quem impõe as ordens aqui, agente Li. - Fujitaka encarou o
agente e este ficou quieto tomando consciência do que acabara
de dizer. Fujitaka apoiou sua mão em seu ombro e tentou
encoraja-lo. - Eu sei como se sente Li, mas não podíamos
fazer nada contra eles.
- Sei que você sabe para onde eles
foram senhor Fujitaka, e gostaria que me passasse o endereço.
Ambos
ficaram quietos, encarando-se, sem dizer uma palavra sequer. Sakura
olhava para os dois à espera de uma reação,
embora não demorou para Fujitaka mexer seus lábios
novamente:
- Se for lá Shaoran, você pode
morrer.
Sakura gelou ao ouvir aquilo e olhou para Shaoran para ver
o que este diria. Rezava consigo mesmo para que Shaoran desistisse
dessa idéia maluca.
- Acha que indo lá, você
pode descobrir algo sobre a sua irmã, não é? -
continuou Fujitaka
- Isso não tem nada a ver senhor. Quero
apenas encerar esse caso com pelo menos uma vida salva.
Fujitaka
sabia que as intenções de Shaoran não eram
apenas aquela. Mas vendo-se como um pai que proibi seu filho de sair,
resolveu dar-lhe o endereço. Shaoran guardou dentro de seu
terno e saiu da clínica bastante apressado. Sakura seguiu-o,
quase não conseguiu alcança-lo, e entrou no carro.
-
Escuta Sakura, quero que você fique aqui. Isso será uma
operação perigosa.
- Shaoran, esqueceu que somos
parceiros? Sei que se preocupa comigo, mas se você morrer, eu
morro junto!
Shaoran nada respondeu. Olhou para Sakura com a face
séria e voltou suas mãos para o volante.
Havia
escurecido, deviam ser cerca de sete horas da noite. A estrada já
não era feita de cimento e a paisagem do deserto estava
escondida pela escuridão da noite. Shaoran viu algo brilhar no
horizonte, finalmente chegou em seu destino. Parou o carro suavemente
e desligou o motor. Olhou para sua parceira e viu que esta dormia
tranqüilamente e encolhida pelo frio. Passou a mão em
seus cabelos brilhantes descendo depois para seu rosto suave. Sorriu
e deu-lhe um beijo na testa sem ter a intenção de
acorda-la. Afastou-se dela e abriu a porta devagar. Ao sair, deu uma
última olhada para Sakura e encostou sua porta
suavemente.
"Está na hora" foi o que pensou
e logo passou a andar apressado. Pegou de seu bolso uma pequena
lanterna e apontou para o norte encontrando um portão de arame
farpado e uma placa que dizia "Proibida a entrada de estranhos".
Ignorou completamente o anúncio da placa e fez um esforço
para passar por debaixo do arame sem se machucar. Sentiu o arame
rasgar sua jaqueta e cortar suas costas de leve, o que o fez soltar
um leve gemido. Mas isso não importa, o duro agora era passar
pelo campo minado. Respirou fundo e apontou a luz da lanterna para o
chão. Os pontos mais suspeitos foram evitados de ser pisados.
Levantou sua cabeça e viu que ainda estava muito longe da luz.
"Se continuar nesse ritmo, só vou chegar amanhã."
Fez a primeira coisa que veio em mente: guardou a lanterna e correu
pelo campo em saltos. Se algum estouro aparecesse, tudo estaria
perdido. Mas Shaoran estava confiante demais e passou pelas minas sem
que elas explodissem. Passou a mão pela testa em sinal de
alívio e agachou para evitar suspeitas. Estava na beira de uma
ladeira e parou um pouco para contemplar aquela paisagem.
A luz
que havia visto era de uma torre de caixa d'água iluminada e
próximo dela havia uma espécie de cúpula branca
extremamente grande. Atrás havia uma pequena casa que parecia
ser um laboratório. Shaoran passou seus olhos pelos guardas
que rodeavam o local e pensou em uma estratégia eficaz.
Percebeu que um dos guardas estava sozinho e foi em direção
dele que seguiu. Escondeu-se atrás de uma caminhonete até
ter certeza de que o guarda estava distraído. Foi quando
avançou em cima dele e deu-lhe um soco extremamente forte no
nariz e caiu inconsciente no chão. Shaoran arrastou-o para
trás da caminhonete e trocou suas roupas o mais rápido
possível.
Estava pronto, o mais difícil já
havia passado, porém ainda não era a hora certa para
comemorar. Nos primeiros minutos fingiu ser um guarda de verdade mas
quando viu uma oportunidade saiu daquele local e dirigiu-se a uma
porta na direita daquela cúpula onde havia um aviso: Não
entre sem autorização. Antes de entrar olhou por todos
os lados para ver se não havia ninguém ou se havia
alguma câmera escondida. Entrou rapidamente e arrumou sua arma
em suas mãos, era perigoso andar sem uma arma na mão.
Estava num corredor pequeno e vazio, havia apenas uma porta de aço
em sua frente e um teclado com números.
- Ah, não
brinca! - exclamou Shaoran ao perceber que precisava digitar uma
senha para entrar.
Tentou alguns números malucos mas não
conseguia nada. Estava quase desistindo, mas lembrou-se de uma
seqüência importante: 0092. A porta abriu-se devagar e
entrou boquiaberto na sala. Era gigante, e estava cheia de cápsulas
cobertas por lençóis e com números gravados.
Shaoran tirou o primeiro lençol que viu e espantou-se com o
que seus olhos acabaram de ver: um cadáver de um homem nu
dentro da cápsula coberto por um líquido esverdeado.
Sentiu seu coração bater cada vez mais forte e foi
tirando os lençóis das outras cápsulas. Estava
tão assustado que não percebeu a micro-câmera que
filmava todos os seus movimentos.
Sakura sentiu
seu rosto gelar e abriu lentamente os seus olhos verde esmeraldas.
Esticou suas pernas e braços espreguiçando-se e coçou
seus olhos:
- Já chegamos Shaoran?
Viu que este não
respondeu e olhou imediatamente para seu lado esquerdo. Estava
sozinha. Começou a entrar em pânico e retirou seu cinto
de segurança desesperadamente. Pegou uma lanterna e ligou-a
assim que saiu do carro.
- Shaoran! - gritou enquanto tentava
identificar o local em que estava. - Aonde está você? -
mas nenhuma resposta apareceu além do silêncio daquela
noite.
Olhou para o norte e viu uma luz, bem longe. Pegou sua arma
e foi para lá que correu, tinha certeza de que Shaoran estava
lá. Deparou-se com a mesma placa que Shaoran havia visto.
"Isso é uma área militar!" foi o que pensou.
Pegou um pedaço de tecido rasgado que estava no arame farpado
e viu que era da jaqueta de Shaoran, tinha certeza. Levantou o rosto
dominado pelo desespero e agachou-se para passar Poe baixo do arame.
Viu que outros carros chegaram naquele lugar e pararam próximo
ao seu. Fujitaka e outros oficiais do FBI foram ao encontro de Sakura
e tentaram impedi-la.
- Onde pensa que vai Sakura? - Disse
Fujitaka enquanto segurava o braço de Sakura.
- Me larga!
Eu vou ajudar o Shaoran!
- Não vai mais agente Kinomoto!
- Gritou Fujitaka apertando suas mãos nos braços de
Sakura. - Se for lá você poderá morrer! - dizia
num tom mais baixo e soltou os braços de Sakura.
Esta
última passou a fitar Fujitaka e sentiu seus olhos encherem de
lágrimas. Abaixou sua cabeça e encostou-a no ombro do
diretor assistente. Fujitaka guiou-a até o carro e saíram
de lá o mais rápido possível.
Shaoran
continuava a arrancar os lençóis daquelas cápsulas
sem reconhecer nenhuma daquelas pessoas. Até que encontrou uma
cápsula com um nome conhecido: Sonomi Daidouji. Arrancou o
lençol e viu Sonomi nas mesmas condições que as
demais pessoas. Estava pasmo, não poderia mais fazer as
perguntas para Sonomi.
Ao lado dela estava uma cápsula com
o nome de Nadeshiko. Retirou o lençol mas estava vazio. Ficou
surpreso e confuso ao mesmo tempo. Como num estalar de dedos,
lembrou-se de outra pessoa importante que talvez estaria dentro
destas cápsulas. Correu pelos corredores da sala até
chegar na letra M. Diminuiu seus passos e parou frente a uma cápsula
com o nome de MeiLin Li. Sentiu seu corpo inteiro estremecer e levou
a mão trêmula para arrancar o lençol que tapava a
visão. A cápsula estava vazia, o que deixou Shaoran
mais confuso. Não sabia se suspirava aliviado ou se suspirava
desesperado.
Luzes vermelhas começaram a piscar na sala em
que estava e a porta principal abriu. Muitos homens vestidos de
roupas brancas e estranhas entraram na sala e vasculharam tudo.
Shaoran escondeu-se entre duas cápsulas e percebeu que estava
num beco sem saída, mas a esperança ainda pulsava em
seu sangue. Correu rapidamente pela mesma porta no qual havia entrado
porém outros homens apareceram e cercaram-no.
- Vocês
têm medo de nós descobrirmos a verdade, não é?
- gritava em desespero para todos aqueles homens que estavam se
aproximando dele. - Podem fazer o que quiser comigo, mas eu ainda vou
descobrir!
Um dos guardas pegou uma seringa de seu bolso e aplicou
uma vacina no pescoço de Shaoran. Aos poucos sentiu-se tonto e
caiu no chão inconsciente.
Sakura sentiu o
calor da luz do sol bater em seu rosto e sentou rapidamente. Seus
olhos estavam inchados de tanto chorar na noite anterior, e que
noite! Dormiu apenas quatro horas e continua sentindo-se péssima.
Foi
ao banheiro e lavou seu rosto com água fria, talvez dessa
maneira poderia ficar com a cara melhor. O telefone da sala tocou e
correu para atender. Era Fujitaka.
- Sakura, acordei você?
-
Não...já estava acordada. Que notícias
trás?
Fujitaka ficou um pouco quieto mas logo voltou a
falar - Shaoran está aqui.
Mais uma vez os olhos de Sakura
ficaram encharcados pelas lágrimas e desligou o telefone
imediatamente
Quinze minutos depois, Sakura estava nos
corredores do FBI e andava em direção à sala de
Fujitaka. Não pediu permissão para a secretária
e nem bateu na porta, abriu-a com força e viu Shaoran sentado
em uma poltrona frente a Fujitaka. Ele olhava para Sakura e sorriu:
-
O que foi? O gato comeu a sua língua?
Sakura sorriu
timidamente e abraçou seu parceiro com toda a sua força.
Este retribuiu ao abraço e afastou Sakura de si por um
instante.
- Por que está chorando?
Sakura ignorou o
comentário de Shaoran e enxugou suas lágrimas.
-
Como escapou daquela base Shaoran? - perguntou ela bastante
curiosa.
- Base? Que base?
A sala ficara quieta. Sakura olhou
para Fujitaka e este fez o mesmo. Voltou a olhar para seu parceiro e
insistiu mais uma vez na pergunta:
- Aquela base militar que você
invadiu ontem a noite.
Shaoran sorriu e levantou-se da poltrona.
Olhou para Sakura e Fujitaka com olhos sérios e duvidosos.
-
Do que vocês estão falando heim?
- Eles limparam a
cabeça do agente Li. - disse Fujitaka já entendendo
tudo.
- O que? - exclamou Sakura
- Sempre fazem isso quando
uma pessoa descobre mais que o necessário. É um tipo de
amnésia.
- Quer dizer que Shaoran não vai lembrar de
nada que aconteceu ontem?
Fujitaka balançou a cabeça
afirmando e passou a encarar um Shaoran perdido no espaço.
-
O que vocês falam não faz sentido...
O
sol estava começando a se esconder e Sakura e Shaoran estavam
em uma lanchonete da cidade.
Sakura encarregou-se de explicar todo
o caso para Shaoran durante aquela tarde. Ele estava totalmente
espantado, não falava nada, apenas escutava atentamente tudo
que Sakura tinha a lhe dizer.
- Eles virão atrás de
mim Sakura. - disse Shaoran com os olhos fixos em seu refrigerante. -
Tenho certeza de que aqueles caras voltarão para falar
comigo.
- E por que fariam isso? Eles conseguiram o que desejavam:
tiraram todas as suas informações que conseguira
naquela base ontem a noite.
- Droga! - Sacudiu a sua cabeça
para tentar lembrar de alguma coisa - Eu queria tanto lembrar do que
vi ontem a noite, mas...mas...aqueles canalhas vão me pagar
caro!
- É melhor esquecer tudo isso Shaoran...Se você
voltar para aquela base eu juro que nunca te perdoarei.
Shaoran
levantou seus olhos para Sakura. Ela falava sério, estava
extremamente preocupada e nervosa com aquela situação
toda. Não valeria a pena perder a vida sem descobrir nada.
Bem
devagar, apoiou sua mão sobre a mão de Sakura e
acariciou-a suavemente da maneira que Sakura gostava. Ela retribuiu a
carícia e devolveu um sorriso carinhoso para ele.
- Acho
melhor passar a noite em outro lugar, eu sinto que alguma coisa
acontecerá se eu ficar aqui.
- Se você acha isso
Shaoran, então é melhor nos apressarmos.
Pagaram o
lanche e saíram de mãos dadas para o carro. Shaoran
sentia que precisava sair daquela cidade o mais rápido
possível, e foi o que fez. Deixou Sakura em sua casa e
entregou a ela um endereço.
- O que é isso?
- É
o motel onde passarei essa noite. Fica muito longe daqui
Sakura...
Sakura encarou-o, não acreditava que aquilo tudo
estava acontecendo. Sentiu seus olhos encherem de lágrimas
novamente porém esforçou-se ao máximo para não
deixa-las cair. Shaoran não era apenas seu companheiro de
serviço, é mais do que isso. É seu amigo, seu
irmão, seu amor, seu amante, sua vida... Sabia que ele pensava
o mesmo.
Shaoran sorriu e continuou:
- Sakura, não
confie em ninguém...
Foi a última coisa que disse e
depois partiu o mais rápido possível.
O celular de
Sakura tocou. Demorou um pouco para atende-lo pois sua mente estava
vagando na despedida que acabara de ter.
- Sakura Kinomoto.
-
Kinomoto, aqui é Fujitaka. Shaoran está com
você?
Sakura ficou quieta. Não sabia o que falar pois
Shaoran pediu para ela não avisar ninguém para onde
foi.
Fujitaka percebeu o silêncio da agente e insistiu com a
pergunta.
- Sakura. Onde está o agente Li?
- Ele...foi
embora.
- O quê?
- Ele me disse que aqueles homens iriam
hoje na casa dele para pega-lo.
- Mas como? Ele nem tem
consciência do que aconteceu ontem.
- Eu também
pensei nisso senhor, mas ele estava muito preocupado e certo do que
falava.
- ...E para onde ele foi?
- ...eu...não
posso falar senhor.
Sakura escutou Fujitaka suspirar. - Onde você
está agente Kinomoto?
- Em minha casa. Acabei de chegar.
-
Vou busca-la e iremos para a casa de Shaoran para termos certeza se o
que o agente Li disse é verdade.
- Certo. Estarei esperando
senhor.
Não demorou nada e o carro de Fujitaka parou frente
ao prédio de Sakura. Antes que pudesse sair do carro, viu a
agente aproximar-se e entrar.
- O que vamos fazer?
- Vigiar o
apartamento de Shaoran. Ficaremos de quarentena esta noite.
-
Certo...
Muito longe dali, Shaoran encostou seu
carro ao lado de um motel e desceu. O motel era isolado de tudo,
exceto pela estrada e pela grande vegetação que tinha
ao redor.
Já estava escuro, e o que mais queria fazer
naquele momento era tomar um bom banho e dormir em paz. Entrou no
motel e dirigiu-se ao balcão de recepção pedindo
um quarto comum para passar uma noite.
Sakura
olhou em seu relógio. 23:00 pm. Estava cansada de ficar
escondida no telhado a espera de um movimento naquela rua isolada.
-
Acho que Shaoran se enganou mesmo... - murmurou baixinho para evitar
suspeitas.
- Acho que não... - disse Fujitaka abaixando-se
cada vez mais - Olha só, acabou de chegar um carro.
Sakura
levantou um pouco seu pescoço para olhar o tal carro. O que
Fujitaka disse era verdade e o carro estacionou na frente do prédio
de Shaoran.
- Olha. - murmurou Sakura mais uma vez.
Desceram do
carro cinco homens, todos de ternos escuros e com armas nas mãos,
e entraram no prédio. Fujitaka pegou seu binóculo e
apontou para a janela de Shaoran.
- Shaoran estava certo. - disse
ele enquanto olhava no binóculo.
- O que aconteceu? -
Sakura puxou o binóculo para seus olhos e viu os homens
vasculhando a casa de Shaoran sem obter sucesso.
- Acho que eles
estão surpresos...
- Eles saíram! - disse Sakura um
pouco desconfiada. Encolheram-se mais e viram aqueles homens entrarem
no carro rapidamente e saíram da mesma forma.
- O que deu
neles? - disse Fujitaka levantando-se.
Sakura também não
entendeu, mas repentinamente ela pode enxergar toda a situação.
Ela levantou e virou-se para Fujitaka com a respiração
ofegante e com os olhos arregalados.
- Fujitaka, preciso de um
helicóptero agora!
- Pra que?
- Por favor senhor! Eles
foram atrás de Shaoran e irão mata-lo! Eu tenho
certeza!
- Você não vai sozinha Sakura, por favor
pode contar comigo!
Realmente Sakura não poderia ir
sozinha, precisava da ajuda de Fujitaka. Concordou com a cabeça
e resolveu contar-lhe onde Shaoran estava.
Shaoran
estava em seu quarto assistindo TV quando a luz apagou-se
repentinamente. Tudo estava muito escuro. Levantou da cama, vestiu
seus sapatos e saiu do quarto para resolver este problema. Viu que
outras pessoas estavam saindo de seus quartos preocupadas com a
escuridão.
- O que aconteceu? - perguntou uma mulher de
meia idade para as demais pessoas porém ninguém soube
responder.
Shaoran desceu com cuidado até a recepção
para se informar.
- Não sei o que houve, o técnico
disse que está tudo certo nos cabos e fios do hotel. - foi a
resposta que recebeu.
As poucas pessoas que estavam no motel
desceram para a recepção com as mesmas intenções
de Shaoran mas não conseguiram nada. Um funcionário
entrou correndo no motel e gritava:
- Venham ver! Venham ver! Tem
alguma coisa estranha aqui fora!
Todos saíram curiosos
para ver o que acontecia fora do motel. Shaoran foi atrás
daquelas pessoas, estava confuso e um pouco assustado. Mas
assustou-se mais quando viu uma enorme luz vindo do céu
aproximar-se deles. Shaoran sentiu suas pernas ficarem moles e não
conseguia mover um músculo sequer. Todos ficaram parados,
apenas olhando. A forte luz parou de brilhar sobre suas cabeças
e todos puderam ver uma enorme nave espacial.
Não muito
longe dali, um helicóptero aterrissou na estrada e alguns
carros policiais pararam atrás dele. Sakura saltou do
helicóptero e ficou paralisada com o que seus olhos viram: uma
nave alienígena em cima de algumas poucas pessoas. Mas não
tinha tempo o suficiente para ficar observando aquele cenário.
Correu na direção do motel o mais rápido que
podia enquanto observava a enorme nave brilhar como uma estrela. A
luz ficara tão forte a ponto de cegar seus olhos e Sakura
parou de correr por um instante. Tapou seus olhos com as mãos
e percebeu que a luz havia sumido. Ao abrir os olhos novamente, viu
que não foi apenas a luz que se extinguiu, mas também a
nave e as pessoas do motel que estavam observando tudo.
- Não...
- Sakura murmurou e continuou a correr em direção ao
motel. Atrás dela estavam Fujitaka e outros oficiais do FBI
que conviveram aquele momento marcante. - SHAORAN! - Ela entrou no
motel e viu que estava tudo escuro e vazio.
Fujitaka e os
oficiais entraram armados e ficaram surpreendidos ao verem que estava
vazio. As luzes do motel voltaram a ascender mas tudo continuava
quieto. Fujitaka observava o desespero de Sakura em achar Shaoran e
resolveu segui-la. Ela abriu a porta do quarto de seu parceiro
violentamente e viu que não havia ninguém.
-
...não... - murmurou Sakura enquanto ajoelhava-se no chão
e sentia seus olhos transbordarem de lágrimas - ISTO NÃO
ESTÁ ACONTECENDO! - gritava sozinha mas isso não a
preocupava nem um pouco naquele momento. - NÃÃÃÃÃOOOOOO!
Fujitaka
assustou-se com o grito de Sakura e correu para ajuda-la.
- Agente
Kinomoto, é melhor irmos embora! - disse Fujitaka ajudando
Sakura a se levantar. Mas ela estava fraca. Tombou seu corpo para
frente e Fujitaka segurou-a antes que pudesse cair. - Sakura! O que
foi? - Ela estava inconsciente, havia desmaiado. - Chamem os
paramédicos, rápido!
No dia
seguinte, Fujitaka estava na sala de espera do hospital e uma
enfermeira avisou que Sakura já poderia receber visitas.
Levantou-se e entrou no quarto de Sakura. Ela estava deitada, e seus
olhos estavam roxos de tanto chorar. Fujitaka aproximou-se e
sorriu.
- Acharam Shaoran senhor?
Fujitaka balançou a
cabeça negando a pergunta de Sakura. Ela fechou seus olhos e
abaixou um pouco sua cabeça.
- Eu não acredito... -
disse ela com a voz rouca e com lágrimas correndo em seu rosto
- Nesses sete anos que trabalhamos juntos, eu nunca acreditei no que
Shaoran dizia, nunca quis escuta-lo. Ele ainda me disse: Você
só vai acreditar em mim quando perder algo extremamente
importante de sua vida. E eu neguei! Ele está certo
senhor.
Fujitaka não sabia o que dizer naquele momento. A
única coisa que podia fazer era ajudar Sakura a desabafar tudo
o que estava entalado em sua garganta para esta se sentir melhor.
-
Nós vamos encontrar Shaoran, Sakura. Pode ter certeza!
Sakura
tentou sorrir mas a dor em seu coração a impedia de
fazer isso.
- E como esta se sentindo? - perguntou Fujitaka.
-
Bem. - foi apenas o que Sakura respondeu. Ela sabia qual seria a
próxima pergunta, mas estava com medo de responde-la. Diria a
verdade ou teria que mentir?
- Sakura...O que ocasionou esse seu
desmaio?
Ela acertou em cheio. Não queria mentir para
Fujitaka de jeito nenhum mas estava preocupada com a reação
dele. Levantou seus olhos para encara-lo e, com a boca semi-aberta,
respondeu sinceramente:
- ...Eu estou grávida.
Fujitaka
não respondeu nada, apenas ficou olhando para os olhos de
Sakura. Poderia esperar qualquer coisa, menos aquilo.
Precisava
encontrar Shaoran o mais rápido possível, porém,
sabia que não seria nada fácil. Não fazia idéia
nem por onde começar a procura-lo...
FIM
