Título: Luz e Sombras

Por: Sissi

Casal principal: Sesshoumaru/Kagome

Disclaimer: Inuyasha pertence a Rumiko Takahashi

Notas da Autora: História revisada e editada. Erros gramaticais foram corrigidos ( eu espero ) e algumas cenas foram adicionadas. Alguns fatos foram modificados, e que seriam interessantes serem notados: Kikyou agora é uma psiquiatra, e Sesshoumaru, um neurologista. Quem operou Kagome foi o Dr. Bankotsu, e não o Sesshoumaru.

Prólogo

As pessoas sempre tiveram um medo irracional da noite, dessa escuridão que engloba tudo, sem que um único raio de luz ilumine este breu, que se alimenta do medo dos seres humanos.

A lua é um dos poucos astros que se atreve a se embrenhar neste mundo misterioso, e nem sempre ela sai vitoriosa dessa aventura. As longas noites sem luar são apavorantes, em que não se enxerga nem mesmo um palmo de seu nariz. Um mero ruído pode significar a vida ou a morte, assim como o caso da coruja e o rato. O rato e a coruja, tanto faz, pois um deles, com certeza, irá perecer. Não é possível haver dois ganhadores na natureza. Um é a caça, e o outro, a presa. Simples e fácil. Não?

Levantando-se e descobrindo-se das cobertas, Kagome olhou ao seu redor. Seus olhos estavam enfaixados, um tecido branco amarrado em volta de sua cabeça, no eixo da sua visão. Levantando suas mãos, e tocando suavemente sua face, uma dor lancinante penetrou-lhe no crânio, expandindo-se por todo seu corpo.

Um suspiro distante, de fora do cômodo onde se encontrava, chegou-lhe aos ouvidos. Passos. Passos lentos e arrastados de algum médico ou plantonista andando pelos corredores, cansado de trabalhar por mais um longo dia, fatigado e semi-morto, com olheiras embaixo de seus olhos, a pele já tendo perdido o vigor e a saúde. Mais um suspiro longínquo e mais nada. O som dos passos, com o tempo, começou a se tornar cada vez mais fraco, até que ela ficou sozinha novamente, absorta em seus pensamentos.

Não, ela não estava sozinha. Monstros e criaturas malignas faziam-lhe companhia, insinuando o inferno em que se encontrava. Kagome, não mais se importando com a dor, agarrou sua cabeça, pressionando suas pálpebras para permanecerem fechadas, rezando sem parar, as palavras mal chegando aos seus ouvidos, apenas o murmúrio de algumas palavras sem sentido.

Longos braços esticavam-se em sua direção, tentando se prender em suas roupas, os dedos, ávidos para sentir o calor de algum corpo inocente. Tremendo da cabeça aos pés, ela se contorcia, desviando-se das mãos imundas de sangue, jogando o corpo para o lado, não prestando atenção aos arranhões que riscavam sua pele. Gotas de sangue haviam caído sobre o tecido branco de seu vestido, bebendo a brancura da roupa, como se a cor fosse sua fonte de vida, um oásis no meio de um deserto. Alguns respingos haviam sujado seu rosto, e tocando levemente o líquido viscoso, ela gritou, a voz irreconhecível.

Caindo de joelhos contra o chão, e abraçando a si mesma com braços indecisos, ela permitiu que lágrimas escapassem do confinamento que eram seus olhos, limpando as gotas do líquido da cor da paixão, e que, no entanto, enojavam-na do fundo da alma. As lágrimas quentes escorriam sobre sua pele, enquanto que soluços brotavam de seu peito, fazendo com que seu corpo tremesse como se estivesse tendo uma convulsão, sua cabeça sendo jogada para trás, ao mesmo tempo que seus braços se esticavam para a frente, ansiosos por se prender a algo seguro, firme.

Sua mente estava inflamada de imagens, a visão de sua família dentro do carro, com sua mãe no volante. Seu pequeno irmão Souta estava jogando gameboy ao seu lado, atento apenas ao jogo. Seu querido avô estava sentado no banco da frente, um jornal aberto sobre seus joelhos já enrugados com a idade, as mãos segurando firmemente o papel.

Era para ser uma viagem de férias, para a praia, onde aproveitariam as férias de verão, e passariam algum tempo juntos. Era para ser assim, então, por que não foi?

A música que a rádio tocava era linda, e a voz da cantora, juntamente com a própria letra da canção fez com que Kagome fechasse seus olhos momentaneamente, esquecendo, por um momento, a dor e o medo. Uma sensação gostosa borbulhava em seu peito, um invólucro de plumas macias envolvendo seu ser, aconchegante e quente. Ela queria se sentir assim para sempre.

Subitamente, o som de pneus arrastando sobre o asfalto, os gritos de sua mãe, a sensação de seu corpo sendo jogado contra o metal, e a dor de algo afiado penetrando em sua carne, fê-la abrir os olhos, um clarão de luz cegando-a. Seu coração começou a acelerar violentamente, o desespero tomando conta de seu ser. Suas unhas fincavam no assento, segurando-se para não sair correndo, fugir desse desastre, deste acidente, disso tudo que não deveria ter acontecido.

A gaze que estava em volta de seus olhos finalmente afrouxou, caindo sobre o chão em forma de farrapos. Dedilhando sobre a sua pele, afoita por um momento, pois podia se sentir livre do material, ela levantou suas pálpebras e olhou ao seu redor, o sorriso que aflorara em seus lábios desaparecendo rapidamente.

Escuro, tudo estava escuro, nem um único raio de luz iluminava o local. Uma sensação de temor nasceu em seu coração, espalhando-se por todo seu corpo, como uma doença maligna, até que se alojou em sua mente. Ela estava sozinha e vulnerável, sua família, perdida para sempre. Esta era a verdade, crua e nua.

- Eu não quero ver isso... – ela sussurrou para ninguém, a noite sendo sua única testemunha. Abraçando sua filha com ternura, a escuridão beijou-lhe a testa, cantando uma canção de ninar até que ela adormecesse em seus braços. Sua prece não seria em vão, ela garantiria isso.

Nunca mais ela poderia ver a chama de uma vela, ou o próprio sol, amante da lua, e que, ironicamente, nunca poderia se encontrar com ela. Kagome havia perdido tudo num único segundo. A família e a visão.

Ela estava cega.

Editado em Dezembro