~x~
Dumbledore estava tomando chá enquanto lia alguns pergaminhos que estavam em sua mesa quando batidas se fizeram ouvir na porta. Olhou no seu escritório rapidamente, vendo se sua bagunça não estava exaltante caso Minerva aparecesse, pois isso parecia aborrecê-la. Ele normalmente não se importaria tanto, mas a Diretora da Grifinória era austera quando queria.
O Diretor pediu para a pessoa entrar e qual foi sua surpresa ao ver a pequena aluna da Grifinória, cabeça do Trio Dourado, entrar hesitantemente em sua sala. Ele estava esperando por ela sim, mas pensou que ela demoraria mais com sua resposta a ele.
A menina de cabelos castanhos revoltos se aproximou da cadeira que ficava de frente com sua mesa e sentou-se ajeitando a saia. Estaria nervosa? Ele realmente tinha colocado a vida da menina em correria este ano e a ultima proposta dele deveria ter deixado-a extremamente aflita e cautelosa.
Mas é claro que ele de nada se arrependeria.
- Bom dia, Diretor. – ela disse devagar, respirando fundo.
- Bom dia, Srta. Granger. Chá? – ele ofereceu com um sorriso confortante no rosto.
- Sim, obrigada. – ela bebericou a bebida quente e quando foi colocar a xicara de volta ao pires, Dumbledore viu suas mãos tremerem e a bebida se derramar com pingos pela sua mesa, acertando alguns pergaminhos. Nada que um feitiço não resolvesse e assim fez a Grifinória com um aceno da varinha. Alvo já não se surpreendia com a velocidade que a pequena mulher conseguia aprender desde os mais tolos feitiços até as maldições mais cruéis.
Eles já tiveram pequenas guerras dentro de Hogwarts durante o último ano de Harry Potter lá e Dumbledore teve que dar tarefas individuais para o Trio. Ele deu a Harry suas memórias para que aprendesse sobre Tom Riddle e fosse descobrindo aos poucos todos os "porquês" para o que estava acontecendo agora, além de revelar segredos sobre as Horcruxes e feitiços protetores contra Artes das Trevas mais efetivos. Ronald Weasley tinha aprendido a criar armas magicas que acumulavam feitiços que desacordavam e agora estava fazendo milhares delas. E por fim, Hermione Granger, que Dumbledore escolheu para tanto ver as memorias de Tom quanto ter o conhecimento de como criar armas magicas, mais os feitiços avançados que Alvo tinha ensinado. Feitiços não-verbais e alguns básicos sem a varinha foram aprendidos rapidamente e como bônus ele ensinou-a Legilimência e Oclumência.
Ele, sem duvidas, estava muito orgulhoso dela e sabia que sua escolha tinha sido perfeita. Extremamente inteligente, ávida pelo conhecimento, sempre procurando por mais e aprendendo mais rápido do que era esperado. Cada ano em Hogwarts ela foi a pessoa de todas as Casas que mais acumulou pontos por cooperação na sala de aula. Ela era honesta e corajosa: salvar a vida de pessoas inocentes se tornou prioridade em sua vida desde que seus pais morreram no começo da guerra.
Ela era tão forte, Dumbledore pensou enquanto olhava-a pegar um de seus documentos para analisar enquanto ainda tomava o chá. Mais forte do que ele poderia ser na idade dela de 18 anos. Ele ainda era tolo e ignorante nessa época e sofreu as consequências por isso. Mas a Hermione Granger a sua frente era mais do que esplêndida. Ela tinha acumulado tanto conhecimento e poder sobre a magica que ele ensinara que agora seu corpo as vezes tinha espasmos para conter a grande quantidade de magia em sua corrente. Quando isso acontecia, ela normalmente tremia as mãos ou as coisas ao seu redor começavam a flutuar. O mais diferente de ter acontecido foi seu cabelo ficar em pé como se ela estivesse de cabeça para baixo. Quando ela se concentrava para controlar energia, Hermione precisava ler algo para distrair a constante corrente de magia que ele havia mostrado-a como acontecia. Ou liberar magia de alguma forma.
Ele foi tirado de seus pensamentos quando ela recolocou a xícara no pires e sentou-se ereta na cadeira, esperando algo. Dumbledore agora tinha um sorriso admirador. Ele abriu a gaveta embaixo da mesa e pegou o pequeno colar de prata com o ornamento de uma cobra verde. Hermione estendeu a mão sem hesitar, um olhar perdido na face, e analisou a joia nas mãos. O Diretor sentiu a confusão dela.
- Salazar Sonserina foi o criador desse feitiço poderoso então nada mais justo que o símbolo de sua Casa no amuleto. – Hermione ergueu as sobrancelhas e passou os dedos sob os detalhes em relevo da cobra. Ela tinha se tornado uma pessoa mais reservada durante os ensinamentos, poucas palavras trocadas e menos ainda depois dos feitiços não-verbais. Isso em nada interferiu em como ela se sentia com relação aos outros. Ele ainda a via dar risada com seus amigos no Salão e sorrir aos alunos novatos quando sua obrigação de Monitora era posta em ação. E quando ela resolvia falar, era para debater com ele sobre algum feitiço ou magia estranha e não eram poucas falas. Horas eram trocadas enquanto eles discutiam e Dumbledore achava fascinante conseguir ter uma conversa decente com alguém de idade tão nova. Era quase como voltar no tempo e estar conversando com Nicolau Flamel novamente.
- Entendo. – ela murmurou, guardando o colar nas vestes. Este era o claro sinal silencioso que ela havia aceitado a proposta de Dumbledore com todas as regras especificadas. – Até onde sei há mais um desse. Terminei o livro que me deu ontem. – informou conjurando o livro em questão no ar sem varinha e fazendo-o levitar até a estante particular de Dumbledore onde outros livros de magia negra avançada ficavam acumulados. Hermione lera quase todos em menos de um ano. Ele observou o livro se ajeitar em seu lugar.
- De fato, há mais um desse. – Dumbledore concordou pegando uma carta lacrada na gaveta antes de fechá-la. – Mas por enquanto sua localização é irrelevante e peço que não perca esforços nele. Não fará diferença por um bom tempo, acredite. – piscou a ela. Hermione deu um sorriso curto e assentiu. Ela era tão parecida com o menino de 54 anos atrás e ao mesmo tempo tão diferente que Dumbledore se perguntava onde ele tinha errado com o garoto. – No envelope estão as condições que lhe falei sobre seus "pais" – aqui ele faz aspas com os dedos – e um pedido de vaga na escola.
Ela assentiu, aceitando o documento e guardando-o nas vestes do mesmo jeito que fez com o colar.
Eles ficaram em silencio, cada um perdido em pensamentos até que um pio da fênix Fawkes os acordou.
- Devo relembrá-la, Srta. Granger, que ele era diferente do que estamos acostumados agora. – Hermione estava olhando Fawkes com olhos pensativos.
- Vou me manter longe o máximo de tempo que conseguir. – ela disse.
Dumbledore riu e Hermione o olhou com uma sobrancelha erguida.
- Não é assim que se trabalha com o tempo. A magia vai sentir quando for destorcida e pode ser que certos acontecimentos conspirem tanto a favor quanto contra o destino. – ela desviou os olhos e suspirou. – Uma coisa interessante isto que chamamos de magica, não é mesmo? – riu. – Eu aconselho que deixe as coisas seguirem o curso natural, afinal, o que estamos fazendo já é uma grande virada de acontecimentos. Você sabe, terríveis coisas aconteceram com bruxos que...
- Sim. – concordou ela enquanto o cortava, de repente se erguendo e ostentando um meio sorriso no rosto. – Isso é tudo uma armação sua e eu já me vejo em vários problemas. – Dumbledore riu divertido. Ele já havia ensinado-a sua teoria sobre o tempo. – Quanto tempo devo esperar?
- Assim que estiver pronta. – Alvo se serviu de um pouco mais de chá e voltou seus olhos para o pergaminho que estava lendo antes. Ele ajeitou seus óculos de meia lua e fingiu concentrar-se no que lia. – Essa conversa não existiu, Srta. Granger.
Ouviu ela se afastar com passos determinados até a porta, mas no ultimo momento antes de sair ela parou:
- Que conversa? – Dumbledore sorriu para o pergaminho e a porta se fechou.
~X~
~X~
Hermione já tinha terminado o café quando Ron e Harry chegaram ao Salão. Ela lia o Profeta Diário, mas agora todas as notícias eram as mesmas: Aquele-que-não-se-deve-ser-nomeado ataca de novo; Vítimas nascidas-trouxas pelas mãos de Você-sabe-quem; Mortes, tragédia, desespero, medo. Ela franziu o cenho e deixou o jornal de lado. Rony estava comendo como se o mundo fosse acabar hoje – talvez fosse – e ele estava todo machucado por conta da criação dos armamentos. Seus braços tinham vários vergões e arranhados profundos, mas ele parecia não se importar. Harry por outro lado só observou a comida, parecendo pálido e pouco falante hoje. Ele ainda estava mirando o nada quando se dirigiu a Hermione.
- Vou dar mais uma olhada nas três ultimas memórias. – avisou, perdido em pensamentos. – Algo naquela vez que Ele veio pedir para ser professor em Hogwarts não está muito certo e não estou só me referindo ao fato de Ele já estar parecendo meio ofídico.
Hermione concordou com a cabeça, mesmo não gostando da falta de atenção do amigo a realidade.
- Eu também percebi isso.
Harry finalmente a olhou.
- Quer vir comigo?
Ela deu um sorriso que não alcançou seus olhos. Depois das noticias que lera ela estava terrivelmente mal-humorada.
- Eu dou uma passada na Torre de Astronomia mais tarde. – prometeu.
Ron terminou de comer nesse momento. Ele estava mais maduro depois do treinamento de Minerva e as vezes até olhava os amigos de forma reprovadora como a professora. Ele olhou os dois por um tempo e sorriu fracamente.
- Talvez hoje eu consiga terminar mais vinte se os Sonserinos cooperarem com os feitiços. – ele disse, arriscando um olhar para a mesa da Casa falada. Depois que Hogwarts começou a treinar todos os alunos com feitiços protetores e de defensa máxima, as Casas começaram a interagir. Sonserina só se tornou suportável, mas ainda era a Casa mais afastada, com poucos se oferecendo para ajudarem quando era preciso. Hermione soube que Draco Malfoy estava responsável pelos alunos de todos os primeiros anos com feitiços básicos de proteção e era sempre o primeiro a se levantar para ajudar. Ele estava tão diferente. Pena que ele só foi se esforçar para mudar o comportamento no final de Hogwarts por que, apesar de ter sido detestável, Malfoy tinha notas tão altas quanto ela e Hermione sabia que eles poderiam discutir sobre os mais diversificados assuntos de igual para igual.
- Vamos ter fé então. – Harry murmurou.
Fé, ela pensou olhando o Profeta Diário esquecido em cima da mesa. A foto de uma mulher balançando o filho sem vida nos braços enquanto ajoelhada ao lado do marido morto nunca abandonaria sua mente. Havia muita dor e sofrimento para que houvesse fé.
~x~
Depois que ela saiu da Torre de Astronomia com Harry, mais tarde naquele dia, sua mente estava clamando por descanso. Era uma tarefa muito árdua e cansativa ficar horas e horas na Penseira, observando cada detalhe e tentando ler as entrelinhas. Este dia fora de fracasso, sem nenhuma informação nova e eles estavam voltando derrotados para a Torre da Grifinória.
Depois que Dumbledore parou de treiná-la, Hermione tinha alternado sua rotina entre procurar informações com Harry e ajudar Ron. Eles não sabiam que ele a treinara e muito menos da missão que confiara a ela. Por enquanto era assim que deveria ser. Um dia, se tudo desse certo, ela contaria a eles e juntos esperariam as coisas se ajeitarem...
... Ou tudo daria errado.
Subindo as escadas, os olhos de Harry se fechavam no meio do caminho e ela segurou-o pela cintura, colocando o braço dele sobre seu ombro. Eles subiram os degraus assim. Estava tudo escuro agora, as 23 e pouco da noite. Dumbledore passara informações falsas ao Ministério de que Hogwarts estava vazia e que os estudantes tinham sido liberados mais cedo, quando na verdade os pais clamavam pela segurança que Hogwarts poderia oferecer. Mas desde então as velas e candelabros da escola tinham sido apagados para deixar a penumbra tomar conta. Claro, aquilo era temporário. Ate alguém se importar o suficiente de dar uma olhada nas casas dos alunos para verificar a presença e Hogwarts estaria sob ataque. Era só uma questão de tempo.
- Obrigado. – sussurrou Harry de cabeça baixa. Seus óculos estavam escorregando até a ponta do nariz e Hermione lançou um feitiço para mantê-lo no lugar. No final das escadas, Ron apareceu pelo corredor e correu até eles. Tirou Harry dos braços de Hermione e passou a carregá-lo. A morena observou os dois. Eles pareciam tão mais cansados que ela: Harry mal se mantinha em pé e Ron parecia que tinha levado balaços por todo o corpo.
- Hey, Granger. – alguém a chamou e o Trio Dourado se virou para trás. Draco Malfoy correu até eles. Ele respirou fundo e cumprimentou os meninos com um aceno. Ele parecia tão cansado quanto eles. Seus finos fios loiros estavam uma bagunça diferente do penteado comportado que sempre tinha e havia linhas escuras embaixo dos olhos claros, mostrando que ele andara dormindo pouco desde Merlin sabe quando. – Madame Ponfrey esta com a sala cheia de quintanistas e há alguns do terceiro que estão enfermos. Ela disse que você sabe alguns conhecimentos básicos suficientes para nos ajudar.
- Claro. – ela disse sem hesitar. – Eu voltarei para o dormitório logo depois. – avisou sob o olhar preocupado de Ron. Ele assentiu levemente, ajeitando Harry no ombro. Aproximou-se dela e plantou um beijo na sua testa dizendo "boa noite". Ela sorriu pelo carinho. Harry já estava dormindo, mas ela desejou boa noite aos dois mesmo assim, observando eles partirem pelo corredor escuro iluminado pelo lumos do ainda adormecido Harry.
Ela virou-se para Draco.
- Onde eles estão?
- Na sala de Aritmância. Um aluno parece ter feito uma poção extremamente errada durante a aula de Snape e agora todos vomitam e choram. – ele respondeu, virando nos calcanhares e voltando por onde tinha vindo com passos largos e rápidos. Hermione se esforçou para acompanhá-lo. – As demais salas estavam sendo usadas para os feitiços de proteção para todos os alunos e os professores estão muito ocupados. – relatou enquanto seguia pelos corredores sem olhar para ela. Depois disso ele ficou em silencio e eles continuaram assim pelo resto do caminho.
Quando chegaram à sala de Aritmância a primeira coisa que Hermione notou foi o cheiro. O odor fétido chegou até sua narina e irritou suas cavidades nasais como se fosse ácido. A sala estava com pouco mais de 15 alunos. Mesas tinham sido transfiguradas em camas e Hermione suspeitou que Draco tivesse um dedo nisso. Havia alguns setimanistas ajudando na limpeza das poças de vômito e outros confortando uns alunos que choravam copiosamente.
Hermione suspirou profundamente enquanto tirava a varinha das vestes. Ia ser uma noite muito longa.
~x~
Foi quando Ron estava falando sobre o futuro dentro de seu Salão Comunal que Hermione decidiu quando deveria começar sua missão.
-... Dois filhos. – ele sorriu rapidamente para Harry e ela. – Um trabalho pequeno no Ministério como meu pai. Eu não ligo muito para o dinheiro, desde que eu seja feliz o suficiente.
Ele arriscou um rápido olhar para Hermione que fingiu não notar. Ela não conseguia pensar nisso agora. Talvez ficar com Ron fosse o certo, não é? Não era isso que os outros esperavam dela? Mas a guerra já tinha tomado todo o seu tempo, corpo e alma e ela só conseguiria pensar em como poderia sobreviver a um ataque de Comensais se Hogwarts fosse atacada agora.
Harry os olhou por cima dos óculos.
- Eu quero que isso acabe logo e com todos nós sobreviventes. É tudo que desejo para o futuro por enquanto.
Hermione assentiu. Sobreviver tinha sido meta de vida desde dois anos atrás, quando vieram os primeiros ataques depois do ressurgimento de Voldemort. Neville, Crabble e Goyle, Luna e vários outros morreram pegos desprevenidos em suas próprias casas, fora do período de aulas. Hermione lamentava suas mortes até hoje e ela sabia que nunca poderia esquecer ou perdoar o responsável por todo esse caos. Tanta violência e sofrimento. Por que ele queria tudo isso? Que bem faria viver pelo respeito conquistado pelo medo? Hermione vira o quanto ele era inteligente e seguindo sua linha de raciocínio, não era difícil imaginar por que ele queria imortalidade. Não que ela achasse certo, mas a busca por conhecimento e expansão do mesmo sempre poderia ser justificada. A imortalidade tinha se tornado interessante aos olhos dela desde que soubera que Harry sobrevivera à maldição da morte por causa do amor de sua mãe.
Era assim tão poderoso esse amor? Como era sentir isso? Dar a vida por alguém? Ela olhou Harry e Ron. Ela, sem duvida, entraria no fogo pelos dois.
- Eu amo vocês. – ela disse de repente e abruptamente. Eles olharam para ela com os olhos arregalados. Houve uma pausa entre eles, onde seus amigos a olhavam sem dizer nada. Ron foi o primeiro a se recuperar. Ele sorriu amigavelmente e a abraçou no sofá que compartilhavam.
- Também te amamos, Mione. – ele disse soltando-a. Harry sorriu genuinamente de sua poltrona e assentiu.
Mas seus pensamentos viajaram de novo depois disso. Há mais de um tipo de amor e este que ela sentia por eles era o fraternal. Hermione queria descobrir mais. Saber como seria amar uma pessoa que ela tivesse escolhido ficar para o resto da vida, proteger e cuidar, superar as dificuldades e descobrir o que há de melhor uma na outra. Como seria sentir tudo isso?
Ela não sabia, mas ela queria saber logo. E foi pensando nisso que ela tomou sua decisão.
Hermione olhou Ron e beijou sua bochecha diante do olhar confuso dele. Ela levantou-se, caminhando até Harry e fez o mesmo. Os dois a olharam sem entender e ela sorriu para eles.
- Nunca se esqueçam que eu amo vocês. – ela disse baixinho sem deixar o sorriso morrer. Sim, então ela estaria partindo agora, mas quanto mais cedo sua missão terminasse, mais cedo ela voltaria para eles. Ela se preparou mentalmente por uns segundos e caminhou até o retrato da Mulher Gorda. Eles estavam sozinhos no Salão Comunal e ela agradeceu Merlin por isso.
- Onde você está ind- – as palavras de Ron morreram assim que ela atravessou o retrato. Ela caminhou com passos firmes e determinados para o andar da biblioteca. Ela não olhou para trás para ver se Harry ou Ron a seguiria, mas sabia que mais cedo ou mais tarde viriam atrás dela. E ai ela não estaria mais ali.
Enquanto andava pelos corredores seu coração se apertou. Ainda bem que conseguira se despedir sem parecer tão suspeito. Ela não os veria por um bom tempo agora. Ansiedade cresceu dentro dela e Hermione já podia sentir a magia se acumulando. As correntes pareciam ter eletricidade e corriam por todo o seu corpo. Suas mãos já tremiam e ela teve que trincar os dentes para não deixar nada começar a flutuar ao seu redor. Ela apertou o passo.
Quando foi virar a esquina do corredor, seu corpo bateu em algo sólido e ela já estava indo de encontro ao chão, mas braços a seguraram pela cintura e a ajudaram a ficar de pé no momento seguinte. Ela ergueu os olhos para Draco Malfoy.
- Cuidado. – ele avisou tardiamente com um sorriso cansado porem malicioso no rosto. Seus cabelos estavam jogados na frente dos olhos, mas Hermione viu o divertimento dançando neles. Agora sua magia tinha se acalmado um pouco e ela retomou ao controle.
- Me perdoe. – se desvencilhou de seus braços quando a proximidade estava começando a incomodar. – E obrigada. – sorriu aquele sorriso que não alcançava os olhos e passou por ele. Sentiu-o segurando-a pelo pulso suavemente e virou-se para olhá-lo. – Sim?
- Obrigada por ter me ajudado aquele dia. – ele disse baixinho, largando-a para colocar as mãos no bolso e abaixar a cabeça. Draco realmente tinha mudado muito, ela pensou. Os olhos azuis gelo dele ainda estavam cravados nela e Hermione não pode deixar de dar um sorriso de verdade dessa vez. – Eu estava supervisionando os alunos do terceiro ano com Snape.
- Não se culpe. – ela disse tocando-lhe o braço suave e rapidamente. – Acidentes acontecem. Vamos agradecer que não tenha sido nada mais sério.
Ele acenou lentamente com a cabeça e sorriu de canto. Virou-se para ir embora, mas voltou-se novamente para ela, seus olhos escurecidos mesmo com a pequena luz solar que passava pelas janelas.
- Quero te dar algo. – ele disse e Hermione ergueu as sobrancelhas. Ela ganhar algo de Draco Malfoy? Há dois anos ela teria rido. Hoje ela somente o olhou curiosa. O louro tirou algo do bolso e estendeu para ela. Hermione aceitou e observou o presente. Era um colar de ouro com um dragão ornamentado em detalhes vividos e muito bem talhados. Poderia custar mais que a casa dela. Hermione o olhou com duvida. – Minha mãe me entregou antes de morrer. Disse que meu pai tinha dado a ela como proposta de casamento.
Seu coração falhou uma batida e Hermione arregalou os olhos sem entender. O que exatamente isso significava? Draco Malfoy estava pedindo-a em casamento? Ela o olhou alarmada. Ele estava sério. Seu coração voltou a bater fortemente dessa vez e sua respiração perdeu o compasso. Ela estava pronta a argumentar algo sem sentido quando um sorriso de canto apareceu nas feições bonitas de Malfoy.
- Não me entenda mal. – ele riu roucamente. – Ela me disse sim para fazer como meu pai e entregar a alguém que eu pretendesse me casar, - ele fez uma pausa e respirou fundo. - mas com tudo isso acontecendo eu duvido muito que eu sobreviva. Fique. Vai ter mais utilidade para você do que para mim.
Ok, pegadinha do Malfoy. Ela quase morrera de um ataque do coração aqui. Sua respiração voltou ao normal e ela rezou para que ele não tivesse percebido.
- É o brasão dos Malfoy. Não posso usar se eu não for uma. – ela sorriu fracamente.
Draco parecia disposto a ficar ali o dia inteiro e fazê-la aceitar.
- Se eu morrer não vai haver mais Malfoy. – Draco deu de ombros. – Aceite, por favor. – Hermione sorriu e guardou o colar nas vestes. Durante o ato, ela sentiu o outro colar no bolso escondido no manto e lembrou-se de não perder mais tempo. Harry e Rony poderiam estar caçando-a por Hogwarts. – Mais uma coisa. – ela o olhou. Os olhos dele se desviaram por um momento, mas logo a miraram de novo. Ele suspirou. – Caso nós consigamos sobreviver... – fez uma pausa, olhando-a nos olhos. – Considere como uma opção.
Ela levou uns segundos para entender.
Considerar uma opção? Se os dois não morrerem, considerar uma opção eles se casarem? Sem esperar sua mente processar a informação, seu coração novamente se acelerou.
- Não quer guardar para alguém que ache mais adequada? – fez menção de pegar o colar de volta com as mãos tremendo de ansiedade, mas as mãos de Draco a impediram.
- Eu já guardei por muito tempo. – ele murmurou e plantou um beijo na mão dela. Depois das palavras deixarem sua boca, Hermione sentiu um arrepio da espinha e algo em seu estomago se revirou. Ele tinha acabado de dizer que tinha esperado por isso por muito tempo ou era a imaginação dela? Soltou sua mão da dele suavemente e sorriu nervosamente. Não era para ser Ron dizendo coisas bonitas? Não era isso o que todos esperavam?
- Eu vou considerar. – afirmou com a voz um pouco trêmula. Ela não sabia mais o que dizer. – Um dia sentaremos para conversar.
- Assim espero. – Draco deu um ultimo sorriso e se afastou. Hermione observou suas costas até ele sumir por um corredor.
~x~
