Título: Enquanto A Chuva Caía
Autora: Lab Girl
Categoria: Bones, B&B, 5ª temporada, romance, sexo
Advertências: Linguagem e situações adultas. Conteúdo inapropriado para menores. Por favor, leve em consideração o alerta antes de prosseguir com a leitura!
Classificação: NC-17
Capítulos: 11
Status: Completa
Linha do tempo: Esta história se situa na 5ª temporada da série, alguns meses após os acontecimentos do episódio 100
Sumário: Uma noite de álcool, chuva e solidão acompanhada…
Não sei se sou eu ou você
Mas posso ver que o céu está mudando...
Álcool e Tormenta
Seeley Booth não estava bêbado. Seis copos de whisky não contavam como um verdadeiro porre. Ou contavam?
De qualquer modo, ele sabia bem que ainda não havia atingido realmente seu limite. Ou do contrário ainda não estaria se lembrando de todas as coisas que queria tanto esquecer.
Esquecer. Era tudo o queria, e tudo o que não conseguia fazer.
A bebida nunca havia sido um refúgio, nunca costumava se utilizar dela para aliviar a dor ou nublar as asperezas da realidade. Seu único vício na vida tinha sido o jogo. Porque Seeley sabia que sua relação com o álcool não era simples assim.
Seu pai havia lhe ensinado uma valiosa lição, desde muito cedo. Ele havia escolhido o álcool como um estilo de vida. Seeley não.
Talvez aquela noite fosse sua primeira grande tentativa de buscar um pequeno anestésico na bebida. Afinal, sempre havia evitado transformar sua relação com as garrafas em uma de dependência, fosse por que razão fosse.
Havia evitado o álcool na maior parte de sua vida. Quando era adolescente nunca havia bebido. O pai tinha sido o exemplo perfeito de como Seeley sabia que não queria ser. Então, durante sua adolescência, a bebida não havia exercido qualquer apelo. Seu primeiro trago fora logo depois de terminar o colégio. Naquela altura, já tinha maturidade suficiente para reconhecer que beber socialmente não o transformaria num alcoólatra. Mas também tinha senso o bastante para saber que o alcoolismo corria no sangue de sua família, por isso sempre respeitara seus limites.
Seeley Booth podia contar nos dedos de uma mão o número de vezes em que havia realmente tomado um porre na vida. E naquele momento, admitia sua fraqueza – tinha começado a beber porque doía. Ainda estava doendo.
A rejeição de sua parceira, Temperance Brennan, tinha virado seu mundo de pernas para o ar. Desde aquela fatídica noite, em que havia aberto seu coração para ela e ela o havia recusado, sentia como se alguma coisa no universo tivesse mudado ligeiramente de lugar.
Era possível? Seria possível que estivesse se sentindo afundar tanto por uma rejeição amorosa?
Seeley não era o tipo de homem que tinha problemas para atrair as mulheres. Pelo contrário. Naquele campo não poderia se queixar. E, no fundo, se orgulhava um pouco disso.
Claro, seu histórico amoroso, ao final das contas, não era dos mais bem sucedidos. Afinal, seus relacionamentos haviam todos tendido ao fracasso, não? Pelo menos os que contavam. Rebecca havia rejeitado se casar com ele. Temperance… ou melhor, Bones…
Bones havia sido gentil o suficiente – dentro de sua forma atrapalhada e excessivamente racional de ser – para fazê-lo entender que o problema era ela, e não ele.
Mas não havia adiantado muito. Por mais que reconhecesse que ela ainda tinha problemas para lidar com os próprios sentimentos, Booth sabia que tinha sua parcela de culpa por seus fracassos amorosos.
No caso de Rebecca, isso nem contava mais. Hoje conseguia entender claramente que eles não haviam sido feitos um para o outro. Nunca daria certo. E a coisa mais injusta seria insistir apenas por haver uma criança envolvida. Tinha sido melhor. O rumo que as coisas haviam tomado entre eles tinha sido o mais acertado.
Quanto a uma certa antropóloga forense... bem, ele devia ter previsto. Afinal, que futuro poderia haver para dois seres de mundos tão opostos como eram os dois?
A questão era apenas que, apesar de sua parte racional lhe mostrar isso, seu coração lhe dizia todo o contrário. Metades de um inteiro… conexão profunda… ligação emocional… forças complementares... todas aquelas palavras lhe vinham à mente, e insistiam em fazer sua cabeça rodar, muito mais do que o efeito do whisky.
Era sua teimosia a culpada. Sua insistência em acreditar em milagres, em sonhar com o impossível... por isso estava ali, naquele balcão de bar, remexendo uma solitária pedra de gelo com o dedo no fundo de um copo vazio.
As luzes e a música do ambiente eram registradas em alguma parte mais afastada de sua mente, enquanto a mais superficial sentia inveja dos casais se formando nas mesas e na pista de dança.
Aquela era uma conexão que, no último ano, ele parecia incapaz de formar com outra pessoa. Desde que havia admitido seus sentimentos por Brennan.
Dra. Temperance Brennan.
Um muxoxo lhe escapou dos lábios ao ouvir perfeitamente a voz dela ecoando em sua mente, exclamando o título que ela tanto adorava ostentar.
Estava condenado. Era assim que se sentia. Condenado pela maldição da Dra. Temperance Brennan… não podia ficar com ela, e tampouco conseguia se ligar a qualquer outra mulher.
Era patético. Doído.
Naquele momento, Booth achava que era mais doído do que patético.
Nos últimos meses, sua vida havia se convertido em uma nuvem de incerteza e desesperança. Ultimamente tudo parecia menos colorido, as coisas pareciam não tão sólidas quanto eram antes.
Antes daquela noite na escadaria do edifício do FBI.
Os alicerces do seu emocional pareciam ter sido abalados de uma tal forma, que agora sentia-se perdido. E não sabia como fazer as coisas voltarem a ser como antes.
Nunca havia sido do tipo terrivelmente introspectivo, do tipo que era dado a depressões internas. Mas nos últimos tempos, sentia um certo peso abater-se sobre si. Tinha sido agraciado com o tipo de mente capaz de decifrar as pessoas e encontrar respostas. Mas havia uma única pessoa a quem, por mais que tentasse, não conseguia decifrar.
Ela.
A brilhante, independente, cerebral Temperance 'Bones' Brennan.
Ela não era tão simples. Ela era como um livro, daqueles bem grossos, de capa dura e cheio de termos técnicos, definitivamente não escrito para leigos.
E toda sua experiência com o comportamento humano, sua habilidade de analisar e entender o outro pareciam não valer ou simplesmente não se aplicar a ela. Ou estava ficando velho, ou todo o conhecimento que julgava ter sobre as pessoas não se aplicava àquela única e imperfeitamente perfeita mulher.
Ou talvez, quem sabe, só precisasse aprender a usar suas ferramentas de forma diferente quando se tratava dela.
Balançando a cabeça, rindo consigo mesmo, encostou a testa contra a fria e lisa superfície do balcão do bar, desejando que seus pensamentos conseguissem se organizar de comum acordo.
Mas como era possível encontrar a resposta para o que o atormentava? Como se ajudava alguém que simplesmente se recusava a ser ajudado? Como se amava alguém apropriadamente sem conseguir fazer com que esse alguém se abrisse e se permitisse ser amado?
Como se convencia alguém que tinha medo de sofrer a arriscar? Como se ensinava alguém que amar vale a pena sem que esse alguém esteja disposto a amar?
Eram muitas perguntas para poucas respostas.
Booth suspirou, segurando o copo vazio entre as mãos. Como se parava de ser egoísta, carente e patético?
Talvez uma outra dose ajudasse.
Talvez não trouxesse as respostas... mas talvez fizesse as perguntas que giravam em sua cabeça irem embora.
Talvez.
Foi quando se perguntou… afinal, que diabos estava acontecendo com ele?
Que diabos acontecia com ela?
Que diabos estava acontecendo com os dois?
Suspirou. Definitivamente estava ficando velho. Seu medo, no fundo, era não encontrar a resposta para uma única pergunta… quando iria encontrar o que estava buscando?
E o que era que estava buscando, afinal?
Amor... puro e simples.
Amor incondicional, amor de verdade. Amor para a vida inteira.
Sentiu uma mão fria sobre seu ombro esquerdo, e por um louco instante teve a esperança de que pudesse ser ela.
Ridículo. Ela nem sequer sabia onde estava.
Sim, era uma mulher. Mas não A Mulher.
Era outra. Uma qualquer, dentre tantas na multidão. Uma cujo rosto não expressava força e ao mesmo tempo fragilidade, cujos olhos não eram brilhantes o bastante para fazê-lo enxergar um vislumbre de sua alma.
Era uma dessas mulheres, como as que se veem todos os dias por aí. Uma que poderia ser facilmente esquecida depois de um único olhar.
Uma mulher. Mas não A Mulher.
Booth percebeu que ela era alta e estava de pé logo atrás dele. Loira.
Ele se lembrava de algum dia remoto ter gostado de loiras.
Ela até poderia ser definida como bonita. Mas era de uma beleza vazia... sem calor.
"Olá!" ela falou.
A voz dela era macia. Mas não era profunda, com um suave toque de doçura.
Ela lembrava muito uma daquelas mulheres de plástico, retiradas de revistas ou vídeos. Do tipo para o qual era fácil olhar, mas não admirar. Talvez desejar, por umas horas ou, no máximo, uma noite. Do tipo com quem tudo fluiria tão fácil, afinal não havia o menor risco de discutir nem conviver tempo o bastante para machucar.
Do tipo com quem seria fácil ter uma noite de sexo. Ela poderia até falar um pouco, mas não diria nada em termos científicos e iria embora na manhã seguinte.
Mas Seeley Booth não era assim.
Tinha que ser mais do que apenas sexo. Por mais solitário que estivesse se sentindo.
E nos últimos anos, já não bastava somente não ser apenas sexo. Tinha que ser muito, muito mais do que apenas sexo.
Por um breve momento, se perguntou novamente o que estava acontecendo com sua cabeça. A bebida já teria subido tanto a ponto de fazê-lo ter uma cadeia de pensamentos atormentados e incoerentes?
A mulher o olhou de forma estranha. "Você está bem?"
"Por que pergunta?" retorquiu.
"Vi você sentado aqui sozinho, batendo a cabeça no balcão. Agora está rindo sozinho. Parece que está com algum problema."
Problema? Já dava para estranhos perceberem de longe?
"Talvez eu esteja um pouco atormentado" admitiu, suspirando e deslizando um dedo indicador sobre a borda do copo.
"Quer conversar?" a mulher ofereceu, sentando-se ao seu lado e abrindo um sorriso.
Conversar.
Era o que queria. O que devia fazer.
Não com a que estava ao seu lado naquele balcão.
Mas com A Mulher.
"A não ser que queira ir para algum outro lugar" a estranha o encarou, o olhar cheio de expectativa.
Ele nem sabia o nome dela.
E se deu conta de que não queria saber.
Na verdade, percebeu que não queria saber nada sobre ela.
Afinal, tinha certeza, ela não saberia recitar o nome de todos os ossos do corpo humano. E não o ajudaria a esquecer aquela que realmente sabia.
Escorregando para fora do banco, Seeley retirou duas notas do bolso e jogou-as sobre o balcão. Nem mesmo se preocupou em justificar sua saída ou se despedir. Talvez ela ficasse desapontada por seu comportamento, mas seria por pouco tempo. Estava certo de que ela não demoraria a encontrar outra companhia. Desde que não fosse a sua, estava tudo bem.
Ao atravessar a porta e atingir a rua, o ar levemente frio da noite de primavera atingiu seu rosto, fazendo-o sentir-se um tanto mais sóbrio.
Estava a pé. Não havia dirigido até o bar, ciente do que queria fazer desde o início da noite. Afinal, não era boa ideia sair de carro quando se pretendia tomar um porre.
Poderia ir andando. É, talvez fosse bom andar um pouco.
Enquanto caminhava, a leve brisa arrepiava sua pele e ajudava a varrer um pouco mais o efeito do álcool.
Ouviu um som familiar.
Trovão?
Maravilha.
Continuou andando.
Até se dar conta de que não sabia onde estava.
Onde diabos estava, afinal?
Por que tinha decidido ir a um bar longe de casa?
Aproximando-se da esquina, apertou os olhos por um instante para saber onde estava, afinal.
West Anderson. Ok, estava na West Anderson.
Por que soava tão familiar?...
Droga.
Oh, droga.
Por uma irônica coincidência ou graças a seu inconsciente masoquista, estivera bebendo em um bar a cinco quadras do apartamento dela.
Sua casa estava bem longe dali.
Tinha parecido uma boa idéia quando havia tomado o táxi e feito o motorista parar e deixá-lo num lugar bem distante e diferente da área que sempre costumava frequentar.
Agora percebia que não havia sido uma ideia tão perfeita assim.
Sentiu algo frio cair sobre seu rosto. Levou a mão a tempo de perceber a água.
Uma e outra gota caíram sobre seu pescoço, por sua camisa. Estava chovendo.
Ótimo.
Apressou o passo, tentando inutilmente escapar da chuva que começava a cair intermitentemente, em gotas cada vez mais grossas.
Maravilha. Nenhum taxi à vista.
Como ia chegar em casa agora?
Ainda podia dar meia volta e retornar ao bar.
Ao pensar na loira sentada no banco do balcão, continuou seguindo em frente.
Mas logo não havia muito o que fazer. A chuva caía impiedosamente, fria e pesada. Estava completamente encharcado. Levaria mais de meia hora para chegar até seu apartamento a pé.
Droga.
Seus passos se dirigiram de comum acordo, e sem consultá-lo, na direção mais conhecida.
Quando avistou o bloco de apartamentos do complexo dela, tornou a se perguntar - irônica coincidência, ou armadilha de seu inconsciente masoquista ?
A busca por uma resposta ficou esquecida enquanto debatia se deveria subir ou não.
Deu uma rápida olhada no relógio. Uma da manhã.
Ela devia estar dormindo.
Ergueu os olhos na direção do andar dela, e avistou uma luz acesa.
Talvez ela ainda estivesse acordada, entretida com algum trabalho. Ou um novo livro.
Enquanto a chuva pesada caía sobre ele, Seeley Booth continuava de pé, ensopado, meio bêbado e completamente confuso.
À uma da manhã.
Na frente do edifício de Temperance Brennan.
Ela não iria gostar nada se aparecesse naquele estado na porta dela, à uma da manhã.
Por um insano segundo pensou em entrar na área do edifício e se esconder na garagem. Poderia ficar ali até a chuva passar. E se não passasse tão cedo, poderia dormir no chão.
Uma risada escapou-lhe da garganta diante do pensamento estúpido.
Talvez um banco de uma praça fosse uma opção melhor.
Ou mais patética.
Suspirou, passando as mãos molhadas pelos cabelos úmidos. Seria tão humilhante assim ligar para ela e perguntar se poderia subir? Afinal, estava a pé, debaixo da chuva. Ela se importaria tanto em deixá-lo entrar e se abrigar da tempestade por alguns minutos? Ou horas?
Sacudiu a cabeça. Talvez o problema não fosse tanto o fato de estar ensopado e bater à porta dela de madrugada. Talvez o problema fosse o inegável fato de que estivera bebendo nas últimas horas, sozinho, num bar perto de onde ela morava.
Decidido, Booth deu a volta e retomou o caminho.
Era melhor ainda manter um pouco de dignidade. Embora já não estivesse tão zonzo quanto ao sair do bar, o que pensava que diria a ela? Como explicaria sua decisão idiota de se entorpecer para esquecer que ela não o queria como ele a ela?
Estúpido.
Andou mais algumas quadras quando a chuva pareceu dobrar de intensidade. E finalmente teve a nítida impressão de ter tomado a rua errada. A Elm não levaria até seu bairro, mas a uma distância duas vezes maior de lá.
Ao perceber que estivera perambulando na direção errada pelos últimos quinze minutos, uma obscenidade escapou de seus lábios, abafada pelo ressoar de um trovão.
Estava cansado, molhado e frustrado. Buscando uma forma de alívio, pronunciou mais alguns palavrões até tropeçar numa pedra macia que emitiu um som muito parecido com um ganido.
Ganido?
Pedra… macia?
Booth voltou-se para o lugar onde havia tropeçado e piscou por alguns segundos, tentando visualizar o obstáculo em que quase havia pisado. E notou que a coisa em questão não era uma coisa... mas um cachorro.
Um filhote assustado e completamente ensopado.
Curioso, aproximou-se mais alguns centímetros. Era um filhote de pêlo escuro e olhar perdido, mas que pareceu se iluminar ao vê-lo.
Booth notou que a pequena bola de pêlo molhado começou a balançar levemente o rabo enquanto o observava de perto. Ele era pequeno. E estava sujo, coberto por uma camada de lama.
"Ei, amigo" murmurou, tentando ver se o bichinho usava uma coleira ou qualquer coisa que o identificasse.
Nada.
"Está perdido?"
Sabia que o cachorro não responderia, mas não se importou em perguntar. A resposta em questão foi uma espécie de convulsão. Booth abaixou-se e viu que a pobre criatura estava tremendo. Devia estar com frio.
Ao tocá-lo, o filhote levantou-se num salto e pulou em seu colo, aconchegando-se em seus braços. Booth sentiu uma onda de simpatia e compaixão pela criaturinha invadir seu peito.
Afinal, estavam na mesma situação. Perdidos e molhados.
Afagando o animal, sentiu as costelas do bicho perfeitamente contra seus dedos. Pobre cãozinho.
Não era de raça definida, mas tinha um ar simpático o suficiente para não querer deixá-lo jogado ali, sozinho.
Que ótimo. Estava a pé, debaixo de uma chuva torrencial, e agora com um cachorro perdido nos braços. O que faria?
Segurando o animal no colo, levantou-se, e com determinação foi andando de volta a quadra dela.
Era uma da manhã, mas estava chovendo... e agora não era apenas ele e o risco de ferir sua dignidade. Agora era ele e um cachorrinho perdido. Ambos encharcados, sozinhos e carentes.
Ela iria entender…
Não iria?
Erguendo o filhotinho até que ficassem cara a focinho, Booth sorriu.
"Você salvou a minha pele, camarada. A nossa."
Continua...
