Disclaimer: Os nomes dos personagens não me pertencem, embora suas personalidades, nesta história, me pertençam inteiramente, hehehe. E só para não esquecer: viva Sirius Black, o primeiro personagem mais injustamente assassinado; bom, talvez terceiro se levar em conta James e Lily.
Resumo: O caminho deles se cruzou em uma noite qualquer. Ele queria descobrir a tragédia dela, enquanto fugia da sua própria. (É UA, gente).
Ele jogou o cigarro no chão, apertando os passos enquanto arrumava o casaco de couro sobre o corpo.
As ruas de Londres eram pouco acolhedoras naquela época do ano, embora, Draco Malfoy não conseguisse se lembrar de alguma época em que fossem.
O vento frio rachava os lábios dele, mas ele não se importava em atravessar a parede de névoa gelada. Ele gostava de andar, mesmo com aquele frio machucando a pele muito fina e pálida do rosto.
Era por isso, talvez, que ele tinha continuado andando, sem se importar com o caminho para onde iria. Ele iria para onde ela fosse.
Já devia ser começo de madrugada e as poucas lojas abertas estavam quase vazias, exceto pelos vendedores ociosos que se escoravam em seus balcões, provavelmente se perguntando se deviam estar ali.
Draco não se perguntava isso. Sabia que devia estar ali, andando, no frio, naquele momento. Era como uma terapia para ele; toda noite, depois de cumprido seu trabalho, ele andava por horas e horas, sem rumo, sem nunca chegar a lugar algum.
Ele já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha virado noites, apenas andando.
Mas Draco não se preocupava em contar as noites. Com certeza, o número total seria menor do que a quantidade de vidas que ele tinha tirado.
Às vezes, odiava a sensação de dever cumprido. Draco Malfoy, o matador de aluguel. O assassino que matava por dinheiro. E ás vezes, por prazer.
Segurou uma risada quando pensou no que o pastor da Igreja dele diria se soubesse que um dos seus maiores contribuintes, ajudava o templo sagrado com dinheiro sujo de sangue.
E a mulher continuava andando apressada, enquanto Draco Malfoy a seguia.
A vontade de acender outro cigarro tomou conta dele. Ele vasculhou o bolso da calça, procurando o isqueiro e o pacote de cigarros. Eles tombaram do bolso dele para o chão e ele teve que se abaixar para pegá-los. "Maldição" – ele murmurou com raiva. Detestava quando as coisas saiam de perto do alcance dele.
Ele recolheu o isqueiro e o pacote de cigarros que tinham ficado úmidos pelo contato com o chão molhado. Amassou com raiva o pacote e o jogou na rua. De nada serviriam se estivessem molhados. E agora, só poderia fumar no dia seguinte.
Apertou ainda mais os passos, tentando manter o ritmo acelerado de sua presa.
Era a necessidade de estar na rua que o fazia andar e andar. Era a necessidade de tentar purificar seus pecados que não o deixava ir para casa, dar um beijo de boa noite na face da mãe e do pai.
Talvez tenha sido a necessidade de estar longe desse cenário caseiro que ele não suportava, que o tivesse feito seguir aquela moça. Draco não sabia, ao certo, quando ela tinha entrado no caminho dele. Mas o fato era que, do momento em que eles pisaram na mesma calçada, Draco começou a trilhar o mesmo caminho dela.
Ele não sabia onde ela estava indo sozinha, aquela hora da noite. Os becos londrinos não eram lugares seguros para mulheres sozinhas andando de noite. Ele podia tentar se enganar dizendo que ele a seguia apenas para se certificar que ela chegaria bem ao seu destino.
Mas que diabos! Ele não a conhecia. Nem mesmo seu rosto ele tinha visto. A única coisa que ele via era os quadris nos jeans apertados, balançando ao acompanhar o ritmo acelerado dos passos dela. Ou talvez tivesse sido aqueles cabelos avermelhados. Ele não mentiria para si mesmo dizendo que se preocupava com ela.
Por Cristo, quem usava aquela cor de cabelo atualmente? Eles estavam presos desleixadamente num coque malfeito, amarrados com um elástico preto – que se destacava na cor vermelho berrante dos fios de cabelo dela. A blusa branca – amarelada pelo uso – se confundia com a cor da pele dela. Ela não usava salto ou brincos.
Talvez ela fosse feia e isso tivesse atiçado a curiosidade dele. Embora, mulheres feias não atiçassem a curiosidade dos homens.
De qualquer forma, ele continuou andando atrás dela, virando nas mesmas esquinas, entrando pelos mesmos becos. Reparou a sacola pesada de compras que ela firmemente segurava em uma das mãos, enquanto a outra segurava a alça da bolsa, que caia do ombro constantemente.
A ruiva virou outra esquina e Draco acelerou o passo atrás dela, apenas para encontrar o vazio. Ela tinha sumido assim que a curva acabou. Ele parou para olhar ao redor, procurando um sinal de onde ela podia ter ido.
Em tantos anos de profissão, seguindo e vigiando, ele nunca tinha perdido de vista uma vitima. Amaldiçoando o fato, ele se virou para seguir o caminho de volta, já que não havia sinal dela pela frente. E atrás de si, ele a encontrou.
"Você estava me seguindo?" – a ruiva apontou na direção dos olhos dele, um spray de pimenta. Draco deu um risinho de escárnio. Se ela soubesse que ele tiraria das mãos dela o spray antes que ela conseguisse pensar em apertá-lo, ela provavelmente teria sido menos autoconfiante ao falar com ele.
"O que te faz pensar que eu te seguiria?" – ele perguntou, notando como ela tinha ficado desarmada rapidamente com a resposta.
Procurando alguma resposta, ela baixou um pouco o braço que segurava o spray de pimenta.
"Nunca abaixe sua arma na frente de um inimigo, moça" – ele apontou para a mão dela.
Rapidamente, ela levantou o braço. "Então você estava me seguindo?" – ela repetiu.
"Eu não disse isso" – Draco sorriu.
Ela olhou para os lados. Não havia ninguém na rua a não ser eles dois. Depois, encarou Draco, estreitando os olhos.
"O que você quer?"
Draco deu de ombros. De fato, ele não queria nada. Ainda não sabia o porquê de tê-la seguido. Ela nem mesmo era um trabalho. Só então ele reparou no rosto dela. A pele branca, algumas sardas espalhadas discretamente sobre o nariz e bochechas, os olhos grandes e castanhos, o olhar sério e firme. Uma beleza discreta e pouco percebida. Certamente, ela atiçaria a curiosidade dele.
"Eu não vou repetir. Se não me responder, eu vou chamar a polícia" – o tom ameaçador dela fez Draco sentir-se em casa.
"Moça, não quero nada de você. Se quisesse, já teria conseguido" – Draco retirou as mãos dos bolsos, sem tirar os olhos da ruiva.
Ela abaixou lentamente o spray, embora o segurasse firmemente, como se estivesse pronta para usá-lo tão rápido fosse o necessário.
"Se você acha que eu a estou seguindo, por que parou para verificar ao invés de sair correndo?" – ele perguntou curioso.
Ela deu uma olhada discreta para uma porta atrás de si, mas não respondeu a pergunta dele. Mas para ele foi o suficiente. A mente aguçada de Draco respondeu o que ele queria saber
"Você mora aqui" – ele afirmou. Ela enrubesceu, mas não confirmou.
"Quer ajuda com as compras?" – ele apontou para a sacola de compras perto da porta. Ela olhou para o pacote e depois negou com a cabeça.
O jeito tímido e pouco intimidante da ruiva fez Draco querer estar na companhia dela por mais tempo. Ela parecia ter notado aquilo e travava uma pequena batalha interna. Uma parte dela queria estar com aquele estranho também. Ele era intimidante e sombrio e a tinha seguido – embora não parecesse querer lhe fazer qualquer mal. Mas a parte racional avisava do perigo que era levar para dentro de casa alguém que ela não conhecia.
Draco esperou pacientemente que ela se decidisse.
"Boa noite" – ela disse por fim, virando-se de costas para ele e dirigindo-se para a porta. Abaixou para pegar a sacola de compras e abriu a porta, entrando em seguida. Mas quando empurrou a porta para que ela se fechasse, um braço a impediu.
Draco forçou a porta para que se abrisse, encontrando um par de olhos assustados e chocados com o comportamento dele.
"O que você está fazendo?" – ela encostou o corpo na parede, se afastando de Draco.
"Esperando você me convidar para entrar."
Ela mirou Draco por alguns segundos, antes de dar as costas para ele e começar a subir as escadas em direção ao apartamento dela.
Draco a seguiu em silêncio, lance por lance de escada até se deparar com uma velha porta de madeira gasta. Ela morava no número 35.
Ginny Weasley abriu a porta um pouco afoita. Não sabia o que se passava em sua cabeça para ter permitido que um estranho entrasse no apartamento dela.
Depositou a sacola de compras na mesa da sala, enquanto o estranho entrava. Ela olhou de esguelha para ele quando ele começou a andar para o centro do cômodo.
Draco olhou tudo com atenção. Era um apartamento realmente pequeno; a sala e a cozinha dividiam praticamente o mesmo espaço, separadas apenas por um balcão de mármore que não cobria a extensão total da divisão. Ele podia ver um pequeno corredor onde deveria ficar o quarto dela e o banheiro. Um sofá e poucos móveis decoravam a pequena sala.
Ele passou a mão pelos moveis enquanto caminhava pelo pequeno lugar. Demorou algum tempo olhando os porta-retratos sob o deck da televisão e nos quadros espalhados pelas paredes. Depois, se voltou para a moça, que estava a sua frente, no lado de dentro da cozinha, esvaziando a sacola de compras sobre o balcão de mármore.
"Você quer beber alguma coisa?" – ela perguntou quando os olhos deles se encontraram.
Ele tirou o casaco e jogou sobre o sofá. "O que você tem aí?"
"Água, sucos, cerveja" – ela abriu a geladeira e mostrou para ele.
"Vodca?" – ele fez uma careta ao olhar para a geladeira dela.
Ela acenou com a cabeça e tirou uma garrafa praticamente cheia de dentro do congelador. Pegou dois copos e serviu uma generosa dose da bebida.
Depois, andou até ele e lhe entregou um copo.
Draco levantou o copo, fazendo um brinde á distância e tomou a dose em um só gole.
"Pegue mais, se quiser" – ela apontou a garrafa e tomou um pequeno gole do próprio copo. Ele não se mexeu.
Incomodada com o olhar dele sobre ela, a moça andou até o balcão e começou a retirar as compras de dentro da sacola.
Draco observava o cuidado com o qual a ruiva retirava as embalagens dos produtos e os colocava sobre o balcão. Às vezes, ela lançava um olhar para ele, que olhava de volta.
"Você vai me falar seu nome?" – ela inquiriu enquanto guardava no armário os pacotes.
Ele negou com a cabeça.
Ela assentiu com a cabeça, sentindo o rosto corar. Continuava se perguntando, em silêncio, porque tinha deixado aquele estranho entrar na casa dela. Ele não falava nada, apenas a observava e isso a constrangia.
"Não é um pouco tarde para se fazer compras?" – ele perguntou.
Ela olhou para ele com uma expressão indecifrável. "É a única hora que eu tenho para fazer isso" – ela respondeu com simplicidade. O loiro não parecia nada perigoso para ela naquele momento, embora o coração dela palpitasse o tempo todo de angústia e medo.
Draco estudou a ruiva por um minuto. Olhando em volta, ele conseguiu traçar rapidamente um perfil sobre ela.
Ele andou até os portas retratos, depois voltou-se e se aproximou dela.
"Trabalha o dia todo" – ele afirmou.
Ela confirmou com a cabeça e jogou a sacola de papel – que tinha guardado as compras – no lixo. Depois, sentou-se na cadeira perto do balcão da cozinha e olhou para ele.
"Você trabalha?" – ela perguntou quando ele se aproximou. A presença do rapaz a intimidava muito. A proximidade lhe causava desconforto. O jeito que ele a olhava, os olhos frios e acinzentados, a expressão vazia, a excitavam.
"Trabalho" – ele respondeu sem emoção. Os olhos deles se encontraram. Ela desviou o olhar para baixo, encarando a mão esquerda. Ele fez a mesma coisa.
"Mora sozinha, trabalha o dia todo, quase não come, quase não bebe, espalha fotos da família por todos os cantos da casa, tem a marca de um anel no dedo anular da mão esquerda, permitiu que um estranho a seguisse e entrasse na sua casa, mesmo correndo todos os riscos" – ele sentou-se de frente para ela, cruzando as mãos sobre o peito.
Ela corou violentamente e procurou as fotos da família com os olhos.
"Aonde você quer chegar?" – ela perguntou baixinho.
Ele soltou um risinho abafado. Ela parecia encurralada, como uma presa prestes a ser morta pelo caçador.
"Quero descobrir o motivo pelo qual você vive desse jeito, sozinha, se escondendo. Quero saber qual a sua tragédia" – ele sibilou.
A ruiva se levantou de imediato e se postou ao lado da porta da casa. "Saia" – ela ordenou com rispidez. Ele não se moveu. Olhou para ela com seriedade.
"Eu já disse para você sair" – ela gritou, perdendo o controle. Se aproximou dele, o puxando pelo braço, tentando fazer com que ele se levantasse.
Draco se levantou e segurou os braços dela com força, falando para que ela parasse de gritar.
Ela levantou os olhos para ele e Draco viu, com algum remorso, que ela estava com os olhos molhados.
"Me desculpe" – ele pediu quando a soltou. Ginny massageou os braços doloridos pelo aperto e se afastou. Ele a seguiu quando ela foi em direção a janela da sala.
"Eu não quis..." – ele começou, mas ela o interrompeu.
"Quis sim. Eu não sei quem você é ou o que você pensa que está fazendo, mas eu não admito que um estranho entre na minha casa e presuma nada sobre a minha vida."
"Eu presumi certo, não foi? Você não teria essa reação de eu estivesse errado. Essas fotos espalhadas pela casa. É uma tentativa de espantar a solidão? De se convencer de que não está sozinha?" – ele continuou, mesmo sabendo que ela estava a ponto de começar a chorar com gosto.
"Não te interessa o porquê disso. Mas você deveria olhar para você mesmo antes de presumir qualquer coisa sobre mim. O que leva alguém a seguir outra pessoa por ruas e ruas e se convidar a entrar na casa dessa pessoa se não for alguém muito solitário?" – ela o desafiou.
Draco não respondeu. Ela não deixava de ter razão. Ele era tão solitário quanto ela. Talvez eles tivessem passado pelas mesmas tragédias.
E são tantas as tragédias que podem acontecer na vida de uma pessoa. Nascer, crescer, amar, perder, sofrer. Ele mesmo era um tragédia. E era dele mesmo que fugia todas as noites solitárias em que andava e andava. E era da sua tragédia que ele fugia quando a seguiu até ali, até a casa dela e a encurralou, tentando absorver o sofrimento dela para que isso o distanciasse do seu próprio.
Ginny circulou o dedo anular esquerdo, como se tivesse brincando com um anel inexistente. Draco sabia que era um anel de compromisso que tinha deixado aquela marca de sombra. Ele acompanhou os olhos dela alcançando uma das fotos sob o deck da televisão. Um homem moreno, de cabelos bagunçados e olhos muito verdes sorria para a câmera. Estava abraçado a um homem ruivo, muito sardento e sorridente. Ele não precisou perguntar para saber que o ruivo era irmão dela. E que ela os tinha perdido.
Draco podia tecer milhões de teorias sobre como ela os tinha perdido. Ele podia até mesmo vasculhar a memória para tentar saber se eles tinham sido algumas das vitimas dele. Não seria uma grande surpresa se ele mesmo tivesse metido uma bala na cabeça deles em alguma briga de bar, ou eles podiam estar simplesmente na hora e lugar errados, no caminho de Draco. Ou de qualquer outro. Mas Draco não ia fazer muito esforço para tentar descobrir sobre a morte daqueles dois homens. Ele estava vivo e era tudo o que importava.
Draco secou o rosto dela e acariciou os cabelos vermelhos. Ela fechou os olhos. As caricias dele eram suficientes para deixá-la em transe.
"Qual a sua tragédia?" – ela perguntou.
"Minha tragédia é ser quem eu sou" – ele respondeu baixinho.
Ela se afastou, buscando os olhos dele. Draco não fugiu ao olhar dela, não tinha nada a esconder. Os olhos dele eram frios e quentes ao mesmo tempo. E eram sombrios e a assustavam de alguma forma. Enquanto se olhavam, ele enlaçou a cintura dela, aproximando seus corpos. Ela se deixou ser abraçada e afagada por aquele estranho. E não lutou contra a boca dele quando ele a beijou.
Draco apertou o corpo dela com força e ela gemeu em resposta, mas não quebrou o beijo. Pelo contrário, ela firmou os braços no pescoço dele, aumentando a intensidade.
Era profundo, molhado, quente e, ao mesmo tempo, lento e arrebatador.
Eles se afastaram depois de um tempo, e se olharam, ofegantes. Draco virou de costas para ela e caminhou até a porta, decidido a voltar pelo mesmo caminho solitário que traçava todas as noites.
Ginny observou o homem indo embora. Quando ele alcançou a maçaneta da porta, ela soltou um soluço seco.
"Você devia ter mais cuidado com quem está lá fora" – ele sibilou, de costas para ela.
"Por que? Quem está lá fora?" – ela ouviu a própria voz saindo como um sussurro.
"Eu" – Draco respondeu ainda de costas e saiu, deixando Ginny e sua tragédia para trás.
N/a: nunca tinha escrito uma Short. Mas até que gostei.
Sim, eles não se conheciam. Draco não matou Potter e Rony, embora fosse um assassino de aluguel.
Hum, será que ficou esquisito? Meio confuso? Let me know.
Beijos
Annie Black Malfoy.
