"Padre, me perdoe, pois eu pequei.
Faz quase dois anos que eu fugi da casa dos meus pais. Foi na minha festa de debutante que tomei essa decisão, não época eu não sabia o quanto mudaria minha vida. Quando meu namorado, quero dizer, ex-namorado, Draco, me avisou que estava de partida, que iria para a Alemanha, eu decidi que era isso que me daria como presente de aniversário. Então, naquela mesma noite, eu arrumei minhas malas e deixei todo o luxo que tinha em Londres rumo a um futuro incerto.
Não vejo meus pais e nem meus antigos amigos desde aquele dia. E se o senhor me perguntasse agora se valeu a pena a minha decisão eu com certeza hesitaria, mas acabaria dizendo que sim. Eu ganhei princípios com essa escolha, comecei a ver o mundo de uma forma bem diferente e me vi capacitada a mudar o futuro. Foi a decisão mais difícil que já tomei, acho que até o senhor, Padre, pode imaginar. Abandonar toda a segurança de meu lar, de uma família rica e influente e ir atrás do homem que eu amava. Sempre fui muito impulsiva, tenho que admitir. Mas nunca me arrependi de nada que fiz até hoje.
Draco não pareceu tão feliz quanto eu esperava quando me viu com minhas malas em frente a sua casa. Ele me mandou embora, de volta para minha casa, disse que eu não podia abandonar tudo assim e que eu estava agindo como criança. Eu contestei que aquela não era apenas uma simples aventura de adolescente que eu realmente queria ir, queria estar com ele. Talvez realmente fosse apenas uma aventura de adolescente. Mas ele acabou dando-se por vencido e me deixou vim para Alemanha. Encantador o seu país, Padre, tenho de admitir, em Londres as pessoas não defendem o país como deveria. Sinto-me mais Alemã que Inglesa e protejo minha pátria.
Então viajamos rumo a Alemanha antes mesmo que meus pais acordassem para notar meu sumiço. Assim era melhor, não sei se agüentaria a tristeza nos olhos da minha mãe quando eu dissesse que a estava abandonando. Nunca fui muito sentimental, mas minha ligação com ela sempre foi muito forte.
A família de Draco, assim como a minha, tinha muito dinheiro e casas em vários paises e, com isso, ficamos em uma delas que pertencia a família da mãe de Draco, a senhora Narcisa, a gerações e mais parecia um pequeno castelo. Os Malfoy não se incomodavam em me ter por perto, enquanto estávamos em Londres eu passava mais tempo na casa deles que na minha própria. E eu sempre os ajudava com o que podia além de entreter Draco, o que, para Draco, era muito bom, pois ele e o pai não se davam muito bem, o senhor Malfoy sempre desaprovava tudo o que o garoto fazia.
Em Berlin conhecemos as irmãs Greengrass, Daphne e Astória. Eram lindas, pareciam anjos arianos com pele clara, olhos verdes e cabelos loiros. E eu me sentia diferente perto da beleza delas e de Draco, pois enquanto todos eram loiros eu tinha meus cabelos negros como carvão e enquanto os olhos deles eram cinzas e verdes os meus eram cor de âmbar. Eu era a única que não aparentava a perfeição ariana. Mas ninguém parecia se importar com isso alem de mim.
Daphne e Astoria logo se tornaram nossas companheiras de tudo, passávamos quase todo o tempo juntos e logo elas nos apresentaram Nott, Bulstrode, Goyle e Crabbe. Pelo que elas haviam nos contados todos tinham crescido juntos, faziam parte de famílias influentes e conservadoras Londrinas que em algum momento da vida tinham acabado se mudando para Alemanha. Diziam que o futuro parecia mais promissor ali. Foi bom encontrar mais gente como nós.
Freqüentávamos tavernas e qualquer lugar em que pudéssemos conseguir bebidas para nos esquentar e foi assim que ouvimos falar sobre ele pela primeira vez. Suas idéias eram brilhantes aos nossos olhos. Acreditávamos, que os Judeus conspiravam para assumir a liderança da Alemanha e destruí-la e nós precisávamos proteger a nossa nova pátria. Apoiávamos uma limpeza geral no mundo, acabar com o poder daquelas baratas asquerosas. E assim nos juntamos a Juventude Hitlerista para mudar o mundo para melhor.
Não, Padre, não se mova, eu ainda não terminei e sair seria indelicado.
Aos poucos os planos de nosso Führer começaram a ser postos em prática por pessoas como eu, Draco, Daphne, Astoria e qualquer um que acreditasse em suas palavras. Mein Kampf se tornou nossa bíblia. Nós passamos a exercer o papel de Deuses, julgando os puros e condenando os hereges, estávamos limpando o mundo tanto de judeus e as corjas malditas da sociedade quanto daqueles que os ajudavam. Pode pensar em algum traidor da pureza que ajudaria a escoria, Padre? Bom, eu posso."
Pansy saiu do confessionário e deu uma volta até onde o Padre, aterrorizado, estava. Ele não havia se movido e Pansy sorriu debochando da reação do velho. Afinal aquele homem era obediente, ou esperto.
"Você permitiu que judeus se escondessem aqui."
"Não, eu juro que não!"
"Mentira, não minta para mim!"
A voz de Pansy subiu mais do que ela queria, mas mesmo assim ninguém estava prestando atenção neles. O rosto do Padre estava aterrorizado com a idéia de o que lhe poderia ocorrer. Pansy retirou uma pistola de dentro do sobretudo preto e apontou para a barriga do Padre. Ela não podia chamar atenção ou isso estragaria a missão, que devia ser um ataque surpresa.
"Por favor, não faça nada de errado, estamos em um lugar sagrado. Não profane essa igreja"
"Você já a profanou trazendo esses parasitas para dentro. Todas as mortes aqui serão culpa sua, seu traidor do sangue!"
O homem suava desesperadamente. E o medo em seu olhar era quase divertido.
"Então, Padre, você não deveria me absolver? Acabei de lhe contar tudo de errado que fiz, fugir de casa, beber... Mereço perdão divino."
"Pessoas como você não merecem perdão."
"Que pena. Pelo menos eu sei que estou fazendo algo de útil para o mundo enquanto o senhor fica aqui ajudando-os a destruir. Você merece o inferno, Padre."
Pansy bateu na barriga do homem com a ponta da pistola. Um sonoro gemido de dor foi emitido pelo homem, mas ele se manteve em pé.
A garota pode ver a cabeça loira de Malfoy olhando em sua direção irritado assim como os outros três que a iriam ajudar na missão. Ela estava demorando demais. Quando eles notaram que Pansy já estava com o Padre, eles se levantaram, os três foram em direção as possíveis rotas de fuga dos presentes na igreja e Draco começou a lançar um liquido transparente no chão que Pansy sabia que era álcool. Quando os presentes no lugar viram o que estava acontecendo começaram a correr e a gritar em todas as direções, mas não havia para onde ir, em todas as saídas havia alguém para impedir. O Padre junto a Pansy tentou se soltar para ajudar as pessoas, mas a mulher puxou o gatinho de sua pistola fazendo um furo no abdômen gordo do homem que caiu no chão gemendo.
"Podem correr, seus vermes nojentos." Draco gritou mais alto que as pessoas que tentavam empurrar os homens para longe das portas, mas bastou uma das pessoas que os tocou morrer para que os outros aprendessem a lição e entrassem em desespero. " Nós só queremos os judeus, não queremos desperdiçar sangues puros. Mas não tentem fingir que não sabem do que eu estou falando ou eu vou queimar o lugar todo!"
"Os judeus foram embora a muito." Um homem gritou para Draco, ele tinha cabelos cor de fogo e uma arma na mão apontada para o loiro assim como o homem ao seu lado com cabelos tão escuros quanto carvão e óculos redondos no rosto. Os dois não pareciam assustados como os outros, era como se já soubessem do ataque. " Sugiro que fujam também."
Pansy levantou a pistola, a apontou na direção do homem ruivo e puxou o gatilho. E, assim que ouviu o barulho do tiro de sua arma outro estouro ecoou pela igreja. O homem ruivo caiu no chão com seu cabelo vermelho encharcado de sangue enquanto o moreno apontava a arma na direção de Pansy. Ela olhou na direção de Draco e não entendeu por que ele estava mais branco do que de costume enquanto olhava para ela. Draco deveria estar preocupado com o homem que agora apontava para ele e não com ela. Pansy não sentia nada, mas o rosto assustado do loiro fez com que ela olhasse na mesma direção em que ele olhava. Uma mancha de sangue se formava no ombro de seu casaco e escorria até pingar no chão. Ela tinha sido ferida e o sangue estava saindo rápido demais.
Draco gritou para o homem apontando sua arma para ele, mas antes que pudesse puxar o gatinho o homem já o havia feito e ele estava no chão caído. Pansy tentou gritar, mas o som não saia, ela se sentia fraca e tudo parecia gelado. Viu um dos homens, com corpos aos seus pés, indo em direção ao homem misterioso para mata-lo. E, antes que pudesse saber o que havia acontecido com os dois, ela caiu inconsciente no chão, o sangue escorria pelo chão da igreja até chegar na cabeça de Pansy, sujando seu cabelo com o próprio sangue.
Ela não podia morrer. Ainda tinha muito o que fazer para seu país.
