Comentários, sabe o que? Tive um sonho, e nesse sonho eu digitava um documento no Word, e o resultado do sonho é o que você vai ler (a primeira parte), bizarro né.As seguintes descrições são de lugares fictícios e o plano de fundo não é nenhum continente ou país em especifico, sabe-se que o plano de fundo é a Ásia (uma fictícia no caso).
Nota, o texto a seguir deve ser lido com calma e o propósito das vírgulas e pontos deve ser levado a sério e usado como pausa (pequenas e longas), não é um texto para ser lido apressadamente.
日没
Rakujitsu
Outono
秋
Podia sentir a vento frio da manhã bater contra seu pescoço, fazendo uma sensação eletrizante passar por sua espinha, talvez devesse ter vestido algo mais quente, manhãs de outono sempre a enganavam. Quando acordou naquela manhã, pode ver da janela de seu quarto o sol nascendo no horizonte, as neblinas já um tanto escassas, mas o tom esbranquiçado ainda presente no céu, tornando o sol nascente em um borrão de tom amarelo-claro.
Não devia estar fora de casa, essas horas da manhã não eram horas para uma menina fazer seu passeio, era o que seu pai costumava dizer, mas não obedecia, era uma menina obediente, seguia rigorosamente as regras de seu pai... Apenas essa, somente essa, era a única que podia quebrar. Quebrava, pois era assim que confirmava a si mesma que ainda lhe pertenciam suas escolhas. Ninguém sabia de suas saídas, graças a seu bom comportamento ninguém realmente se preocupava em ficar de guardia em seu quarto, como acontecia com sua irmã. Não queria arriscar, então sempre disfarçava seus lençóis para que parecesse cobrir alguém, um alguém inexistente composto por almofadas, que se alguém mais inteligente prestasse atenção veria que pertenciam ao pequeno banco de sua saleta de visitas.
Não havia quase ninguém fora de casa há essa hora, escutava apenas o barulho de sua geta ecoar pela madeira da passarela que flutuava onde um dia tivera terra, tentava fazer o mínimo de barulho possível, mesmo não havendo ninguém àquelas horas, pensava que estaria entregando a si mesma caso fizesse qualquer tipo de barulho, seus passos eram curtos, seu quimono não permitia passos largos, mas segundo seu pai, meninas não deviam dar passos largos demais, contudo eram passos vagarosos. Sua mão roçava no antigo muro de pedras escuras e úmidas por causa do oceano, o musgo que há anos estava presente nas mesmas pedras sendo acariciado como a pelugem de um cão sempre desejado, porém nunca adquirido, o desejo de um companheiro para poder compartilhar um carinho.
Sua mão agora acariciava o ar, a passarela chegara a seu fim, apenas um caminho restava, a curva que sempre fazia todas as manhãs, a nova passarela sendo metade da outra, seguia, apenas seguia, não conseguia ver seu fim, a neblina dificultava sua visão, apenas via os contrastes de enormes borrões, que breve se tornariam montanhas.
Passava pelas estatuetas de monges que se posicionavam aos lados da passarela, o musgo cobrindo algumas por inteiro, umas com panos de seda ao seu redor, ofertas, pedidos de mulheres abandonadas, crianças à espera de um amor novo, mercadores com esperança de uma boa colheita, mães que desejam à suas crianças, maridos que protegem suas famílias, infinitas as possibilidades que tomaram conta de sua mente.
Algumas das estatuetas careciam de mãos, braços, cabeças, mas mesmo imperfeitas, continuavam sendo esperança de milhares de pessoas, a imperfeição da qual se espera, essa imperfeição que faz com que as pessoas se identifiquem com as estatuetas.
O sol continuava seu ritual de todas as manhãs, como ela continuava o seu de assisti-lo enquanto ele lançava seus raios e mandava as neblinas embora, abrindo caminho, impondo sua presença, como um bebê chora ao nascer, ele quer ser assistido e ela o assiste, todas as manhãs, sentada na ponta da passarela, onde ela acaba, quando não tem mais onde se pisar, onde apenas ela senta e o observa.
Levanta quando vê as pequenas ondulações se formando no oceano, quando as montanhas já estão totalmente visíveis e quando ele já está em seu posto, o primeiro barco passando em frente à ela, o locutor não a vê, mas ela o vê, ela sempre vê tudo.
Ele senta de costas para o norte, o chapéu cobrindo-lhe a cabeça e protegendo-o do sol, remava lentamente, mesmo de longe, podia ver o colorido de sua canoa, podia imaginar a variedade de frutas ali, mamão, maçã, laranja, banana, pêssego...
Faz o mesmo caminho pelo qual veio, passa pelas estatuetas, pelo muro coberto de musgo, mas suas mãos já não acariciam o musgo, tem pressa, porém seus passos continuam curtos e vagarosos, pensa que se acariciar o muro, o tempo fica mais demorado, como se por andar e mexer as mãos ao mesmo tempo, o tempo somasse os dois movimentos e dobrasse seu valor.
Não há pessoas na passarela, nem no caminho para o centro, repara forçando a vista, mas de longe, consegue ver alguns poucos mercadores preparando para sair com seus barcos.
Sobe pelo pequeno caminho que dá em sua casa, é estreito, sua geta fazendo mais barulho do que na madeira, o que a faz tentar pisar com mais leveza, não gosta de fazer qualquer que seja o tipo de ruído que possa entregá-la e acabar com suas pequenas aventuras matinais, que acabe com sua certeza de escolha. Pode escutar o barulho dos bambus batendo uns nos outros e das águas roçarem, as carpas devem estar acordando, consegue ver a entrada da casa, não pretende entrar pela entrada principal, não quer ser pega, passa pela lateral, até chegar à sacada que dá para seu quarto, não gosta de passar pelas sacadas, tem medo de olhar para o lado e ver o precipício e o oceano, tem medo de cair e não saber nadar. Tem medo de não poder mais sair de manhã, é insegura.
Suspira aliviada quando chega ao seu quarto, deixa sua geta na entrada de seus aposentos, onde deve ficar, pega um livro na sua estante, recupera suas almofadas e vai se sentar na sacada e ler sob a luz de seu companheiro que só a deixa quando sua irmã toma seu lugar e ilumina as noites escuras.
Pude ouvir passos, todos já deviam estar acordando, o que quer dizer que mais uma vez tivera conseguido escapar sem que ninguém percebesse.
― Pode entrar ― responde ao escutar alguém bater em sua porta.
― Bom dia Hinata-sama ― o servente faz sua reverencia diária, posiciona a bandeja frente a si, suas pernas perfeitamente postas sustentando seu corpo ― trouxe seu café da manhã, a senhorita gostaria de tomá-lo na varanda?
― Bom dia Hisui-san ― responde sorrindo carismaticamente, não diz, mas não gosta da formalidade com a qual é tratada, principalmente quando é servida por sua própria família, não concorda com as políticas da família, mas quem é senão a pequena Hinata ― gostaria sim de ter meu café aqui.
No mesmo instante o servente se levantou e posicionou a bandeja com todo o cuidado na mesinha, serviu o chá, pediu licença e se retirou.
Suspirou, estava suspirando demais nestes dias. Olhou seu prato, não estava com fome, há tempos não sentia muita fome, tomou seu chá e forçou três bolachinhas doces para dentro do estômago, parou na quarta quando sentiu ânsia, continuou apenas com o chá.
Assustou-se com a brusca abertura de sua porta, quase a fazendo derrubar sua xícara.
― Hina! Hina! ― os passos apressados e a voz eufórica de sua irmã entrando pelo quarto.
― Hanabi ― ela sorriu ao ver a irmã.
― Você não vai acreditar! ― os olhos da mais nova parecem estáticos, ela estava bastante empolgada.
― Por que não? ― retorquiu em tom de brincadeira.
― Porque é a coisa mais emocionante que vai acontecer esse mês! ― Hanabi pula no pequeno sofá ao lado de sua irmã, Hinata tem vontade de rir, imagina a expressão de seu pai se visse o comportamento de sua irmã, apesar de que ela já tinha suas suspeitas de que ele conhecia a natureza, digamos, selvagem de Hanabi ― O quanto você pode me dizer que lembra de Uchiha Sasuke-sama? ― ela pode ver os pés de Hanabi se mexendo freneticamente debaixo de suas pernas, o mesmo brilho nos olhos e os dentes pressionados contra o lábio inferior, definitivamente entusiasmada.
― Bem, a última vez que o vi foi há... ― eram três ou quatro anos? Seu aniversário de... Onze anos ― quatro anos, quando ele veio nos visitar com a família, tinha um irmão mais velho, não é mesmo?
― É sim! Uchiha Itachi-sama, mas não é isso o que eu estou perguntando, ― respondeu em um tom mais eufórico, cruzando as pernas agora, expondo grande parte delas, Hinata suspirou e pegou um de seus mantos e colocou sobre as pernas da irmã, sorriu e disse que estava frio ― to falando de aparência! Aparência!
― Ah... ― forçou um pouco sua memória, lembrava mais de seu irmão, Itachi-sama, quem lhe ensinara a jogar um jogo ocidental um tanto peculiar, com pequenos pedaços de papel coloridos, sorriu da lembrança... Sasuke-sama! Tinha que se lembrar do mais novo ― cabelos e olhos pretos ― como todos os integrantes da família Uchiha pareciam ter ― hmm... Um corte de cabelo, hm, diferente? ― lembrava que seu cabelo era espetado na parte de trás ― e mais alto do que eu. ― isso, Uchiha Sasuke-sama.
― O que eu faço com você? É impossível fofocar com alguém tão ingênuo que nem você Hina... ― Hanabi suspirou. Ingênua?! Hinata não era ingênua, pelo menos não pensava que era ― vou ser direta, bonito ou feio?
Hinata corou. Ah... Era isso que ela queria saber...
― Bonito... ? ― respondeu incerta, realmente não lembrava muito do Uchiha, quem o vira mais recentemente fora Hanabi, há um ano quando Hinata estava como acompanhante de sua tia Hinoto, viajando.
Hanabi bufou.
― Enfim, papa disse ontem à noite que Sasuke-sama virá nos fazer uma visita! ― ele disse? Ontem? Suspirou. Claro que ele disse, mas disse quando Hinata não estava presente, não sabia nem mais por que se preocupava com essas coisas, ela ― não é emocionante?!
Não.
― É-É né... ― deu uma risada nervosa ― ah! Quer um pouco? ― ofereceu suas bolachas, não conseguiria comer de qualquer maneira.
― Quero sim! ― logo Hanabi começou a atacar as bolachas, Hinata meio que sorriu, sua irmã era uma menina bastante energética e digamos; espontânea, é... Espontânea talvez fosse a palavra certa, às vezes ela queria ter essa espontaneidade da mais nova.
― Fico imaginando por que essa visita, assim, será que ele quer pedir alguma coisa em especial para o papai? ― Hanabi perguntou retoricamente, com uma voz de quem insinua alguma coisa, o problema é que sua irmã pareceu não seguir o fio da meada.
― Hm... Talvez, eu acho... Deve ter algo haver com as sedas do papai, os Uchiha também não estão no mercado de seda? ― lembrava de sua tia comentando algo parecido na viajem.
― Sinceramente Hina, é, pode ser algo assim, mas quem cuida dessa parte normalmente é o mais velho, o que quer dizer que Sasuke-sama pode ter vindo aqui com outro propósito... ― tentou adicionar um tom a mais na palavra outro.
― Ah, então não consigo pensar em outro motivo... ― qual seria outro motivo para a visita de um Uchiha em sua casa além do mercado de sedas? As duas famílias eram conhecidas por esse motivo, no começo eram inimigas, hoje em dia estão em termos melhores, mas continuam rivais. Qual razão seria essa para o mais novo dos Uchiha fazer uma visita? Pensando agora, era o mais novo da família, então não podia mesmo ser por negócios, só se fossem negócios familiares, a curiosidade agora tomando conta de sua mente, qual seria a razão de tal visita?
― É incrível como às vezes eu acho que sou a mais velha e você a mais nova ― suspirou dramaticamente enquanto enrolava a ponta de seus cabelos no seu dedo indicador, Hinata deu uma pequena risada ― Sasuke-sama já tem dezessete anos, é óbvio que o motivo pelo qual tal beldade esteja vindo nos visitar não é por causa de negócios, já que tal função é executada por seu não menos bonito irmão mais velho, Itachi-sama, o que só nos leva a uma opção, vamos raciocinar irmãzinha ― Hanabi, agora envolvendo-se completamente no cobertor, dizia em um tom mais sério, sua irmã achando muita graça naquilo tudo ― um homem realmente bonito, bem sucedido, de família importante e rica, solteiro, bem educado vem visitar a nossa família, bem sucedida e rica, considerados até rivais onde o chefe de família tem duas lindas e bem educadas filhas bastante solteiras e já na idade de casar, difícil?
A mais velha arregalou os olhos, as mãos cobrindo a boca semi-aberta de surpresa. Uchiha Sasuke-sama não estava vindo apenas de visita passageira nem por negócios de seda, e para tal visita ter sido proporcionada, seu adorado pai estava bastante confiante em casar uma de suas filhas com o herdeiro Uchiha.
― Exato Hinata, Sasuke-sama esta vindo aqui e uma de nós vai estar noiva até o final do mês, isso é fato ― agora de pé, Hanabi ajeitava seu quimono ― apesar de que é muito mais provável que essa seja você e não eu.
Podia sentir borboletas passeando pela sua barriga, seus dedos entrelaçando-se inconscientemente e uma insegurança que apenas algumas horas atrás estava presente voltar.
Não tardou e logo todos já sabiam da tão aclamada visita do Uchiha à residência dos Hyuuga que aconteceria em três dias, as especulações corriam discretamente pela casa, apenas não tão discretamente para escondê-las de Hyuuga Hiashi, que nada declarou.
Quem não parecia nem um pouco contente com a notícia era Hyuuga Neji, o primogênito do falecido irmão gêmeo de Hiashi. Não gostava de pensar na idéia de outro homem com alguma de suas primas, principalmente tal homem vindo da família dos Uchiha.
E o que ele menos gostava era que estava para viajar no dia seguinte para cuidar de alguns negócios de seu tio no norte. Bebeu um pouco de seu chá e massageou perto de seus olhos, maldita dor de cabeça...
― Droga ― tinha amassado sem querer os papéis aonde seu cotovelo descansava.
― Neji-sama? ― escutou alguém do outro lado da porta chamar.
― Pode entrar... ― a porta abriu ― Hisui-san, já falei que você não precisa me chamar de Neji-sama, o senhor é meu tio sabe... ― disse, um sorriso meio triste aparecendo em seu rosto.
― Neji-san ― o mais velho sorriu, Neji pareceu contentar-se com a mudança ― Hiashi-sama esta perguntando pelo senhor, parece ser importante ― com isso anunciou sua saída e se retirou dos aposentos do mais novo.
Sem perder tempo pegou um manto quente e saiu de seu escritório, o corredor bastante movimentado, mas não tumultuado, ninguém corria, as pessoas conversavam em tons baixos, viu um grupo de mulheres um pouco à frente, seus quimonos postos e as posturas eretas, eram três mulheres, carregavam, cada uma, roupas de cama, conversavam em sussurros, as mangas dos quimonos cobrindo os lábios, como quem conta um segredo, cumprimentou-as quando passaram por perto, as três pararam sua conversa e fizeram suas reverencias.
Uma típica manhã na residência dos Hyuuga.
Parou quando chegou ao seu destino, o último shoji no grande corredor principal, decorado com pinturas de bambus negros, o papel usado de uma espessura finíssima, mas ao mesmo tempo capaz de esconder o que se passasse dentro do quarto. Bateu de leve. Escutou a voz de seu tio responder, entrou, fez sua reverencia e se dirigiu a mesa onde o tio assinava seus documentos.
― Neji, suponho que você já escutou os rumores sobre a visita de Uchiha Sasuke ― começou o mais velho dos Hyuuga, também líder do clã, sem tirar os olhos do documento que manuseava ― creio eu.
― Sim... ― e era isso mesmo que estava quase que o comendo vivo, a curiosidade era tamanha que Neji tivera que se segurar algumas vezes para não perguntar ao tio o porquê de tal visita, esperaria até que o mesmo decidisse explicar a situação.
― Irei direto ao ponto então, ― agora deixava o papel sobre a mesa e tirava os óculos, deixando-os pendurados sobre seu hakama ― pretendo comprometer uma de minhas filhas com o mais novo dos Uchiha, já que o mais velho perdeu sua esposa não faz muito tempo.
Houve um silêncio e foi ai que Neji reparou na fumaça que envolvia a habitação, Hiashi tragava do longo suporte vermelho e soprava a fumaça de volta, sua expressão não mostrando nenhuma emoção, refletindo a sua própria.
― Entendo... Algum motivo em especial pelo qual fui chamado? ― bem, não era como se ele já não soubesse disso, talvez tenha sido porque o tio mesmo quem confirmou que causou um pouco de surpresa no sobrinho, agora só não entendia direito por que havia sido chamado.
― Quem, tecnicamente falando, esta prometida para ser noiva do Uchiha é Hanabi ― agora olhava o sobrinho com seriedade deixando o suporte sobre o cinzeiro ― porque ela é quem ele mais conhece, já que Hinata estava viajando com a irmã de minha esposa, Hinoto-san, durante a visita dos Uchiha ano passado.
― Mas Hiashi-sama, Hanabi-sama ainda...
― Sim, ela ainda tem apenas doze anos, é verdade que já não é mais uma criança, porém ainda é muito cedo para casá-la, Hanabi ainda tem que crescer...
― O que quer dizer que...
― Hinata é quem terá que ser prometida ao Uchiha ― finalizou suspirando. Neji não gostou nem um pouco da idéia, seu cenho franzindo levemente, não podia imaginar sua prima, sua delicada e doce prima saindo de casa para casar-se, ainda mais com um Uchiha, sua prima que era tão sensível teria que se casar com alguém tão arrogante como Sasuke, ou pelo menos era essa a imagem que ele tinha do menino na cabeça, quando se conheceram há um ano.
― Hiashi-sama... Hinata-sama, ela, o senhor sabe... ― não sabia como colocar em palavras o que estava pensando, grande gênio.
― Eu sei Neji... Mas a decisão já foi tomada e tinha que ser uma das duas, ― uma pequena tristeza passando pelos olhos do mais velho ― Hinata sabe de seu dever como uma Hyuuga e já esta preparada para quando o dia chegar, não será nenhuma surpresa pra ela e a conheço o bastante para saber que ela concordaria com a decisão ― e esse era o fim da discussão, os dois sabiam disso.
― O senhor ainda não explicou o motivo pelo qual fui chamado ― comentou.
― Como a decisão já foi tomada, ― disse referindo-se à Hinata ― preciso que você leve Hanabi na sua viajem para o norte, para evitar confusões.
Neji não teria problema nenhum em levar a prima mais nova, o problema seria convencê-la de ir... Hiashi riu do olhar preocupado que passou pelo rosto do sobrinho.
― Não se preocupe, já mandei chamá-la, eu mesmo me encarregarei de informar-lhe de sua viajem, então vá descansar que amanhã a viajem de vocês dois será longa ― o mais novo assentiu com a cabeça e levantou-se, Hiashi pegou mais uma vez seu suporte e tragou o fumo adocicado, afundando-se em sua fumaça mais uma vez.
Estava chovendo no dia em que ele chegou à residência dos Hyuuga, ela podia ver a carruagem dele se aproximando dos portões e logo se estacionando em frente ao portão principal, onde ela, seu pai, Hisui-san e mais dois empregadas aguardavam por ele.
Olhou para o céu, não sabia se queria olhá-lo diretamente, as gotas de água caíam normalmente, não era uma chuva grossa, era daquele tipo de chuva em que os espaços entre uma gota e outra são bastante visíveis, o céu estava um tanto nublado, mas podia ver o sol, sorriu ao lembrar que mais uma vez saíra sem que ninguém percebesse, espirrou quando uma gota caiu na ponta de seu nariz, fazendo-a tirar a atenção da chuva, corou e rapidamente cobriu parte do rosto com a manga do quimono, olhando para tudo menos o par de olhos que a encaravam.
― Hinata esse é Uchiha Sasuke, ― por um instante pensou se seu pai sabia que ela não seria a primeira a falar, mentalmente agradecendo-o por começar a conversa.
― É-É um p-prazer Sasuke-sama ― suas mãos agora descansavam à sua frente, os dedos entrelaçados e cobertos pela colorida manga de seu quimono, disse a menina em uma voz pequenina fazendo sua reverencia.
― Hm... Prazer Hinata-san ― retribuiu a reverencia, Hiashi logo convidou para que o menino entrasse na casa e os três se dirigiram ao escritório do líder Hyuuga, fazendo um pequeno tour pela residência, Hiashi em frente com Sasuke ao seu lado e Hinata a alguns passos atrás, observando o recém chegado.
Lembrava muito pouco do Uchiha então foi como se estivesse conhecendo-o pela primeira vez... Não conhecia muitos meninos, mas sabia que Sasuke era bastante alto, quase da altura de seu pai, não parecia ter nenhum tipo de excesso, lembrou de seu primo, tinha as mesmas feições de sua mãe, quem Hinata encontrou na viajem com sua tia, os mesmos olhos e cabelos escuros, como todos os Uchihas, sua pele era bastante clara, tão branca quanto a sua, corou ao lembrar-se de sua irmã, desviando o olhar das costas do menino, com receio de que ele escutasse seus pensamentos, era bastante bonito...
Não tardou a chegarem ao escritório de Hiashi, os dois homens sentaram-se e Hinata começou a preparar o chá, agradecendo o servente que havia trazido os utensílios, Sasuke e Hiashi se entretinham em uma conversa sobre produção de seda, enquanto preparava seu chá ela ficou pensando se teria que ficar conversando sobre seda com Sasuke também, sabe, quando eles... Seus movimentos ficando um pouco mais tensos quando percebeu que o mesmo lhe observava cautelosamente, se não fosse uma grande observadora como era, não teria notado o olhar do menino, tinha que admitir que ele era bom, mas bom o bastante pra fazê-la sentir-se um tanto intimidada... Não o olhou de volta, levou como justo já que ficara o passeio pela casa inteiro observando-o.
Por fim terminou de fazer o chá, serviu para três e sentou-se ao lado de seu pai.
― Hinata, ― seu pai o primeiro a experimentar ― perfeito como sempre ― elogiou, a menina sorriu e depois olhou para Sasuke que experimentava o seu agora, ele assentiu com a cabeça, sorriu também.
― Hinata, ― mais uma vez começou o pai ― Sasuke-san estará aqui em uma visita de dois dias já que tem que seguir viagem para o sul...
Seu pai a olhou, ela assentiu com a cabeça entendendo o recado, virou-se para o moreno, um pouco sem jeito.
― E-E o senhor vai a n-negócios ao sul? ― seu olhar nunca diretamente encontrando-se com o dele.
― Pode-se considerar que sejam negócios, apesar de serem familiares ― o tom dele um pouco mais suave, deixando-a mais calma.
― Entendo... ― olhou para seu pai que pareceu bastante contente, em sua própria maneira de demonstrar, com a conversa.
― A razão pela qual Sasuke-san estará se hospedando aqui, além do descanso, é porque estive mantendo contato com o seu pai durante vários anos e chegamos a uma agradável decisão, ― ela já sabia, mas não podia evitar o frio que passou por sua barriga, nem o calor que começou a emanar de suas pequenas mãos ― Sasuke-san, ― agora o líder Hyuuga usava um tom mais sério ― eu gostaria de conceder-lhe a mão de minha filha Hyuuga Hinata em casamento, assim unindo as duas grandes famílias que são os Uchiha e os Hyuuga.
Por primeira vez naquele dia, Hinata olhou nos olhos do visitante, não olhou com desespero, nem carinho, nem ódio, nem felicidade, nem tristeza, ela apenas olhou.
― Seria uma honra Hiashi-sama ― ela desviou o olhar após se dar conta de suas ações, corando.
Podia escutar a chuva cessando.
Naquela noite ela se retirou mais cedo e foi para seus aposentos, seu pai e Sasuke estavam entretidos demais em uma conversa sobre o mercado de seda e ela queria ficar sozinha.
Cuidadosamente tirou seu quimono, os enfeites de seu cabelo, lavou o rosto com a água separada ao lado de sua cama, vestiu sua roupa de dormir, era estranho usar calças quando se esta acostumada a vestir quimonos todos os dias, mas era bastante confortável, a seda dos Hyuuga valia cada esforço feito.
Sentou exatamente no meio de seu futon, abraçou suas pernas e descansou a cabeça sobre os joelhos.
As lágrimas começaram a sair sem ela ao menos perceber, estava com medo, não, seu casamento com Sasuke não era o problema, desde pequena sabia que o dia chegaria em que seu pai escolheria um noivo e ela teria que se casar, já estava preparada pra isso, e Sasuke parecia ser gentil, quem sabe eles fossem se dar bem... Estava com medo de deixar sua casa, medo de não se ajustar em sua nova casa, medo de ter que virar uma mulher responsável, medo de se tornar uma mãe, sabia que um herdeiro seria cobrado, tinha medo de que talvez não fosse uma boa mãe, a insegurança do parto... Foram várias às vezes que escutara as mulheres da família Hyuuga falando como doía na hora de dar a luz, e se ela morresse como sua mãe quando sua irmãzinha nasceu? Seu filho cresceria sem mãe... Sem uma mãe para conversar, como agora ela precisava de uma, não queria que seu filho passasse essa necessidade...
Seu coração disparou e ela deu um pulo quando escutou um barulho, ficou em silencio, esperando algo, não sabia ao certo o que, pousou sua mão sobre seu coração, em uma tentativa de acalmá-lo, sua respiração voltando ao normal. Pegou um lenço e assuou seu nariz, deitou, suas pupilas ficando cada vez mais pesadas, já não pensava em nada, chorar havia deixado-a mais cansada, abraçou seu cobertor quando sentiu a brisa gelada passar pela janela, a última coisa que viu foi a sua própria imagem, seus olhos e nariz avermelhados e o cabelo esparramado, refletida na bacia ao lado de sua cama.
つづく
