Disclaimer
- Bleach não me pertence, mas façam um abaixado assinado em três vias, registrado em cartório e enviem ao Tite Kubo, quem sabe? ¬¬'
- Pedaços da música Replay, de Sandy & Júnior, aparecem na fic sem obedecer a ordem alguma da música. E sim, você não leu errado e não me façam escrever isso de novo, é constrangedor para minha fama de menina má.
- Fic angst. Afinal, depois de encerrar meu vício de Ice & Poison, eu tinha que achar um substituto, e nosso shinigami de gelo pareceu tão perfeito...
Voltas
Um soco. Dois, três, quatro, ele não conseguia mais contar.
As árvores balançavam, medrosas diante do poder do taichou. Treinava há horas, sem descanso. Sabia que a luta definitiva contra os traidores do Seireitei estava próxima e ele não podia vacilar. Não de novo.
Ninguém mais querido por ele ia se machucar nas mãos de...
-Hitsugaya-taichou.
Ele ouviu, mas não respondeu.
Seus braços não doíam o suficiente para fazê-lo parar.
Rangiku fechou os olhos, respirou fundo, e deu mais um passo.
Outra árvore caía, inocente.
-Taichou... é importante.
-Estou treinando, Matsumoto!
-Ela acordou.
tão só, naufrago e só
O jovem shinigami de gelo parou seu ataque, pensativo. Ela havia acordado. Ela estava bem. Isso era tudo que importava...
Não era?
Sentiu seu braço tremer de repente, as pernas fracas e moles quase o levando ao chão.
Aizen a matou.
Aizen a machucou... e você permitiu.
E o que ele faria agora? Não tinha coragem de vê-la. Como podia? Tudo... tudo que o fizera ser quem ele era... toda a razão que o fazia acordar todos os dias e se tornar um bom shinigami... tudo em que ele mais confiava... foi facilmente partido pela espada de Aizen ao tocar o corpo de Momo.
Não ia vê-la. Não tinha motivos... O que ia dizer a ela que a fizesse de alguma forma se sentir melhor? Nada. Ele não pôde protegê-la. Nem seu corpo, nem seu coração.
Ele havia falhado.
e então, fugir eu já tentei
'tô preso num Replay
lembranças vão me consumir
-Hinamori-chan acordou. – repetiu Matsumoto.
Hitsugaya apertou os punhos.
Aquilo o corroia. O matava delicadamente todos os dias... engraçado não era? Porque o único motivo que o fazia lutar por cada dia de vida, era o mesmo sentimento que agora lhe torturava sem piedade a cada minuto de existência.
Por que era tão idiota?!
Aizen e sua espada, cortando o corpo fino e delicado de Momo...
E você deixou isso acontecer.
é fácil ser herói
se o amor te acolhe bem
Matsumoto não agüentava mais ver aquilo.
Ver seu capitão morrer um pouco a cada dia, num silêncio profundo e desesperado, exigindo do seu corpo um poder e uma força que jamais nenhum shinigami teria.
De voltar o tempo.
-Ela está... – tentou dizer a situação da menina, não conseguiu terminar. Shirou saltou veloz entre as árvores que restaram de seu treinamento.
Para onde estava indo para, ela não sabia.
Mas Rangiku ainda ficou alguns minutos ali, parada, olhando o estrago feito. Aquilo não era nada. Havia feridas muito mais profundas que alguns troncos de árvores partidos ao meio.
me deu tantas visões do oásis de nós dois
e agora já não há lugar pra mim...
Ela ama Aizen. Sempre amou.
Ela só teve olhos para o homem que tentou matá-la.
E você não evitou isso também.
Não sabia para onde ir.
Só tinha que correr. Muito. Depressa. Os pés iam sozinhos.
Com que mentira bonita ele ia abrir a porta e olhar nos olhos dela?!
De que ele a amava esse tempo todo?
De que ele deixou ela se entregar a outro homem, porque ele era apenas covarde demais para admitir os próprios sentimentos?
Ou de que ele havia falhado em protegê-la, miseravelmente falhado?
Não diria nada disso. Porque não eram mentiras bonitas.
Eram só verdades feias.
-Shirou-kun... como... como pôde?!
A espada de Momo tentou atravessar seu coração.
E você, covarde, não permitiu.
Parou, dando conta de que estava na janela do quarto da shinigami. Atrás dos vidros, Momo arrumava os cabelos, tentando refazer o coque desfeito pelos travesseiros. Algumas moças a ajudavam, ajeitando seu quarto e colocando uma travessa de comida sobre a mesa.
Esperou que todas saíssem, e bateu no vidro com os nós dos dedos.
Não sabia o que tinha que dizer.
Ele só precisava tirar aquela última imagem dela de sua cabeça...
-Momo...
-Shirou-kun!
-Aizen-sama!
Hinamori sorriu, primeiro radiante, depois tímida. Abriu a janela sem olhar nos olhos dele, hesitante. O rosto vermelho ainda estava abatido.
E ela, com os olhos cheios de ódio contra ele.
-Entre, Shi... Hitsugaya-taichou.
E ela, com uma espada cravada em seu corpo.
Hitsugaya fez menção de pisar no quarto, mas não o fez.
Olhou para a menina, parada na janela, o fitando.
Os olhos dela tinham tantas coisas que ele levaria dias até entender cada uma delas. Não bobo, não era um sonhador patético. Sabia que havia carinho ali.
E medo.
E receio.
E tantas meias palavras, meias desculpas...
Ele sabia que ia se lembrar de cada detalhe.
e então, fugir eu já tentei
to preso num replay...
-Que bom que esteja bem, Momo. – fez questão de lhe dizer o nome. Ela sorriu, agradecendo.
-Shirou-kun... eu...
Ela não continuou, a boca respirando com dificuldade.
Hitsugaya olhava para ela como se decorasse cada pedaço. Como se aquela nova visão pudesse apagar todas as cenas repetidas em sua mente durante o tempo em que ela dormira.
Mas isso também era uma meia mentira.
Lembraria sim, dela exatamente como agora.
Fraca, pálida, indefesa.
Como se tivesse a própria alma machucada.
E ele jamais se perdoaria por isso.
-Espero que se recupere logo.
Hitsugaya se inclinou devagar, beijando à testa de Momo.
Um dia, não seria mais covarde.
Um dia, seria forte o bastante para protegê-la. Ou se machucaria em seu lugar.
Mas naquele dia, ainda, ele simplesmente não era nada disso.
-A...Arigatou. – ouviu-na sussurrar.
O capitão de gelo olhou pra a shinigami uma última vez, fazendo um retrato em sua memória daqueles olhos que o fariam morrer se preciso.
De quanta tristeza havia dentro deles.
Deu as costas para a janela e saiu, silencioso.
e então, me sufoco em sonhos vãos
o amor que era tão bom
se volta agora contra mim
