Disclaimer: Haou Airen não me pertence. Faço este fic sem fins lucrativos, apenas por diversão.

Como Uma Flor

Por Mitzrael Girl

A noite estava fria e mais escura do que ele estava acostumado. Terminou de arrumar o nó da gravata e pegou o sobretudo branco, vestindo-o elegantemente. Quando passou o braço pela segunda manga, parou o movimento ao olhar a jovem que dormia profundamente na cama. O lençol cobria a maior parte do corpo dela que estava completamente desnudo. A expressão era de uma infantilidade que ele jamais lembrara de ter visto. Gostava daquilo nela… gostava do olhos grandes e expressivos, dos sorrisos, da felicidade e da calmaria… mas por mais que a amasse mais do que tudo no mundo, e que insistisse em deixá-la ali, ao seu lado, ela não pertencia ao seu mundo. Era um anjo que jamais atravessaria as portas do inferno em que ele vivia.

Às vezes não tinha certeza de que estivera fazendo a coisa certa. Talvez, a pior das decisões de sua vida tivesse sido trazê-la ao seu mundo de medo e sofrimento. Mas ela ainda estava ali, e simplesmente não conseguia deixá-la partir. Aquela era a última decisão que teria coragem de tomar na vida. Quando olhava para o semblante infantil, sentia-se tão apegado que não desejaria nunca abandoná-la, e para aquele tipo de decisões, até mesmo o líder de um dos mais poderosos grupos da máfia chinesa… era covarde.

Ao se virar, observou o buquê de lírios que tinha levado para ela naquela noite. Aquilo sim fazia parte do mundo dela, não do seu inferno particular. Andou até lá e tirou um par de flores, amarrando-as com uma fita vermelha. Andou até a cama e colocou as flores no lugar onde ele deveria estar deitado. Abaixou o rosto até que conseguisse sentir a respiração fraca dela.

– Elas sim são para você, Kurumi. Tão belas e frágeis… – disse, contendo a vontade de tocar o rosto dela, ou sabia que acordaria. – Você não pertence a esse inferno em que eu vivo. É feio e sombrio. Mas por favor… fique ao meu lado, e te trarei o paraíso.

Ele afastou-se, deixando as flores perto dela. Aquela era a imagem que precisava ter em mente para voltar sempre vivo, para sempre voltar até ela.

Hakuron…

Ouviu a voz dela e se virou, imaginando que ela acordara. Entretanto, ela continuava com os olhos bem fechados, e parecia ainda em sono profundo. Mas ainda assim, ela se mexeu de modo que o braço passasse por cima das flores, como se as estivesse abraçando, trazendo-as para perto do rosto, e um sorriso surgiu nos pequenos lábios.

Eu estou sempre esperando… volte… sempre…

Ela suspirou profundamente e calou-se, ainda com o sorriso no rosto. Ele não conseguiu evitar que um sorriso se formasse em seus lábios. Ele voltaria, sempre… ela era a luz daquele inferno… a única flor com vida em seu jardim.