Nota: não costumo escrever em terceira pessoa minhas fanfics, essa foi exceção pra poder participar de um concurso na Digital Zone, fórum de Digimon.
Vou achar delicadeza se vocês comentarem, mesmo que seja sobre um erro de formatação ou assassinato da língua portuguesa.
Hope you like, guys. ~Juny.
Kiseki no Takaramono (Treasures of Miracles).
- Agora eu vou conquistar ela!
Um garoto loiro, por volta de uns dez, 11 anos, se olhava no espelho e dizia a si mesmo, olhando nos olhos vermelhos-cintilantes, e com confiança.
Já chegara a primavera, e, com ela, a confiança de que conseguiria falar com a garota amada.
- Conquistar quem, Takato?
- eeeh? - exclamou surpreso - Mãe? De que você tá falando? Hahahaha - este começou a ficar nervoso.
- Ai Takato... - a mulher exclamou cansada - que tal você por as calças?
No relógio digital marcava "Sunday, 08:27 a.m.". Aquela coragem que ele tinha veio até ele no momento em que ele levantou - coisa de cinco minutos atrás - o fizera esquecer da cueca vermelha.
E seu rosto assumiu a mesma cor que a cueca assim que sua mãe comentou sobre.
- Já vou por... - saiu extremamente envergonhado de frente da mãe e esta fechou a porta.
...
Dez minutos depois, com dentes escovados, cabelo arrumado, roupa posta e recuperado da vergonha que passara há pouco, ele se dirigiu a cozinha.
Na mesa havia os já costumeiros pães artesanais que seus pais vendem. Hoje eram os franceses.
Margarina, presunto, leite, café, queijo, o jornal que foi entregue, xícaras decoradas - que a Sra. Matsuda ganhou do sogro - o programa de esportes que seu pai assistia e a mãe já comia calma.
- Bom dia, filho - disse seu pai.
- Bom dia.
Ele pegou um pão e passou um pouco de margarina, colocou café e um pouco de leite em uma das xícaras, se sentou e começou a comer.
Nesta hora, no interfone, algum vizinho chamara o Sr. Matsuda, com um assunto qualquer. Ele saiu rapidamente, deixando mãe e filho sozinhos na cozinha.
- Então, você vai me contar?
- Contar o quê, mãe?
- Quem você quer conquistar? - ela disse isso e sorriu.
O garoto se engasgou com o pão e tomou o café para ajudar a digerir o pedaço.
- q-q-q-q-Quê? - ele falou, mal-recuperado.
- Pode me contar.
Característica dos Matsudas: uma vez engajados em algo, não irão desistir tão cedo.
Mãe e filho se fitaram por cerca de um minuto, e enfim o garoto cedeu.
Ele soltou um suspiro, colocou a xícara na mesa e disse, envergonhado.
- k-Katou-san.
- Juri-chan?
- u-uhn.
A mulher Matsuda pensou um pouco.
- Boa sorte.
- Não conta pro papai.
- Pode ficar calmo, eu não vou contar. - ela se levantou e deu um abraço no filho - Estou feliz e orgulhosa de você, Takato. Tenho certeza que você vai conseguir ganhar o coração dela. Se quiser umas dicas...
- Obrigada, mãe.
Ele terminou de tomar o café e perguntou a mãe se poderia ir até Akihabara comprar uns cards pra coleção dele. Ela deixou-o ir.
...
O garoto saltou do ônibus e andou um pouco até virar a esquina e se deparar com a movimentadíssima Akihabara.
Apesar do dia, não estava tão cheia como costuma ser durante a semana. "Durante a semana - pensou Takato - sai a maioria dos lançamentos. Deixar pra comprar no domingo quando há garantias de que vai ter os cards novos é uma boa!" E assim ele foi até a loja de games que era acostumado a ir. A loja MediaLand era conhecida por jogadores de todo o Japão - e fora dele - pelos lançamentos de novos cards e coisas relacionadas a franquia digimon.
Assim que entrou na loja assumiu uma face surpresa. Não pelo postêr gigante anunciando as novas cartas do jintrix e da nova competição do Cathode Digimon, mas sim da garota que concentra pelo menos 80% de toda a sua atenção estar alí, comprando cartas e se inscrevendo na competição.
- Katou-san? - ele disse, corando na hora.
- hm? - ela se virou - Olha! Takato-kun! Bom te ver! - ela respondeu, sorridente.
As pernas lhe falhavam os movimentos, seu coração acelerou, as palavras se enfiaram no primeiro bueiro perto de Hokkaido e aquela coragem que sentiu mais cedo simplesmente sumiu.
Eis o Takato que sempre que via Juri Katou aparecia. O Takato medroso.
- Que veio fazer aqui?
- v-Vim comprar... n-novos c-cards... - ele respondeu, sentindo dificuldade de fazer as palavras saírem de sua boca.
- Ah... Ei! Vai participar do Cathode?
- Cathode?
- Sim! - ela apontou para o grande cartaz a frente dela - Resolvi participar este ano... a Ruki me treinou bem. Ela também vai participar!
- Ah...
- E então... você vai?
Ele hesitou.
- Eu não sei... tem tanto jogador bom que nem sei se conseguiria passar pras quartas de final.
- Consegue sim! - ela deixou o balcão e foi até ele, colocou as mãos nos ombros de Takato e falou, olhando nos olhos - Takato, você é um tamer! - ela o balançou um pouco - boa parte dos tamers estão entrando nesta competição!
- Mas e se eu acabar tendo de te enfrentar? O que EU vou fazer?
- Como assim? Você vai lutar!
- MAS EU NÃO POSSO! - ele gritou.
Toda a loja olhara para o rapaz e a moça. Ele, extremamente vermelho e ela, com uma cara de que não entendeu muito e levemente vermelha.
- EI! AQUI NÃO É LUGAR PRA UM CASAL BRIGAR! - gritou algum cliente. Com esse comentário ela logo o soltou, corando mais ainda.
- NÓS NÃO SOMOS UM CASAL! - Juri gritou de volta ao cliente.
Takato arregalara os olhos e saíra correndo da loja. Ela, ainda não entendendo a situação, o deixou sair.
...
Depois de correr de Akihabara toda atrás de um parque mais próximo, trombar num poste e ganhar um galo, Takato pôde desabar no choro.
Apesar de ser verdade, deles não serem um casal, aquilo de certa forma doía no coração dele. Uma angústia que soprou ali quando ela disse a frase e da cabeça ela não saía. E também devido a dor que ele acabou chorando.
- Takato-nii-chan? - disse uma voz de uma criança.
- Quem é?
Ele olhou. Era a irmã mais nova de seu melhor amigo: Shiuchon.
- Porque tá chorando? E porque sua testa está inchada?
- Ah eu bati num poste... - ele tentou dar um sorriso em meio as lágrimas, sem sucesso.
- Hm... quer que eu chame o Jen-nii-chan?
- Hm? - ele olhou como se dissesse "sim."
- É, o Jen-nii-chan tá aqui perto. Fica aí, vou chamar ele, o dojô fica a uma quadra daqui...
A garota de olhos rosados saiu correndo na direção da saída do parque e voltou dez minutos depois com seu irmão.
Naquela altura, Takato havia parado de chorar, apenas estava com os olhos inchados.
- Takato-kun? Que houve?
- Ah... bem... – ele olhou de leve para a menina e baixou os olhos – nada de mais...
Jenrya notara a pequena indireta.
- Shiuchon, você não ia falar com o Sr. Shuu?
- Ia.
- Pode ir. Eu te esperarei aqui.
- Tá bom.
A menina saiu e os dois ficaram a sós.
- Pode começar, Takato-kun.
...
No dia seguinte, apesar de ensolarado, batia um vento gélido.
Takato aparentava mais aliviado por contar com seu melhor amigo para lhe oferecer um ombro pra chorar e receber uns conselhos, mas ainda assim, gostaria de ter pegado uma gripe e ter ficado em casa. Mas, como isso não aconteceu, lhe restou ir a escola. De nada adiantava a ele pedir em nome de todos os deuses de que tinha conhecimento para que ela faltasse, porque não iria acontecer, e fez o que lhe podia para chegar a escola o mais lento possível – e não era difícil, já que não dormira muito bem.
- TAKATO-KUUUN! – Uma voz feminina gritava atrás dele a uma quadra da escola.
Ele, por sua vez, estatizou e olhou para trás , com receio. Não era sua imaginação entrando em ação em plena 08:42 a.m., Juri Katou estava realmente o chamando.
- Sim... – ele respondeu, baixo e desanimado.
- Bom dia! – disse ela, tocando-o no ombro.
- Ah, sim... bom dia.
Ela o olhou.
- Que aconteceu? Desde ontem você tava estranho... Saiu correndo da loja que mal deu tempo de te convidar pra tomar um sorvete...
- Ah... bem... – ele pensou rápido – Tava com pressa. É, isso, com pressa.
- Takato-kun.
- Que?
- Você sabia que é péssimo mentiroso? – ela disse com ironia no olhar.
Ele parou e fitou o chão, com o rosto vermelho.
- O que você queria ouvir? – disse ele.
- Talvez a verdade. – ela parou de andar, virou para ele e disse, com calma – Diga-me, não quer entrar pro Cathode porque tem medo dos competidores ou de enfrentar um tamer?
- Nem um nem outro. Tenho medo de ter que lutar contra você.
Ela fechou um pouco a cara.
- Oras, não sou tão fraca assim! Eu fui treinada pela Ruki e se-
- Não te chamei de fraca. O fraco sou eu. – este se encolheu, e baixou a voz ao ponto de quase ser inaudível – Tão fraco que mal consigo falar com você olhando nos olhos...
- Oy? Não te ouvi...
- Não é nada. – Ele saiu correndo – Vou me atrasar se não correr.
- Oy espera ai! Eu também vou!
Ele não a ouviu. Enquanto corria soluçava e fazia força para não chorar e continuar correndo a maior velocidade que podia para não chegar atrasado.
...
"Eu posso cabular a aula, agorinha?" Ele pensou.
O que é mais revigorante do que um trabalho em dupla e sua adorável professora te põe como dupla sua garota amada? Para Takato, apesar de ser uma coisa que ele vinha desejando há meses, neste momento, não era muito bom.
- Vou querer que façam uma redação em dupla. O tema é livre – anunciou a professora, que andava pela sala. Ela parou na mesa dos dois – Juri-chan, cuide para que o Takato escreva direitinho. Detesto quando ele escreve errado.
- Ok, Asanuma-sensei! – ela sorriu e virou para Takato, que estava de cabeça baixa – anda lá, Takato, acorda!
- Eu quero ir embora... eu posso?
- Só depois de escrever essa redação. – ela olhou irônica pra ele.
- Só amanhã, então.
- Takato-kun! – ela ficou brava – Pô! Você sai correndo e se enfia sabe lá Deus aonde, não fala direito comigo... Que te acontece?
- Nada.
- Grrr – ela rosnou baixinho, mas logo acalmou – Já que você não decide... nosso tema vai ser novelas mexicanas.
- Que mau gosto, Katou-san... – ele olhou.
- Quem é você pra falar isso pra mim, otaku de digimon?
- Você também é tamer, Katou-san!
Antes que reparassem, ambos elevaram a voz e toda a sala – incluso professora – pararam suas atividades e olhara pro casal.
- Ih, problemas no paraíso... - comentou uma amiga de Juri.
- Oy oy, casal, que tal brigarem em um lugar mais calmo? – gritou Kenta
Ambos pararam e coraram violentamente, e logo se encolheram. "Desculpe" disseram em coro.
- Tudo bem então... só evitem brigar na sala, ok? – Asanuma olhara com carinho pros dois.
- Tá.
Eles tentaram se entreolhar, mas não deu certo, viraram rapidamente para o canto. Mas ele pegou fôlego e começou a escrever.
- Sobre quê vai escrever, Takato-kun?
- Eu não sei, apenas estou escrevendo.
Ela tentou espiar e... não conseguiu entender nada do que estava escrito.
- Takato-kun, que caligrafia horrorosa.
- Katou-san – disse ele, ainda escrevendo – depois você pode brigar comigo e falar da minha caligrafia, mas por agora vamos fazer essa redação porque quero ir embora logo.
Ele colocou o ponto na frase e entregou a folha pra ela. Com esforço, ela tentou ler o que ele escreveu.
"A cultura japonesa, ao ver do mundo, é considerada a mais educada, com homens tímidos e mulheres recatadas. Completamente diferente dos homens de países ocidentais, o japonês vê dificuldade, muitas vezes, em falar quais são seus planos e sentimentos."
- Recatadas?
- Você me entendeu. – ele olhou pra janela.
- Eu não acho que vocês, homens (cof) sejam tão tímidos assim. Não quanto a planos.
- Que tipo de alfinetada é essa, Katou-san? – ele olhou com um pouquinho de ciúmes nos olhos.
- Não sei quanto a sentimentos, mas quanto a planos você, por exemplo, fala e muito bem. E não somos recatadas. Somos... – ela pensou rápido – quietas.
- Interessante saber disso, mas quietas vocês não são.
Ela o olhou com ciúmes.
- Não me olhe feio... olha... posso te comparar com as suas amigas?
- ... vai.
- Quantas vezes vocês não fizeram piadinhas contra eu e meus amigos?
- Sei lá, muitas.
- Tá ai! Vocês não são quietas.
- Interessante observação, Takato-kun. Mas quantas vezes eu puxei briga?
- Ahn...
- Nenhuma. Nunca quis brigar com você ou os meninos.
- Desculpa – ele disse, baixando a voz.
Ele pega a borracha e apaga tudo.
- Mais alguma idéia? – ela disse.
- Não.
- Então podemos escrever sobre historinhas shoujo?
- Porque shoujo? – ele a olhou
- Acho fofo essas historinhas aonde o cara se declara pra menina. Queria que isso acontecesse comigo mas... – ela o olhou – Não vai acontecer, né?
Ele virou pra janela.
- Posso conversar com você depois da aula, Katou-san? – ele disse, olhando fixo a janela.
- Não dá pra falar aqui?
- Não. – ele virou de volta pra mesa – E... não fica imaginando muito o assunto, ou a gente não termina mais isso.
- Tá... bom... – ela o respondeu com dúvida na voz.
Como nunca o vira tão misterioso desde que o conheceu, Juri tentou não pensar sobre.
- Mas acontece, querido leitor – disse Juri, interrompendo a autora -, é que eu realmente não consegui... você sabe, todo mundo fica matutando com isso... o que raios ele queria falar pra mim? E se for algo irrelevante? E se for algo sério?... AAAAAAAH! CURIOSIDADE É COMPLICADO!
- Volta pra fanfic, Juri, narração é comigo!
- Ai tá bom...
...
- Cá estamos.
Com a atmosfera bem shoujo, lá estavam os dois.
- Tá, Takato-kun, que aconteceu? – ela disse, pondo as mãos na cintura.
Takato deixou a mochila no chão, respirou, tentou falar uma vez, "num deu certo", corou, respirou de novo e se curvou a ela.
- KATOU-SAN, ME DESCULPA!
- Desculpas pelo quê?
- Desculpas por eu ter me apaixonado por você – ele falou baixinho.
- O que falou?
Ele se levantou e gritou.
- DESCULPAS POR EU GOSTAR DE VOCÊ!
Tudo se calou. Era possível ouvir o vento, as buzinas da avenida ali perto...
- Takato-kun, você tá fazendo isso porque eu te disse que ninguém iria se declarar pra mim?
Takato mal podia acreditar que acabava de ver toda a sua coragem de leader jogado fora por uma brincadeira da amiga. Logo começou a chorar e saiu correndo, não ligando pra nada. "Takato-kun, por favor, espera, era sério? OY, A SUA MOCHILA!"
Mas não adiantava gritar, ele correu o mais rápido que pôde, rumo a sua casa. Apenas olhar e refletir no que acabara de dizer, foi tudo o que Juri pôde fazer.
...
- Toma.
A mulher Matsuda ofereceu ao filho um chá de camomila e um lenço. O mesmo havia também tropeçado na calçada da avenida, adquirindo um machucado no joelho. Enquanto o menino tentava tomar o chá, a mãe cuidava de seu ferimento.
- Por favor, Takato, não chora...
Este não respondeu. Deu pra ver, nos olhos vermelhos e chorosos, que ele não pararia tão cedo.
- Olha, eu não devia ter te incentivado e nada... eu não...
- Tá tudo bem, mãe. – ele tentava forçar um sorriso – a culpa não é sua, foi minha.
Tudo que ela fez foi dar um abraço no filho. Ele pediu pra que, se por algum acaso alguém o chamasse, dava uma desculpa qualquer pra que não poderia sair. Precisava chorar o suficiente para encarar o mundo outra vez.
E não demorou muito para que alguém o viesse procurar. A Sra. Matsuda desceu as escadas e atravessou a padaria para atender a visitante inesperada. E ênfase no 'inesperada'.
- j-Juri-chan? – disse a mulher, tentando disfarçar o nervosismo na voz.
- Ahn, boa tarde Sra. Matsuda, vim entregar a mochila do Takato-kun. Ele saiu correndo e esqueceu isso... eu posso falar com ele?
- Bom... Ele está com febre bem alta agora – mentiu – e não tá conseguindo nem beber água direito... Não pode ser depois?
- Bom... na realidade pode, mas eu preferiria falar com ele agora.
Um corpo esguio e deprimente apareceu nas portas do fundo.
- Está melhor da febre, Takato-kun? – disse Katou, quase entrando na padaria – não sabia que estava doente... parecia bem na au...
- n-Não é nada demais... – ele olhou pra mãe – ia tentar fazer a lição e te perguntar (cof) sobre a mochila, mas já vi aonde a esqueci.
- Volte pra cama, Takato, não quero que seja internado...
- Eu tô melho...
Este caiu no chão. A mãe foi socorrê-lo, e sussurou aos ouvidos do menor: "Eu realmente achei que estava com febre. Bela encenação." "Mas não estou muito longe disso." Ele respondeu da mesma maneira
- Sra. Matsuda, quer que eu ch...
- Tá tudo bem, Juri-chan. Obrigada por trazer a mochila dele.
A mulher subiu com o filho apoiado nela até aonde não era mais possível se ver na escada. Assim que ele subiu, ela esperou um pouco e foi buscar a mochila. Katou ainda estava lá.
- Sra. Matsuda.
- Sim? – a mulher pegou a mochila do chão.
- Pode... entregar isto pra ele? – deu para a mulher um papel cor-de-rosa, dobrado – Se ele não for para a aula amanhã eu venho aqui ver como ele está.
- Tudo bem... – a mulher se virou e olhou com doçura pra ela – importa-se demais com o Takato. Eu realmente agradeço.
- Deseje melhoras pra ele em meu nome! – ela saiu correndo da padaria.
A porta de vidro se fechara e a mãe de Takato fitava o papel rosado. Era fato, ela queria abrir aquele papel, mas seria má-educação "se envolver na vida do casal". Por fim, subiu as escadas e entregou-lhe o papel.
- O que é isso? – ele perguntou?
- Ela pediu pra te entregar – ela suspirou – Sabe... ela não fez aquilo por mal, Takato. Ela se importa bastante contigo.
- Sério?
- Sério. Daqui a pouco você toma um banho, ok? Vou preparar o jantar.
A mãe fechou a porta e ele abriu o papel.
Takato-kun.
Sinto muito te fazer chorar hoje mais cedo, mas eu realmente não entendi o porquê de você sair correndo. Foi fofo da sua parte se declarar pra mim e me fazer sentir melhor. Obrigada, és um excelente amigo.
Juri.
Ele suspirou e repetiu, em voz baixa, pra si mesmo. "Excelente amigo." Uma lágrima caiu e ele a limpou do rosto. Logo ele se dirigiu a sua mesa de estudos, pegou uma caneta e fez esforço para escrever de forma legível.
Katou-san.:
Não fiz aquilo para te fazer sentir melhor , eu é que fui burro e me declarei na hora errada . Eu é que devo te pedir desculpas . não vai mais acontecer .
Takato.
Ele dobrou o papel e deixou ali, em cima da mesa, e fora tomar um banho.
No dia seguinte ele havia pedido a mãe se poderia faltar. Embora melhor, achava que não mataria faltar [mais] um dia de aula (isto se considerarmos que dentre todas as temporadas de Digimon, ele é o leader que mais cabula).
- Têm certeza?
- Tenho, mãe. Qualquer coisa eu posso ajudar na padaria.
- Hm. Tudo bem.
Durante a manhã, fez tudo aquilo que ele geralmente faria em feriados: sentar no sofá e assistir algum filme que estivesse passando, ou colocar no velho Playstation um jogo de Digimon que havia comprado enquanto que havia o "boom" da franquia. Mas apesar da aparente alegria, ainda não se sentia muito bem. Algo incomodava.
Quando marcava 3:15 p.m. no relógio digital da cozinha, Katou apareceu na padaria.
- Boa tarde Sra. Matsuda!
- Ara Juri-chan, boa tarde! – esta sorriu – veio ver o Takato?
A menina corou, mas endireitou o corpo e disse, sem temer.
- Sim. Vim falar com ele sim. Ele está melhor?
- Hm... – a mulher fez uma cara pensativa – Sim, ele está sim. Pode subir.
A menina agradeceu e quando estava no terceiro degrau, a mulher lhe chamou.
- Juri-chan?
- Sim?
- Posso lhe dizer algo?
- c-Claro.
- Primeiro amor, não esquenta.
A mensagem que a mulher quis lhe passar soou um pouco estranha, mas mesmo assim Katou agradeceu e subiu em direção a casa.
Furtivamente, ela espiou cada cômodo. "Não está nem na sala, nem na cozinha. Talvez o quarto." E tomou o rumo deste com cuidado, uma vez que havia entrado na casa poucas vezes, mas nunca tinha ido tão longe.
Toc Toc.
- Entre. – disse o menino, afundado em algum mangá shounen.
A porta se abriu e Katou, notando que não tinha a atenção dele, pigarreou.
A cara do garoto variava entre medo, surpresa e... "porque ela interrompeu bem aonde o Goku solta o kamehamehá?"
- q-q-q-q-q-Que v-veio fa-fazer a-a-aqui...? – ele tentava controlar a voz para não parecer muito nervoso.
- Vim ver se já tinha melhorado. Acho que sim, né?
- Ah.. s-sim, claro. Bem melhor... – ele olhava pro lado.
Ela entrou e fechou a porta.
- Será que dá pra você descer?
Ele logo obedeceu e desceu da cama.
- Takato-kun.
- Sim..? – qualquer coisa agora lhe servia para não olhar direto nos olhos amarelos de Katou.
- Olha nos meus olhos.
Ele forçou, e por fim conseguiu.
- Jenrya veio conversar comigo hoje de manhã.
- Quê? O que ele falou?
- Tudo. Daquela vez no fliperama, ontem...
Na cabeça de Takato, Jenrya era morto e xingado das mais variadas formas. Ele se arrependeu profundamente de ter atendidio o telefonema de Jenrya e ter despejado tudo o que acontecera.
- Aquele traidor... – ele sussurou.
- Por que você não falou antes? – Juri cruzou os braços. O rosto já assumia uma cor rósea nas bochechas.
- Eu disse, mas você achou que eu tava tirando onda com a sua cara! – ele protestou, mas logo baixou a voz – Talvez fosse efeito da febre...
- Ahhan, febre... – ela retrucou, irônica.
- Mas de qualquer jeito – ele respirou e olhou pros lados – sinto muito, não vai mais acontecer.
Ele baixou a cabeça. Ela descruzou os braços e assumiu uma face envergonhada e de certa forma com pena do menino a sua frente, prestes a chorar.
- Na realidade, Takato-kun – ele a olhou – eu é que tenho que te pedir desculpas. Deveria ter notado que você falou sério naquela hora. Não devia ter brincado com seus sentimentos. Me desculpe.
Uma lágrima escorreu na face branca de Juri, e foi limpa pelos dedos quentes do garoto ali. Ela o abraçou.
Embora ele não soubesse nada sobre os sentimentos dela para com ele, decidiu não perguntar nada, apenas a abraçou. "Afinal – ele pensou – nós ainda somos crianças."
Mas de repente, no seu ouvido, ela sussurou baixo.
- Também gosto de você.
Naquela hora, o mundo pareceu mais vivo. Ele passou a sentir o doce cheiro de pão quente, o barulho da música romântica que sua vizinha tocava ás alturas, a luz do sol que entrava em seu quarto, um flash de uma câmera...
Flash de uma câmera?
A mulher Matsuda abandonara seu posto na padaria e espiara tudo da fresta da porta. Não resistiu e tirou uma foto dos dois juntos, ainda abraçados. Embora ele tenha reparado, naquele momento era irrelevante – quer dizer, até o momento que ela for embora e sua mãe começar as brincadeiras de mau gosto.
A tarde toda foi gasta entre conversas, mangás, um joguinho de cartas Digimon e um beijo na bochecha antes de ir. "Ainda somos crianças" pensou ele. "Não me adianta apressar nada, quero que corra tudo naturalmente." Assim que ela atravessou a porta da padaria, se despedindo da família Matsuda, a mãe se virou pro filho, com uma cara perversa.
- Nem me olha assim mãe, a senhora viu tudo!
Mas não foi argumento o suficiente para a mãe, feliz, dar um abraço daquele "esmaga-ossos" e alegar várias vezes que o filho estava virando um homem.
...
- Alô?
- Takato-kun! – disse a voz do seu melhor amigo – Tudo bem? Melhor da febre?
- Seu traidor, miserável, maldito meio-chinês, a sua morte vai ser beeeeeeeem lenta, seu bicho ruim... – Takato despejava essas palavras num tom a là Ruki no seu poder máximo de escárnio e raiva.
- Que foi, menino?
- Ela veio aqui!
- Ah é? – Ele riu – E o que aconteceu?
- QUEM MANDOU VOCÊ CONTAR PRA ELA? – O loiro berrou ao telefone ao ponto que do outro lado, Jenrya teve de afastar-lo do ouvido
- Takato-kun – ele disse, num tom doce – se eu deixasse por sua conta, viraria uma novela mexicana.
- ...
- Desculpa.
- Mas obrigada. A gente conseguiu se acertar por conta disso.
- Ah, viraram um casal?
- Lee-kun, a gente nem completou 11 anos direito, você tá pedindo demais!
- Viraram. – Ele deu uma gargalhada.
- Seu...
- Tá, tá, eu sei – ele disse, tentando controlar a risada – desculpa!
- Amanhã a gente conversa, Lee-kun – a voz dele ficou um pouco irônica – têm gente ouvindo a conversa. – Disse o loiro, olhando pra mãe que abandonara o fogão com a comida no fogo para escutar a conversa.
- Tá certo... aqui também. Você sabe.
Ambos riram.
- Até amanhã, então.
- Até, Takato-kun.
Desligaram.
- A comida não ta queimando não, mãe? – alfinetou Takato.
- Ah, já queimou. – Ela olhou pro fogão – Vá se trocar, vamos jantar fora, Não vou voltar a fazer comida.
Mãe e filho sorriram um para o outro. O homem Matsuda, que nada ficou sabendo da situação, apenas assentiu sobre comer fora.
...
Da janela do carro, era possível ver as luzes noturnas de Shinjuku, que modéstia a parte, eram verdadeiramente encantadoras. Todos aqueles prédios, comércios, carros, tudo era agradável e atraente. Nisto, Takato apenas refletia.
"Agora que sabemos dos sentimentos um do outro, não há pressa."
A Mãe lhe chamou, perguntando aonde ele preferia comer. Ele sugeriu um restaurante coreano, perto de Odaiba. Assim que a mãe discutiu a idéia com o pai dele, assentiram e Takato pôde voltar aos seus pensamentos.
"Nós ainda... somos crianças." Ele sorriu. "Não há pressa."
