Quando você precisou de mim

O crepúsculo pintava tudo de dourado, até as pontinhas das folhas da relva. O céu só que era meio rosa, meio laranja. O entardecer e o outono eram parecidos. Eles guiavam tudo para a escuridão e para o frio… Mas antes disso se despediam do jeito mais belo que podia ser, do jeito mais bonito que ele poderia querer ver.

Tudo ali, as cores… eram as cores dela. Todo o ar, um cheiro adocicado dos frutos… o cheiro das maçãs era o perfume dela.

Então era isso o que ela tanto exigia, era isso que o olhar dela pedia. Ela só queria saber… Queria que ele soubesse.

O que você me pede eu não posso fazer

Assim você me perde, eu perco você

Como um barco perde o rumo

Como uma árvore no outono perde a cor

Ele não sabia. Não entendia… As coisas dentro dele não eram claras como nela. Ele não tinha a luz dela, toda a luz dele vinha dela… Ele mesmo era escuro… e o seu mundo perderia a cor quando ela o deixasse.

Ela era a beleza da vida dele. Quando ela estava ali, então as coisas brilhavam.

Mas agora ela pediu uma resposta. À velha e inexorável pergunta, ela queria uma resposta. O que ele diria? Ele também queria essa resposta, ele queria conhecê-la, mas sem ter que lidar com ela. É por isso que ele não exigia a mesma resposta por parte dela…

O que você não pode eu não vou te pedir

O que você não quer eu não quero insistir

Por que ela não podia pensar como ele e deixar essa maldita questão para depois? Porque para ele o que importava mesmo era ela estar sempre por perto…

Diga a verdade, doa a quem doer

Doe sangue e me dê seu telefone

O crepúsculo enfim deu seu último grito e a noite veio ao seu chamado. Agora tudo era como ele… tudo era escuro e pedia por luz.

O lago era o espelho do céu estrelado acima dele. Ele podia ver as estrelas, poderia contá-las dali. Poderia deitar-se na grama, como na época em que eram crianças, só para olhar o céu. Era tão estranho… as coisas pareciam tão mais distantes sem ela, ali, a seu lado a contar estrelas. O mundo parecia maior e mais frio.

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar

Às vezes fica longe, difícil de encontrar

(…)

Sem ela as coisas pareciam mais escuras.

Toda vez que falta luz

Toda vez que algo nos faltar

A questão maior e pior é que ele tinha a reposta, ela estava ali, à frente dele, para quem quisesse ver, sob a luz do olhar dela.

O invisível nos salta aos olhos

Um salto no escuro, da piscina

Como se fosse mergulhar no lago e encontrar um mar de luz sob sua superfície. Porque a resposta estava lá.

Ele suspirou cansado, porque não queria mais sentir medo de uma coisa tão bonita… Sentir medo do poder que ela tinha sobre a vida dele.

Puxou um cigarro do bolso da calça. Na ponta da varinha fez surgir o fogo para acendê-lo.

O fogo ilumina muito,

Por muito pouco tempo,

Em muito pouco tempo o fogo apaga tudo

Tudo um dia, vira luz

Só ela queimava como ela. Só o toque dela era capaz de acender tudo nele. Instintos, impulso, força, coragem, ciúmes, paixão, raiva, revolta, frustração, amor… medo. Ela era a luz dele.

Toda vez que falta luz,

O invisível nos salta aos olhos

Ele tinha a mais linda maldita resposta.

Como na noite passada em que ela o olhou tão fundo nos olhos que quem ele via era ele mesmo, porque os olhos dela brilhavam sobre ele. E então o olhar dela eram os olhos dele. A pergunta dela era a resposta que ele tinha. E ele a viu de um jeito novo, porque a velha inexorável pergunta o atingiu.

Ontem à noite eu conheci uma guria

Já era tarde, era quase dia

E ele teria que dar uma resposta a ela.

Lembrou-se dos olhos cheios de medo que ela expressou. Ela tinha medo porque sabia que ele não estava pronto para dar a resposta verdadeira a ela, a resposta que só ele tinha. Ela estava certa, ele era incapaz de responder à velha inexorável pergunta, que só tinha uma genuína resposta. Ele daria uma resposta errada e o medo dela seria o fim para ele.

Era o princípio

Num precipício era o meu corpo que caia

Lembrava de cada detalhe. Ela chegou e se sentou ao lado dele, como sempre. Ajeitando delicadamente os cabelos atrás da orelha, como sempre. Mas tudo estava diferente, porque agora ela precisava dele. E ela pediu uma resposta. Então o calor da mão dela na sua ele não sentiu. E o abraço com o qual ele a envolveu não aqueceu seu corpo, como era para ser.

Ontem a noite, a noite tava fria

Tudo queimava, nada aquecia

Ela apareceu, parecia tão sozinha

Parecia que era minha aquela solidão

É, agora ela era tão sozinha quanto ele.

E à falta da resposta, ao vazio da pergunta, ele os deixou ainda mais sozinhos. Ele a entregou à solidão, e ficou sozinho. A solidão dela era culpa e sentimento dele.

Ontem à noite eu conheci uma guria

Que eu já conhecia de outros carnavais

Com outras fantasias

As cores do sorriso dela não iluminaram aquela noite. Ele não tinha mais a luz dela, a beleza do mundo. Porque ele a entregou à solidão.

Ela apareceu, parecia tão sozinha

Parecia que era minha aquela solidão

Ele a viu afundar-se, perder o sorriso, a cor e a luz.

No início era um precipício

Teu corpo que caia

Então ele perdeu o sorriso, a cor e a luz. Seu mundo voltou a ser a escuridão que era antes de ela aparecer. Porque antes, o sorriso dela era sempre para ele. E era assim que ele sabia viver.

Depois virou um vício

Foi tão difícil acordar no outro dia

Se ela estava sozinha, então não tinha ninguém com ele. Ninguém que chegasse até onde ela chegava, ninguém tão dentro dele, tão entranhado em sua carne. Ninguém que o fazia sentir como se pertencesse ao mundo.

Sem ela, ele não era dali. Ele não era de lugar algum. Ele estava sozinho.

Ela apareceu, parecia tão sozinha

Parecia que era minha aquela solidão

Estava tudo escuro… mas ele enxergava a resposta. Só era incapaz de dizê-la. Não era covardia. Era incapacidade de romper o último fio que separava suas almas. Talvez ele tivesse medo de ser assim, tão dela, e assumir isso. Essa coisa de se manter duro e distante, para fingir que é forte, apesar de sombria e enegrecidamente só. Coisa de Black.


N.A.: sim, sim, isso mesmo, é S/M

e faz parte da estória "Cedo Demais". É depois q acontece uma coisa bem ruim na vida da Marlene, e ela, bom, o título diz: ela vai pedir ajudar pro Sirius.

vai fazer mais sentido depois, prometo.

decidi escrever como songfic por dois motivos: porq a música me inspirou e porq meu computador pifou e os textos estavam lá. então vou ter q esperar ele voltar do conserto pra continuar a estória. acho q não demora.

espero do fundo do coração q quem leia goste.

-- A MÚSICA É DO ENGENHEIROS DO HAWAII, E SE CHAMA "PIANO BAR"

bjus