Disclaimer: Nada me pertence!
Sinopse: Depois de seis anos solitários nos Estados Unidos, Heero está disposto a voltar para a Europa e recomeçar. Mas algumas surpresas pelo caminho irão mudar seus planos.
N/a: Olá! Estou há um longo tempo sem postar histórias, mas agora volto com uma de Gundam Wing. Ela é centrada no Heero, um personagem com o qual gosto de escrever. Mais para frente pode haver alguma referência a HeeroXRelena. Opiniões são sempre bem-vindas.
1. DANDO UMA CHANCE AO DESTINO
LOS ANGELES, ESTADOS UNIDOS
O dia começava a amanhecer, os raios de sol penetrando pelas janelas do pequeno chalé. A cama de mogno estava toda desarrumada, mas seu ocupante não estava ali. Estava sentado em uma cadeira, próximo à janela. A cabeça descansando no braço, com o pensamento longe. Havia poucas distrações naquele lugar isolado, a floresta de pinheiros e as montanhas nevadas ao longe eram um convite para a reflexão. Ele ouviu os latidos de sua cadela, e levantou a cabeça prestando atenção.
Provavelmente mais um esquilo, pensou ele. Mas levantou-se e abriu a porta, de qualquer forma. O vento gelado vindo das montanhas lhe cumprimentou fazendo-o tremer, os fracos raios de sol não sendo o suficientes para aquecê-lo.
-Tsubasa? O que foi? – ele deu a volta na casa, até encontrar a cadela preta, latindo para as árvores. – Tudo bem, garota.
O homem coçou as orelhas do animal, mas ele não se distraiu, continuou a latir para as árvores, com mais ferocidade.
Ele olhou para as árvores também, e só então notou um grande incêndio. Labaredas lambiam o céu azul, a fumaça subindo. Tomado pelo instinto, ele se abaixou e algo passou zunindo por sua cabeça. Não um, mas vários raios de cores diferentes, vindos de todas as direções.
Heero agarrou a cama com força ao abrir os olhos, as imagens do sonho ainda dançando à sua frente. A camisa estava suada e a respiração descompassada. Ele olhou pela janela do minúsculo apartamento para a lua cheia lá fora, xingando mentalmente. Como odiava pesadelos, era o único momento que se sentia totalmente vulnerável.
Ele levantou-se para pegar um copo de água e mirou o beco escuro. Maldita cidade.
Mais um dia começava a amanhecer, mas ele não se sentia animado. Provavelmente mais um daqueles cinzentos dias. Deu uma olhada na quitinete alugada e achou que era hora de mudar-se. Já ficara uma semana ali.
Desceu as escadas devagar, carregando uma pequena mochila nas costas. Entregou as chaves ao morador do térreo, o dono do apartamento que alugara, junto com o dinheiro.
-O senhor ficou pouco tempo. – disse ele, contando o dinheiro.
-Disse que ia ficar.
-Foi um prazer, Senhor Jake.
Herro apenas fez um meneio, e saiu para a rua. Passou à frente de uma vitrine e se deparou com seu reflexo, os cabelos claros como palha. Colocou os óculos escuros, não suportando olhar para o reflexo por muito tempo. Não gostava da nova cor dos cabelos, nem do corte mais curto.
Ele andou mais um pouco pela rua que começava a lotar de gente, quando se aproximava do horário escolar. Mais uma coisa para sua lista de coisas para odiar: o horário escolar.
Heero mirou um mapa velho e empoeirado perto da estação de metrô. Precisava de um novo lugar para ficar, mas mais do que tudo precisava conseguir novos documentos falsos ou nunca iria deixar o país. Precisava de documentos com sua nova aparência, uma vez que os conseguisse seria fácil ir embora. Nos Estados Unidos, deixar o país era brincadeira de criança, o grande problema era entrar.
Ele desceu as escadas e tomou o metrô, já conformado que seria esmagado feito sardinha em lata. Colocou a mochila para frente, para poupá-la de ser empurrada para lá e para cá e preparou-se para a viagem de quarenta minutos.
Heero podia viver há pouco tempo em Los Angeles, mas já havia decorado muito do posicionamento dos bairros, principalmente se seguisse pela linha de metrô. É claro que o fato de mudar de endereço a cada semana ajudava muito.
Ele desceu a certa altura, atento a tudo à sua volta. Tirou os fones de ouvido para escutar melhor os passos que ecoavam na estação subterrânea. Nada viu de suspeito, então subiu as escadas, tendo a primeira vista do bairro Venice, onde não estivera ainda. Deu uma olhada ao redor, à procura de um restaurante barato para almoçar. Teve que andar mais algumas quadras até encontrar um que não tivesse a aparência de ter sido interditado pela vigilância sanitária.
Depois do almoço, ele retomou os pensamentos para os documentos falsos, seu único e principal objetivo no momento. Só precisava saber onde procurar.
Becos escuros eram uma coisa à qual ele havia se habituado à força. Aquela cidade possuía muitos, resultado dos fundos dos edifícios, e não eram nada agradáveis. Ele estava passando por um particularmente assustador quando ouviu gritos. Continuou a andar, ignorando-os. Não tinham nada a ver com ele.
Passou por outro beco, e localizou a provável fonte dos gritos. Três adolescentes em um grupo coeso, provavelmente batendo em algum outro garoto. Mais um grito veio, e não parecia nada com o grito de um garoto. Parecia mais... com o de uma criança. Um dos garotos se afastou, e Heero pôde vislumbrar a cena. Uma menina, que não devia ter mais que cinco anos, gritava e esperneava no chão. Os garotos tentavam arrancar suas roupas à força.
Alguma coisa queimou no peito dele. Ele mirou a rua vazia, as janelas dos edifícios. Lembrou-se de outra garotinha, muito tempo atrás. Outra garota que ainda vinha o assombrar nos pesadelos.
-HEY!!! – ele correu beco adentro, gritando. Um dos garotos assim que o viu, bamboleou nas pernas trêmulas e saiu correndo. Os outros dois ficaram a olhá-lo, em dúvida.
Heero atingiu o primeiro em sua fúria. O garoto segurava a menina pelo colarinho, e derrubou-a no chão quando Heero o atingiu. O segundo tentou começar uma briga com o homem, mas via-se que não tinha muita experiência, Heero segurou seus golpes e contra-atacou com um soco que deixou-o sem ar. O primeiro levantou-se recuperado, e tirou um canivetinho do bolso.
Ele atacou com rapidez, mas Heero segurou o golpe, e o sangue começou a escorrer de sua mão. O garoto riu, e fez outro ataque. Heero se esquivou, procurando uma brecha para atingi-lo. Os dois se aproximavam do muro. O garoto pôs toda sua energia no ataque, que Heero evitou com um giro de corpo, em um instante os papéis haviam se invertido. Ele segurou o pescoço do garoto com uma chave de braço, e apertou até ele soltar o canivete. Então, com um golpe rápido na têmpora, deixou-o inconsciente.
O outro garoto ainda se contorcia no chão, e Heero deu-lhe um chute ao passar. Deviam ter perto de dezesseis ou dezessete anos, mas não podiam usar a desculpa que não sabiam o que estavam fazendo. Heero também fizera muitas coisas idiotas quando mais novo, mas nunca chegara a um ponto tão baixo e vil.
Ele parou perto da garota, agora inconsciente, e por um momento insano, procurou pela flor amarela e pelo cachorrinho. Checou seus sinais vitais, torcendo mentalmente para que ela não estivesse morta, não novamente. Ele levantou os olhos quando sentiu a pulsação, o destino lhe dera uma chance.
Notou que havia uma mulher na janela de um dos edifícios, olhando para baixo e falando ao telefone. Provavelmente chamando a polícia. Ele não poderia ficar ali mais tempo, não se a polícia estivesse a caminho. Estava para sair quando algo agarrou seu pulso. Ele olhou para baixo.
A menina o mirava, os olhos cor de âmbar pareciam suplicar.
-Não... não me deixa. Eles vão vir. Vão me levar.
-Quem?
-Polícia. Vão me levar de novo praquele lugar...
Ela fechou os olhos lentamente, como se estivesse muito cansada. Heero pensou por um instante no que poderia fazer.
Estaria o destino me dando uma chance de redenção?
Ele mirou a pequena mão frouxamente preso ao seu pulso. E resolveu dar uma chance ao destino.
