Nota da autora: as partes em itálico são memórias da Blair, narradas por ela. Ela não está contando aquilo para ninguém, apenas está lembrando.
Fazia anos que ela não voltava para casa. Bem, aquela não era exatamente a sua casa. Fora criada ali até seus 11 anos, quando descobriu que não pertencia àquela família. Não era Sofia do Amaral e sim Blair Dolohov, filha de bruxos poderosos. Ela prometera voltar para visitar, mas ela já estava indo para o 6° ano e nunca voltara ali. Nessas férias em especial, resolveu tirar um tempo dos pais, de toda aquela loucura, de Draco e ir visitar sua mãe e avós adotivos.
Parada em frente a casa na qual crescera – uma casinha de madeira branca com janelas verdes -, ela não sabia exatamente o que fazer. Chamar? Bater palmas? Ligar? Como antes, ainda havia um orelhão do outro lado da rua. Ficou parada olhando para o cachorro deitado sozinho no portão. Então seus outros cachorros já haviam morrido... Ela não conhecia aquele cachorro, mas não pode deixar de sorrir. Achando que pareceria suspeito se ela continuasse parada olhando para casa, ainda mais por causa da longa capa preta que usava por cima do curto vestido, ela atravessou a rua, pegou o fone do orelhão e discou o número de sua casa.
- Alô? – atendeu a voz que ela reconheceu ser de sua avó.
- Será que as portas ainda estão abertas para mim? – perguntou ela apreensiva.
- Quem é que está falando? – perguntou a voz de sua avó, desconfiada.
- Bla... Sofia, vó.
- Meu Deus, Sofia! Claro que estão abertas!
- Estou aqui na frente – disse ela, percebendo que de repente sua voz estava embargada e que uma lágrima escorria em sua bochecha. Desligou. Em poucos segundos a porta da frente foi aberta por seu avô e sua avó. Ela sorriu e atravessou a rua novamente. O portão foi aberto, ela abraçou a avó e depois o avô. Percebeu que os dois estavam emocionados, mas ela não conseguia mais chegar àquele ponto, tinha aprendido a esconder suas emoções.
- Sofia, que bom te ver! Como você cresceu... – disse sua avó, Luzía. – Está tão bonita!
- Obrigada, vó – ela sorriu.
- Você sumiu – seu avô disse. -, mandava um e-mail a cada ano, não apareceu... Ficamos realmente preocupados! Não deixavam você se comunicar conosco?
- Não é isso – ela respondeu calmamente. -, mas vamos entrar que eu não posso explicar aqui fora.
Os três entraram na casa. Continuava do mesmo jeito que antes, várias fotos dela espalhadas pelas paredes, na sala de estar o sofá azul-marinho que um dia ela escolhera, na sala de jantar o armário e a mesa em madeira antiga, as coleções de xícaras e cristais de sua avó, ela pode ver quando passava pelo corredor em direção à cozinha que no seu quarto continuavam as duas camas em que ela e a mãe costumavam dormir, mas que não havia muitos pertences. Na outra sala, que ela chamava quando pequena de "Sala dos Brinquedos", porque era onde guardava a grande quantidade de brinquedos que tinha, continuava o computador, a televisão que ganhara de aniversário de 10 anos, decorada com muitos adesivos, a estante cheia de livros, o sofá cama e o escritório de seu avô. Mas estranho, o computador parecia empoeirado. Desceu os dois degraus que levavam à cozinha e constatou que como o resto da casa, nada havia mudado. O sofá verde musgo continuava ali, a poltrona azul que seu avô ocupava também, a televisão que sua avó ganhara de dia das mães, o freezer azul, a geladeira branquinha e cheia de imãs coloridos, o armário cheio de copos coloridos, o fogão brilhante. Sentou-se no seu lugar de costume, o da ponta perto da porta que dava para os fundos, ao lado do telefone.
- Eu não podia mandar e-mails, porque, como vocês sabem, eu estudo em uma escola de magia e tecnologias trouxas, que é como chamamos os que não são bruxos, não funcionam lá. Eu só saio do colégio uma vez por ano, para as férias de verão. Tenho a opção de sair no Natal e na Páscoa, mas geralmente prefiro ficar no colégio.
- Então você fica o ano inteiro sem se comunicar com seus pais? – perguntou sua avó, incrédula.
- Não, eu mando cartas para eles. Não muitas, mas de vez em quando eu mando. E recebo deles também.
- Nos dê o endereço que também mandaremos! – exclamou Vitor, o avô.
- Na verdade, esse é um endereço que trouxas não podem encontrar. O correio não levaria suas cartas para mim. Correspondo-me com meus pais pelo modo bruxo de trocar cartas: corujas. Elas levam minhas cartas e trazem as dos meus pais. Mas eu não poderia mandar uma coruja viajar da Escócia até o Brasil.
- Escócia? – perguntou Luzía, admirada. – Você não iria morar na Inglaterra?
- Eu moro na Inglaterra, mas acontece que Hogwarts, minha escola, fica na Escócia. Vamos de trem até Hogwarts. Nas férias de verão eu ia até uma lan house e mandava e-mails para vocês, mas meus pais não aprovam nada que seja trouxa, por isso eu tinha meio que... Fugir deles. Draco sempre me ajudava – ela sorriu ao lembrar.
- Draco? Quem é Draco? – perguntou seu avô, desconfiado. Ela riu. Lembrava como Vitor costumava ser implicante com garotos.
- Ah. Bem, acho que vocês merecem saber de toda a história. Mas como é uma história comprida, antes eu queria conversar algumas outras coisas. Por exemplo... Onde está a... Mãe?
- Casou e foi morar em Santa Cruz do Sul. – respondeu sua avó.
- E vocês não foram junto com ela?
- Vamos no ano que vem. Já até havíamos deixado orientações para nossos vizinhos para que te avisassem se você aparecesse.
- É. Mas eu disse: "Luzía, se ela não apareceu até agora, não vai mais aparecer".
- Desculpem-me. – ela respirou fundo.
- Quanto tempo você vai ficar? Não trouxe mala... – observou Vitor.
- Não, eu estou em um hotel no Centro.
- Nada disso, hotéis são caríssimos, fique aqui, você ainda tem seu quarto! – exclamou Luzía, sorrindo animada.
- Acreditem; o valor da diária de um hotel não faz nem cócegas na conta dos Dolohov.
- Dolohov é seu sobrenome, não é mesmo?
- Sim, vó. Meu verdadeiro nome é Blair Dolohov, ou para ser mais exata Blair Marguerite Dolohov. Mas eu prefiro esconder esse pequeno detalhe do meio – e sorriu. Os avós ficaram olhando admirados por ela por um tempo. Ela realmente havia crescido. Estava linda. Tinha olhos cor de chocolate, cabelos negros e lisos que desciam por suas costas – embora naturalmente fossem cacheados – e um sorriso lindo. Estava alta, ainda mais por causa da sandália preta de salto enorme que usava e tinha um corpo perfeito. Não era mais a menininha Sofia. Era a mulher Blair. – Mas não se preocupem. Enquanto eu estiver no Brasil eu vou vir aqui todo dia. Acho que vou passar todas as férias aqui.
- Então por que não fica aqui em vez de no hotel?
- Ah, vó, realmente muito obrigada! Mas eu quero passar um tempo sozinha, é impossível em Hogwarts e na casa dos meus pais... Bom, meu pai e minha mãe são pessoas legais, mas são superprotetores. Iriam morrer de preocupação se por acaso eu resolvesse não tomar café da manhã ou passasse a noite em claro.
- Tem alguma coisa acontecendo? Porque você sabe, pode dizer qualquer coisa para nós, ainda somos sua família!
- Na verdade tem vô. Bom, eu vou contar tudo para vocês, tudo de Hogwarts e eu acho que vocês vão poder entender.
