"Em algum lugar do tempo"

Autora: Keiko Maxwell

Série: Gundam Wing

Casal: HeeroxDuo

Gênero: Angst; Ficção Cientifica; AU;

Classificação: T

Resumo: Não havia mais nada a ser feito, mas ele não desistiria.

Disclaimer: Gundam Wing e seus personagens pertencem somente a Sunrise, Bandai e uns tios de olhos puxados lá do Japão. Trabalho de cão totalmente sem fim lucrativo.

Disclaimer 2: A personagem original que aparece na estória, tem nome e é criação minha. Caso isso tenha uma continuação, vocês descobrem o nome dela. Todos os direitos sobre ela são meus! (Mas continuo sem ganhar nada lol)

Aviso: Contêm BL (Boy's Love)... Se não gostar da idéia, num vem encher o saco.

Spoiler: Nada.

oOoOoOoOo

Chegou a passos lentos, como se a cada centímetro que vencesse com uma nova passada lhe apertasse mais e mais o peito. Podia avista-lo no centro da sala, a luz em um tom azul claro, deixando o ambiente com um clima meio sombrio, não se importava com isso. A única coisa com a qual se importava era entrar ali e poder toca-lo.

O ar frio, indicando a baixa temperatura do local, não lhe incomodava de modo algum, alias nada o incomodava. Havia esperado tanto tempo para finalmente poder estar lá, que mesmo que o mundo acabasse, ele não se incomodaria.

Tocou a superfície fria com cuidado, como se aquele fosse o mais puro dos cristais. Os dedos longos e finos deslizando suavemente, traçando os riscos do rosto delicado. Estavam tão perto, mas tão longe ao mesmo tempo. Como se alcança-lo e tira-lo de lá fosse uma utopia, o que não deixava de ser uma verdade. Ignorada no momento.

Deixou os dedos traçarem o contorno perfeito da face em formato de coração a sua frente, somente o vidro transparente os separando, nada mais, então por que era tão difícil? Sabia a resposta, mas não queria se lembrar dela. Era doloroso demais.

Levou a testa ao encontro da redoma que os separavam, somente isso. Poderia quebrá-la, mas isso quebraria seu coração no mesmo processo. Algo fácil e doloroso, algo que o mataria sem nem pensar duas vezes. Para tocá-lo, poderia fazer isso. Estaria disposto a se matar, a ir junto com ele, alias já havia ido, quando por fim decidira-se por aquela saída. Sua única solução.

"Não adianta ficar se lamentando..." A voz doce lhe quebrou os pensamentos, mas não se moveu. Não precisava se mover para saber quem estava lá, a conhecia tão bem quanto a si mesmo.

"Ele não mudou nada..." Sua própria voz saiu baixa, algo tão incomum para si. Os anos haviam passado, lhe afetando, deixando-o com uma aparência velha, os cabelos levementes grisalhos e a voz bem mais grave. Continuava com o mesmo porte, somente afetado pelo passar dos tempos. Os olhos azuis ainda continuavam os mesmos, profundos como a vinte anos atrás.

"Ele não mudará Otosan, já deveria estar conformado com isso." O som dos saltos se aproximando lhe avisou de que a moça estava cada vez mais perto. Algo que se confirmou, ao avistar o par de sapatos negros parados ao seu lado.

Levantou o rosto, olhando significativamente a filha dos pés a cabeça. Os sapatos pretos de salto combinando com a saia de corte reto da mesma cor. A camisa social branca coberta pelo jaleco da mesma cor, que lhe chegava até os joelhos. O crachá da empresa pendurado no bolso direito sobre o peito. Os cabelos castanhos claros batendo nos ombros, deixando que os fios longos da franja caíssem delicadamente pelos lados da face. Os olhos azuis refletindo os seus e lhe passando uma parte da melancolia que sentia.

"Não há como se conformar com algo que você não gostaria que ocorresse." Desviou o olhar do da filha e fitou novamente a face que permanecia eternamente adormecida. Protegida pelo envoltório de vidro, lhe deixando longe do mundo e de si.

"Não havia outra solução. Otosan, você o protegeu da melhor maneira que pode, se não houvesse tomado essa decisão, eles o teriam matado. Por mais influencia que você possuísse, ele era um hibrido, não havia outra alternativa..."

A voz doce lhe jogando a realidade na face lhe machucava profundamente. Sabia que a filha não lhe falava tudo aquilo novamente para lhe ferir, mas não podia simplesmente se desviar daquelas palavras. Mesmo carregando a verdade nelas, ainda lhe feriam profundamente, dando brecha para que a dúvida e o arrependimento tomassem conta de seu coração e de sua mente.

"Também sinto falta dele..."

Observou os olhos azuis da jovem seguindo para a direção da redoma. Uma pontada de tristeza passando nitidamente pelas íris da mesma cor que as suas. Sabia que a filha também sentida sua dor, talvez uma dor um pouco mais profunda, mas ela estava ali. O jovem adormecido dentro do liquido azulado era importante para os dois e a dor de vê-lo ali sempre iria machucar profundamente o coração de ambos.

"Ainda lembro do riso cristalino que ele dava, era como se milhões de estrelas tivessem rindo junto. O sorriso doce que eu recebia sempre que ele vinha me acordar, mesmo que em resposta ele recebesse uma travesseirada. O modo atrapalhado de cuidar de mim e tentar me deixar em ordem para a escola..."

O riso baixo e fraco durou apenas um segundo. Não daria para sorrir mais do que aquilo, não com lembranças tão doces, pois a certeza de que elas poderiam ter sido prolongadas ainda serpenteava o coração. Por um momento pensou em esticar a mão e tocar o rosto da filha, enxugar a lágrima que escorria solitária pela face de traços delicados, mas se deteve antes de completar o movimento. Conhecia,a agora, moça a sua frente. Havia criado-a sozinho dos cinco aos vinte e cinco anos, sabia que ela era forte e que se a lágrima escorria naquele momento era porquê não havia outra maneira de demonstrar seu amor.

"Daddy faz mais falta do que aparenta..."

Percebeu a fala da filha finalmente desaparecer por completo e a mesma deixar de fitar o corpo dormente para passar a fitar o chão. A franja longa cobrindo parte do rosto e tentando a todo custo esconder as lágrimas que rolavam livremente e silenciosamente pela extensão da face.

A frase da filha caia como uma luva para si também. O jovem fazia falta. Mais do que poderia um dia imaginar. Nunca esperou que fosse perde-lo, mesmo tendo mais consciência da vida do que o outro, acreditava quando as palavras 'para sempre' deixavam os lábios rosados e delicados.

Agora, entretanto, o 'para sempre' estava ali. Isso não poderia negar. Mas jamais poderia tocá-lo novamente. Jamais poderia tê-lo para si de novo. E sentia que nunca mais conseguiria sentir a pele tocando a sua e repetir, apenas mais uma vez, as palavras que tanto ouvira ser proferido pelo outro.

Aquilo doía.

"Eu vou trazê-lo de volta ainda. Bem. Custe o que me custar."

A voz determinada da filha fez um ínfimo sorriso brotar em seus lábios. Sabia que aquela era a maior motivação para ela ter se tornado cientista. E se orgulhava da jovem ter herdado a determinação do Daddy dela. No fundo sabia que a filha iria conseguir. Só esperava poder estar vivo para presenciar.

Tocou novamente o rosto por sobre o vidro gélido, lembrando-se como era a sensação da pele quente sob seus dedos. Sentia falta daquilo. Sentia falta dele. Sentia falta da vida que levavam antes do fatídico dia. Mas não podia simplesmente abandonar tudo e deixar no passado. Assim como a filha se esforçava para trazê-lo de volta, ele também continuaria se esforçando.

Sentiu os braços da jovem envolverem seu braço livre e o peso dela se apoiando ali. Não tinham mais tempo. Teria que novamente se despedir. Suspirou. Pelo menos a certeza de que sempre o encontraria ali ele possuía.

"Eu volto."

"Nós voltamos."

Sua frase sendo modificada pela da filha fez com que uma nova esperança brotasse dentro de si. Eles voltariam e, um dia, ele voltaria para os dois.

Acompanhado da filha, seguiu a passos calmos para fora da câmara gelada. As luzes do local se tornando mais fracas quando ambos deixaram o recinto. Agora apenas o brilho tênue da luz que vinha do grande esquife vertical iluminava o local. E o único som que se ouvia ali dentro, era o absoluto silencio.

Fim...?

oOoOoOoOo

Notinhas da autora:

Primeira fic a entrar para minha nova meta: terminar todas minhas fics começadas até o fim do ano. No caso todas as fics que estão no pc. Capítulos também entram na brincadeira. Logo até o fim de Dezembro, tem alguma coisa que vai ser atualizado aí.

De boa...não sei se continuo. Enquanto escrevia foi surgindo uma idéia para continuação e talz...Mas seilá, vamos ver.

A única dificuldade dessa fic foi o titulo. Não me vinha nada na cabeça!

Bem, falem o que vocês acharam ai... Como me meti na encrenca de escrever todas as minhas fics do pc, vou preparar meus pulsos... Ai, ai.

Ja nee

KeikoMaxwell

Outubro/2008