Título: A Esposa Virgem
Autora: Deborah Simmons
Sinópse:
Ele queria vingança.
Ela ansiava por paixão!
Bretanha, Idade Média
Isabella Swan ficou desapontada com o desinteresse de Edward Masen em fazer-lhe companhia no leito nupcial... É que Edward, obrigado a se casar, por ordem do rei, com a sobrinha de seu maior inimigo, jurara vingar-se fazendo-a sofrer. Mas Isabella sabia como conquistar o coração do marido de uma maneira que ele jamais imaginara!
Capítulo 1
Idade Média
Com olhar sombrio para a caneca de cerveja, Edward de Masen apoiava-se à parede. Não estava embriagado. Nunca bebia demais. Isso lhe embotaria os sentidos e os dele eram afiados como uma navalha. Como prova disso, levantou a cabeça ao ouvir um ruído na entrada do salão. Mantinha o olhar alerta ao menor sinal de perigo. Mas tratava-se apenas da irmã Alice com o bebê no colo.
Swan não passaria por ali outra vez.
Apesar da disciplina férrea, a idéia invadiu-lhe a mente como um fantasma negro. Por um momento, Edward debateu-a. Seu inimigo estava morto. O vizinho, que o tinha abandonado ferido na Terra Santa e voltado para roubar-lhe as terras, perecera neste mesmo salão, nas mãos de Jasper, o marido de Alice. O fato o privara de exercer a vingança.
Edward olhou para as duas cadeiras pesadas, na frente do salão, onde a cena se passara. Mas os ladrilhos já tinham sido lavados e o sangue de Swan se fora para sempre. Edward jamais o veria soluçar e, assim, não sentiria o prazer da vingança tão arraigada em sua alma.
Desde então, nesse último ano, ele tentara executar outras mortes, trabalhando como soldado contratado. Todavia, o extermínio de estranhos significava tão pouco quanto as parcas moedas recebidas em sua troca. Edward já possuía fortuna e uma próspera propriedade. Construído pelo pai, Belvry era um castelo moderno que provocava a inveja de seus pares. O fato, entretanto, não lhe provocava satisfação. Por isso, estava ali, no local do desapontamento amargo, em busca de alento para o vazio em que sua vida se tomara.
Edward apertou os dedos em volta da caneca. Na verdade, não encontrava estímulo em nada, pois tudo perdera o significado para ele. Sua irmã havia mudado muito nesses cinco anos que ele passara na Terra Santa. Ele nem mais a reconhecia. Edward também se ressentia do fato de o cunhado tê-lo privado do que mais desejava:
Tirar a vida de Swan.
- Edward! Eu não o vi aí encostado na parede. O que pretende fazer esta tarde? - Alice perguntou com aquele meio sorriso desconfiado, com o qual ele já se acostumara.
A irmã linda, de cabelos pretos, não sabia o que fazer com ele, mas isso não o surpreendia. Ele próprio não sabia o que fazer consigo mesmo.
- Nada - respondeu Edward com olhar indiferente. Alice sentou-se num banco e dirigiu-se à filhinha:
- Veja, Sybil, é seu tio Edward.
Ao ouvir a voz terna e amorosa, ele quase não acreditou. A Alice que ele conhecia era uma jovem altiva, castelã eficiente, mas incapaz de demonstrações afetivas. Agora, em vez de deixar a criança sob os cuidados da babá, carregava-a para todos os cantos grande parte do tempo. Difícil entender tal atitude.
Um movimento na entrada chamou-lhe a atenção. Virando-se depressa, Edward viu Jasper entrar no salão. Homem de estatura avantajada, o marido de Alice seria capaz de intimidar as pessoas, mas raramente o fazia. Ele parecia deliciar-se com o mundo em volta, do qual se vira desligado durante uma crise de cegueira temporária.
- Jasper! - exclamou Alice sem esconder a alegria. - Veja, Sybil, é o papai - acrescentou, sacudindo a mãozinha da criança para o cavaleiro imponente.
Talvez algo durante o parto houvesse danificado a mente da irmã, pensou Edward várias vezes durante a estadia ali.
- Fique no colo do titio enquanto recebo seu pai - disse Alice.
Para horror de Edward, ele viu-se com a sobrinha no braço. Era pequena, gorda e sem um fio de cabelo. Cheirava a uma mistura de leite e sabonete. Ele a estrangularia caso lhe sujasse a túnica.
Com a caneca de cerveja em uma das mãos e o bebê no outro braço, Edward dirigiu um olhar impotente para a irmã. Porém, ela já se afastava.
Atônito, viu-a atirar-se nos braços do marido. Edward jamais se acostumaria àquele comportamento. Numa cena constrangedora, o casal beijou-se apaixonadamente como se estivesse em seu quarto. Talvez a crise de cegueira também houvesse perturbado a mente do cunhado, refletiu Edward.
A criança percebeu de repente onde estava e pôs-se á chorar alto. Edward estremeceu e imaginou se não deveria deixar logo o castelo de Dunmorrow. Sentia-se embaraçado ao lado desse trio estranho, mas feliz. Em comparação à deles, sua vida parecia mais vazia e sem propósito.
- Pegue aqui - disse ele, estendendo a criança para a mãe.
- Pronto, Sybil. Você deve estar com sono - Alice murmurou.
Admirado, Edward não entendeu como a irmã falava com aquela coisinha como se pudesse ser entendida. O estômago contraiu-se e ele lembrou-se de que precisava comer algo. Mas como tudo, os alimentos não lhe despertavam o interesse. Resolveu concentrá-lo no gigante loiro que teimava em chamá-lo de irmão.
- Edward! - Jasper exclamou com afetividade irritante.
Como o Cavaleiro Vermelho ousava encará-lo com aquela franqueza e como se enxergasse o vazio de sua alma? Como se atrevia a dar-lhe conselhos quando este castelo era uma lástima se comparado a Belvry?
Dunmorrow era velho e seus habitantes não possuíam riquezas. Todavia, eles pareciam ter um tesouro além do alcance de Edward. Isso o deixava mais frustrado ainda. A dor de estômago aumentou e ele quase fez uma careta. Mas manteve a expressão impassível diante do olhar perscrutador de Jasper.
- Vim avisá-lo, irmão, que chegou um mensageiro do rei a sua procura - disse o cunhado.
Olhando para a entrada, Edward viu um homem com o emblema de Augusto. Como não o tinha notado? Claro, distraíra-se com a criança e com demonstrações amorosas. Abafando a raiva, pôs a caneca na mesa e dirigiu-se ao estranho.
Finalmente. Já fazia um ano que Swan invadira a propriedade vizinha de Belvry e, até agora, o destino das terras do desgraçado continuava sem solução.
Na opinião de Jasper, Augusto decidiria em favor de Edward, passando a propriedade para Belvry como indenização. Edward, entretanto, não confiava em reis e príncipes, graças às experiências adquiridas na aventura chamada de Guerra Santa. Ele não se surpreenderia se Augusto confiscasse a propriedade de Swan para a coroa.
Não se importaria com isso. Swan não tinha prole, portanto, de uma forma ou de outra, as terras deixariam para sempre sua linha hereditária. Isso constituía uma pequena satisfação para Edward, pois era a única vingança que lhe restava.
- O senhor é Edward de Masen, o barão de Belvry? - o mensageiro do rei indagou.
- Sou - confirmou Edward.
- Trago-lhe uma mensagem de seu soberano. - Edward fez-lhe um gesto para sentar-se no banco ao longo da mesa. Nesse instante, percebeu o olhar ansioso de Alice. Ela e o marido não escondiam a vontade de também ouvirem a novidade. Isso o surpreendeu.
- Posso oferecer-lhe uma bebida? - perguntou Alice ao mensageiro.
- Aceito, sim, minha senhora. Mas a mensagem é curta. Não prefere ouvi-la primeiro? - indagou ele olhando para Edward e para os outros dois.
Irritado, mas querendo terminar logo a questão, Edward dirigiu um olhar interrogativo ao cunhado. Este o respondeu com outro de advertência. Com o braço nos ombros da esposa, Jasper o fez sentir que devia algo a Alice por seu trabalho em Belvry. Tenso, Edward teve a sensação de que, apesar das demonstrações de amizade de Jasper, os dois chegariam às vias de fato.
Edward, entretanto, cedeu. Afinal, o assunto não tinha muita importância para ele. Não havia mal que eles ouvissem a notícia.
- Esta é minha irmã, e seu marido, o barão de Whitlock, o senhor já conhece.
- Minha mensagem é referente à posse da propriedade adjacente a Belvry e pertencente ao falecido barão de Swan.
Edward concentrou a atenção no mensageiro. Este pôs-se a ler o decreto real, no qual Edward demonstrava a vontade de solidificar a lealdade dos súditos através de laços matrimoniais, sempre que fosse possível. "Está bem", pensou Edward. "Termine logo a leitura!"
- Como descobriu-se a existência de uma sobrinha de Swan, portanto sua herdeira, é nossa vontade que o senhor se case com Isabella Swan, reunindo as duas propriedades e sendo senhor de ambas.
Embora o homem continuasse a ler, Edward não prestou mais atenção. Swan tinha uma parenta viva. A informação reavivou a raiva adormecida, enchendo o vazio da alma com renovado propósito.
-x-
- Ela vive há anos num convento, protegida das maldades do mundo. Deve ignorar tudo a respeito da malícia dos homens e de sua brutalidade. Ai, Jasper, o que acontecerá a ela nas mãos de Edward?
- Seja otimista, Alice.
- Vou tentar e também rezar muito por ela. Que Deus tenha piedade da pobre moça.
-x-
Edward afastou-se de Dunmorrow sem olhar para trás. Nada o prendia lá, mas algo o esperava à frente. Embora fosse um homem destemido, mantinha uma boa escolta para acompanhá-lo em viagens. Parando apenas para pedir indicações sobre o caminho do convento, ele ia em busca da noiva.
Não se preocupava com sua aparência. Ela podia ser velha, jovem, feia ou bonita, o importante era ser do sangue de Swan. Ansioso por alcançar o destino, Edward forçava a comitiva a prosseguir depressa. Paciência e disciplina, duas de suas qualidades, estavam esquecidas.
- Para onde vamos? - perguntou uma voz profunda e melodiosa.
Edward relanceou os olhos para o homem a seu lado. Ele usava uma, túnica larga e longa, pois como vários outros do grupo, desdenhava a cota de malha dos cavaleiros.
- Emmett!
Perdido com os pensamentos, Edward não tinha percebido a aproximação do companheiro. Emmett tinha a habilidade de aparecer de repente. Era também temido pela precisão de seus golpes. Edward o admirava por essas qualidades que os haviam salvado várias vezes quando guerreavam na Terra Santa.
Apesar de ser também chamado de sírio, Edward não fazia idéia de onde ele nascera. A variada população da Síria contava com gregos, armênios, italianos, judeus, muçulmanos e francos que conviviam com uns poucos germânicos e escandinavos.
O nome Emmett era francês e Edward podia imaginar o homem alto e moreno como descendente de um almofadinha. Ele tinha uma postura nobre e uma autoconfiança que não poderiam ter surgido nas sarjetas. A pele dele era de um dourado profundo, mas clara o suficiente para indicar mistura de sangue. Edward refletia se Emmett não seria filho bastardo de algum sultão, ou talvez de um cavaleiro que houvesse violentado uma das mulheres nativas no ardor das cruzadas. Nunca havia perguntado e Emmett não oferecera explicações.
Desde o encontro tumultuado dos dois, vários anos antes, eles mantinham um acordo tácito: nada de indagações sobre o passado. Ao voltar para a Bretanha, Edward trouxera o homem, que havia se tomado quase tão chegado quanto um amigo, e lhe passado o mínimo necessário de informações. Eles não haviam prestado juramento algum, não faziam planos para o futuro e não se julgavam mutuamente.
- Estamos indo a um convento. Trata-se de um lugar sagrado para mulheres - explicou Edward.
- As mulheres vivem lá sozinhas? - perguntou Emmett, perplexo com o conceito estranho.
- Vivem. Elas juraram fidelidade a Deus.
- O que vamos fazer lá? Acho curioso que permitam a entrada de homens em tal lugar.
- Estamos indo em busca de uma parenta de meu inimigo, a herdeira de Swan. Finalmente, vou poder me vingar, Emmett.
- Essa parenta é santa?
- Não, mas vive lá com as que são -respondeu Edward. Percebeu que Emmett relaxava a expressão. Embora o companheiro não professasse religião alguma, respeitava os lugares sagrados, tanto os cristãos como os muçulmanos.
- Sei. E o que você pretende fazer com ela? - o sírio quis saber.
Edward não respondeu logo, pois ainda refletia sobre os planos. O futuro, tão vazio até pouco antes, agora oferecia possibilidades sem fim. Oprimido pela morte de Swan e pelo vazio dos longos meses seguintes, ele ansiava pela recompensa imediata.
- Vou deixá-la sofrer como Swan fez comigo - respondeu finalmente.
- Esvair-se em sangue sob o sol escaldante do deserto? - Edward ignorou o sarcasmo do companheiro. Não queria se lembrar dos dias tórridos e das noites geladas ao relento. Nem do ano vagaroso de recuperação.
- Não. Vou descobrir do que ela mais gosta e privá-la disso como Swan tentou fazer comigo. Também descobrirei o que ela mais teme e a farei enfrentá-lo. Vou atormentá-la e sentirei prazer com isso. Executarei minha vingança.
Fez-se silêncio, mas Edward sentiu o olhar de Emmett sobre ele. Sabia que o companheiro tinha profundo respeito pelas mulheres. Provavelmente, ele não lhe aprovava os planos, mas não interferiria.
Por algum tempo, nenhum dos dois falou. Então, Emmett baixou o olhar.
- Você vai ao convento para matá-la? - perguntou. Edward sorriu.
- Não. Vou para me casar com ela.
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