Título da fic: Monte Carlo

Casal: Shaka x Mu

Sinopse: Entrou naquele lugar com postura altiva; saíu de lá como troféu de um jogo mal sucedido. Mu apercebe-se que tudo tem um preço quando vira uma mercadoria a ser comprada no dia dos namorados.

Classificação: A.U., Yaoi, O.C.C.

Autora: Áries Sin

Disclaimer: As personagens de Saint Seiya não me pertencem (apesar de eu sonhar que sim) mas sim ao salve salve mestre Masami Kurumada que nos fez sonhar com seres tão lindos, magníficos e tuti quanti!

Esta fic foi feita como resposta a um desafio lançado no fórum Saint Seiya Dreams. Fic do dia dos namorados.


Monte Carlo

Por : Áries Sin


A noite estava amena para a época do ano. As luzes iluminavam Monte Carlo, uma das únicas cidades que ousava competir o estatuto de "cidade das luzes" com a maravilhosa Paris. Mónaco…o principado dos ricos… o El dorado de qualquer pessoa. Mas só um pequeno grupo de mais afortunados tinham o privilégio de lá viver. O clima favorecido que proporcionava o mar Mediterrâneo era um convite para todos os turistas em buscar de um pouco de sol.

O Mónaco era o local obrigatório na peregrinação de qualquer pessoa como o mínimo de posses. Claro, ninguém escapava ao chamamento de um dos casinos mais famosos da Europa.

Desceu do Ferrari 612 Scaglietti de cor cinza. Seus longos cabelos lavanda cascateavam sobre os ombros, e baloiçavam com a pequena brisa que teimava em soprar. O terno cinza escuro que usava contrastava perfeitamente com a pele clara, os olhos finos, os lábios perfeitamente delineados; no lugar das sobrancelhas, duas pequenas pintas da mesma cor do cabelo. Todo o conjunto era possessor de uma profunda delicadeza e sensibilidade digno de um vaso Ming.

Entregou as chaves da magnífica viatura ao porteiro como sempre fazia.

- O lugar do costume senhor? – perguntou o jovem hipnotizado. Era cliente habitual do casino, mas todas as vezes que aparecia não se acostumava à beleza da sua presença.

- Sim. O lugar do costume. – respondeu calmamente, sua voz soando doce como mel.

- Bien monsieur. – desceu as escadas e contornou a viatura.

Entrou. Era impressionante o choque que se recebia ao entrar naquele lugar. O exterior do edifício não deixava transparecer o mundo que guardava no seu interior. Risos, gargalhadas, murmúrios de descontentamento, gritos de alegria, tudo se misturava no meio da luxuriosa decoração. Aquele lugar era o local de encontro da elegância e glamour. Há muito tempo que se habituara aos olhares de cobiça para o seu corpo. A verdade era que caprichava na sua aparecia. O egocentrismo era um dos seus grandes defeitos. Ou virtudes.

Vinha regularmente àquele antro dos vícios. Mas aquela noite era especial. Não eram todos os dias que eram taxados como "dia dos namorados".

Bah, namorados… mais um evento inventado para a sociedade brutalmente consumista onde vivia. Era sempre a maior correria nessa altura do ano: imagem clássica, casais correndo separadamente para comprar presente em cima da hora… as lojas abertas até mais tarde.

Ele próprio tinha recebido algumas lembranças… de algumas conquistas. Coisa pouca. Mas claro que não daria nada a ninguém… não valiam para os gastos.

O único ser que merecia o seu dinheiro…era ele. Sorriu. A diversão seria sua. Claro… ele valia a pena! E qual não seria o melhor local para tal, que o casino de Monte Carlo.

- Mu! – ouviu uma voz estridente chamar pelo seu nome! Sorriu ao ver o rapaz de longos cabelos loiros aproximar-se apressadamente.

- Calma Afrodite! Não vou fugir! – respondeu calmamente esperando o outro o alcançar.

O rapaz chegando perto dele, olhou directamente para uma figura esbelta por trás de Mu, que mantinha os olhos cravados neles – Sai daqui Shina, este não é para o seu bico! Eu trato pessoalmente deste senhor!

Mu deixou escapar um sorriso.

- Mu, lindinho, outra vez por cá? Não me diga que vem gastar de novo rios de dinheiro neste lugar degradante. – perguntou com um enorme sorriso. – O que não lhe deve faltar é companhia para este dia maravilhoso…

- Afrodite, para relações públicas deste casino parece bem pouco amigável com ele… e sobretudo, muito intrometido!

- Você sabe o quanto eu odeio esse lugar, e o porquê da minha presença aqui! – disse olhando-o nos olhos. Deparou-se com um olhar profundo e decidido. – além de que há maneiras tão mais interessantes de esbanjar todo esse papel verde que está em sua posse… - disse levando o indicador aos lábios de Mu, aproximando perigosamente seus lábios dos dele.

- Não creio que essa seja uma ideia que agrade muito a uma certa pessoa que está olhando insistentemente para cá neste preciso momento…-respondeu sorrindo com desprezo.

Afrodite afastou-se apressado e olhou para a entrada. Um jovem de cabelos curtos e pele morena fitava-o insistentemente com seus olhos azuis. Tinha uma expressão nada amigável no rosto.

Mandou um pequeno beijo despreocupado para o observador, e acompanhou Mu como se nada fosse.

- O costume Mu? – perguntou com calma.

- Hum… sim, o costume. – respondeu.

A mesa de Black Jack esperava-o. Sentou-se no banco bem no centro da mesa. A conversa com o relações públicas durou pouco, até que o croupier chegasse.

- Acredito que não são precisas apresentações… - finalizou sorrindo – se precisar de algo, sabe onde me encontrar. Divirta-se!

Mu acenou despedindo-se do rapaz. Dirigiu toda a sua atenção para o jovem por detrás da mesa.

- Bonsoir monsieur. – o croupier sorriu com a própria piada.

- Boa noite Camus. O "senhor" era dispensável!

- Se alguém me ouve chama-lo pelo nome, sou posto na rua… sabe como as regras são estritas por aqui. – disse baralhando as cartas habilmente.

- Sei, não podem ter nenhum tipo de "contacto", sem ser profissional com um cliente… uma pena devo dizer… - sorriu maliciosamente, os olhos brilhando.

Assustou-se quando um copo com wisky foi pousado com extrema força à sua frente. Olhou o empregado com desdém.

- O seu pedido "senhor"! – os olhos azuis da pessoa que acabava de chegar pareciam querer arrancar cada cabelo, cada unha uma a uma do cliente. Se olhar matasse…

- Não pedi nada Milo! Mas obrigada. Deduzo que seja oferta da casa… - sorriu sarcasticamente olhando o empregado de lado.

- Milo, acalme-se… - pedia o ruivo divertido com a visível cena de ciúmes do namorado.

- Eu acalmo quando souber este "senhor" longe do que é meu! – rosnou ainda em frente aos dois homens.

- Milo, não se preocupe… eu sei me defender sozinho… - encarou o loiro. – Devia voltar para o bar.

Assim, afastou-se voltando aos seus afazeres, falando sozinho sob os olhares dos jogadores. Mu riu com gosto.

- Sempre ciumento… não muda nunca…

- Você também não ajuda…- suspirou o ruivo – essas suas insinuações falsas acabam com a razão de qualquer um…

- Quem disse que eram falsas? – sorriu deixando Camus sem graça.

O jogo começou. As cartas eram lançadas calmamente. Ao início, duas… Mu sabia que o total dos pontos assimilados não podia ultrapassar os 21. Pediu mais uma. Óptimo, o jogo estava a correr bem.

A sorte mantinha-se do seu lado durante os jogos seguintes. Até que o croupier decidiu manifestar-se.

- Mu, acho melhor parar por aqui. A sorte não é eterna…

- Só mais um… quero aproveitar até ao limite.

Um mau pressentimento assolava o ruivo. Sabia que Mu, assim como os outros jogadores, estava a sofrer de avareza. Quanto mais ganhava, mais queria.

Seu pressentimento demonstrou-se correcto logo no jogo seguinte. Mu começou a perder somas exorbitantes de dinheiro de uma só vez.

Um jovem de costas encostado ao bar olhava atentamente a mesa onde se encontrava Mu. Seus olhos azuis cheios de malícia fitavam cada expressão da face do jogador, enquanto levava o copo de baileys aos lábios finos. O olhar predador sobre o indivíduo de longos cabelos lavanda chamou a atenção do empregado que pigarreou.

Desviou o olhar para Milo levantando uma sobrancelha em sinal de incompreensão. Este fitava-o enraivecido. Certamente estava pensando que o alvo de seus desejos era Camus.

Abriu um leve sorriso de escárnio. Sem uma única palavra, levou o copo vazio perto da cara do empregado balançando-o, o gelo ainda existente chocalhando, indicando que queria mais uma dose.

Voltou de novo sua atenção para a mesa de jogo. Passou a língua nos lábios e ronronou ao vislumbrar a expressão desiludida da face do jogador.

Fez um breve sinal de mão a Milo e afastou-se.

Mu sentiu a chegada de alguém. A pessoa acabava de se sentar ao seu lado. Seus longos cabelos dourados caíam soltos sobre as costas. Seus olhos azuis claros fitaram os verdes. Encararam-se por alguns segundos. Mu viu toda a mesquinhez que aqueles olhos demonstravam. Eram viciantes.

- Boa noite Camus. – ouviu a voz melodiosa ao seu lado.

- Bonne nuit monsieur. – respondeu Camus um pouco nervoso. Aqueles dois juntos não ia dar boa coisa. – Mu, apresento-lhe Shaka. Shaka, este é Mu. – disse rapidamente.

- Prazer. – respondeu Mu oferecendo sua mão para um aperto.

- Mas o "prazer" é todo meu, caro Mu! – Disse sorrindo, alcançando a mão que lhe era oferecida.

"Não me chegava um, agora tenho dois tarados e especialistas em frases com duplo sentido…Au secours Milo… Tire-me daqui!"

Como se tivesse ouvido as preces do namorado, Milo apareceu de repente com a bebida de Shaka. Pousou o copo calmamente à sua frente.

-Aqui está senhor!

- Obrigado Milo. – disse pegando logo em seguida no copo e levando-o aos lábios.

Milo olhou Camus. Percebeu pelo seu olhar um pedido de súplica para que o livrasse daqueles dois. Sorriu sarcasticamente para o ruivo, lançando-lhe um beijo discreto com dois dedos. Camus fez cara de desagrado. O namorado estava-se vingando. Ia deixa-lo à mercê de dois tarados arrogantes e egocêntricos!

- Estava prestando atenção ao jogo…parece que não está com muita sorte Mu! – comentou Shaka divertido.

- Ela há-de voltar…-respondeu não gostando da conversa.

- Para meu consolo, espero que não… - retrucou o loiro pegando nas cartas que lhe eram oferecidas.

O ambiente estava tenso naquela mesa. Camus teve se juntar todo o seu autocontrole para se manter distante da disputa entre os dois homens e continuar a fazer o seu trabalho. Mu mantinha um semblante sério, estava perdendo. Shaka do seu lado, demonstrava um ar divertido. Não estava propriamente ganhando muito, pois jogava pelo seguro apostando pequenas somas de dinheiro de cada vez. As mãos hábeis de Camus baralhavam as cartas a cada final de jogo.

A raiva de Mu ia aumentando ao ver que seu rival estava se dando melhor que ele. Murmurou um "chega" após mais uma derrota preparando-se para se levantar. Uma mão parou-o em seu balanço.

- Já vai? Agora que as coisas estavam-se tornando interessante… - disse o loiro com seu característico sorriso safado.

- Não vejo o que há de interessante para mim ver que estou a perder… - respondeu olhando furioso para o seu interlocutor.

- Podemos tornar o jogo bem mais interessante se quiser… - voltou a afirmar Shaka olhando insistentemente o corpo do perdedor.

Camus rogava insistentes pragas ao namorado por se ter recusado a ajudá-lo. Sabia que iria sobrar para ele.

Mu voltou a sentar-se, não tanto com intenções de voltar a jogar, mas sim chamado pela curiosidade.

- E como o "senhor" poderia tornar o MEU jogo mais interessante?

Os dois jogadores encararam-se durante alguns segundos sem piscar, segundos que a Camus pareciam intermináveis.

- Poderíamos apostar um contra o outro, o que me diz? – finalmente o loiro cortou o silencio.

- Uma aposta… contra o senhor? E o que eu ganharia com isso? – perguntou pegando no último copo de wisky que lhe tinha sido trazido.

Shaka pareceu pensar durante uns minutos.

- Se ganhar… eu ofereço-me para pagar a sua divida de hoje neste casino.

A consciência de Mu teimava em avisar que algo naquela aposta iria correr mal. Mas o vício do jogo e a curiosidade eram maiores.

- E se perder? – perguntou sem muita convicção.

Viu um sorriso nada amigável se formar nos finos lábios de seu rival. Um sorriso que tendia mais para o traquina… ver mesmo no limite do sádico.

- Uma noite.

Mu quase se engasgou com o ar ao ouvir tais palavras.

- Desculpe? – conseguiu proferir após um tempo assimilando as palavras.

- Você entendeu…

- Eu espero bem não ter entendido certo… - olhou sério para o outro. Tudo naquele homem o enervava. Seus gestos, sua maneira sarcástica, seu olhar sedutor e penetrante ao mesmo tempo.

Levantou-se pousando o copo na mesa com força excessiva, demonstrando claramente o seu descontentamento. Saiu.

Shaka olhava –o afastar-se ainda sorrindo. Camus suspirou, o que chamou a atenção do loiro que logo lhe deu toda a sua atenção.

- Não precisa ficar com ciúme Camus… não se preocupe, só tenho olhos para você!

- E vai ficar sem eles se teimar nessas cantatas horríveis para cima do MEU namorado. – Milo acabava de chegar de novo para levar o copo vazio que Mu tinha deixado.

Shaka gargalhou na cara de poucos amigos de do loiro.

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Mu acabava de receber suas chaves do carro. Pegou nelas com a fúria de um touro enraivecido e circundou a viatura entrando na porta do condutor.

- Quem aquele loiro filho da puta pensa que é?

Levou a chave à ignição. O carro ronronou ao ser ligado. Os pensamentos do condutor estavam a mil. Os pneus chiaram com a fricção com o alcatrão. Arrancou com a viatura a uma velocidade alucinante.

Enquanto conduzia numa inconsciência louca, repensava na cena que acabava de viver. O loiro a aparecer… o jogo de cartas e palavras trocadas entre eles… as mãos igualmente brancas que as suas.

"Uma noite"

As palavras de Shaka não lhe saíam da cabeça. Cravadas de unhas e dentes na sua memória. Arrepiou-se. Tudo o que lhe lembrava o loiro repugnava-o. Era essa a conclusão a que chegava.

" Repulsa…"

"Uma noite"

Imaginava uma noite com aquele homem. O olhar sarcástico sobre ele, os dedos longos e esguios percorrendo seu corpo, os beijos depositados na sua pele, mordidas, lambidas… imaginou-se sendo possuído…

- ARRRRRRRRRRGGGGGGGGG… - explodiu gritando sozinho, as mãos ainda no volante quando se deu conta dos efeitos que seus pensamentos tinham causado em seu baixo-ventre.

-----oOo-----

Shaka mantinha-se na mesma mesa, jogando e conversando com Camus.

- Não acha que foi demasiado longe com Mu? - a preocupação de Camus era notável nas suas palavras.

- Muiro sinceramente? Não. – exclamou divertido olhando as cartas que tinha recebido.

- Tem vindo a observá-lo à uns tempos pelo que sei… havia maneiras mais interessantes e sobretudo mais éticas para o abordar.

- Ética? Ora aí está uma palavra que não consta no meu dicionário! – disse encarando o ruivo. – talvez esteja interessado em me ensinar? O que me diz de umas aulas em privado?

- Shaka… você e Mu realmente são demasiado parecidos…

Mal a fala acabava de ser proferida, uma frase soou absurdamente alta detrás do loiro:

- Duas cartas na mesa, Camus! AGORA!

Shaka sorriu ao reconhecer a voz. O dono da longa cabeleira roxa acabava de sentar no banco ao seu lado.

- Devo entender com isto que aceita a minha oferta Mu? – perguntou calmamente.

- Deve entender que ACEITO o desafio! O resultado será apenas a consequência da sorte ou azar! – Mu cuspiu as palavras olhando o adversário de lado.

O jogo começou. Após ter baralhado as cartas, Camus começou por distribuir duas a cada um. Não estava gostando nada do rumo que tomava aquela história. O problema era que ele próprio estava implicado nela.

As cartas eram pedidas consoante as decisões dos jogadores. Tanto um como o outro tinham agora um semblante sério. Era tudo ou nada. Aquele jogo decidiria o rumo das suas vidas.

Ganhava aquele cujo total dos pontos chegasse mais próximo de 21. Quem chegasse perto da mesa, sentiria o peso da tensão presente no ar. O ambiente era de "cortar à faca".

Mu detinha agora uma soma de 15 pontos, as cartas em cima da mesa viradas para cima assim o denunciavam.

Shaka estava mais perplexo. Tinha um total de 20 pontos. Olhava atentamente as suas cartas em cima da mesa. Mu com certeza escolheria pedir mais uma.

Assim foi. Mu pediu uma última carta a Camus. Sabia que seria sua última jogada. Tudo dependia naquela carta. Tinha de sair um 5 ou no cúmulo da sua sorte um 6. No primeiro caso, ficaria empatado com o loiro, e teriam de recomeçar o jogo. Talvez aí a sorte lhe sorrisse de novo. Na segunda hipótese, deteria um total de 21 pontos; um Black Jack! Ganharia por certo.

Alcançou a carta que lhe foi oferecida pelo croupier. Mesmo tentando se controlar, sua mão tremia. Os 3 pares de olhos olhavam fixamente o pedaço de cartão caprichosamente decorado. Virou-o com toda a calma.

Um suspiro de alívio. Um cinco… tinha saído um cinco de espadas! Não cabia em si de contente.

Shaka mantinha o ar sério desde o início da partida. Na verdade, a confiança que lhe era característica no começo do jogo já não existia.

A escolha agora era sua. Estavam empatados. Duas saídas lhe eram oferecidas: ou jogava pelo seguro e acabava o jogo por ali…recomeçando assim um novo; ou arriscava e pedia uma última carta. Tinha de sair um As. (1) Se fosse outra carta qualquer, seus pontos ultrapassaria os 21 e perderia de imediato.

Suspirou. A adrenalina no seu interior subia exponencialmente. Após um momento de reflexão, a resposta veio decidida.

- Mais uma Camus!

Tanto Mu como Camus o olharam surpresos. O ruivo não acreditava que Shaka confiasse tanto na sorte ao ponto de escolher a via mais estapafúrdia. Geralmente jogava com consciência do resultado. Ali estava apostando muito alto!

Olhou-o nos olhos. Um aceno do jogador fê-lo executar a ordem. Pousou a carta em frente ao loiro.

Sua mão alcançou a carta prestes a virá-la. O coração batia descontroladamente.

Mu não entendia as atitudes do rival. Seria ele suficientemente arrogante para julgar que tinha uma chance de ainda ganhar? Suas probabilidades de acertar num As eram mínimas. Quase nulas! Via atentamente a carta ser virada lentamente. Nesta altura, não tinha mais controle obre as suas reacções. Sua mente teimava em não acreditar que tamanha sorte seria possível… a menos que…

Sua respiração parou, os olhos vidrados na carta que acabava de ser desvendada. O coração parecia ter falhado uma batida. Uma não… tinha parado de bater completamente!

Estava assustado… não queria ouvir mais nada… rogava a todos os deuses que conhecia para que algum lhe concedesse a dádiva de um ataque cardíaco fulminante naquele instante.

O golpe fatal seguiu-se com a voz melodiosa e calma de Shaka.

- Black Jack!

Todos olhavam a carta que acabava com todas as esperanças de Mu. O As de copas jazia sobre a mesa, num tom de desafio.

As de copas… Mu, lívido, mantinha os olhos fixos do coração vermelho que ilustrava o pedaço de cartão. Não ouvia nada… não sentia… apenas tentava assimilar o significado daquele coração.

Um momento de silêncio reinou em torno da mesa. Shaka olhou de soslaio para Mu, para logo em seguida se virar para o croupier.

- O jogo acabou. Pode ir embora Camus. Chega por hoje. – disse calmamente.

O constrangimento do ruivo era perceptível à distância. Apressou-se a arrumar tudo e caminhou até ao bar. Miro esperava-o.

Na mesa, o clima não era dos melhores. Nenhum dos jogadores se encarava directamente. Mu mantinha o olhar preso ao lugar onde momentos antes jazia a carta fatal. Parecia um verdadeiro boneco sem vida.

- Mu…sente-se bem? Parece um pouco pálido… - podia soar inconveniente, mas o loiro estava realmente preocupado com a repentina mudança no seu carácter.

Chamado à realidade, o perdedor limitou-se a lançar um olhar cheio de rancor a Shaka. Levantou-se.

- Vamos! – rosnou impaciente – acabemos com isto de uma vez por todas!

Shaka sorriu ao ver seu objecto de desejo tão… escaldante.

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A aproximação seria complicada para não "assustar" sua presa. Divertiu-se com seus próprios pensamentos. O sorriso sarcástico não lhe tinha saído dos lábios desde que tinham saído do ambiente sufocante do casino. Estavam agora na antro da fera como gostava de lhe chamar Shaka. Era para ali que levava todas as suas conquistas. O quarto do hotel que lhe era destinado todos os anos por aquela altura era um luxo. Monte Carlo Grand Hotel. Um luxo que a ralé não tinha possibilidades de pagar, nem com o trabalho árduo de uma vida inteira.

- Quer beber alguma coisa? – perguntou prestativo a seu "convidado".

A resposta veio seca.

- Não!

A presa não estava "receptiva". Isso só o excitava mais.

- Bem… Fique à vontade! Eu volto já. – disse dirigindo-se ao quarto.

"à vontade… fique à vontade! LOIRO DE MERDA!"

Mu respirou fundo tentando calmar sua ânsia. A verdade: estava nervoso. Extremamente nervoso. Não saber o que ia acontecer em seguida deixava-o tenso. Seus olhos pousaram-se sobre a imensa janela que dava para uma varanda. O mar era visível a partir daquele local. Abriu a janela. O ruído das ondas era ouvido suavemente enquanto uma pequena brisa marítima chegava até ele. Tirou o casaco pousando-o numa cadeira, arregaçou as mangas da camisa branca e abriu os 2 primeiros botões. Respirou fundo, fechando os olhos.

Se a situação não fosse tão constrangedora, chegaria a ser cómica. Entrara no casino com a postura de um rico mimado cheio de dinheiro; saía de lá como o troféu de um jogo mal sucedido. Tinha virado uma "mercadoria" que foi comprada no dia do consumismo em doses industriais.

O som das ondas acalmava-o. O cheiro marítimo relaxava. Por poucos momentos, sentiu-se sereno.

Até um outro odor menos amigável chegar às suas narinas. O cheiro ligeiro a Boss Bottle, que no início da noite estava mais intenso, indicava a chegada do loiro.

Assustou-se quando sentiu duas mãos quentes o agarrarem pela cintura, o hálito quente falando bem próximo do seu ouvido.

- Estou a ver que está mais calmo… - beijou a zona de trás da orelha de Mu. – óptimo…

Cada músculo do corpo esguio retesou-se com o toque de seu algoz. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha de alto a baixo.

Shaka lambia a junção entre o pescoço e o ombro de Mu. A respiração deste tornava-se mais acelerada à medida que sentia as mãos sobre sua camisa subirem. Foi tomado num abraço apertado. Sentia o torso definido do loiro sobre as suas costas. Suspirou… convencido, quanto mais depressa começasse, mais depressa acabava.

Virou-se encarando-o. Os olhos verdes fitaram os azuis com um misto de raiva e desejo. Não podia negar que seu corpo reagia intensamente ao de Shaka; mas o modo arrogante e egocêntrico deste o irritava. Talvez porque chocava justamente com o seu. Poderia até sucumbir ao desejo, mas não deixaria de se debater para tornar a tarefa mais complicada para o loiro.

Sentiu os lábios do outro aproximarem-se. Os beijos começaram no queixo, para depois subirem finalmente chegando aos seus próprios lábios. Fechou os olhos instintivamente. Deixou-se tomar pelas vontades de Shaka. O beijo começou calmo, mas logo aumentou de intensidade.

Shaka e Mu travavam uma luta renhida. Nenhum dos dois daria parte fraca. Nenhum queria ser dominado pelo outro.

Shaka abria lentamente os botões que sobravam da camisa do parceiro. Mu levou as mãos ao local, impedindo-o de continuar, enquanto se debatia pelo espaço na sua boca.

O loiro agarrou com força nas mãos, soltando-se do beijo e olhando-o nos olhos. As atitudes revoltadas do parceiro só o deixavam mais excitado.
A camisa de Mu foi retirada abruptamente e lançada sem grandes preocupações no chão. Toda a atenção do loiro era agora dirigida ao torso nu lambendo-o, explorando cada recanto, fazendo Mu soltar pequenos gemidos contidos.

Mu rasgou a camisa do parceiro com certa urgência, tentando ter mais contacto com a pele do loiro. As respirações ofegantes demonstravam toda a urgência que estavam contendo. Entre beijos e mordidas, chegaram ao quarto.

A cama de casal guinchou quando os dois homens caíram literalmente sobre ela, sem se descolarem um do outro.

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Seus olhos abriram-se pesarosos. Com alguma dificuldade, moveu lentamente a mão direita, subindo-a à sua testa. Por todo o corpo, sentia zonas extremamente doloridas e um ardor. Uma ligeira dor contínua e irritante manifestava-se na cabeça. Tocou nos dois pontinhos roxos da sua testa massajando levemente. Cerrou os olhos de novo. Alguns flashes lhe vieram à mente.

Gastou todo seu repertório de palavrões ao se lembrar da noite anterior. Teria dado tudo para se ter mantido naquele momento do acordar em que não se tem noção da realidade. Levantou-se calmamente, pois seu estado não permitia grandes excessos. Os lençóis escorregaram pelo corpo nu caindo sobre a cama e chão. Deu uma olhadela sobre o quarto. Não viu o loiro.

Arrastou-se até ao banheiro. Só em frente ao espelho, vi o estado lastimável em que seu corpo se encontrava. Passou levemente as mãos pelas inúmeras marcas, soltando grunhidos de dor de vez em quando. Pelo jeito, os arranhões e as manchas vermelhas não iriam desaparecer tão rápido como ele desejava.

Olhou-se com fúria através do espelho. Tinha-se deixado levar pelo loiro, que nem um carneirinho num rebanho. Tinha sido possuído, bastante brutalmente. Tinha dores pelo corpo todo, arranhões que chegaram a sangrar, hematomas pelo corpo todo. Repensou na noite anterior com mais calma. Sentiu um calor subir pela espinha. Voltou a abrir os olhos encarando seu reflexo. Tinha ódio… ódio do loiro, com certeza… mas mais que isso… ódio de si mesmo… ódio por se ter deixado fazer… e sobretudo, por ter gostado…

Abriu a porta do box com força. A água fresca cascateava pela totalidade de seu corpo. Fechou os olhos apreciando o contacto do líquido sobre as feridas. Sentiu um ardor num local que ainda não tinha sido reparado. Levou uma das mãos à zona sensibilizada tocando de leve. Soltou um suspiro. Realmente dessa vez tinha ido demasiado forte.

O banho tomado, voltou para o quarto, vislumbrando numa cadeira algumas roupas caprichosamente dobradas e um bilhete. Pegou nele e leu.

" Bom dia Mu…

Deduzo que já me tenha procurado, e para seu alivio não me encontrou no quarto.

No momento em que lê estas linhas, já não me encontro em Monte Carlo. Mas não podia deixar de agradecer a óptima noite que me proporcionou ontem, foi um "prazer" tê-lo conhecido e sobretudo, tê-lo por baixo de mim.

Como prova de agradecimento, soldei suas dívidas no casino. Não se preocupe com o hotel, está tudo arranjado.

Shaka"

Sorriu sarcástico. Aquele ser realmente era uma personagem fora do comum. Amassou o pedaço de papel, jogando-o no lixo. Vestiu as roupas que lhe tinham sido deixadas. Saiu calmamente do quarto, passou pela recepção indicando que o quarto tinha sido liberado e desapareceu.

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Mónaco, 14 Fevereiro, um ano depois…

- Black Jack! – ouviu a voz do adversário exclamar. Suspirou nervoso. O jogo decididamente não lhe estava a correr bem.

Camus recolheu as cartas sobre a mesa. O jovem que se encontrava ao lado do vencedor levantou-se a contra-gosto. Não tinha mais saldo para jogar. Mais uma vez, perdia tudo. Afastou-se lentamente da mesa.
O croupier olhou-o desconfiado.

- O que foi Camus? – perguntou levando o copo aos lábios. – Não precisa ficar ciumento amor! Você é mil vezes melhor que todos os que passar por aqui hoje…

- Mas não é para o seu bico! – respondeu uma voz detrás dele.

- Milo! Com você rondando o tempo todo, é impossível catar seu namorado para uma noite escaldante a sós! – retrucou cinicamente.

O olhar fulminante que Milo lançou ao jogador assustou Camus. Apressou-se a acalmar o namorado:

- Milo, não se esqueça que é um cliente antes de tudo. E não se preocupe, que não ligo para as cantatas deste senhor.

O loiro contornou a mesa de jogo e abraçou a cintura do namorado com um braço possessivamente, falando em seu ouvido.

- Se eu sei que alguma vez você deu bola para um engraçadinho que nem ele, eu juro que você me paga!

Camus virou ligeiramente a cara, falando bem próximo da sua boca.

- No dia em que eu der bola para ele, é porque me fartei de você! Cabe a você me manter interessado… - acabou sorrindo demonstrando sarcasmo. Após a cena ter terminado e Milo ter retornado ao bar, o jogo continuou.

- Mais um jogo Camus!

- Shaka, acho melhor você parar por hoje… acredite, deveria seguir os meus concelhos.

Shaka sorriu para o coupier, voltando a acenar em sinal de que não planeava parar por ali. Como sempre, ninguém o ouvia, cegos pela avareza. Assim seria… lançou duas cartas.

Após umas jogadas, o loiro arrependeu-se de não ter ouvido o croupier. Tinha perdido mais uma partida.

- Vou parar por aqui Camus. Acho que por hoje chega… - suspirou fechando os olhos.

O ruivo começou a juntar as cartas que permaneciam na mesa. Fez um montinho com elas, preparando-se para as guardar.

- Pode voltar a por duas cartas para cada um Camus. Este senhor vai continuar a jogar… - uma voz manifestou-se detrás do loiro assustando as duas personagens.

O novo jogador aproximou-se da mesa felinamente, de mãos nos bolsos. Sentou-se calmamente ao lado de Shaka.

Este sorriu de canto ao vislumbrar a personagem de longos cabelos lavanda que se tinha acabado de sentar.

- Parece que não está com muita sorte Shaka! – comentou Mu divertido, olhando para o loiro.

- "Ela há-de voltar…"-respondeu sorrindo.

- Para meu consolo, espero que não… - retrucou pegando nas cartas que lhe eram oferecidas.

Algumas partidas foram jogadas. Ambas as partes estavam empatadas.

- O que me diz de uma aposta para desempatar? – perguntou Mu olhando de esguelha para o loiro, sorrindo. – Tornaria o jogo mais… interessante.

- Uma aposta… - comentou sorrindo também. - E o que eu ganharia com isso?

Mu riu durante um tempo. Acabou olhando o loiro nos olhos.

- Uma noite… - um sorriso de escárnio era visível em sua face.

Shaka sorriu fechando os olhos.

- E se perder? – perguntou curioso ainda mantendo seus olhos fechados.

Mu parecia estar a exercer uma grande influência no loiro. A armadilha estava lançada… agora faltava a presa. Sorriu virando-se calmamente para o adversário.

- Uma vida.

Camus ouvindo tudo engoliu seco. Não era possível que aquele dois estivessem a aliciar-se um ao outro daquela maneira! Mais uma vez, recriminou-se por não ter sido mais delicado com o namorado. Seria o único que o podia salvar naquele momento. Olhou assustado para a figura serena de Shaka. Não demonstrava qualquer espanto nas palavras proferidas.

O loiro pensava seriamente na hipótese de perder… sua vida passaria a pertencer ao homem sentado ao seu lado.

Abriu lentamente os olhos. As íris azuis demonstrando uma determinação sem fim. Um sorriso se formou em seus lábios. Sem encarar o outro, proferiu a decisão…

- Duas cartas na mesa Camus!

"Rien ne vas plus…"

Fim


(1) Quando sai um As no jogo, o jogador que o detém pode escolher o seu valor: ou significa 1 ponto, ou 11. Neste caso, claro que Shaka escolheria a primeira opção.



Cantinho ariano:

Ora aqui está a minha fic do dia dos namorados… finalmente…feliz
Bom, faz tempo que eu queria fazer uma fic deste género: ADORO ver os dois anjinhos do santuário com pose de sarcásticos e safados XD
Inicialmente esta fic era para ter como protagonistas Milo e Camus. Imaginem o Milo a ser comprado pelo Camus… baba
Mas achei mais interessante serem os meus queridinhos, fofinhos, amorzinhos…

- COMOOOOO OUSAAAAAAAA! EU MATO ELAAAA!

Áries caí da cadeira…

- Calma Mu! Não precisa ficar assim!

Mu: COMO NÃO? VOCÊ VIU O QUE ELA FEZ? COMIGO? CONSIGO? CONNOSCO?

Shaka: Vi sim! Mas não é razão para tanto! Estamos um pouco… ligeiramente… diferentes, mas…

Mu: À MORTEEEEE!

Áries esconde atrás de Shaka

Sh: MU! CHEGA!

Mu: …gggrrrrr…

…Áries: porque estás assim Muzinho?

Mu: Ainda tem o descaramento de perguntar?

Sha: Ele está assim porque você mudou completamente nossas personali…

Mu: COMO OUSA PARAR O LEMON A MEIO!COMO!

Áries e Sha: CATAPLOF…

…Áries (gota): é por isso que estás assim?

Mu: Eu sabia que não devia ter confiado em você…

…Áries (abraça Mu): LINNNDO NÃO FICA ASSIIIMMM COMIGOOOOO modo carinha de carneirinho inocente on pooor favoooorrrrr… há uma boa razão para issooooo…

Mu: e qual é?

…Áries: 1º Achei que a fic ganharia muito se a cena lemon parasse naquele momento…
2º Sei que há muita gente que não é yaoista mas lê fics yaoi… mas que saltam os lemons...porque…pronto… entende-se…

Mu (olhando sério): Hmm… ok… tudo bem… abraça

Áries feliz

Mu: mas você promete que vai…

- EU MATO ELAAAAA!

Mu e Áries estagnam… petrificados…

Mu: Calma Shakinha… não fica assim!

Sha: ELA PAROU O LEMON A MEIOOOOO! É DESTA QUE EU MATO ELAAAA!

…Áries fugindo: SOCORRRROOOOOOOOO!

Mu senta em frente ao teclado : como aqueles dois estão a matar-se um ao outro, eu escrevo o resto do cantinho… aquela doida decidiu que devia cortar o lemon na parte crucial… MAS o lemon vai sair num capítulo à parte. Portanto os yaoistas que não se preocupem. Só espero é que esteja à altura para escrever um…
ouvindo gritos vindos dos confins da casa
Bom… gostávamos de agradecer à Deneb e Tanko por terem ajudado… ou simplesmente para agradecer… sorriso beijo enorme para as duas.
Agradecimento especial à Litha-chan... por ter dado a opinião e ter dado na cabeça da autora pela ausencia de lemon...XP
(gritando): SHAKA! LARGA ELA! DEIXA AO MENOS AS MAOS INTEIRAS PARA PODER ACABAR DE ESCREVER O LEMON!

…ariano imbecil e psicopata…