Disclaimer: Rurouni Kenshin não me pertence, essa é só uma tentativa de fazer um fic um pouco mais sério e sombrio.

" Reminiscência"

Capítulo 1- Shima, o garoto do passado.

Um garoto de cinco anos de idade, corria feito um furacão em direção ao lago. Ele sabia que sua irmã tinha um pouco de medo de passar na velha ponte. Isso lhe dava uma boa vantagem, conseguiria pular na água, antes que ela o alcançasse.

Conforme chegava perto da margem ia se livrando de seu gi e hakama. O menino subiu em cima de grande pedra e se jogou no lago. Rindo e espalhando água por todos os lados.

O sol de verão tinha aquecido a água, transformando o lago em um perfeito convite para a diversão. As cores do fim da tarde, fizeram do céu um perfeito retrato.

As histórias de guerra contadas por seus pais, pareciam tão distantes. Ele não entendia a razão dos homens ficarem brigando, não quando existia tanta diversão no mundo.

Sua irmã era alguns anos mais velha, tremia de medo toda vez que tinha que atravessar a velha ponte de madeira sozinha. Porém tinha prometido aos seus pais que tomaria conta do pequeno, o que não deixava de ser uma tarefa árdua.

Quando o alcançou ,pegou o óculos que estavam jogados na grama e se sentou, sorriu ao ver o pequeno brincando na água. Ela tinha só oito anos, mas era muito responsável.

"Shima, não deveria jogar seu óculos por aí. Isso é muito caro... O papai tem que mandar fazer em outra cidade, sabia?" Não obteve nem mesmo uma resposta, ele estava muito entretido em seu próprio mundo para se importar com as chateações de sua irmã. Ela sabia disse, sorriu, deixando que Mishima brincasse.

Tranqüilamente, levantou o rosto, sentindo as raios vermelhos-dourados do sol em seu rosto, suspirou e começou a folhear o precioso livro que tinha ganhado de presente de seu pai. Um livro sobre uma princesa, ela adorava esse tipo de conto.

Ele jogou água na direção dela, soltou uma gargalhada gostosa da cara que sua irmã fez.

"Kaoru-chan. Pare de ler e entre na água. Está uma delícia, bem quentinha . Vem, vem." Shima jogava a água para todos os lados. Kaoru tentava se esquivar dos ataques do pequeno.

Ela até tentou ficar brava com o menino que queria molhar seu livro, mas não conseguiu, ele era simplesmente encantador. Mesmo assim balançou a cabeça, fazendo sinal de negativo, seu rabo de cavalo acompanhou o movimento.

"Não, eu prefiro ler o livro que o papai me deu, e não pense que nós vamos ficar muito tempo, logo vai escurecer e o ele vai ficar furioso se nós ficarmos fora de casa à noite."

Kaoru esperou mais algum tempo enquanto Shima se divertia, porém, percebeu que o tempo começava a mudar, um vento gelado passou por ela. Fazendo com que Kaoru se levantasse.

"Vamos agora Shima, está começando a esfriar..." A garota ofereceu as roupas para ele. Ele fez uma careta, pensando em contrariar sua irmã, mas o vento gelado passou pelo garoto também, fazendo com que batesse levemente o queixo. Era hora de voltar para casa, Kaoru ficava perigosa quando era contrariada, e sempre arranjava um jeito misterioso de conseguir uma shinai, o menino era esperto o bastante para concordar com ela e se livrar de ganhar uma pancada de shinai na cabeça.

Geralmente, nessa hora do dia os dois deveriam de estar treinando, mas o garoto era terrível. Conseguia escapar de seu pai com uma facilidade absurda. Por todos os lados, Shima era cercado de mimos e regalias.

Quando era bebê, foi descoberto que tinha um problema na visão, não enxergava muito bem. Ele começou a usar pequenos óculos feitos sob medida. Seus pais se sentiam culpados. E o cobriam de regalos.

Sua irmã era sua maior amiga. Sua protetora.

"Sempre obedeça a sua nee-chan,..." Ele ouvia diariamente o seu pai dizer. Kaoru sorria, e o perseguia com uma shinai em punho quando ele resolvia desafiá-la. Ela sempre se dedicou mais a arte de kenjutsu do que Shima.

Queria aprender todos os segredos do estilo que seu pai ensinava, o Kamiya Kasshin Ryuu. Kaoru sonhava em ser uma mestra quando crescesse, e por saber kendo ela exibia um certo ar de superioridade.

Os garotos da cidade ficavam loucos por ela, mas por enquanto, Kaoru fugia das aulas de culinária, ikebana e aulas sobre como ser uma ótima esposa, ainda era muito cedo para isso. Ela queria se divertir com seu irmão e aproveitar os momentos de sua infância . Seus pais não impunham nada, era muito gostoso ouvir o som dos risos invadindo o dojo Kamiya.

"Shima seu cabelo está todo para cima." A menina soltou uma gargalhada enquanto secava o cabelo dele, quando mais ela tentava abaixar, mais em pé o cabelo ficava. Kaoru colocou o óculos no rosto dele, esperou que o menino vestisse completamente a roupa.

Logo, Shima já estava vestido e correndo em direção da ponte. O menino não tinha paciência para esperar por sua irmã. Passou rapidamente pela ponte e encontrou um inseto do outro lado, logo ele esta debruçado sobre o bichinho verde. Kaoru sabia que ele seria um cientista quando crescesse.

"Hey, me espera moleque...Ai eu odeio essa ponte. Ela balança toda a vez que eu dou um passo." Kaoru segurou na corda com força, Shima já a esperava outro lado com aquele sorriso elétrico no rosto. Ele tinha conseguido pegar o inseto verde nas mãos e segurava cuidadosamente para que não se assustasse e voasse.

"Vamos, vamos, ai como você é devagar Vem logo ver o que eu achei, Kao- chan." Os olhinhos dele brilhavam.

"Lá vem você de novo com esses bichos nojentos...Aiiii que coisa, Shima eu esqueci o livro lá na margem do lago. Você fica sozinho aqui um minutinho que eu já volto pode ser?...Obedeça sua nee-chan, Shiminha."

Ele balançou a cabeça fazendo sinal positivo, estava interessado demais no bichinho pra sair daquele lugar, Kaoru percebeu que era seguro deixá-lo sozinho por um instante, sem que o menino aprontasse alguma coisa.

Ela correu até a margem do lago, o seu precioso livro estava lá, caído na grama. Se Kaoru perdesse aquele livre teria um ataque histérico, tinha sido um presente de seu pai, e valia muito para ela.

Kaoru voltou para a ponte, dessa vez atravessou sem pensar muito. Estava realmente escurecendo, Kaoru podia até ver seu pai esperando no portão do dojo, com um belo sermão preparado.

Parou no meio do caminho quando percebeu que Shima não a estava acompanhando.

"Shima, eu não pedi para que você me obedecesse?...Shima." O garoto não estava lá, ou tinha se escondido ou provavelmente estava caçando mais algum bicho por aí.

Mais uma brincadeira, foi o que Kaoru pensou. Estranhamente, ela sentiu uma sensação que parecia subir por suas pernas e lhe arrepiava por dentro. Um vento gelado passou por Kaoru novamente.

"Shima." Ela perguntou devagar enquanto abria caminho por entre algumas árvores.

A voz dela tremeu um pouco.

"Shimaaaa...Pare de brincar e venha logo."

Kaoru não ouvia nada...Nenhum sinal de Shima, mesmo se fosse uma brincadeira do garoto. Kaoru estava angustiada , ela sentiu as lágrimas se formando de verdade.

"MISHIMA KAMIYA." Kaoru gritou, sua voz ecoou pelas árvores.

"Não tem graça nenhuma. Apareça por favor. Você está me assustando." Kaoru agarrou o livro contra o peito. Um ruído de galho quebrando fez com que ela desse um pulo.

"Shima?? É você?" Kaoru deu alguns passos na direção do ruído. Não havia nada alí. A tensão dentro dela era muito grande. Tudo que ela enxergou foi um objeto caído no chão. Seus olhos se arregalassem, por um segundo seu coração parecia ter parado de bater. Kaoru ficou paralisada.

O óculos de Shima, banhado em sangue.

Kaoru pegou o óculos do chão, sentiu o sangue pegajoso em seus dedos finos. Seu livro caiu no chão, agora já não parecia tão importante assim. Ela entendeu do que se tratava. Seu irmão estava ferido, mas sentiu um medo indescritível e incontrolável. Não conseguia se decidir sobre o que deveria fazer.../...Preciso do papai, agora.../...Kaoru escolheu pedir ajuda.

E ela correu. Correu como nunca tinha feito antes em sua vida. Ela se odiou por estar correndo de medo, mas não podia evitar...não conseguiu evitar.

"SHIMMMMMMA." O grito desesperado de Kaoru quebrou o silêncio do fim de tarde, ela segurou o óculos de seu irmão nas mãos. Seu precioso livro tinha sido esquecido no meio daquela floresta. O lugar de brincadeiras, que um dia a pequena Kaoru chegou a pensar que fosse uma floresta encantada, agora lhe amedrontava até os ossos.

"Shima"

Kaoru acordou assustada, suando frio. Sensações horríveis que sentiu durante o pesadelo ainda estavam presentes dentro dela. Ela tremeu, mas agradeceu por ninguém ter invadido seu quarto.

Estava com medo, mas não tinha a menor vontade de explicar sobre seus pesadelos, pelo menos não agora . Sabia que Kenshin andava na sua cola, querendo saber a razão de estar tão distante e de ter tantos pesadelos nos últimos dias.

Sabia que eventualmente, teria que contar sobre seu passado, assim como Kenshin fez contando sobre Battousai, Tomoe e todas as outras coisas.

Fazia tanto tempo que não sonhava tanto com aquele garoto, ela não se lembrava muito bem do que tinha acontecido. Só lembrava que algo muito ruim aconteceu o menino que amava muito, mas não lembrava direito o que aconteceu depois que Shima desapareceu, somente algumas lembranças distorcidas vinham a sua mente de vez em quando.

Mas tinha certeza de que o desaparecimento de Shima foi o estopim para o fracasso do casamento de seus pais. Nunca mais sua casa nem família tiveram paz depois daquele dia. Seus pais só brigavam, discutiam. Tentavam disfarçar, mas Kaoru escutava as conversas alteradas pelas paredes finas do dojo. Se amavam, mesmo assim não existia mais harmonia entre seus eles. Tantos desgostos logo levaram sua mãe à morte.

Se não tivesse abandonado Shima naquela floresta. Kaoru suspirou, fechou os olhos com força, era com se fosse responsável por tudo. Ironicamente, ela se sentia o contrario de tudo que Kenshin pensava que ela fosse...Uma menina boa, se ele soubesse como ela se sentia de verdade...

Depois daquele dia, foram só despedidas. Shima, sua mãe, alguns anos depois seu pai, até mesmo Kenshin naquela noite de vaga-lumes...Ela já nem conseguia mais dizer adeus para mais ninguém...

Seus olhos se encheram de lágrimas, desejou que não houvesse nenhuma memória em sua mente. Como queria acreditar que o passado das pessoas não importava nenhum pouco. Mas como podia acreditar nisso, quando seu próprio passado ainda a machucava

Kaoru respirou fundo para que não começasse a soluçar, se Kenshin escutasse faria um drama e um milhão de perguntas. Perguntas que não estava disposta a responder ainda.

O sol ainda estava longe de nascer, Kaoru teve medo de dormir e sonhar de novo com aquele maldito dia. Ela se levantou, e foi até a cozinha, silenciosamente para que ninguém a escutasse. Encheu o copo de água e bebeu, acalmando-se.

O fogo da vela balançou. A temperatura na cozinha caiu drasticamente, Kaoru sentiu o frio em seus ossos.../...Ah não de novo, não...por favor.../...

Kaoru teve aquela impressão de ter visto alguém passar pelo corredor. Ainda tentou ser otimista, querendo acreditar que provavelmente fosse Kenshin que tinha acordado. Ela balançou a cabeça, era isso, a sensibilidade dele era incrível, por mais que Kaoru tentasse ser discreta, ele sabia de tudo que acontecia na casa.

"Kenshin?" Kaoru caminhou até o corredor, a temperatura parecia ter caído mais ainda. .../..A qualquer minuto agora.../...

"Por que você me esqueceu?"

Kaoru estava certa, a voz de criança fez com que Kaoru derrubasse o copo. Ela paralisou, respirando amedrontada.

"Nee-chan, por que ele tinha tanto o ódio no coração?" Kaoru viu seu irmão parado no corredor. O rosto pálido, quase azul, frio. Kaoru não pode conter o choro e o arrepio em sua espinha...Mortos não caminham entre os vivos, é errado...

"Me perdoe Shima, me perdoe, eu não sei" Kaoru fechou os olhos, baixando a cabeça, escorregou sobre seu joelhos. "Me perdoe, a culpa é minha foi toda minha.."

"Por que isso está acontecendo depois de tantos tempo? O que significa? Eu sinto muito mesmo, Shima." Ela permaneceu ajoelhada no corredor, chorando sozinha.

"Ele quer fazer a inocência acabar mais uma vez, Kaoru." A voz dele era baixa, sofrida, sussurrada. Ela levantou a cabeça, olhou fixamente para o garoto que desaparecia pelo corredor. Podia jurar para si mesma que tinha sido só um sonho ruim, não fosse pelas pegadas molhadas que o garoto deixou no chão.

"Salve aqueles que ama Nee-chan. Ele está de volta."

Ela sentiu seu corpo inteiro arrepiar, mas não conseguia se mover, nem gritar, estava amedrontada demais para tentar qualquer coisa. Porém , passos fizeram com que Kaoru tentasse se recompor, a pressa fez com que o vidro do copo quebrado, entrasse na palma de sua mão, sangue escorreu da ferida, seu coração acelerou ainda mais.

"Senhorita Kaoru?" Os olhos de Kenshin se arregalaram assustados quando viu sangue nas mãos de Kaoru. O que diabos ela estava fazendo no meio da noite ajoelhada na porta da cozinha?

"Meu Deus o que aconteceu? A senhorita está bem?" Kenshin percebeu o estado de choque em que ela se encontrava, as mãos frias, o coração acelerado. Ele se ajoelhou ao lado de Kaoru, tocando sua mão delicadamente. Kenshin sentiu que Kaoru não se importava com o ferimento, ela estava impressionada com outra coisa. Algo que Kenshin não estava conseguindo enxergar.

"Senhorita Kaoru?"

Ela não respondeu, continuou encarando o corredor. Como iria dizer para ele que estava vendo pessoas mortas andando pelo dojo.../..Hey Kenshin aquele é meu irmão que morreu a dez anos atrás, ele voltou pra me dizer alguma coisa.../...As clinicas psiquiátricas era lugares horríveis e faziam coisas medonhas com os "pacientes", ela não queria ir parar em lugar daqueles, mesmo que estivesse louca de verdade.

Kenshin olhou para trás, para tentar entender o motivo de Kaoru estar tão fascinada como o corredor escuro. Não viu absolutamente nada. Kenshin respirou fundo, talvez todo o Jinchuu de Enishi tinha afetado Kaoru mais do que ele imaginou.

"Senhorita Kaoru?" Kenshin levou a mão ao rosto dela.

"Kaoru" Sem senhorita, e com uma voz firme. Kenshin obteve a atenção de Kaoru. Não era a primeira nem a terceira vez que ele a encontrava assim naquela semana. Kenshin tentava ao máximo respeitar a individualidade dela, mas nos últimos dias, Kaoru andava muito estranha. Ele nunca a tinha visto tão distante assim antes.

Os dois se olharam por um longo instante. Kaoru então se deu conta do ferimento em sua mão e da mão quente de Kenshin sobre sua bochecha.

"Ahhh.. eu estava com sede e deixei o copo cair, foi só isso. Eu estou bem Kenshin. Obrigada pela preocupação." Kaoru sorriu falsamente, Kenshin se calou, simplesmente tratou de limpar e atar o ferimento na mão dela.

"Não precisa agradecer este servo. Vou acompanhar a senhorita até seu quarto. Venha" Kenshin se levantou e ofereceu uma mão para ela, mas Kaoru não respondeu, continuou ajoelhada.

"Está bem, está bem, este servo resolve de outro modo."

Kenshin se abaixou e pegou Kaoru no colo. Ela soltou um pequeno suspiro de surpresa. Porém, em seu estado de carência, apreciou o gesto afetivo. Deitou a cabeça no peito dele, e deixou ser levada no colo dele até seu quarto.

Ele gostou de sentir, o corpo de Kaoru envolvido por seus braços, mas não gostou de vê-la tão abatida e fragilizada. Mal sabia Kenshin, que aquele gesto carinhoso, trouxe um pouco de paz a noite perturbada que ela estava tendo.

Chegando no quarto, o ruivo a deitou no futon, cobrindo-a com um edredom. Logo a jovem estava adormecida. Kenshin não deixou o quarto, se sentou ao lado dela, sua mão calejada envolvendo a mão da jovem mestra.

"Sabe que eu faria qualquer coisa por você. Não sei o que acontece, mas nunca permitiria que alguém levantasse um dedo para feri-la. Ninguém vai tirar você de mim, Kaoru." Kenshin encostou suas costas na parede, nem que precisasse fazer uma vigília secreta toda a noite, não permitiria que ninguém se aproximasse.

"Mas eu não sou estúpido. Vou descobrir o que está acontecendo.." Ele disse tão baixo, para si mesmo.

Kaoru apertou a mão de Kenshin, novamente ela estava perdida no mundo dos pesadelos.

"Shima..."Kaoru deixou que esse nome escapasse de seus lábios. Olhos dourados brilharam ao escutar esse nome, não sabia quem era esse tal de Shima, mas estava cansado de escutar esse fantasma assombrando o sono de sua Kaoru.

De uma forma ou de outra obteria respostas, por enquanto tudo que podia fazer era ficar ao lado dela enquanto sonhava com outra pessoa.

Continua...

N\A: Olá, então o que acharam do começo meu fic misterioso? Por favor, deixem um review se quiserem saber o que vai acontecer.