Notas da autora:
Primeiro gostaria de lembrar que as personagens utilizadas nessa história pertencem a J. R. R. Tolkien e que a minha única intenção é usá-las para o entretenimento dos fãs desse mágico universo criado por ele.
No decorrer deste e dos outros capítulos, eu introduzirei novos personagens de minha autoria. Os quais eu tentarei deixar explicitado nas notas, para evitar qualquer problema de compreensão.
Antes de começar gostaria de assinalar algumas coisas para melhor compreensão deste capítulo e dos próximos:
Texto em Itálico – Visões, flashbacks e palavras ou frases em élfico, as quais serão traduzidas em seguida.
(…) - Pequena passagem de tempo
(***) - Mudança de espaço e/ou tempo
Sinopse do Capítulo: Lorde Elrond é assolado por uma visão intrigante. Tal visão começa a se tornar cada vez mais tangível, uma vez que um ser encapuzado começa a rondar Rivendell.
1 - Visões
Mais uma manhã surgia: os pássaros começavam a cantar belas canções que se misturavam ao ambiente perfeito da cidade de Rivendell. Seu canto parecia despertar todas as criaturas que possuíam vida e, aos poucos, a cidade acordava. Seus habitantes retomavam suas tarefas diárias, entre eles, o senhor de Imladris, Lorde Elrond, o qual havia acabado de acordar de seu sono leve e restaurador.
O sábio elfo, depois de se vestir, trançar os cabelos e lavar o rosto resolveu que iria à biblioteca antes de se dirigir ao salão principal. Seu objetivo: guardar o livro que havia levado na noite anterior para passar o tempo.
Com este pensamento em mente Elrond se dirigiu à cabeceira de sua cama, para pegar o livro de capa azul, cujo conteúdo o distraíra por algumas horas antes de cair no sono. Depois de estar com o livro em suas mãos, Elrond deu alguns passos em direção à porta com a intenção de seguir seus propósitos. Mas antes que o mestre o fizesse, ele sentiu uma sensação estranha. Era como se o tempo tivesse parado por alguns instantes: o ar estava mais frio e pesado do que o normal para uma manhã de sol. Antes que pudesse impedir, o livro em suas mãos foi ao chão e o lorde se viu mais uma vez naquela estranha visão que há tempos roubava-lhe a paz.
Elrond estava em sua biblioteca lendo um livro tranquilamente enquanto o som dos pássaros lá fora entrava pela janela aberta. Ao olhar através dela, o senhor élfico pode vislumbrar o fim do pôr-do-sol por entre as arvore. Mais um fim de dia na bela Rivendell.
Alguns instantes passaram, e o elfo se viu andando pelos corredores de sua casa até chegar ao jardim. Este, já coberto pela noite, tinha seus encantos ampliados, pois a luz da lua e das estrelas começava a iluminar toda sua extensão num misto de magia e encanto.
Lorde Elrond continuou a andar sem rumo, como se estivesse à procura de alguma coisa. Ele passou por vários jardins até chegar a um em especial. Esse jardim era o preferido de sua mulher, Celebrían, a qual ele não via desde que esta havia partido para as Terras Imortais.
O jardim de Celebrían era deveras afastado do palácio. Para chegar nele se fazia necessário andar por um caminho longo repleto de árvores. Para o senhor de Imladris, tal tarefa não era verdadeiramente um problema, mas sim uma diversão que trazia boas lembranças da doce Celebrían. Quando Elrond finalmente chegou ao seu destino, ele se encaminhou diretamente a uma fonte que havia no centro do jardim. Fonte esta, na qual havia uma escultura inspirada em sua bela senhora. Ele a amava deveras e sentia bastante saudade de sua presença.
Enquanto seus olhos percorriam toda a extensão da fonte, Elrond deixou sua mente vagar sem rumo, relembrando os momentos passados exatamente ali naquele lugar. Ele se permitiu ficar assim, perdido em seus pensamentos, quando, subitamente, sua audição élfica captou um barulho que não parecia muito distante. Para ser mais preciso algo estava bem perto, mas quando ele percebeu já era tarde demais. Um vulto negro se aproximava com rapidez. Não havia como escapar daquele encontro. E apesar da aproximação, ele estranhamente não temeu o vulto ou tampouco sentiu que a criatura fosse um ser do mal que quisesse machucá-lo.
Inebriado por este sentimento, Elrond permitiu que o vulto se aproximasse cada vez mais. Conforme a distância entre eles diminuía, o lorde élfico sentia uma certa ansiedade crescendo dentro de si. O ser encapuzado então parou a meio metro de distância de Elrond. Parecia que a criatura iria dizer algo. Em vez disso, ela simplesmente levantou as mãos para finalmente revelar o seu rosto.
"Elrond? Elrond? Elrond?" O senhor ouviu uma voz o chamando enquanto duas mãos o seguravam com firmeza e sacudiam-no levemente para despertá-lo de sua visão.
Mas por quê? Por que todas as vezes que ele tinha aquelas visões sempre chegava alguém para atrapalhá-lo de reconhecer quem era aquela criatura? – Pensou o curador.
"Elrond você está bem, mellon-nin?" Era Glorfindel, o louro guerreiro de Imladris que o havia despertado de sua visão.
Ele trazia estampado em sua bela face um olhar preocupado e cheio de questionamentos. No entanto, Glorfindel deixou os questionamentos para depois e resolveu ajudar o amigo a se sentar em uma poltrona. Após acomodar o outro, o guerreiro deu alguns passos e retirou do chão o livro que Elrond havia deixado cair, colocando-o em cima da cama para depois se voltar para seu velho amigo.
"O que houve, mellon-nin?" Indagou Glorfindel ajoelhando-se em frete ao amigo.
Houve uns instantes em que ambos ficaram calados até Elrond quebrar o silêncio. "Não foi nada. Eu estou bem é isso o que importa." Respondeu.
"Como não foi nada?" Questionou Glorfindel. "Quando eu cheguei aqui para te dar uma notícia, eu bati à sua porta diversas vezes e ninguém respondia." Começou a relatar os fatos o louro guerreiro. "Cheguei a pensar que você já não estivesse mais em seus aposentos. Então, eu resolvi entrar e quando o fiz me deparei com você, mellon-nin, bem no meio do quarto. Parado, como se estivesse em uma espécie de transe." Continuou Glorfindel que agora estava exaltado e fitava o lorde moreno com um olhar apreensivo, que fez Elrond se arrepender de tentar omitir os fatos de seu fiel amigo. "Eu chamei seu nome várias vezes e você simplesmente não me dava ouvidos. Foi quando eu lhe peguei pelos ombros e comecei a te sacudir até você acordar." Terminou enfim o guerreiro. Mas recebendo apenas um olhar de difícil compreensão da figura abatida a sua frente.
"Foi uma visão não foi?" Indagou mais uma vez Glorfindel na esperança de desta vez receber uma explicação. Porém Elrond apenas assentiu com a cabeça. "O que você viu que te deixou tão perturbado?" Questionou, segurando as mãos do amigo para tentar incentivá-lo a contar o que tinha visto. Mas o Senhor de Imladris não estava disposto a dizer tudo o que tinha visto com detalhes. Ele não queria alarmar o seu tão valoroso amigo com uma visão confusa.
"Foi... eu não sei ao certo... mas..." Disse Elrond deixando o guerreiro ajoelhado a sua frente impaciente.
"Mas..." Incentivou Glorfindel para que seu amigo continuasse a frase que havia começado. "... mas eu vi uma criatura." Continuou a frase que havia começado. "Uma criatura? Que tipo de criatura?" Sobressaltou-se o louro elfo que há pouco estivera ajoelhado e agora já havia se posto de pé. "Eu não sei! Não pude ver o rosto, pois essa criatura estava envolta em uma capa preta. E também porque você me trouxe de volta à realidade bem na hora que ela iria revelar seu rosto." Contou o curador.
"Desculpe-me se o atrapalhei. O fato é que eu simplesmente não sabia o que fazer."
"Não há motivos para desculpas, você apenas fez o que julgava certo, e não o condeno por isso." Disse Elrond levantando-se da poltrona.
"Vamos deixar este assunto de lado, pois essa visão não faz sentido algum pra mim e se porventura ela vier a acontecer, não creio que cause grandes prejuízos." Disse Lorde Elrond.
Mas antes que pudesse começar uma nova frase para concluir seus pensamentos, Glorfindel o interrompeu. "O que você quer dizer com cause grandes prejuízos?" Indagou o guerreiro dando ênfase à expressão há pouco proferida pelo curador.
"Essa criatura das minhas visões, eu não creio que se ela aparecer nos trará problemas. Penso isso porque quando eu a encontrei na visão, é claro, ela não me fez mal algum ou tampouco pretendia fazê-lo. Eu sinto que essa criatura não é um ser maligno."
"Não sei, Elrond, é melhor ter cuidado com aquilo que desconhecemos." Alertou o louro guerreiro.
"Eu sei bem o que você quer dizer com isso. Não se preocupe comigo, mellon-nin, eu não sou mais um elfinho tolo. Sei muito bem as consequências de meus atos. Mesmo assim, obrigado por ser um amigo prestativo." Disse Elrond apenas para despreocupar seu amigo, que ao final da frase ofereceu-lhe um largo sorriso, contagiando também o senhor de Imladris.
"Se não me falha a memória você veio aqui me dar uma notícia, não é mesmo?" Indagou o curador agora sorrindo abertamente.
"Sim é verdade, mas depois de tudo o que aconteceu eu prefiro que você descubra por si próprio." Disse Glorfindel com ar de mistério.
"Glorfindel, deixe de rodeios!" Exclamou Elrond com um tom de repreensão. "Ao menos me diga do que se trata." Pediu o curador de forma mais amigável.
"Está bem, está bem! Mas não pense que eu vou te dar a informação completa, ouviu?" Começou Glorfindel com sua ladainha apenas para testar a paciência do outro. "O que eu vim te falar é que..." Continuou ele mas parou por alguns instantes para fazer mais suspense. "... é que você tem uma visita." Disse ele por fim.
"Pois bem. De quem se trata?" Quis saber o curador tentando controlar ao máximo sua voz para não transparecer curiosidade.
"Siga-me e você irá descobrir." Disse Glorfindel abrindo a porta do quarto e gesticulando para que Elrond o acompanhasse.
Os nobres senhores seguiram então pelos corredores da casa até chegarem ao salão principal e, quando a porta deste se abriu e os dois senhores entraram por ela, todos que estavam dentro do salão se levantaram e fizeram uma leve reverencia.
Logo que eles entraram no salão, os olhos de Elrond foram parar direto em um elfo que estava ao lado de Erestor. Um belo elfo que tinhas os olhos de um profundo azul escuro, cabelos claros como os raios de sol e uma bela face em que estava estampado um doce sorriso direcionado ao senhor de Imladris. Este último deu alguns passos em direção ao jovem e disse:
"Maranín, harïon Legolas" (Bom dia, príncipe Legolas) "Seja bem vindo a Rivendell. Sua presença nessas terras é um presente de Iluvatar!"
"Hente lle, Lorde Elrond!" (Obrigado, Lorde Elrond) Respondeu o príncipe pondo a mão sobre o coração e inclinando a cabeça. "Afortunado sou eu por estar aqui e receber tal recepção." Mas antes que o príncipe pudesse dizer mais alguma coisa, o senhor de Imladris envolveu-o em um forte abraço.
(...)
Alguns dias se passaram e as visões aconteciam cada vez com mais frequência. Quando Elrond voltava à realidade, ele ficava muito intrigado e um tanto curioso para descobrir quem era aquela criatura, uma vez que ele nunca conseguia ver o seu rosto.
No entanto, um novo acontecimento o estava preocupando. No dia em que o jovem Legolas havia chegado, o príncipe de Mirkwood foi procurá-lo para eles terem uma conversa.
"Senhor?" Uma voz suave veio lhe despertar de seus pensamentos. Era o jovem Legolas que vinha se aproximando dele e parecia um pouco atordoado.
"O que o incomoda, criança?" Indagou Elrond com um olhar de preocupação. "Por acaso seus aposentos não o agradam? Alguém o tratou mal?"
"Não senhor! Longe de mim reclamar sobre sua hospitalidade. O senhor é um excelente anfitrião. O melhor em toda a Arda." Explicou-se o rapaz, rapidamente, se dirigindo lentamente a um canto do terraço onde eles se encontravam. "O que eu venho lhe dizer está relacionado em parte com o seu reino." Disse o príncipe fitando o céu, que agora estava repleto de estrelas. A lua os abençoando com seu brilho encantador.
Mas em seu olhar havia um brilho diferente, um brilho opaco. Alguma coisa estava errada. Alguma coisa havia acontecido para deixar aquele rapaz daquela forma.
"O que você quer dizer com isso, criança?" Questionou o curador para tentar entender o que estava acontecendo.
"Eu quero dizer que algo estranho aconteceu quando eu estava vindo para cá." O jovem elfo parecia atordoado. Como se as imagens do que havia acontecido estivessem passando por sua mente.
"O que aconteceu, Legolas?" Quis saber o curador. O assunto daquela conversa parecia ser de grande importância.
"Senhor, como eu havia dito, no caminho para cá, quase nos arredores da cidade, eu vi um vulto negro se movendo. Não sei dizer bem quem era ou o que era. Apenas posso afirmar-lhe que este ser se encontrava bem próximo aos portões da cidade e parecia que pretendia entrar aqui, mas..." Legolas parou o que dizia e direcionou um olhar ao curador "...mas eu cheguei bem na hora e, ao me ver, ele apenas desapareceu com uma rapidez incrível..."
Houve um silêncio momentâneo antes que o príncipe voltasse a falar. "Eu não sei o que era aquilo. Apesar da estranheza da situação, eu não senti que era alguma criatura má. Não sei o por quê disso.. Estou confuso..."
"Eu também Legolas... eu também..." Limitou-se a dizer e deixando a sua frente um príncipe ainda mais confuso a espera de maiores explicações.
Estes fatos ocupavam os pensamentos do lorde élfico, de tal forma, que o fizeram esquecer de que, no dia seguinte, seus filhos Elladan, Elrohir e Estel estariam em casa novamente: os gêmeos com seu grupo de patrulha, e Estel, sozinho. Estel se utilizava de identidades falsas e nenhum dos seus companheiros guardiões sabia realmente quem ele era, tampouco imaginavam que o guardião era também Aragorn, filho de Arathorn, herdeiro do trono de Gondor. E se dependesse de Estel, os outros guardiões iriam continuar sem saber de sua linhagem real, pois, para ele, tal fato não lhe trazia nada de bom. A única coisa que ele gostaria era poder continuar sendo apenas Estel para assim permanecer ao lado de sua família.
(***)
Estel cavalgava sozinho por muitas horas desde que havia deixado o acampamento do seu grupo. Ele seguia para Rivendell e apenas o fato de estar novamente em casa, poder ver seus irmãos e seu pai trazia-lhe uma sensação de paz enorme a qual não sentia depois tanto tempo de patrulha. Mais uma hora e meia, no máximo, e ele estaria finalmente em casa.
Visando chegar à Imladris o quanto antes, Estel nem havia parado para acampar na noite anterior, pois ele estava muito perto de atingir as fronteira dos arredores da cidade.
Mas o tempo passava devagar e a cidade parecia ter se deslocado de onde realmente era para se instalar em um lugar mais longe e escondido onde ele não pudesse achar. Talvez fosse apenas devido a sua ansiedade de chegar logo. - Pensou ele. – Porém seu caminho estava demorando demais...
Foi quando Estel percebeu que já havia passado por aquela clareira onde se encontrava, e logo pensou que estava ficando louco ou cansado demais para continuar sua cavalgada. "Como pode ser possível?" Indagou ele. "Eu nunca me perdi nos arredores de minha própria casa." Constatou levemente indignado. "Ora se já passamos por aqui, então estamos andando em círculos." Concluiu o guardião, falando em voz alta para ele mesmo e para seu amigo cavalo.
Estel resolveu então parar para pensar. Ele não gostava de agir por impulso, exceto em ocasiões especiais nas quais seu irmão Elrohir o tirava do sério e merecia uma lição.
Ele então desceu do seu amigo equino e deixou com que este fosse pastar depois de vários dias de trabalho árduo. Estel sentou-se em uma pedra e deixou-se abater pelo cansaço, fechando os olhos por alguns instantes até ser desperto por seus próprios questionamentos do que estava acontecendo.
O guardião então levantou de súbito, pois algo estava muito errado naquilo tudo. Nesse exato instante, uma flecha atingiu a pedra onde o humano se encontrava há pouco.
Movido pelo impulso, o dunedain sacou sua espada e começou a girar em volta do próprio corpo para poder localizar o seu oponente. Mas nada viu ou ouviu. Qualquer que fosse a criatura que o tinha atacado parecia estar longe agora. Mesmo assim o guardião não baixou a guarda até ter certeza absoluta de que seu oponente havia ido embora.
"Se eu te encontrar por aqui ainda, criatura traiçoeira, eu juro que irei arrancar-te a cabeça." Disse o guardião em tom de ameaça voltando a vasculhar todos os cantos da clareira. "E se você ainda tiver dignidade ou coragem, apareça e me enfrente de igual para igual." Provocou ainda mais o guardião que começou a achar-se um humano ridículo por estar proferindo aquelas palavras. A tal criatura que nem ao menos deveria saber a existência da palavra dignidade, pois havia o atacado em um momento em que ele estava desatento e desprevenido.
Contudo, não muito havia passado desde que Estel silenciara suas ameaças, surgiu atrás de uma grande árvore o que o dunedain esperava: seu oponente.
Era uma criatura franzina, embora esguia, que se escondia atrás de uma capa preta surrada que lhe cobria completamente dos pés à cabeça. As únicas partes do seu corpo que podiam ser vistas eram as mãos, brancas e pálidas, e os olhos de um verde intenso e selvagem. Mas algo chamou a atenção do guardião: na mão da criatura um anel de ouro com uma pedra vermelha incrustada brilhava deveras refletindo à luz do sol. Tal constatação fez o filho de Elrond crer que a criatura não pertencia a nenhuma espécie medonha, como a dos orcs.
Estel apressou-se a levantar a espada novamente e a apontar na direção de seu inimigo. Este apenas se limitou a permanecer parado onde estava e não sacou arma alguma. Aquela criatura começava a intrigar o dunedain cada vez mais.
"Vamos, o que está esperando para pegar sua arma e lutar comigo?" Questionou o guardião. "Onde está sua coragem?" Por acaso você a perdeu depois que me viu desviar de seu golpe com tal facilidade e agilidade?" Continuou ele sabendo muito bem da mentira que acabara de proferir apenas para provocar e intimidar seu oponente.
"Primeiro humano, ou seja lá o que você for..." Começou a dizer uma voz bela, a qual nem parecia ter vindo daquela criatura, mas que possuía um tom de provocação. "Não vou me dar ao trabalho de perder meu tempo com criatura tão arrogante, que parece não fazer idéia alguma do que diz e que deixa seu cavalo ser facilmente conduzido a distância por mim." Terminou a voz com um tom de sarcasmo.
"O que você quer dizer com isso, criatura das trevas?" Indagou o guardião confuso e ao mesmo tempo impaciente para ver aquela cabeça rolar pelo chão.
"Eu quero dizer que já tem um bom tempo que eu venho te seguindo e guiando seu cavalo para onde eu queria que vocês fossem." Disse a criatura.
"Mas como isso é possível? A que espécie você pertence para poder enfeitiçar o meu cavalo desta forma?"
Diante dessa visível demonstração de incredulidade e estupefação do humano a criatura pareceu não se conter mais e soltou uma risada musical, para depois continuar com a sua explicação.
"Sabe humano, eu pensei que você fosse um pouquinho mais inteligente. Mas vejo que estava enganado. E admito que foi muito fácil conduzir seu cavalo para o caminho errado, uma vez que você estava bem alheio aos fatos que ocorriam a sua volta. E o melhor foi ver a sua cara de espanto ao perceber que eu estava fazendo você andar em círculos. Então, você parou e se sentou, foi aí que eu decidi te testar..." Mas a criatura foi interrompida pelo dunedain que a cada palavra que saia daquela boca imunda ficava cada vez mais irritado.
"Testar-me? Jogando uma flecha em mim para me matar? Mas foi uma lástima pra você, já que eu percebi o seu ataque e me desviei com muita facilidade!" Disse o guardião com ar de vitorioso.
"Como vocês humanos são mentirosos!" Exclamou a criatura, mesmo sabendo que ele mesmo não estava sendo sincero sobre suas intenções para com o humano. "Confesso que, a princípio, eu pensei que você havia notado minha presença, mas depois percebi que você apenas se levantou e, sem querer, acabou desviando-se do meu golpe. Não sei em que tipo de Deus você acredita, mas pode ter certeza que ele deve gostar muito de você. Caso contrário, você estaria morto e eu não teria que ficar aqui discutindo com você!" Completou a figura encapuzada, dando as costas ao guardião e saindo da clareira, mas, antes que este fizesse o que pretendia, Estel foi para cima da criatura e a impediu de que fosse embora.
"O que foi agora humano?" Disse a criatura se desvencilhando de Estel e dando alguns passos para trás.
"Você achou que eu ia deixar você ir embora sem te dar um bom corretivo?" Provocou o guardião que já tinha perdido a paciência e estava louco para lutar.
"Ora humano, eu não estou com paciência para lutar com você. E, se eu o fizesse, você não teria a menor chance de sair deste lugar com vida!"
"Então prove! Venha lutar e, se conseguir, tire minha a vida!"
"Corajoso... Com certeza. Mas você não tem idéia de com quem está se metendo."
"Então me diga quem ou o que é? Mas mesmo assim nada irá me impedir de lutar com você." Disse o guardião agora ficando na frente do seu inimigo e impedindo a passagem.
"Quem e o que sou só desrespeito a mim e a mais ninguém! Agora saia da minha frente!" Ordenou a voz por debaixo do pano que lhe encobria metade do rosto.
"Não sei não. Venha me tirar daqui!" Provocou Estel.
"Se você quer assim..." Disse a criatura tirando debaixo de sua capa duas espadas élficas gêmeas, incrivelmente belas e letais, declarando, enfim, o inicio da batalha.
Estel surpreendeu-se com as espadas e a agilidade com que a criatura se defendia e o atacava. Mas o que o deixou aterrorizado foi o fato de seu oponente parecer prever todos os seus ataques antes de ele deferir os golpes. Essa criatura só pode ser um elfo. - Deduziu o dunedain devido às espadas, os movimentos leves de seu inimigo e muitas outras evidências.
"Então, humano, surpreso? Arrependido? Quer desistir?" Disse a criatura entre risos, enquanto travavam a batalha.
Porém, antes que Estel pudesse responder, ele se viu no chão. Sua espada não estava mais em suas mãos e a criatura estava em cima dele com as lâminas élficas cruzadas em volta de seu pescoço.
"Sua hora chegou, humano! Despeça-se deste mundo e prepare-se para encontrar seus antepassados!" Ameaçou a criatura apertando ainda mais as espadas no pescoço de sua vítima.
O guardião então apenas fechou os olhos e esperou pelo pior, arrependendo-se amargamente de ter provocado aquela criatura. Por que ele não a tinha deixado partir? – Lamentou-se. - Agora ele nunca mais veria sua família, nem seus amigos.
De repente, sem nenhuma explicação, a criatura o soltou, dando-lhe as costas para então subir em uma árvore com bastante agilidade, indo desta para outra até sumir da vista do humano. Estel não tinha mais qualquer dúvida de que se tratava de um elfo.
Mas por que ele havia feito aquilo? Por que não o matara quando teve a chance? As perguntas começavam a explodir na cabeça do rapaz. Mas uma voz veio despertá-lo de seus devaneios. Uma voz conhecida e que ele ansiava muito em ouvi-la.
"O que por Mandos você está fazendo aqui nessa estrada que nunca vai te levar a Rivendell, Estel?"
Era Elrohir, seu irmão de criação, que vinha se aproximando dele. Antes que o irmão dissesse mais alguma coisa, Estel o envolveu em um longo abraço cheio de saudades.
Logo atrás vinha Elladan, gêmeo de Elrohir e filho mais velho de Elrond, trazendo consigo o cavalo de Estel. Quando o guardião terminou de abraçar Elrohir, foi à vez de Elladan. Em pensar que graças a Iluvatar e a seus irmãos ele agora não estava morto.
"Anda Estel, responda-me, o que você faz aqui?" Perguntou novamente Elrohir esperando desta vez obter sua resposta.
"Calma, Elrohir. É uma longa história. Depois eu explico a vocês tudo o que aconteceu, porque agora o que eu mais quero é ir para casa." Limitou-se a dizer o guardião antes que seus irmãos o bombardeassem com várias perguntas.
"Se você pensa que vai escapar, Estel, você está muito enganado!" Ameaçou Elrohir.
"Se é assim, então, digam-me: o que VOCÊS estão fazendo aqui?" Indagou o guardião sem paciência.
"Olha, Elladan, esse nosso irmão é mesmo um ingrato." Antes que o gêmeo mais novo pudesse continuar Elladan o interrompeu.
"Pare com essa sua encenação de irmão ofendido e vamos logo sair daqui." Disse o mais velho se encaminhando para onde seu grupo de guerreiros os aguardavam, não muito longe dali. Estel e Elrohir logo trataram de seguir o irmão. Elladan era de longe o mais centrado e o mais sensato dos filhos de Elrond. Com seu jeito calmo e paciente ele lembrava muito o próprio pai.
Após caminharem por alguns minutos, os três irmãos chegaram ao local onde a patrulha dos irmãos.
"Então foi por isso que aquele ser desprezível fugiu. Ele deve ter ouvido o som da patrulha, já que ele é um elfo." Disse Estel em um sussurro para ele mesmo, porém como seus irmãos eram elfos escutaram o comentário do guardião.
"Do que você está falando, Estel?" Questionou Elladan enquanto subia em seu próprio cavalo, sendo imitado por muitos elfos que haviam deixado suas montarias. Em seguida deu um sinal para o grupo retomar a estrada de volta a Rivendell.
Enquanto todos começavam a tomar seus postos, Estel relatou os fatos ocorridos para seus irmãos, que escutaram cada palavra que o caçula dizia. Ao final do relato, os dois estavam muito surpresos.
"Que estranho!" Exclamou Elrohir. "Se essa criatura era mesmo um elfo, como você disse, por que ela te atacaria?" Elrohir tentava entender toda aquela história confusa sobre a criatura. Ao mesmo tempo, agradecia a Iluvatar por eles terem encontrado o irmão com vida.
"Mas como vocês me encontraram?" Perguntou Estel que cavalgava ao lado dos irmãos.
"Elrohir." Disse apenas Elladan. "Ele viu ao longe um cavalo e resolveu parar para pegá-lo. Só percebemos que era o seu cavalo, quando nos aproximamos do animal. Então saímos para te procurar, e seu amigo equino nos conduziu exatamente para onde você estava."
"Você tem um ótimo cavalo, irmãozinho." Disse Elrohir acariciando o cavalo de Estel que estava bem próximo ao seu.
"Eu sei disso." Respondeu o guardião também acariciando o cavalo e dizendo-lhe palavras de agradecimento. Ele finalmente iria voltar para casa – Pensou o guardião, ansioso para que isso acontecesse logo.
Bom é isso. Não se esqueçam de deixar reviews comentando.
No próximo capítulo o desenrolar das dúvidas que esse ser misterioso tem causado.
Até Breve!
Anne Krol
